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A MENSAGEM DE FÁTIMA E O REINO SOCIAL DE MARIA

Mariano Costa

Agora que a veneranda Imagem de Nossa Senhora de Fátima percorre, em peregrinação de bênçãos, o território de nossa Pátria, é justo e cabido que se diga, mais uma vez, em louvor da mesma Virgem e para maior esclarecimento de nossa piedade, uma palavra sobre o altíssimo significado da Mensagem que Ela veio trazer em Fátima no ano de 1917.

Antes de tudo, é necessário que nos convençamos do alcance universal dessa Mensagem. A Virgem Santíssima, aparecendo em Portugal, não fixara somente ali os seus olhos maternais, mas os estendia para o mundo inteiro, apontando amorosamente aos homens de todas as nacionalidades e de todas as raças o caminho seguro e fácil da paz e da felicidade. É o que se depreende da simples narrativa das aparições e do texto da mensagem que o Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, dirigiu à Nação portuguesa aos 31 de Outubro de 1942, no encerramento das festas jubilares de Fátima, quando, em ato solene e oficial, consagrava o Mundo ao Imaculado Coração de Maria.

Ora, traduzida em palavras simples e claras, a Mensagem de Fátima se reduz a isto: o reconhecimento do reinado de Maria e a perfeita submissão a Ela constituem o grande meio para estabelecer no mundo o reinado de Jesus Cristo e trazer à humanidade a ordem, a tranquilidade e a paz.

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É doutrina comumente aceita entre os teólogos, ratificada por documentos do Magistério eclesiástico, que a Mãe de Deus, depois de entrar gloriosamente no Paraíso, em corpo e alma, foi por Seu divino Filho coroada Rainha do céu e da terra. Tríplice perfeição de graça distingue o Doutor Angélico na Bem-aventurada Virgem: a primeira, dispositiva, que A tornou idônea para a maternidade divina; a segunda, que Lhe foi outorgada pela presença do Filho de Deus, encarnado no Seu bendito seio; a terceira, a perfeição da gloria no céu (S.T., III, q. 27, a. 5, ad 2 ). Ora, na perfeição da gloria se incluem a Sua Assunção e o estabelecimento do Seu reinado sobre todos os habitantes do céu e da terra.

É por demais conhecida na linguagem cristã a terminologia pela qual damos a Nossa Senhora o honroso título de Rainha. A Sua realeza geralmente se exprime, em linguagem teológica, por duas fórmulas que revelam por sua vez a dupla face dessa mesma realeza. Primeiro, que Maria no céu forma uma ordem particular, muito superior à dos Anjos e dos Santos. Sob este ponto de vista Maria é Rainha dos Anjos e dos Santos em virtude de Sua maternidade divina e de Sua santidade, que A colocam num plano de gloria superior a todos. Segundo, que Maria está sentada num trono à direita de Seu divino Filho e exerce sobre todos os eleitos do céu e sobre todos os homens uma espécie de realeza não somente de excelência, senão também de poder e de domínio.

No primeiro sentido temos as palavras de Pio IX na Bula "Ineffabilis Deus": "Deus tão admiravelmente A cumulou, muito acima dos espíritos angélicos e de todos os Santos da abundância dos carismas celestiais extraídos dos tesouros de Sua Divindade, que A fez possuidora de uma plenitude de inocência e santidade qual não existe abaixo de Deus e que só o próprio Deus pode compreender". No segundo sentido, pode-se ainda aduzir a mesma Bula, quando vê na obra da redenção uma espécie de revide da justiça divina contra a ousadia da enganadora Serpente, em que Nossa Senhora se ostenta estreitamente unida, na luta e no triunfo, ao mesmo Redentor. E conclui: "Nada se deve temer, nem se há de desesperar, se nos guia, se nos favorece, se nos é propicia, se nos protege Aquela que, tendo para conosco maternos sentimentos e tratando do negócio de nossa salvação, é solicita por todo o gênero humano, e, constituída pelo Senhor Rainha do céu e da terra, exaltada sobre todos os coros dos Anjos e as ordens dos Santos, assistindo à direita de Seu Filho Unigênito Jesus Cristo Nosso Senhor, com Seus rogos maternos seguramente impetra, e encontra o que procura, e nunca pode ser enganada". O Santo Padre Pio XII também A invoca, na fórmula de consagração ao Seu Imaculado Coração, como "Mãe nossa e Rainha do mundo", título, aliás, com que a Sagrada Liturgia a Ela se dirige: "Gloriosa Regina mundi intercede pro nobis ad Dominum".

