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(continuação)

Quantas vezes vossos adversários tremem diante da Igreja,

enquanto os católicos, vendo-a manietada, reputam tudo perdido!

nobre e mais solene que um cântico de Anjo, os espíritos impuros fugiam espavoridos e derrotados. Tão derrotados e tão espavoridos, que daí por diante tiveram que obedecer a Vossos apóstolos com docilidade. Por toda a parte onde Vossa palavra, pregada, foi aceita pelos homens, a impureza, a revolta, o demônio fugiram sempre. E só voltaram a estender sobre a humanidade suas asas de sombra e seu poder de perdição, quando o mundo começou a rejeitar Vossa Igreja, que é Vosso corpo místico. Tão derrotados e tão impotentes, que bastará que os homens correspondam novamente à graça de Deus para que o império das potências infernais mais uma vez decaia e as trevas, a lascívia, o espírito da revolução voltem para os antros secretos dos quais ha séculos saíram.

* * *

Pastor, Vossas divinas mãos não se limitaram a brandir o cajado contra as potências espirituais e invisíveis que pairam nos ares, no dizer de S. Paulo, para perder os homens; mas atacaram o demônio e o mal em seus agentes tangíveis e visíveis.

O mal, antes de tudo considerado em abstrato. Não houve vício contra o qual não falásseis, mas também o mal em concreto, enquanto realizado nos homens, e não só nos homens em geral, mas em certas classes - os fariseus por exemplo - e não só em certas classes mas em certos homens concretissimamente considerados: os vendilhões do templo estão imortalizados nas páginas do Evangelho, pelo castigo exemplar que sofreram.

Vós, que recomendastes a mansidão até seus últimos extremos quando estivessem em jogo somente direitos pessoais, Vós que quereis que respondamos voltando a outra face quando recebermos uma bofetada, Vós empregastes uma ardente e santa difamação para desacreditar os fariseus, e empunhastes o látego para pôr em sangue os vendilhões. É que se tratava, não de direitos meramente humanos, mas da Causa de Deus. E no serviço de Deus há momentos em que não recriminar, não fustigar, equivale a trair.

* * *

E estas mãos que foram tão suaves para os homens retos como João, o inocente, e Madalena, a penitente, estas mãos que foram tão terríveis para o mundo, o demônio, a carne, por que estão aí atadas e postas em carne viva? Porventura por obra dos inocentes, dos penitentes? Ou antes por obra dos que delas receberam merecido castigo e contra esse castigo diabolicamente se revoltaram?

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Sim, por que tanto ódio, por que tanto medo que pareceu necessário atar Vossas mãos, reduzir ao silencio Vossa voz, extinguir Vossa vida? É por que alguém receasse ser curado? Ou afagado? Quem porventura teme a saúde? Ou quem odeia o carinho?

* * *

Senhor, para compreender esta monstruosidade, é preciso crer no mal. É preciso reconhecer que tais são os homens, que sua natureza facilmente se revolta contra o sacrifício, e que quando entra no caminho da revolta, não há infâmia nem desordem de que não seja capaz. É preciso reconhecer que Vossa lei impõe sacrifícios, que é duro ser casto, ser humilde, ser honesto, e em consequência é duro seguir Vossa Lei. Vosso jugo é suave, sim, e Vosso peso leve. Não porém porque não seja amargo renunciar ao que em nós há de animal e desordenado, mas porque Vós mesmo nos ajudais a fazê-lo.

E quando alguém Vos diz não, começa a Vos odiar, odiando todo o bem, toda a verdade, toda a perfeição de que sois a própria personificação. E, se não Vos tem à mão sob forma visível para descarregar seu ódio satânico, golpeia a Igreja, profana a Eucaristia, blasfema, propaga a imoralidade, prega a revolução.

* * *

Estais manietado, meu Jesus, e onde estão os coxos e os paralíticos, os cegos, os mudos, que curastes, os mortos que ressuscitastes, os possessos que libertastes, os pecadores que reerguestes, os justos a quem revelastes a vida eterna? Por que não vêm eles romper os laços que prendem Vossas mãos?

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Curioso paradoxo. Vossos inimigos continuam a temer Vossas mãos embora atadas, e por isto Vos matarão. Vossos amigos parecem menos cônscios de Vosso poder. E porque não confiam em Vós, fogem espavoridos diante dos que Vos perseguem.

