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A HOMBRIDADE DOS BONS PARECE TER ADORMECIDO

O Emmo. Cardeal Arcebispo de Lima condena a imoralidade das danças e costumes modernos


O Eminentíssimo Sr. Cardeal João Alberto Guevara, Arcebispo de Lima no Peru, publicou no dia 13 de Março pp. uma Carta Pastoral em que condena vigorosamente as danças e costumes imorais de nossos dias, e pinta ao vivo nossa sociedade paganizada, que, como os romanos decadentes, caminha para o abismo em meio a festins e prazeres.

CATOLICISMO é o primeiro jornal brasileiro a dar a integra deste importante e oportuno documento.


CARTA PASTORAL

"Em Nosso Edito sobre o Ano Santo na Arquidiocese de Lima, recentemente publicado, dizíamos: "Si sempre temos condenado a realização de bailes durante a Quaresma, de maneira especial o fazemos agora, por um duplo motivo: tempo quaresmal e Ano Santo; aliás o cristão sabe que deve fugir sempre dos bailes escandalosos e sensuais como são a maior parte dos introduzidos pela moda nestes últimos tempos".

Ao fazer esta admoestação pensávamos fosse ela capaz de moderar o afã desordenado de festas e diversões, de bailes e danças que desgraçadamente estamos presenciando.

Danças imorais

Jamais imaginamos que em plena Quaresma desabasse em certos setores sociais uma verdadeira chuva de bailes escandalosos, como aconteceu nestes últimos tempos.

Como se não bastasse a já larga serie de danças importadas, de duvidoso mérito artístico e de muito baixo nível de moralidade, teve-se a triste lembrança de contratar uma empresa de baile por todos os títulos indecorosa, que está fazendo verdadeiro furor em certos setores sociais e que se exibe em diversos lugares públicos, sem controle de espécie alguma.

Já não se tem em conta alguma, nem a moralidade que está chegando ao ínfimo grau, nem o tempo santo em que nos encontramos. Acima destas considerações está a imoderada sede de lucro, o desejo de dar pasto aos baixos instintos.

Foi em vão que a voz autorizada do Santo Padre se levantou para dizer que este seria o ano do regresso a Cristo, da penitencia e do perdão. É inútil recordar que estamos próximos a novos e pavorosos conflitos que nos ameaçam com insondáveis abismos de ruína e de destruição; que não se pode iludir a justiça de Deus e que essa justiça se faz sentir inexorável quando as desordens e os escândalos fazem transbordar a taça da cólera divina.

Não há o que detenha esta onda de despudor que aumenta dia a dia e que pretende avassalar todas as esferas da atividade humana.

A covardia dos bons

Neste cumulo de males que estamos contemplando, o que mais entristece é que até o presente não se levantou uma voz suficientemente poderosa e forte para condenar semelhantes desordens; não se nota em parte alguma um movimento de reação de caráter oficial ou particular que ponha cobro a semelhantes desmandos; ou que tenham alcançado feliz êxito os esforços isolados que se fizeram para conter o mal.

Parece que a hombridade dos bons adormeceu ou que a sociedade das pessoas sensatas e honestas, que ainda existem, prefere guardar silencio, a assumir uma atitude valorosa e cristã que a isente do delito de solidariedade com o vício.

Condenações

Em meio, pois, desta prostração moral que Nos aterra e Nos contrista; conscientes de Nossos sagrados deveres pastorais; em nome da moralidade cristã; com todo o amor que professamos ao rebanho que Nos foi confiado; condenamos com todas as veras de Nossa alma as desordens que a seguir enumeramos: os bailes que nada têm de cultos e artísticos e que, pelo contrário, incompatíveis com toda norma de estética, estimulam os instintos baixos e excitam as paixões mais funestas; as radio-transmissões que difundem programas com música e letras nauseabundas; as exibições cinematográficas escandalosas; as publicações pornográficas de todo o gênero, quer de propaganda quer de culpável deleite; o jogo feito com intuito de lucro ou de prazer, em que se consomem largas horas que estariam bem empregadas em obras proveitosas ou no cumprimento dos deveres domésticos; a nudez escandalosa e provocante em praias e piscinas. Denunciamos também os torneios de dança anunciados para estes dias e esperamos que os católicos de verdade se abstenham de concorrer a semelhantes diversões.

