VER TUA MANENT IN AETERNUM
VIVEMOS O COMEÇO DOS MALES ANUNCIADOS PARA O FIM DOS TEMPOS?
B. PIO X: Em nossos dias é sobejamente verdadeiro que as nações fremiram e os povos meditaram projetos insensatos (S1. 2, 1) contra o Criador; e quase comum se tornou este grito dos seus inimigos: Retirai-vos de nós (Job 21,-14). Daí, na maioria, uma rejeição completa de todo respeito a Deus. Daí hábitos de vida, tanto privada quanto pública, que nenhuma conta fazem da soberania de Deus. Bem mais, não há esforço nem artifício que não se ponha em ação para abolir inteiramente a d'Ele, e até a sua noção. Quem pesa estas coisas tem direito de temer que uma tal perversão dos espíritos seja o começo dos males anunciados para o fim dos tempos, e como que a sua tomada de contacto com a terra, e que verdadeiramente o filho da perdição de que fala o Apóstolo (2 Tess. 2, 3) já tenha feito o seu advento entre nós, tamanha é a audácia e tamanha a sanha com que por toda a parte se lança o ataque à Religião, com que se investe contra os dogmas da Fé, com que se tende obstinadamente a aniquilar toda relação do homem com a Divindade! Em compensação, e é este, no dizer do mesmo Apóstolo, o caráter próprio do Anti-Cristo, com uma temeridade sem nome o homem usurpou o lugar do Criador, elevando-se acima de tudo o que traz o nome de Deus. E isso a tal ponto que, impotente para extinguir completamente em si a noção de Deus, ele sacode entretanto o jugo da Sua majestade, e dedica a si mesmo o mundo visível, à guisa de templo onde pretende receber a adoração dos seus semelhantes. Senta-se no templo de Deus, onde se mostra como se fosse o próprio Deus (2 Tess. 2, 2) — (Encíclica "E supremi Apostolatus", de 4-X-1903).
É MODERNISMO DESPREZAR A APOLOGÉTICA TRADICIONAL
B. PIO X: Mas passemos ao apologeta. Entre os modernistas também este depende duplamente do filósofo. Primeiro indiretamente, tomando para matéria a história, escrita, como vimos, sob a direção do filósofo; depois diretamente, aceitando do filósofo os princípios e os juízos. Vem daí o preceito comum da escola modernista, de que a nova apologética deve dirimir as controvérsias religiosas por meio de indagações históricas e psicológicas. Por isso, esses apologetas começam o seu trabalho advertindo os racionalistas de que não defendem a Religião com os livros sacros, nem com as histórias vulgarmente usadas na Igreja e escritas à moda antiga; fazem-no, porém, com a história real composta segundo os preceitos modernos e com o método moderno. Assim o dizem, não como se argumentassem ad hominem, mas porque de fato acreditam que só em tal história se ache a verdade. Quando escrevem, também não se preocupam de insistir na própria sinceridade; já são bastante conhecidos entre os racionalistas, já foram louvados como combatendo sob o mesmo estandarte; e desses louvores, que um verdadeiro católico deveria repelir, muito se lisonjeiam eles, e os utilizam como escudo contra as censuras da Igreja — (Encíclica "Pascendi Dominici Gregis", de 8-IX-1907).
NA PRÁTICA DO ESPORTE CUMPRE LEVAR EM CONTA O FATO DO PECADO ORIGINAL
PIO XII: Não menos importante é outra norma fundamental contida em outro lugar da Escritura. Com efeito, na Epístola de São Paulo aos Romanos se lê: Sinto em meus membros outra lei que repugna à lei do espírito e me acorrenta à lei do pecado que está em meus membros (Rom. 7, 23). Não seria possível descrever mais ao vivo o drama quotidiano de que está tecida a vida do homem. Os instintos e as forças do corpo se colocam em realce, e, sufocando a voz da razão, prevalecem sobre as energias da reta vontade, desde o dia que sua inteira subordinação ao espírito foi perdida com o pecado original. Na aplicação e exercício intensivo do corpo deve-se levar em conta esse fato. Do mesmo modo que existe uma ginástica e um esporte que, com sua austeridade, concorrem para refrear os instintos, há também outras formas de esporte que os excitam, quer com a força violenta, quer com as seduções da sensualidade. Também sob o aspecto estético, com o prazer da beleza, com a admiração do ritmo na dança e na ginástica, o instinto pode inocular seu veneno nas almas. Existe, ademais, no esporte e na ginástica, na rítmica e na dança, certo desnudamento que não é necessário nem conveniente. Não sem razão, há alguns decênios, disse um observador imparcial: O que interessa à massa neste campo não é a beleza do nu, mas o nu da beleza. Diante de tal maneira de praticar a ginástica e o esporte, o sentimento religioso e moral opõem o seu veto — (Discurso aos participantes do Congresso científico nacional de ginástica e esportes, de 8-X1-1952).
