O que pensar das relações entre o governo Perón e o comunismo? A esse respeito, os dados concretos não faltam.
Primeiramente convém lembrar que repetidas vezes o General Perón tem deblaterado contra o comunismo, reiteradamente tem denunciado os seus perigos. Mas não se têm notícias de medidas positivas tomadas contra os vermelhos na Argentina.
Por outro lado, bafejados pelos meios oficiais, exercem suas atividades no país vários grupos esquerdistas. O mais importante deles gravita em torno do "Instituto de Estudios Económicos e Sociales", e edita um quinzenário denominado "Argentina de Hoy". Os líderes deste movimento são socialistas que abandonaram o velho Partido Socialista para avançar ainda mais em direção à esquerda. Seu principal orientador é Rodolfo Puiggros, autor de várias obras marxistas, conhecido defensor do stalinismo, e que prefaciou e publicou a edição argentina dos "Documentos" de Luiz Carlos Prestes. Ao seu lado destaca-se a figura do judeu Isaac Libenson, comunista bastante conhecido por sua ação internacional, e que, por instâncias de Puiggros junto a Perón, voltou à Argentina, de onde estava exilado por ordem do antigo Presidente Justo.
O apoio governamental à obra do Instituto se manifesta através do auxílio financeiro de 150 mil pesos que este recebeu (cfr. Boletim Oficial de La Nación — 21/8/1951), no concurso que lhe dispensa a imprensa oficial, e mesmo nas orações pronunciadas pelo Presidente da República em reuniões organizadas pelo Instituto, como o Congresso dos Homens de Boa Vontade realizado no ano passado.
A leitura de "Argentina de Hoy" nos mostra, não somente o apoio destes comunistas à obra que o peronismo vem realizando, mas também qual a verdadeira meta que este busca atingir. Em resumo, o "justicialismo" se aplica a exterminar as forças conservadoras da nação, e a edificar uma nova ordem de coisas baseada na onipotência do Estado e no desaparecimento da propriedade privada.
Dentre as forças conservadoras do país se destacam a Igreja, o exército e os grandes proprietários rurais. Para destruí-las procura-se apresentá-las como inimigas da classe operária; assim Isaac Libenson aponta como inimigos do "justicialismo" os "altos dignitários do Clero e do exército", e Puiggros escreve que "o reencontro do povo com o exército constitui o acontecimento mais importante deste século na política argentina", ao que acrescenta: "Resta ainda muito que andar". E o governo promove esse "reencontro" pela aniquilação do que há de conservador e tradicional no meio militar; como inimigos do regime vão sendo afastados os oficiais que procuram manter o antigo espírito das forças armadas da Argentina.
A reforma agrária, a desapropriação das terras, a coletivização das explorações agrícolas, o controle do operariado sobre todas as indústrias — controle este que representa realmente o predomínio dos líderes sindicais dirigidos pelo governo — vão extinguindo as propriedades rurais e toda propriedade privada, firmando o domínio do Estado sobre a economia.
Esta obra do peronismo, verdadeira revolução consistente em esmagar todas as forças conservadoras e entregar tudo ao poder absoluto do Estado, é a porta aberta para o comunismo, ou mais ainda, é o comunismo que já entra pelas portas do país adentro.
Completando o quadro, a atitude internacional de hostilidade para com os Estados Unidos demonstra no campo político a mesma perigosa linha de ação.
Esta é a situação na Argentina. As declarações anticomunistas são inócuas, enquanto que a reforma social que se opera, representa a vitória dos mesmos princípios socialistas por que se batem os marxistas. E se é possível que alguém considere ousado taxar de comunista o caminho pelo qual segue a Argentina, é fora de dúvida que o estado de coisas que nela impera deve trazer uma profunda apreensão; se o comunismo ainda não o domina, a verdade é que para o seu reinado não parece longa a rota a percorrer.
Os acontecimentos que se desenrolando no Extremo Oriente vêm ocupando lugar cada vez mais saliente nas cogitações dos estadistas europeus e americanos.
Estas cogitações têm como ponto central as intenções que animam a União Soviética a sustentar duas guerras simultâneas, uma na Coréia e outra na Indochina. É fora de dúvida que o objetivo último de ambas as guerras é o domínio russo na Ásia. Mas qual será o próximo passo dos comunistas neste sentido? A este respeito, as hipóteses variam. Certos observadores se inclinam a admitir que, em linhas gerais, o desenvolvimento do plano russo teria inicio por uma invasão chinesa rumo à Indochina Francesa, Vietnam, Birmânia e Tailândia, por um exército de voluntários. Tal exército seria composto de cerca de dois milhões de homens, segundo informação de fonte antissoviética que teria sido colhida diretamente em Moscou.
A técnica da invasão deveria ser a mesma observada na Coréia em 1950. Chang-Kai-Chec seria acusado preliminarmente de ter transferido tropas suas de Formosa para aqueles países com o objetivo de invadir a China pela fronteira meridional. Seria anunciada em seguida uma irrupção em território chinês dos "bandidos de Chang", repelida vitoriosamente no mesmo dia pelo exército comunista que, passando à "contraofensiva", iniciaria a "marcha da libertação" nos países "oprimidos pelo jugo imperialista". Um exército comunista atacaria o Vietnam, marchando sobre Hanói, outro penetraria na Birmânia, em direção a Mandalai. Depois seria a vez da Tailândia.