Apelo

Convidamos as autoridades que têm o encargo de velar pela moralidade pública em cinemas, rádios e espetáculos, a cumprir o seu dever, reprimindo a imoralidade não só nos recintos fechados mas também a que se exibe de modo escandaloso em ruas e praças.

Queira o Senhor que em meio a esta voragem de males se imponham a fé e a moral cristã, com um sentido de verdadeira e autêntica cultura; os nobre sentimentos que dignificam a pessoa humana; a lembrança de nossas honrosas tradições; dos exemplos insignes de virtude, moderação e honestidade que nos legaram nossos santos, entre eles Rosa de Santa Maria, que deveria ser o modelo sempre vivo, jamais esquecido da mulher peruana.

Apelamos para os católicos de fato e não só de nome, para que, sacudindo o letargo que parece dominá-los neste momento, apoiem toda a cruzada que se faça para restabelecer os foros da moral e revitalizar a vida cristã.

"Chegou a hora de despertar"

"Hora est iam nos de somno surgere" (Rom. 13, 14). Já é hora de sacudir o sono, diremos com São Paulo. Por isso mesmo convidamos os filhos fieis da Igreja a organizar atos de desagravo individuais e coletivos. Especialmente nos dirigimos às comunidades religiosas, à Ação Católica e associações pias.

Advertimos também aos confessores que neguem a absolvição às pessoas que assistam, ou tomem parte na dança chamada "mambo".

Faça cada qual quanto lhe caiba; comporte-se como bom soldado de Cristo nesta campanha de bem social; e preparem-se todos para celebrar com recolhimento e devoção a Semana Santa precursora da grande festa da Páscoa da Ressurreição, ou seja, o grande triunfo de Cristo, verdadeiro e único Salvador da humanidade."


Os Estados Unidos exigiram oficialmente da União Soviética a devolução de 672 navios cedidos durante a guerra e o pagamento da dívida de 800 milhões de dólares. Os russos responderam que só concordavam em pagar 240 milhões de dólares, assim mesmo a longo prazo, e que não devolveriam os navios.

Quase na mesma ocasião o Snr. Gaistkell, Chanceler do Erário da Grã-Bretanha, revelou que a dívida russa para com a Inglaterra, contraída antes de 1917, sobe a 1 bilhão e 100 milhões de libras. Das dívidas contraídas durante a última guerra, 36 milhões ainda não foram pagos.

Aí está à custa de quem consegue a Rússia os seus tão decantados progressos industriais. Se não fossem os recursos da economia burguesa, não poderia andar a máquina soviética. E há quem apresente o andamento desta máquina como um êxito do sistema comunista...


PIO X - MODELO...

(Íntegra na 3.a pág.)


ABOLIÇÃO DO PROLETARIADO

Como Resolver o Problema

ABOLIÇÃO do proletariado? É o que com frequência perguntam pessoas que se ocupam da questão social. Qual a resposta da consciência católica a esta pergunta?

Por certo não pode ser abolida a classe operária, nem no que se relaciona com a execução dos trabalhos manuais, que obviamente existirão sempre; nem, no que se refere ao fato de haver na sociedade uma classe que se ocupa dos misteres mais humildes, e que, pois, ocupa na escala social o degrau inicial. Não há violação da dignidade humana em exercer ofício manual, ou pertencer à classe modesta. Sabe-o o católico que medita sobre a infância de Nosso Senhor Jesus Cristo na oficina de Nazareth. Nenhuma razão, portanto, existe para se pensar numa fusão da classe operária com as demais.

Estabelecida esta preliminar, vejamos em que sentido se pode falar na abolição do proletariado. Para isto, cumpre, entretanto, definir o que seja um proletário.

Que é um proletário?

Proletário é o indivíduo que não dispõe de nenhuma reserva. De seu, só possui seus braços. Ele depende, destarte, diariamente de seu trabalho para viver. Pouco lhe importa a qualidade de quem lhe dá emprego: um particular, uma sociedade ou o Estado. O que o preocupa é o sentimento de sua perpétua insegurança e de sua inteira dependência em relação a outrem. Isto é que caracteriza verdadeiramente a condição de proletário, quer seja manual quer intelectual a sua profissão.

