As Religiões Falsas Não Têm Direito à Liberdade
Nos antigos monumentos espanhóis, formosos, altaneiros e cheios de vigor, espelhasse a verdadeira alma da Espanha, pátria de cruzados que preza acima de tudo a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. As Pastorais do Eminentíssimo Cardeal Segura y Saenz, Arcebispo de Sevilha, "Pela unidade católica da Espanha", exprimem uma das virtudes que mais engrandeceram a nação ibérica: uma intransigência santa e inquebrantável. Se os católicos do mundo inteiro tivessem essa intransigência, seria outra a face da terra...
FILHO do homem — dizia o Senhor ao profeta Ezequiel — fala aos filhos do teu povo... e lhes adverte que te fiz atalaia na casa de Israel... Se a atalaia perceber que vem a espada do inimigo e não tocar a trombeta, e o povo se não puser a salvo, e vier o inimigo e tirar a vida a um deles; este tal foi por certo surpreendido na sua maldade e descuido; mas eu pedirei contas do seu sangue à atalaia" (Ezeq. 33, 7 e 2).
Enfeixando em um volume as Cartas Pastorais que Sua Eminência o Sr. Cardeal Segura y Saenz, Arcebispo de Sevilha, publicou durante o ano findo sob o título geral de "Pela Unidade Católica da Espanha", realça a Editora Edelce, em prefácio, existirem na casa do Pai Celeste muitas moradas, havendo também entre os Pastores de Seu aprisco, aos quais incumbe de oficio o dever da vigilância, quem tenha de modo todo especial a missão de atalaia. É a vocação de Jeremias: "Porque eu te estabeleci hoje como uma cidade fortificada, e como uma coluna de ferro, e como um muro de bronze, sobre toda esta terra, contra os reis de Judá, seus príncipes, seus sacerdotes e seu povo. E eles pelejarão contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para te livrar, diz o Senhor" (Jerem. 1, 18 e 19). É a vocação de Isaias: "Clama, não cesses, levanta como trombeta a tua voz, e anuncia ao meu povo as suas maldades, e à casa de Jacó os seus pecados (Isaias, 58, 1). É a vocação do ilustre Arcebispo de Sevilha, figura representativa do chamado catolicismo espanhol, que nada mais é que o autêntico catolicismo, conforme a expressiva confissão de Menendez y Pelayo: "Sou católico, nem novo nem velho, senão católico sem artifícios, como meus pais e avós e como toda a Espanha histórica, fértil em santos, heróis e sábios muito mais do que a moderna. Sou católico, apostólico, romano, sem mutilações nem subterfúgios, sem fazer concessão alguma à impiedade nem à heterodoxia, em qualquer forma que se apresentem, nem recusar nenhuma das conseqüências lógicas da Fé que professo; muito longe, entretanto, de pretender converter em dogmas as opiniões deste ou daquele doutor particular, por respeitável que seja na Igreja".
O tesouro da Fé
A 20 de fevereiro do ano passado, Sua Eminência publicou uma Carta Pastoral sobre "O tesouro da Fé". Nesse documento, mostrava como, por ocasião da morte do Rei da Inglaterra, havia sido iniciada uma campanha de benevolência em relação ao protestantismo, "como se todas as religiões fossem igualmente aceitáveis na presença de Deus". Mais ainda, coincidindo com esses acontecimentos, havia recrudescido a campanha protestante na Espanha, "em termos extraordinariamente graves". Cita a declaração feita pelo embaixador extraordinário dos Estados Unidos, o qual, depois de uma entrevista com Truman, manifestara que "o repúdio do Presidente em relação à Espanha e seu governo se deveria, sem dúvida, à intolerável demora do Governo espanhol em levar a cabo suas promessas de estabelecer a liberdade religiosa na Espanha". E valendo-se de informações oficiosas de um dos Ministérios do governo espanhol, Sua Eminência acentua: "É um fato que a partir de 1945 cresceu consideravelmente a atividade proselitista protestante na Espanha".
Mostra a Pastoral, transcrevendo trecho de autorizada revista, como era inadmissivelmente caro o preço da ajuda norte-americana: "Não é digno exigir de um pobre, como preço de um pedaço de pão, a violação da lei divina. Não estranhamos demasiadamente que, havendo católicos que proclamam como ideal divino a liberdade religiosa igual para todos, haja também protestantes adeptos do mesmo erro, e nos imponham, a nós, espanhóis, essa liberdade como condição prévia para seus favores".
O incidente
Teve esse documento ampla repercussão, tanto dentro como fora da Espanha. Agindo segundo o mais perfeito estilo liberal, o jornal "Arriba", em termos que Sua Eminência se recusou comentar, criticou acerbamente essa Pastoral em artigo que, por imposição do departamento oficial de propaganda, foi reproduzido em todo o país. Já anteriormente outros documentos do Cardeal Segura, tais como uma Instrução de 8 de setembro de 1947 e uma Carta Pastoral de 14 de dezembro de 1948, ambos sobre o proselitismo protestante na Espanha, haviam tido sua reprodução proibida pela "Direccion General de Prensa". Mais: o embaixador espanhol em Washington, em carta a um jornal católico americano, procurou mostrar como não seria justo "englobar em um traço comum o governo espanhol, o Cardeal (Segura) e os católicos espanhóis, considerando-os atrasados".
Repelindo esta censura do governo, em nova Carta Pastoral sob o título de "A liberdade e independência do sagrado ministério, custodia da Fé", cita Sua Eminência a seguinte proposição condenada do Syllabus de Pio IX: "A autoridade civil pode imiscuir-se nas coisas que tocam à religião, costumes e regime espiritual; e assim pode julgar das instruções que os Pastores da Igreja soem dar para dirigir as consciências, segundo o que pede seu mesmo cargo" (Prop. 44).
O castigo das trevas
Em Pastoral sobre "O castigo das trevas", ou "o espantoso confusionismo moderno, causa de tantos males", relembra Sua Eminência o modernismo como o impulsionador dessas idéias errôneas que invadem os ambientes católicos. Definindo a "grande heresia de nossos tempos", transcreve a síntese que dela fez o Cardeal Mercier: "O modernismo consiste essencialmente em afirmar que a alma religiosa deve tirar de si mesma, e de nada mais que de si mesma, o objeto e o motivo de sua fé. Rechaça toda comunicação revelada que pretenda impor-se de fora à consciência, e chega a ser deste modo, por uma consequência necessária, a negação da autoridade
(continua)