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O discurso pronunciado por Vichinski na ONU, em janeiro, parecia ter por finalidade preparar a opinião pública para a eclosão de uma guerra de grande porte no continente asiático, lançando, como sempre, a responsabilidade sobre os ocidentais. De fato, tal discurso não ficou isolado no mecanismo de propaganda do Kremlin. Foi precedido por um artigo do "Pravda" no qual eram descritos minuciosamente os acordos entre o chefe da missão militar americana em Formosa, general Chase, o chefe da missão militar americana na Tailândia, General Cowl, e o próprio Chang-Kai-Chec, para o transporte das tropas nacionalistas chinesas de Formosa a Bangkok. Ao mesmo tempo o rádio dos países satélites retomou e ampliou o argumento nas horas de transmissão em língua estrangeira.
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Este conjunto de hipóteses, que impressiona por sua coerência e viabilidade, faz sentir em qualquer caso que o Extremo Oriente está em ponto de ser teatro de uma "grande surpresa" por parte dos soviéticos, a qual por sua vez seria prelúdio da "grande surpresa" que é do interesse russo ocasionar, dias mais, dias menos, no Ocidente.
"A salvação, a renovação e uma progressiva melhoria do mundo não podem ser esperadas e originar-se senão do retorno das grandes e influentes classes à reta concepção social"
Diz o Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, que "a Igreja não pôde dissimular que o que dela afasta uma parte apreciável do mundo operário é aquilo mesmo que dela também afasta muitos espíritos de outras classes da humanidade moderna, e isso é a perda das almas exangues, esvaziadas de toda a seiva espiritual e religiosa, vítimas duma epidemia que atinge tantos homens de hoje" (alocução ao Congresso Internacional da JOC na Bélgica).
Entretanto, apesar de generalizado o mal, a responsabilidade das elites é maior, tanto no que diz respeito à propagação desse mesmo mal, quanto à sua extirpação.
Com efeito, esclarece Pio XII em outro documento: — "Tomai em mãos a história da civilização nos últimos dois séculos: ela vos mostra e demonstra que danos para a Fé e os costumes do povo foram produzidos pelo mau exemplo que procede do alto, pela frivolidade religiosa das classes elevadas, e pela aberta luta intelectual contra a verdade revelada". Ora, acrescenta o Soberano Pontífice, "o que convém deduzir desses ensinamentos da história? Que hoje a salvação deve vir de onde a perversão teve sua origem. Que não é difícil manter no povo a Religião e costumes sadios, quando as classes altas caminham na dianteira com seu bom exemplo, e criam condições públicas que não tornem desmedidamente pesada a formação da vida cristã, mas a façam imitável e doce" (alocução ao patriciado e à nobreza romana, de 11 de janeiro de 1943).
E já na rádio-mensagem do Natal de 1942 Sua Santidade acentuava a esperança que deposita na ação das elites para a salvação do mundo, ação que requer do Céu graças muito especiais para fazer voltar essas elites à reta concepção social. Depois de expor os dois elementos da vida social, a convivência na ordem e a convivência na tranquilidade, diz o Papa:
"E visto que a desordem não pode ser superada senão por uma ordem que não seja meramente forçada e fictícia (do mesmo modo que a obscuridade com seus deprimentes e pavorosos efeitos não pôde ser banida senão por meio da luz, e não de fogos fátuos), a salvação, a renovação e uma progressiva melhoria do mundo não podem ser esperadas e originar-se senão do retorno das grandes e influentes classes à reta concepção social: retorno que requer uma extraordinária graça de Deus, e da parte dos espíritos retos e de vistas largas uma vontade inabalável, sempre pronta para o sacrifício. Dessas elites mais influentes e mais abertas para penetrar e ponderar a beleza atraente das justas normas sociais, passará e entrará, assim, nas multidões a convicção da origem verdadeira, divina e espiritual da vida social" (radio-mensagem do Natal de 1942 sobre "A Ordem Interna das Nações").
São João Maria Vianney
Palavras dirigidas a Ernest Hello e Jorge Seigneur, que pediam conselhos a respeito da fundação de um diário católico (1859):
"O principio de uma grande obra deve ser pequeno. Não é a questão financeira que vos deve afligir. Tudo o que Deus quer se arranja, não se sabe como. Tereis o necessário auxilio, e, mesmo faltando este, deveis começar.
Vivemos em um mundo miserável. Deveis expor esta miséria e dizer a verdade sem acepção de pessoas. Há uma massa de mentiras e de erros que deveis dissipar, sem olhar para as pessoas que os espalham. Deveis combater o erro mesmo entre os católicos, pois estes têm menos direito — se posso falar de direito — do que os outros para pregas ideias errôneas. Amai os vossos adversários. Rezai por eles, mas não deveis fazer-lhes cumprimentos. É tempo perdido. Não procureis agradar a todos, nem podeis a todos agradar. Procurai agradar a Deus e seus Anjos e Santos: eis o vosso público!
Pois bem, meus filhos, mãos à obra! Os que de vós se afastam, que vos censuram por falta de amor, intimamente vos darão razão: talvez vos defendam publicamente. Se os homens pudessem ver como eu trato "Grappin" (alcunha regional depreciativa com que o Santo designava o demônio), diriam que não lhe tenho amor. Meto-lhe medo, causo-lhe espanto, lanço-o por terra, e digo-lhe: "Grappin, tu me atacas: pois bem, eu me defendo também".
Mas vós, meus filhos, dir-me-eis que os homens não são demônios. Sem dúvida, muitos não são demônios. Mas em todos que não estão unidos intimamente a Cristo está latente alguma coisa diabólica: e contra isso deveis levantar-vos como executores de justiça. O erro é um obstáculo para a união. Meu Deus, quão inexaurível é a verdade, quão imarcescível, quão repleta de vida! Mais uma vez, não deixeis jamais de combater o erro. E para isto, gastai a maior parte de vosso tempo. Começai, pois, e perseverai! Não vos deixeis intimidar pela contradição. Contradição não vale nada. Fareis bem e muito bem".
Legenda: O Santo Cura d'Ars no leito de morte.