A linguagem vulgar afirma, com razão, que «homem independente» é o que possui recursos pessoais. Em tese, as condições de vida do proletário, podem ser confortáveis, mas de fato elas são em geral muito medíocres, e frequentemente miseráveis. Não nos devemos pois enganar reduzindo o problema do proletariado a uma questão de salários, mais altos ou mais baixos. Certamente, o salário é um importante fator da questão, e é preciso fixá-lo sempre adequadamente; mas no fundo o problema do proletariado é um problema de independência, um problema de segurança, um problema de dignidade humana — é, em uma palavra, o problema da promoção do operariado.

Duas soluções radicalmente opostas pretendem resolver este magno problema.

A pseudo-solução comunista

Por um curioso paradoxo, o comunismo, que denuncia violentamente a injustiça da condição proletária, não propõe outro remédio, a não ser a extensão universal do proletariado. Onde poderemos encontrar maior insegurança e maior servilismo do proletariado ao empregador do que na Rússia? Stakhanovistas, engenheiros, altos funcionários, podem sem dúvida perceber altos salários ; entretanto, estão sempre a mercê do empregador — o Estado — e não são, portanto, menos proletários que seus congêneres ocidentais.

A solução da Igreja

A Igreja, esta sim, deseja realmente a abolição do proletariado. Toda sua doutrina, toda sua tradição se insurgem contra esta forma moderna de escravidão, sob certos aspectos mais desumana que a escravidão antiga. O remédio que Ela propõe — e que muitos costumam esquecer ou ignorar — é a ascensão de TODOS à propriedade sob estas diferentes formas: segurança de colocação, propriedade privada, propriedade coletiva.

A propriedade privada protege o indivíduo contra os abusos da coletividade e assegura à família uma base estável: é o próprio Proudhon que lhe reconhece estas virtudes; a propriedade coletiva, posta em mãos de certos grupos sociais, como a família e a corporação, completa harmoniosamente a propriedade privada e subtrai as comunidades intermediárias (cívicas, profissionais, culturais, etc.) do arbítrio do Estado.

A propriedade privada ocupa lugar de destacada importância no ensinamento da Igreja. É muito significativo que a célebre Encíclica de Leão XIII sobre a condição dos operários comece recordando longamente os fundamentos do direito de propriedade. Pio XII, a exemplo de Pio XI, tem voltado com uma insistência característica sobre este ensinamento. Entretanto, ainda existem católicos que vêm na propriedade privada o maior obstáculo ao estabelecimento da justiça social, e não perdem uma ocasião para solapar suas bases.

Este estado de espírito pode ser explicado por uma influência sutil do marxismo.

As teorias em voga no século passado reconheciam à propriedade privada todos os direitos sem nenhuma obrigação Daí os abusos gritantes e as intoleráveis injustiças que provocaram uma reação. Entretanto constitui grave erro, sob pretexto de suprimir os abusos (muitos dos quais já eliminados), negar à propriedade privada todos os direitos, até mesmo o de existir.

O ensinamento da Igreja é aqui, como sempre, equilíbrio e medida, os deveres fundamentando os direitos. E como sempre, também a experiência mostra que ele é verdadeiro.

A crise de habitações, para não citar outra coisa demonstra o quanto custa impor ônus excessivos à propriedade; e a experiência das nacionalizações evidencia que a transferência à coletividade, da propriedade das empresas, não é suficiente para abolir a condição proletária.

Assim, pois, não é na socialização, mas na pequena propriedade que se encontra o meio seguro do abolir a condição proletária.


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Dois quadros, duas mentalidades, duas doutrinas

Plinio Corrêa de Oliveira

Faça o leitor um exercício da fantasia, e suponha que lhe fosse possível, revolvendo a série dos séculos já passados, voltar ao tempo de Cristo, e entrar num cômodo da modesta habitação da Sagrada Família em Nazaré. Cuide que encontrasse ali a Virgem brincando com Menino. E que uma e outro fossem exatissimamente como Rouault os imaginou no quadro que reproduzimos em nosso clichê.

Esta vista satisfaria a expectativa do leitor? Corresponderia ao que poderia esperar da Mãe de Deus, e do próprio Verbo Encarnado? Encontraria nestas figuras um reflexo autêntico do espírito cristão, das virtudes inefáveis de Jesus e Maria? Evidentemente não.