Por que? Ainda aí a força do mal se patenteia. Vossos inimigos amam tanto o mal, que percebem ainda sob as humilhações das cordas que Vos prendem toda a força de Vosso poder... e tremem! Para estar seguros, querem transformar em chaga Vossa última fibra de carne ainda sã, querem derramar a última gota de Vosso sangue, querem ver-Vos exalar o último alento. E ainda assim não estão tranquilos. Morto, ainda incutis terror. É necessário lacrar Vosso sepulcro, e cercar de guardas armados o Vosso cadáver. Como o ódio ao bem os torna perspicazes a ponto de perceberem o que há de indestrutível em Vós.

E, pelo contrário, os bons não veem isto com a mesma clareza. Reputam-Vos derrotado, perdido... fogem para salvar a própria pele. Só têm olhos, só têm ouvidos para pressentir o próprio risco. É que o homem é perspicaz só para aquilo que ama. E se vê melhor seu risco do que Vosso poder, é porque ama mais sua vida do que Vossa glória.

Oh, Senhor, quantas vezes Vossos adversários tremem diante da Igreja, enquanto eu, miserável, vendo-a manietada reputo tudo perdido.

* * *

Mas quanta razão tinham Vossos inimigos! Ressuscitastes. Não só as cordas e os cravos de nada valeram, mas nem a laje do sepulcro, nem o cárcere da morte Vos puderam reter. Sim, ressuscitastes! Aleluia!

Senhor meu, que lição! Vendo a Igreja perseguida, humilhada, abandonada por Seus filhos, negada pelos costumes pagãos e pela ciência panteísta de hoje, ameaçada de fora pelas hordas do comunismo, e por dentro pelos desatinos dos que querem pactuar com o demônio, hesito, tremo, julgo tudo perdido.

Senhor, mil vezes não! Vós ressuscitastes por Vossa própria força, e reduzistes a nada os vínculos com que Vossos adversários pretendiam Vos reter nas sombras da morte.

Vossa Igreja participa dessa força interior e pode a qualquer momento destruir todos os obstáculos com que a cercam.

Nossa esperança não está nas concessões, nem na adaptação aos erros do século. Nossa esperança está em Vós, Senhor.

Atendei as súplicas dos justos, que Vos imploram por meio de Maria Santíssima. Enviai, ó Jesus, o Vosso Espírito, e renovareis a face da terra.

Nosso clichê da primeira página ECCE HOMO, quadro de pintor desconhecido da escola portuguesa do século XV, existente no museu de Lisboa.


NOTA INTERNACIONAL

A crise militar brasileira (I)

Adolpho Lindenberg

Tratar de política interna e de pendências existentes no seio das forças armadas nacionais sem ferir as preferências particulares de nossos leitores e sem servir de agentes de informações alarmistas, constitui tarefa das mais difíceis e ingratas. Limitemo-nos, pois, a considerar com espírito elevado e sem citar nomes de pessoas e de partidos, quais são as correntes de pensamento e de orientação política, econômica e social que se entrechocam na hora presente nos meios militares, dando origem a crises e descontentamentos de toda ordem.

Corrente nacionalista e patriótica

No terreno cultural, dizem com muita razão os propugnadores desta corrente, o Brasil deve possuir uma personalidade espiritual própria, diferente da cultura portuguesa, da francesa, e sobretudo da norte-americana. Para isso devemos difundir, e defender contra qualquer influência alienígena, o nosso folclore, a nossa língua, o nosso modo de pensar, e principalmente conservar bem alto a honra do Brasil e a integridade de suas fronteiras.

Muitos desses elementos nacionalistas foram simpáticos à Alemanha nestas duas últimas guerras, por verem na derrota da França uma possibilidade de os brasileiros se libertarem da perniciosa influência galicana, enciclopedista, liberal e amoral, que tão profundas raízes criou no mundo intelectual brasileiro no século passado e começo deste.

A influência francesa no Brasil vem sendo substituída gradativamente pela americana, fato este que deu origem a um movimento por parte dos nacionalistas contra toda e qualquer infiltração da mentalidade superficial, infantil e estandardizada de certos meios estadunidenses, tão bem definida pelo epíteto de "cultura Coca-Cola".