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Nossa Senhora é Rainha. Mas qual é propriamente a natureza intima de Sua realeza? Sem querer aprofundar questão tão larga em artigo tão estreito, direi com os Santos Padres que a Maria convém por graça tudo aquilo que a Jesus convém por natureza. Ao que se ajusta também a afirmação de que, se bem não devamos prestar à Mãe do Rei as mesmas homenagens que se prestam ao Rei, contudo a Ela se deve certa honra semelhante, em virtude de certa excelência (Sum. Theol. III, q. 25, a. 5, ad 1).

A Sagrada Escritura não somente sugere, mas o diz, implicitamente ao menos, que Maria há de reinar com Jesus. Nas páginas do Genesis, o reinado de Jesus é apresentado como fruto de uma luta na qual está empenhada também Maria.

Num plano oposto ao de Satanás, Jesus Cristo, segundo Adão, e Maria, segunda Eva, hão de vencer e reinarão sobre a humanidade regenerada. Estabelecida por Deus antagonista do demônio, vencerá a Virgem todos os embustes e heresias. De outro lado, terá Sua descendência, Seus filhos, que Lhe estarão sujeitos como o Seu próprio Filho Jesus, e viverão debaixo de Sua maternal proteção. Se Jesus Cristo, Deus feito homem, no dizer de Grignion de Montfort, deu mais gloria a Deus submetendo-Se a Maria durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização dos mais estupendos milagres, nós igualmente glorificamos ao Senhor quando, para Lhe agradar, nos submetemos a Maria, a exemplo de Cristo, nosso único modelo. A Virgem bendita que, por graça especial, teve autoridade sobre o Filho único de Deus, obteve também jurisdição sobre Seus filhos adotivos.

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Ora, examinando de perto o sentido das revelações de Fátima, encontramos a confirmação concreta e palpitante desta verdade tão esquecida de muitos.

Vemos aí Nossa Senhora em pleno exercício do poder de Rainha, pois de outra maneira não se poderiam entender Suas exortações e conselhos. A diferença entre Ela e os outros Santos, no modo de tratar o negócio de salvação do mundo, é patente. Os outros são enviados, mensageiros que repetem simplesmente o que o Altíssimo lhes manda dizer. Maria, ao contrário, trata como de coisa própria, que Lhe compete, que Lhe pertence tratar. Queixa-se, por exemplo, das blasfêmias e ingratidões, como se a Ela mesma fossem dirigidas, pede reparações e promete graças. "Vê, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, procura consolar-Me, e diz que prometo assistir na hora da morte, com as graças necessárias para a salvação, a todos os que, nos primeiros sábados de cinco meses seguidos, se confessarem, receberem a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem companhia durante quinze minutos, meditando nos quinze mistérios com o fim de me desagravar". Além deste, aponta a Senhora outros meios, simples e fáceis, com que os homens hão de reparar ao Seu Coração e alcançar misericórdia: a oração, a penitencia, a devoção àquele mesmo puríssimo Coração. E acrescenta: "Se fizerdes o que vos digo, muitas almas se salvarão e terão paz". Insiste, depois, em pedir que se consagrem ao Imaculado Coração, como meio de escapar aos castigos que Deus está para enviar ao mundo culpado, e continua: "Se os Meus rogos forem ouvidos, a Rússia converter-se-á e haverá paz; se não, espalhar-se-ão grandes erros pelo mundo, suscitando guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá de sofrer muito e várias nações serão destruídas; depois, o Meu Coração triunfará... e será concedido à humanidade um período de paz". Não é, mais ou menos, o que dizia em Salette? — "Se Meu povo não se quiser submeter, sou forçada a deixar cair a mão de Meu Filho".