Quem, pois se empenhe em que a arte cristã reflita de modo digno e apropriado o espírito dos Evangelhos e da Igreja, não pode ser indiferente a que quadros desse gênero se generalizem entre os fiéis.

O que acabará por pensar e sentir da Sagrada Família um povo que não tenha diante de si senão obras pictóricas ou escultóricas desse jaez? A arte cristã tem a missão de auxiliar, dentro de suas possibilidades peculiares, a difusão da sã doutrina, e não se pode considerar que o espírito deste quadro seja propício a tal fim.

* * *

Para melhor elucidar estas afirmações, consideremos quanto é eficaz, pelo contrário, este quadro do "Maitre de Moulins", (século XV), representando também a Virgem e o Menino, para fazer compreender pelos sentidos o que a Igreja nos ensina sobre Jesus e Maria.


«... ENTRE OS MAIS BEM FEITOS JORNAIS CATÓLICOS DO BRASIL»

Registramos com satisfação a notícia com que o «Jornal do Comércio» do Rio de Janeiro, em sua edição de 4 de maio último, informava seus leitores a respeito do aparecimento de «Catolicismo»:

«Iniciou sua publicação em Campos, no Estado do Rio, desde Janeiro do corrente ano, um novo jornal católico, sob a denominação «Catolicismo». O novo órgão de imprensa pode e deve ser colocado entre os mais bem feitos jornais católicos de nosso país. É um jornal completamente diferente dos demais na sua apresentação, na sua matéria editorial e de colaboração. É seu diretor o P. Antônio Ribeiro do Rosário e de seu corpo de redação e colaboração fazem parte os melhores elementos do laicato católico, elementos verdadeiramente católicos sem qualquer restrição, elementos que sabem sentir com a Igreja, entre eles o conhecido publicista católico Plinio Corrêa de Oliveira, antigo diretor do «Legionário» de São Paulo. «Catolicismo» não ocupa suas páginas com material inútil, com fantasias pueris, com superficialidades; toda a matéria redatorial e de colaboração é selecionada, de grande fundo doutrinário, de uma linguagem esmerada. É um jornal que merece ser lido e propagado entre todas as classes. Sua representação nesta capital está a cargo da «Livraria Boa Imprensa», à rua da Assembleia, 35-1º andar. »

Os honrosos conceitos que forma a nosso respeito o «Jornal do Comércio», cuja autoridade é acatada por toda a imprensa brasileira, constituem precioso estímulo para que nos consagremos cada vez mais aos grandes ideais que constituem a razão de ser de «Catolicismo»...


NOVA ET VETERA

Ocaso de um líder

J. de Azeredo Santos

ERA o sr. Alceu de Amoroso Lima o líder incontestável dos católicos brasileiros. Recebera ele a flama de Jackson de Figueiredo e, apesar de todas as arestas comuns aos recém-convertidos, pusera sua brilhante inteligência inteiramente ao serviço da causa da Igreja. Nesta primeira fase de sua vida no laicato católico, mostrava achar-se imbuído desse senso da realidade que nos faz compreender a irremovível incompatibilidade da Igreja e da revolução, do espírito católico e do espírito revolucionário. Assegurava "descrer totalmente da medicina revolucionária, mesmo quando em tese justificável", e se colocava, de modo absoluto, ao lado da reação contra os agentes da desagregação da Cristandade. De seu amigo e mestre dizia então ele: — "Foi o primeiro que teve o desplante de se chamar a si mesmo reacionário contra a moda revolucionária que atingiu quase todos os que se prezavam de avançados e atuais" ("Indicações Políticas", pag. 188). Em política, não ocultava suas simpatias pelo regime monárquico, afirmando que "só a Monocracia-Corporativa poderá dar-nos a verdadeira democracia-cristã, contra os erros opostos da democracia-liberal e da democracia-socialista" ("Estudos — Quinta Série", pag. 308). Não havia outra solução senão o Estado Ético-Corporativo: — "O Estado Individualista fracassou. E se não quisermos cair no Estado Coletivista, que é a sua consequência natural, pois o abuso do individualismo degenera na negação da pessoa humana, temos de enveredar pelo Estado Ético-Corporativo". ("Tríplice Decálogo", em "A Ordem" pag. 340, vol. VIII, julho-dezembro de 1932). Assinalava como apenas "o empirismo dos primários considerava sumariamente como "superado" para sempre (o regime monárquico), na marcha fatal ao republicanismo e à democrata liberal". ("Indicações Políticas", pag. 230).

