Plinio Corrêa de Oliveira (*)
Quantas vezes vossos adversários tremem diante da Igreja, enquanto os católicos, vendo-a manietada, reputam tudo perdido.
Por que foi o Senhor manietado por seus algozes? Por que impediram eles o movimento de Suas mãos, prendendo-as com duras cordas? Só o ódio ou o temor poderiam explicar que assim se reduza alguém à imobilidade e à impotência. Por que odiar assim estas mãos? Por que temê-las?
A mão é uma das partes mais expressivas e mais nobres do corpo humano. Quando os Pontífices e os Pais abençoam, fazem-no com um gesto de mãos.
Quando o homem inocente e perseguido se vê saturado de dores e apela para a justiça divina, seu último amparo contra a maldade humana, é ainda com as mãos que amaldiçoa. É com as mãos que pais e filhos, irmãos, esposos, se acariciam nos momentos de expansão. Para rezar, o homem junta as mãos ou as levanta para o céu. Quando ele quer simbolizar o poder, empunha o cetro. Quando quer exprimir força, empunha o gládio. Quando fala às multidões, o orador acentua com as mãos a força do raciocínio com que convence ou a expressão das palavras com que comove. É com as mãos que o medico ministra o remédio, e o homem caridoso socorre os pobres, os anciãos, as crianças.
E por isto os homens osculam as mãos que fazem o bem, e algemam as mãos que praticam o mal.
Vossas mãos, Senhor, o que fizeram? Por que foram atadas?
* * *
“In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum” ( Jo. I, 1 ). Como descrever Vossa transcendente, eterna, e inefável majestade, quando antes de todas as coisas e de todos os séculos vivíeis da vida supremamente gloriosa e feliz da Santíssima Trindade. São Paulo contemplou esta vida, e a única coisa que sobre ela conseguiu dizer, é que não pode ser expressa em palavras humanas. Do alto deste trono, viestes com desígnios, de amor, para remir os homens. E por isto, com bondade inefável assumistes nossa natureza humana. Quisestes ter um corpo humano, por amor do homem. É para fazer o bem, que foram criadas Vossas divinas mãos.
* * *
Quem pode dizer, Senhor, a glória que estas mãos agora sangrentas e desfiguradas, e entretanto tão belas e tão dignas desde os primeiros dias de Vossa infância, deram a Deus quando sobre elas pousaram os primeiros ósculos de Nossa Senhora e de São José? Quem pode dizer com quanta meiguice fizeram a Maria Santíssima o primeiro carinho? Com quanta piedade se uniram pela primeira vez em atitude de prece? E com quanta força, quanta nobreza, quanta humildade trabalharam na oficina de São José?
Mãos do Filho perfeito, que outra coisa fizeram no lar, senão o bem?
* * *
Quando começou Vossa vida pública, fostes principalmente o Mestre, que ensinava aos homens o caminho do Céu. E assim, quando no “pusillus grex” de Vossos preferidos, ensináveis a perfeição evangélica, quando Vossa voz se levantava e pairava sobre as multidões enlevadas e reverentes, Vossas mãos se moviam apontando a morada celeste ou exprobrando o crime e acrescentando à palavra todos os imponderáveis com que as enriquece o gesto. E os Apóstolos, e as multidões, criam em Vós, e Vos adoravam, Senhor.
* * *
Mãos de Mestre, mas também mãos de Pastor. Não ensináveis, apenas, mas guiáveis. A função de guiar se exerce mais propriamente sobre a vontade, como a da ensinar mais exatamente sobre a inteligência. E como é sobretudo pelo amor que se guiam as vontades, Vossas divinas mãos tiveram virtudes misteriosas e sobrenaturais para afagar os pequeninos, acolher os penitentes, curar os enfermos. Amor tão ardente, tão abundante, tão comunicativo, que de lá até hoje, sempre que as mãos de um cristão - e mais especialmente de um Sacerdote - se movem para afagar os pequeninos, consolar os penitentes, ministrar remédio aos enfermos, o amor que as anima não é senão uma centelha deste infinito amor, meu Deus.
* * *
Mas então mãos tão sobrenaturalmente fortes que ao seu Império vergavam todas as leis da natureza, e ao seu aceno a dor, a morte, a dúvida fugiam, estas mãos tinham ainda outra função a exercer. Não falastes do lobo voraz? Seríeis Pastor se o não repelísseis? E se tudo fazíeis com força irresistível, como poderia alguém não sentir o golpe do látego que empunhásseis?
O lobo, sim... e antes de tudo o demônio. Vossa vida tornou patente que o demônio não é uma entidade de ficção ou quase tanto, um ser a que é tão raras vezes dado o poder de agir, que praticamente a imensa maioria das coisas se passam como se ele não existisse. Os homens hipócritas ou de costumes dissolutos, ostentando vestes de justiça e até do sacerdócio, tudo isto aparece nos Evangelhos, não só como consequência da depravação humana em virtude do pecado original e da nossa maldade, mas também como obra do demônio, ativo, diligente, emboscado ali e acolá, e denunciando por vezes sua presença com espetaculares manifestações de obsessão e de possessão.
Vós expulsáveis o demônio, Senhor, com terrível império, e diante de Vossa palavra grave e dominadora como o trovão, mais
continua