Em resumo: os pecados e ofensas contra Deus são também contra Maria; os homens estão a merecer terríveis castigos da justiça divina, mas Nossa Senhora pode afastá-los e aponta para isso os meios: — ouvir Seus rogos e Suas ordens; se ouvirem, tudo está salvo e virá a paz ao mundo; se não quiserem ouvir, então tremendos flagelos se descarregarão sobre a humanidade culpada. O caminho, portanto, para a paz e a felicidade é consagrar-se inteiramente ao serviço de Maria. Ora, consagrar-se significa dar-se, dedicar-se, pôr-se a serviço de alguém, sujeitar-se às suas ordens. Consagrar-se a Maria é reconhecê-la por Rainha, como o afirma claramente o Santo Padre no ato da Consagração do mundo ao Coração Imaculado: "Rainha do SS. Rosário... vencedora das grandes batalhas de Deus... a Vosso trono súplices nos prostramos... Rainha da paz, rogai por nós e dai ao mundo em guerra, a paz ... Obtende paz e liberdade completa para a Igreja Santa de Deus; sustai o dilúvio, o inundamento de neopaganismo, todo matéria, e fomentai nos fieis o amor da pureza, a prática da vida cristã e o zelo apostólico, para que o povo dos que servem a Deus aumente em mérito e em número... Como ao Coração do Vosso Jesus foram consagrados a Igreja e todo o gênero humano... assim desde hoje sejam perpetuamente consagrados também a Vós e ao Vosso Coração Imaculado, ó Mãe nossa e Rainha do mundo, para que o Vosso amor e patrocínio apresse o triunfo do Reino de Deus, e todas as gerações humanas, pacificadas entre si e com Deus, a Vós proclamem bem-aventurada, e convosco entoem, de um polo a outro da terra, o eterno Magnificat de gloria, amor, reconhecimento ao Coração de Jesus, onde só podem encontrar a Verdade, a Vida, e a Paz".

Se Deus, pois, quis unir, nas lutas e nos triunfos, a SS. Virgem a Seu divino Filho, a nós compete somente abraçar este plano divino, seguir estas vistas de Deus na salvação do gênero humano. Foram estes planos que a menor de todos os videntes de Fátima, a angélica Jacinta, na fresca singeleza de sua linguagem, revelou ao mundo, em nome de Maria. "Já falta pouco tempo, dizia ela, para ir para o céu. Tu ficas (dirigia-se a Lucia) para dizeres que Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Quando fores para dizer isso, não te escondes, dize a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria, que lhas peçam a Ela, que o Coração de Jesus quer que a Seu lado se venere o Coração Imaculado de Maria. Que peçam a paz ao Coração Imaculado de Maria, que Deus Lha entregou a Ela. Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro do peito a queimar-me e a fazer-me gostar do Coração de Jesus e do Coração de Maria!"

Não nos admiremos, depois disto, se os Papas colocam em Maria sua inteira confiança para debelar os males presentes. Leão XIII termina sua admirável Encíclica contra a Maçonaria com veemente apelo Áquela que não conhece derrotas. "Peçamos à SS. Virgem Mãe de Deus, diz ele, que se faça nossa auxiliar e nossa intérprete. Vitoriosa de Satã... que Ela exerça Seu poder contra as seitas condenadas..." Pio XI, que consagrou sua última Encíclica a pregar o Rosário de Maria, afirma peremptoriamente: "Quem com diligencia estuda os anais da Igreja Católica verá facilmente unido a todos os fastos do nome cristão o patrocínio eficaz da Virgem Mãe de Deus". Não menos explicito é Pio XII, na Encíclica sobre o Rosário de 15 de Setembro de 1951: "Diante de males iminentes jamais deixamos de entregar ao patrocínio seguríssimo da Mãe de Deus os destinos da família humana... Novamente, pois, e com firmeza, não duvidamos asseverar que colocamos no Rosário marial a Nossa esperança para sanar os males dos nossos tempos".