Levou tão longe seu zelo, neste sentido, que acabou, como o inglês da anedota, "montando de mais o cavalo", isto é, caindo do outro lado da sela. Chegou, assim, a confundir essa reação da direita católica com as pseudo-reações fascistoides e nazistas, forjadas pelas próprias forças revolucionárias para torpedear subterraneamente os verdadeiros defensores do pensamento tradicional católico em matéria política e social, falsas direitas que no fundo eram a mesma subversão socialista vestida de opa, nos moldes adotados por Von Papen no célebre Congresso Católico da Abadia Beneditina de Maria-Lach. E confessava sem rebuços: — "Tenho pelo movimento integralista a mais viva simpatia, como tenho pelo fascismo e por toda essa moderna reação das direitas, que mostraram a não inevitabilidade do socialismo." ("Indicações Políticas", pag. 209).

* * *

Mas isto foi aproximadamente até os idos de 1935. De lá para cá, deu-se gradualmente uma reviravolta na atitude do sr. Tristão de Ataíde.

E se Sua Senhoria se limitasse a abandonar seus avanços na direção das pseudo-direitas fascistas, só teríamos a louvar sua coragem em admitir publicamente seu erro e em mudar de rumo, sobretudo em vista de sua tremenda responsabilidade como um dos líderes do laicato católico brasileiro. Mas ainda uma vez o trêfego e afoito homem de letras repetiu a façanha do inglês, montando de mais... Desta feita, porém, a queda foi para o lado esquerdo.

Começou o se deixar influenciar por certos livros do sr. Maritain, tais como o "Humanismo Integral", surgido em 1936, e outros, em que o pensamento desse filósofo ia sendo devidamente explicitado. De discípulo de Jackson de Figueiredo, passou o sr. Alceu de Amoroso Lima a discípulo de Jacques Maritain, o criador da "cidade fraternal" que vem sendo justamente acoimada de liberal e de socialista em seus fundamentos. Mesmo intelectuais alheios aos meios católicos, mas que sabem ler e acompanhar os acontecimentos, como o sr. Sergio Milliet, não deixaram de perceber as tendências socializantes do sr. Maritain: — "Em política, coerente com a sua filosofia de uma verdade total e sintética, exigindo, portanto, de seus servidores uma atitude total e sintética, Maritain tomaria partido pela liberdade e a democracia. Em economia seria socialista." (Sergio Milliet em "Homenagem a Maritain" artigo do "Estado de São Paulo").

* * *

Aliás é fácil de demonstrar que o que aconteceu com o sr. Alceu de Amoroso Lima no Brasil foi a repetição do que também se deu com o sr. Jacques Maritain em França: — Convertido ao catolicismo, o sr. Maritain passou a militar nas fileiras da "Action Française". Dessa posição, descambou esse filósofo para uma atitude acentuadamente esquerdista mais ou menos a partir de 1936. Basta uma referência aos livros em que trata de assuntos sociais e políticos. Veja-se, por exemplo, a diferença que há entre "Antimoderne" e "Primauté du Spirituel" de um lado, e "Humanisme Integral" e "Les Droits de l'Homme" de outro. São obras características dessas duas fases.

Aos poucos, portanto, por causa dessas sucessivas atitudes equívocas e suspeitas, de que os católicos militantes iam tristemente tomando conhecimento como uma mancha de azeite que se vai espraiando, foi o sr. Alceu de Amoroso Lima perdendo a liderança do laicato católico brasileiro. E todo o mundo considerou muito natural, em vista disso, sua saída da direção da Ação Católica Brasileira. Passou o sr. Tristão de Ataíde a ser apenas o chefe de uma facção, de uma "seita", a "seita" maritainista.

* * *

Recentemente publicamos na revista de cultura "Vozes de Petrópolis" um estudo sob o título de "O Rolo Compressor Totalitário e a Responsabilidade dos Católicos".