Enquanto para nós católicos é fácil ver o lado positivo de muitas das atitudes da corrente de pensamento, hostil à absorção pelos brasileiros das ideias anárquicas e revolucionárias da maioria dos literatos franceses do século passado, e contrária à "democratização" de nossos costumes, à divulgação do jazz e à introdução do divórcio, por outro lado somos obrigados a lamentar a orientação de alguns de seus elementos, os quais, aliás, não consideramos como constituindo sua maioria. Assim, no que se refere à política externa, o Brasil, como todo país de cultura ocidental, não tem o direito de, na guerra fria entre os Estados Unidos e a Rússia, adotar uma terceira posição, neutra, individualista, jacobina. No entanto, alguns dos elementos nacionalistas, ingênua ou culposamente, se tornam porta-vozes de "slogans" que ficariam muito melhor na boca de pro-comunistas do que na de brasileiros: "deixem que russos e americanos se destruam mutuamente; ambos são péssimos"; "nossos problemas já são tantos que não temos nem tempo, nem obrigação, de cuidar de brigas alheias"; "cada país tem suas fronteiras, e as nossas já são extensas demais para podermos ir lutar na defesa de outras"; "educamos nossos filhos para guardar nossos lares e não para conservar colônias de ingleses ou guarnecer a zona do dólar", e assim por diante.

Devemos nos empenhar em mostrar aos numerosos elementos da corrente nacionalista que toda política externa tendente a afastar o Brasil dos Estados Unidos favorece a disseminarão de ideias comunistas em nosso território, as quais, além de serem muito piores, ainda são muitíssimo mais contrárias às nossas tradições que as ideias liberais e infantilizantes de certos meios americanos.

* * *

Reafirmando que esta orientação claramente hostil a qualquer colaboração do Brasil à política externa norte-americana não é comum a todos os nacionalistas, também não podemos deixar de criticar a posição pouco nítida de alguns outros elementos da corrente no que se refere às soluções a serem dadas aos problemas econômicos brasileiros. Quando aqui no Brasil se trata de explorar petróleo, abrir estradas de ferro ou construir usinas hidroelétricas, verifica-se que, pelo fato de não dispormos de grandes fortunas particulares e os capitais aplicados nesses empreendimentos não produzirem juros compensadores, as únicas soluções que se nos deparam são permitir a inversão em tais iniciativas, de capitais estrangeiros em grande escala, ou formar imensas companhias estatais. Ora, a exploração das principais riquezas de um país pelo Estado constitui um caminho certo para o socialismo. Muitos nacionalistas, no afã de evitar que "nossas riquezas se escoem para o estrangeiro" são assim favoráveis a uma lenta, burocrática e ineficiente exploração estatal do petróleo, do carvão, das estradas de ferro, etc., etc., e se opõem tenazmente a qualquer legislação que favoreça a aplicação em larga escala de capitais americanos no Brasil. Ora a socialização da economia constitui sumo mal que é preciso a todo custo evitar.

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No dia em que os elementos patrióticos bem intencionados se aliarem aos elementos democráticos, dos quais trataremos na próxima nota, no sentido de abrirem as portas de entrada para o capital norte-americano, como os Estados Unidos, o Canadá e a Argentina fizeram com os capitais ingleses, porém guardadas graves e múltiplas cautelas ideológicas e econômicas que se fazem mister e se convencerem de que as fronteiras do Brasil devem ser defendidas não só no Rio da Prata, mas também no Paralelo 38, nesse dia haverá concórdia entre os brasileiros, e o Brasil estará caminhando para se tornar uma nação muito mais rica e poderosa do que todos os demais Estados sul-americanos reunidos.

E na próxima nota focalizaremos as outras correntes.


UM APOSTOLADO ESPECIALIZADO: DIFUSÃO DAS “VIRTUDES ESQUECIDAS”

Plinio Corrêa de Oliveira

É necessário que se ponham em foco as máximas que o demônio, o mundo e a carne procuram a todo momento relegar para segundo plano

Entre outras secções de “CATOLICISMO”, “Ambientes, Costumes, Civilizações”, por exemplo, dizia-me um amigo, desagrada-me principalmente a que se intitula “Verdades esquecidas”. Serão verdades? É esta a primeira pergunta. O jornal transcreve textos isolados. Com um texto isolado, tudo se pode demonstrar. Seria preciso ler todo o contexto, para ver qual o pensamento autêntico do Santo citado. E, para essa obra de erudição, quase ninguém tem tempo. Fica-se, pois, com uma ideia muito imprecisa sobre o valor documentário dos textos publicados. Acresce que se realmente o sentido exato e completo dos autores transcritos é o que o jornal põe em evidência, forçoso é confessar que não se consegue reprimir um sentimento de desagrado em relação a esses autores. E um católico, habituado a tomar os Santos por modelo, a sentir uma inteira consonância com o modo pelo qual eles pensam e agem, começa a sentir-se afastado... Será isto um apostolado autêntico? Ou será trabalhar contra a salvação das almas? Pois, em última análise, tudo quanto as afasta não pode ser tido como apostolado. Ou, na confusão de linguagem de nossos dias, “apostolado” passou a significar o trabalho destinado a distanciar as almas da Igreja?