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Todas as vezes que a Esposa de Cristo foi assaltada de males, não foi o patrocínio de Maria, solicitado pelas preces fervorosas de Seus filhos, que salvou a família cristã? Animo, portanto, e coragem, que a Mãe de Deus e a Rainha do mundo ainda uma vez nos salvará deste dilúvio de confusão e de maldade que atualmente ameaça de todas as partes a Santa Igreja de Deus. A isto fazem eco as revelações, chamemo-las assim, de S. Grignion de Montfort: "Maria deve brilhar, mais que nunca, em misericórdia, em força e em graça nestes últimos tempos: em misericórdia, para reconduzir e receber amorosamente os pobres pecadores e desviados que se converterão e voltarão à Igreja Católica; em força, contra os inimigos de Deus... que se revoltarão terrivelmente para seduzir e fazer cair, por promessas e ameaças, todos aqueles que lhes serão contrários; e, enfim, Ela deve brilhar em graça, para animar e sustentar os valentes soldados e fieis servidores de Jesus Cristo, que combaterão pelos Seus interesses. Enfim, Maria deve ser terrível ao diabo e a seus sequazes como um exército em ordem de batalha, principalmente nestes últimos tempos, porque o diabo sabendo bem que lhe resta pouco tempo, muito menos do que nunca, para perder as almas, redobrará seus esforços e seus combates todos os dias; suscitará bem cedo cruéis perseguições, e armará terríveis embustes aos fiéis servidores de Maria, que ele tem mais dificuldade de vencer que aos demais".


O CARDEAL FAULHABER, SÍMBOLO VIVO DA IGREJA MILITANTE

Com o falecimento do Eminentíssimo Cardeal Michael Faulhaber, do título de Santo Anastácio, Arcebispo de Munique e Freising, ocorrido em 12 de junho último, desapareceu o último dos três grandes campeões da luta dos católicos alemães contra o nazismo. Os outros foram Mons. Clemens August von Galen, Arcebispo de Münster, e Mons. Konrad von Preysing, Arcebispo de Berlim.

Nascido em Klosterheidenfeld, na Baviera setentrional, aos 5 de março de 1869, Michael Faulhaber atendeu desde cedo ao chamado divino, tendo recebido a ordenação sacerdotal com 23 anos. Depois de um curso de aperfeiçoamento em ciências eclesiásticas feito em Roma, ocupou um cargo na Universidade de Würzburg e mais tarde tornou-se professor de Teologia Bíblica na Faculdade de Teologia da Universidade de Estrasburgo. Em 1911 foi eleito Bispo de Speyer pelo Bem-aventurado Papa Pio X. Durante a primeira guerra mundial seguiu para o front como capelão-chefe junto às tropas bávaras, e foi o primeiro Prelado alemão que recebeu a Cruz de Ferro. Ainda em plena guerra foi designado pelo Papa Bento XV para suceder ao Cardeal Bettinger na Arquidiocese de Munique e Freising.

Deixando as trincheiras dirigiu-se para a capital da Baviera, então ainda governada pelo Rei Luiz III. Munique veio a ser em 1919 um dos campos de batalha do partido comunista e Mons. Faulhaber pôs em perigo a sua vida pregando contra os vermelhos. Nessa ocasião era Núncio Apostólico na Baviera Mons. Eugenio Pacelli, que deu ao Arcebispo o cognome de “símbolo vivo da Igreja Militante”.

No Consistório de março de 1921, o Papa Bento XV elevou Mons. Faulhaber às honras do Cardinalato, com o título de Santo Anastácio. Durante todo o período de confusão que se seguiu à primeira guerra mundial o Cardeal Faulhaber revelou sempre uma coragem e uma firmeza verdadeiramente apostólicas. Com a mesma energia com que denunciara os perigos do Comunismo, desde 1933 iniciou uma luta sem tréguas contra o Nazismo, condenando-lhe doutrinas falsas, violações dos sagrados direitos da Igreja e as perseguições de caráter racista aos judeus.