A interpretação, devidamente documentada, que nesse estudo demos à posição do sr. Alceu de Amoroso Lima e dos maritainistas de um modo geral, se cifra no seguinte:

Procuram o sr. Tristão de Ataíde e seus seguidores maritainistas, fazer uma acomodação entre a doutrina católica e o socialismo, mediante a distinção especiosa entre o socialismo enquanto filosofia de vida e enquanto mero sistema econômico. A essa posição doutrinária, correspondem certas atitudes práticas do sr. Alceu de Amoroso Lima e de seu grupo, tais como a classificação da "Utopia" como Bíblia Social dos Novos Tempos, o repúdio do regime do salariado, o elogio dos processos fabianos de infiltração socialista de que é exemplo típico o trabalhismo britânico, a participação ostensiva em campanhas suspeitas tais como o "Movimento do Uruguai", etc. E é tão evidente a posição extremada do sr. Tristão de Ataíde que ainda recentemente um órgão comunista, a "Revista Para Todos", o qualificava de "católico da esquerda".

Pela "Folha da Manhã" de São Paulo e pelo "O Diário" de Belo Horizonte de 22 de Abril próximo findo, sem entrar no mérito da questão, procura o sr. Alceu de Amoroso Lima liquidar sumariamente o assunto dizendo apenas que a Revista Eclesiástica Brasileira, que espontaneamente transcreveu nosso artigo, "acaba de publicar mais um bestialógico contra os maritainianos". Isto o sr. Tristão de Ataíde diz de passagem, como preâmbulo a uma série de comentários sobre um novo e ainda desconhecido livro do sr. Jacques Maritain.

Não fazemos ao sr. Alceu de Amoroso Lima a injuria de duvidar de sua inteligência. Sua Senhoria sabe muito bem o que escreve. E se diz que a Revista Eclesiástica Brasileira acaba de publicar "mais um bestialógico" contra os maritainistas, é porque essa revista destinada ao Clero e redigida por Sacerdotes, pois o nosso caso constitui uma exceção, já publicou outros bestialógicos contra os discípulos do sr. Maritain. Ou quem sabe se refere o sr. Tristão de Ataíde ao trabalho alhures publicado pelo Revmo. Padre Arlindo Vieira, a quem ele e o sr. Maritain atribuíram a pecha de mentiroso e caluniador? Assinalemos, portanto, a decadência desse escritor católico, que desce a tal linguagem destemperada e vulgar ao se referir àqueles que, na Igreja, devem merecer dos simples fieis o maior acatamento e respeito, mesmo porque, quando nada, os respingos do insulto que S. Senhoria nos dirige vão atingir em cheio os Sacerdotes responsáveis por aquela Revista.

Que não porfie o sr. Alceu de Amoroso Lima em se precipitar por essa rampa sombria e cheia de perigos. Ainda está em tempo de sair da cegueira em que se acha e dar ao público católico do Brasil uma explicação clara e cortês de suas atitudes, em vez de se valer desse recurso indigno de injuriar seus leais adversários no campo das ideias. Que estranho e feroz pluralismo é esse de tal grupo, que admite a plena liberdade de ação mesmo para aqueles que trazem "mensagem mais ou menos fracas" e até subversivas, como é o caso do comunismo, e quer negar o franco debate em torno de sua própria posição? Não é a primeira vez que o sr. Alceu de Amoroso Lima e seus sequazes fogem de uma discussão serena e objetiva desses gravíssimos problemas e dessas causas de escândalo para o público católico não militante suscitadas pelas suas imprudentes atitudes, enveredando para a linguagem agressiva e injuriosa. Dizemos público católico não militante, porque os militantes já têm elementos suficientes para julgá-los e responsabilizá-los pela divisão que introduziram nas fileiras católicas.

Quanto a nós, mais uma vez declaramos que não serão essas vulgaridades que nos impedirão de usar do direito que temos de analisar as atitudes assumidas publicamente pelo sr. Alceu de Amoroso Lima e pelos seus companheiros de aventura. E o sr. Tristão de Ataíde devia ser o primeiro a nos agradecer por esse serviço que lhe prestamos: — O de lhe apontar as verdadeiras causas de seu crescente desprestígio nos meios católicos.