Acho provável que mais de um leitor pense como este amigo. Por isto publico a resposta que lhe dei.

Órgão para um escol religioso

Antes de tudo, uma observação sobre “CATOLICISMO”. Neste ano de existência, num contato permanente com um público que se estende das margens do Amazonas até a parte meridional do rio Grande do Sul; desde o Rio de Janeiro até rincões perdidos do sertão goiano ou paranaense, desejando servir inteiramente à causa da Igreja, este jornal tem definido aos poucos, e de modo muito especial, a sua fisionomia. Somos um país católico. Somados, os protestantes, espíritas, etc., constituem entre nós uma insignificante minoria. Assim, nosso problema de apostolado mais essencial não consiste na conversão dos infiéis, mas na salvação eterna dos católicos. Para que o católico se salve, para que se santifique, não tem outro caminho senão conhecer e praticar a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, pela vastidão do território nacional não faltam pessoas, nem obras, nem instituições que se dediquem a este fim. Trata-se de uma imensa rede de organizações de apostolado hierárquico ou leigo, que à custa de esforços muitas vezes heroicos, vem trabalhando para defender os católicos brasileiros do contágio multiforme de neopaganismo de nossos dias.

À vista destes dados, é que o jornal estabeleceu sua missão. A um mensário não seria possível fazer com eficácia e em grande escala um apostolado exclusivamente popular: só a imprensa diária é o verdadeiro e ideal instrumento para uma ação extensa sobre a massa. Ademais, a causa católica já dispõe de verdadeira miríade de mensários e quinzenários que lhe prestam abnegadamente todo o serviço que de órgãos desse feitio se pode esperar. Assim, porque reconhece o grande bem que já se faz entre nós, porque quer cooperar com este bem do modo mais eficaz, e porque percebe as limitações inerentes a suas próprias condições de existência, pareceu acertado a “CATOLICISMO” tomar o caráter de um órgão de informação e análise a serviço da elite. Não propriamente da elite intelectual ou social, mas do que se poderia chamar a elite religiosa.

Qual o interesse deste apostolado? Por todo o Brasil, como que constituindo uma periferia em torno da Sagrada Hierarquia, se encontram as associações de leigos, as Universidades Católicas e outros organismos destinados a modelar e formar a opinião dos fiéis. O pensamento e as diretrizes da Hierarquia atingem de cheio estes meios, que, por seu zelo, se mostram mais ávidos de as receber. E, destes meios, através de mil canais, se embebem na massa do laicato. Um mensário destinado especialmente a informar e orientar os organismos católicos teria por escopo algo para o que seu feitio de mensário seria plenamente adequado.

Informar, orientar, e isto a um público muito vasto e ao mesmo tempo muito definido e demarcado, como é a elite católica, eis objetivo de “CATOLICISMO”.

Missão específica: um sino do carrilhão

Informar a que respeito? Orientar de que maneira? Evidentemente, no sentido da melhor realização daquilo que a causa católica espera dos leigos.

E, assim, os redatores e colaboradores de “CATOLICISMO”, foram sendo chamados insensivelmente a insistir sobre os problemas habitualmente menos focalizados, sobre as notícias que a imprensa diária não difundiu ou não pôs em suficiente relevo, sobre os aspectos menos conhecidos de nossa realidade religiosa ou social.

“CATOLICISMO” não se propôs informar a respeito de tudo, nem orientar em todos os sentidos os seus leitores. Seria uma tarefa por demais ambiciosa para suas forças. Limitou-se ele a um objetivo mais modesto: a acentuar aquilo que menos claramente se acentua, a ser uma nota complementar num imponente conjunto de esforços e de ensinamentos. E, deste papel, não deseja sair.

O Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, egrégio Bispo Diocesano de Campos, usou certa vez, em uma de suas orações, uma formosa imagem. Católicos de uma certa cidade do norte da Itália doaram ao campanário da matriz um conjunto de sinos, dos quais cada qual tinha o nome de uma das Encíclicas do Papa Pio XI, então reinante. O toque de conjunto do carrilhão simbolizava o conjunto dos ensinamentos do ilustre Pontífice.

No carrilhão das atividades católicas, este jornal não pretende ser senão um sino. Não se procure nele a melodia toda, mas apenas uma das notas. Esta nota, que é grave, não poderia aliás faltar para a perfeita harmonia do conjunto.