Em 1934 Hitler ordenou que fosse encerrado no tragicamente célebre campo de concentração de Dachau. O Arcebispo, num gesto vigoroso e digno, apresentou-se à escolta de guardas SS revestido dê toda a pompa cardinalícia, para assim ser conduzido ao cárcere. Temerosos de provocar uma reação popular nas ruas de Munique por onde deveriam levá-lo, os nazistas relaxaram a ordem de prisão e nunca mais ousaram molestá-lo abertamente. Tal era o prestígio do Cardeal junto de seus fiéis. Durante mais de dez anos esteve ele à frente da resistência católica contra o nazismo, dando ao mundo um exemplo edificante de combatividade pela causa de Jesus Cristo.

Depois da segunda guerra mundial retomou o Cardeal Faulhaber a luta contra o Comunismo, e procurou defender a sua Arquidiocese contra certas inovações perniciosas empreendidas pelo governo militar americano de ocupação.


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

O traje, espelho de uma época

Plinio Corrêa de Oliveira

O traje, de um ponto de vista meramente material, isto é, quanto ao serviço que presta ao corpo, não é senão um agasalho. Quando muito se lhe pode reconhecer a função de proteger um certo pudor que brota das profundezas do instinto.

Mas quem sabe que o homem não é só matéria, sabe também que o traje não é apenas um agasalho, que segundo a ordem natural das coisas ele deve também prestar serviço ao espírito.

Que serviço? Por uma propriedade que não é apenas convencional ou imaginativa, mas que crava raízes no âmago da realidade, certas formas, certas cores, as qualidades de certos tecidos, produzem no homem determinadas impressões, que são mais ou menos as mesmas para todos os homens. Impressões e, pois, estados de espírito, atitudes mentais, em certos casos todo um pendor da personalidade. É este um dos fundamentos da arte. Assim pode o homem, por meio do traje, exprimir até certo ponto sua personalidade moral, o que facilmente se pode notar no vestuário feminino, tão apto a espelhar o feitio mental da mulher.

O traje profissional tende a exprimir mais do que o feitio mental de um indivíduo, o feitio mental próprio à profissão: será sóbrio como uma batina de Sacerdote, grave como uma beca de professor, imponente como um manto de Rei, etc.

Quando uma época se preocupa em elevar o homem, é sedenta de dignidade, de grandeza, de seriedade, dispõe o vestuário - comum ou profissional - de maneira a acentuar em cada pessoa a impressão desses valores. Será ou tenderá a ser nobre, digno, varonil, o traje de todo homem, desde o Soberano até o último plebeu. É o que se nota nos trajes antigos. Publicamos nesta página a fotografia de um mero porteiro do Banco da Inglaterra, com suas vestes tradicionais. Seria impossível exprimir e valorizar melhor a modesta mas real parcela de responsabilidades que seu cargo, obscuro mas honesto possui.

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Os outros clichês representam contemporâneos nossos vestidos como o são habitualmente, nas praias e nos campos de certos países, homens de categoria que se prezam de estar em dia com o "progresso". Estes trajes, como se sabe, tendem a invadir toda a vida: já são francamente admitidos no uso corrente em algumas cidades, como Paris no verão.

Que mentalidade revelam estes trajes? Tudo quanto se pode talvez tolerar num menino... mais nada.

Que oportunidade dão eles a que se espelhe o que a alma de um homem bem formado deve espelhar, em qualquer classe social, isto é, gravidade, senso de responsabilidade, elevação de espírito?

A resposta é óbvia.

"Dize-me como te trajas, e eu te direi quem és". Esta máxima, tantas vezes errada se a quisermos aplicar a cada pessoa individualmente considerada, é bem verdadeira para as várias épocas da História.

Dois tipos de traje, duas mentalidades, dois estilos de vida.

Que diferença! E quem ousará dizer que foi para melhor?