Uma preocupação constante: completar a bondade pela fortaleza

Com efeito, ninguém pode fechar os olhos à grande realidade de que a formação religiosa do Brasil se ressente – falamos da massa – de um evidente ressaibo de liberalismo. Diante de nossos inimigos, preferimos não lutar. A atitude dos braços cruzados é justificada por toda uma série de falsas noções de moral. Entende-se que perdoar pecados é deixar em impunidade perfeita os que pelo mau exemplo ou pelo ensino de falsas doutrinas corrompem as almas. Entende-se que fustigar o vício triunfante, a impiedade insolente, é falta de caridade. Entende-se que a severidade é sempre um mal, a luta é sempre um pecado, a franqueza é sempre uma grosseria, a intransigência é sempre uma brutalidade. Neste ambiente, quem se pode surpreender vendo que famílias católicas toleram a frequentação dos piores cinemas por seus filhos, as leituras mais perigosas, as companhias mais reprováveis? Quem se pode surpreender vendo que uma tolerância criminosa beneficia na vida social os casais constituídos à margem da lei de Deus? Quem se surpreende, vendo que não combatemos o comunismo com a energia devida?

Em sentido contrário, se todos os católicos temperassem suas outras virtudes com uma orientação antiliberal pronunciada, se soubessem combater em seus filhos os maus costumes e as ocasiões de pecado, se mantivessem no devido isolamento os casais soi-disant constituídos segundo a lei mexicana ou uruguaia, se se opusessem ao mau cinema, à má imprensa, ao mau rádio; se todos empenhassem suas forças na luta contra o comunismo, o que seria o Brasil!

Em última análise, de tudo que nos falta, nada nos é tão necessário, tão urgentemente necessário, quanto uma combatividade intrépida e temperante. Com ela nos salvaríamos. Perecemos à míngua dela.

O ensinamento dos Santos

Compreende-se pois, que esta folha procure destroçar estes preconceitos de um falso pacifismo. E nenhum meio seria mais adequado para isto, do que a publicação de trechos atribuídos a Santos, isto é a pessoas que a Igreja canonizou com autoridade infalível, e que não seriam Santos se tivessem de qualquer forma – enquanto pessoas já no ápice da vida espiritual – violado a caridade. Daí a secção “Virtudes esquecidas”.

Se um católico – entendemos uma pessoa que crê na infalibilidade da Igreja – vê um pensamento de um Santo, aprovado pela Igreja, e nota que está em desacordo com este pensamento, deve evidentemente modificar seu próprio modo de ver. De católicos de elite, não se pode esperar outra coisa.

Tem toda a razão meu amigo, dizendo que devemos confiar nos Santos e imitá-los. Mas confiar neles é segui-los ainda quando não os compreendemos bem; tomá-los por modelo, é vê-los como eles são e imitá-los, e não imaginá-los como eles não são, e admirá-los pelo que não foram. Nisto tudo, nosso amigo parece deixar-se guiar por um espírito de independência em relação ao qual deve tomar precauções. E já será este um insigne benefício que lhe terá prestado a secção de “Virtudes esquecidas”.

Mas, dirá alguém, nem todo o mundo entende isto. É claro que não se pode reimprimir estas explicações em cada número de “CATOLICISMO”. Mas de um leitor católico espera-se – pelo menos quando é de escol, como aqui se pressupõe – um contato fácil com Sacerdotes que o possam orientar. Por pouco que procure um Sacerdote, terá possibilidade de se esclarecer quanto à frase que não tenha entendido. E estará sanado o “mal” que a secção lhe poderia fazer.

Teste de ortodoxia

Que é, pois, essa secção? Um verdadeiro “teste” de catolicidade. Pensamos habitualmente de acordo com aquela doutrina? Então estamos certos. Pensamos de outro modo? Então precisamos retificar nossa formação. Numa época de confusão, não é bem verdade que uma tal secção pode prestar grandes serviços?

E suponhamos que se suprimisse a secção. De fato, o que estaria sendo feito? Um verdadeiro serviço de “censura” nos textos dos Santos, distinguindo entre os “textos proibidos” para nossos dias, e os outros que podem circular. Quem não vê que há nisto, não só um verdadeiro absurdo, mas um incontestável ridículo?

E, a propósito de tudo isto, uma pergunta: os leitores que eventualmente desejem com tanta veemência uma censura nos textos dos Santos, são igualmente veementes quando se trata de censura nos filmes cinematográficos?

Oh! Liberalismo, a quanto levas!

Pedido inexequível

Quanto ao valor documentário da citação, meu amigo pede algo de impossível. Quer todo o contexto, mas, se se atender seu pedido, declarará não ter tempo de ler coisa alguma e sugerirá que se destaquem os textos decisivos. Isto é o que os antigos diziam ser alguém preso por ter cão e por não ter cão.