MOTIVOS DA EFICÁCIA VIGOROSA DOS EXERCICIOS DE SANTO INÁCIO
PIO XI: Uma doutrina espiritual excelente, inteiramente afastada dos perigos e ilusões de um falso misticismo; uma facilidade admirável de adaptação a todas as classes e condições, quer aos que se dedicam à contemplação no claustro, quer aos que levam uma vida agitada nos negócios seculares; uma coordenação maravilhosa das diversas partes; a ordem admirável e luminosa em que se sucedem as verdades meditadas; uma espiritualidade, enfim, que ensina o homem a sacudir o jugo do pecado, a curar suas moléstia morais, e que, pelo caminho seguro da abnegação e da renúncia aos maus hábitos, o faz chegar à oração mais elevada, nos vértices do amor divino; tantas qualidades, sem dúvida alguma, provam com evidência a eficácia vigorosa do método de Santo Inácio e são para os exercícios a mais eloqüente recomendação — (Encíclica "Mens Nostra", de 20-XII-1929).
NOTA INTERNACIONAL
A ascensão de Malenkov autoriza esperanças de paz?
Adolpho Lindenberg
DESDE as mais remotas épocas sempre houve os assim chamados "eternos otimistas", isto é, pessoas que se agarram aos menores detalhes ou aos fatos menos significativos para justificar uma visão sempre "construtiva" e sempre rósea dos acontecimentos. Esses elementos, que pecam por unilateralidade, parecem proliferar hoje mais do que nunca, e é de crer que gozem de bons meios de ação, pois de outro modo não se poderia explicar o alívio exagerado e o otimismo geral a que se entregou o mundo ocidental após a morte de Stalin.
Malenkov, apesar de sua má catadura e dos seus antecedentes ainda piores, subindo ao poder saudado com entusiasmo pelos seus correligionários como o discípulo fiel de Stalin, é olhado com simpatia e esperança pelos ocidentais pelo fato de ser um rival de Molotov, ferrenho inimigo da civilização ocidental.
Para nós católicos é uma obrigação considerar a atual situação internacional como fruto lógico do entrechoque das ideologias liberais e socialistas, e não como um conjunto de meros conflitos de interesses nacionais contraditórios ou de feitios de caráter mais ou menos antagônicos dos vários chefes de Estado. Assim, devemos achar que a Rússia hostilizará constantemente o mundo ocidental enquanto este não se socializar inteiramente, e esperará a hora que melhor lhe convier para iniciar a guerra; e isso quer Stalin continuasse vivo, quer Molotov, ou o mais pacifista dos líderes russos, tivesse subido ao poder ao invés de Malenkov.
Essas considerações não nos impedem de reconhecer que a morte de um Stalin veio privar o grupo de países de detrás da cortina de ferro de um ditador de forte personalidade e inegável prestígio popular, predicados esses que são indispensáveis aos chefes de todo regime de força. Mas não devemos esquecer que não são poucas as vantagens que a mudança de governo pode oferecer à política russa:
I — Todo governo totalitário, e disso deram sobejas provas as ditaduras de Hitler e de Stalin, necessita promover ciclicamente grandes expurgos internos. Ora, a subida de um novo líder pode justificar uma grande "demissão" de autoridades russas e uma "substituição" de políticos nos vários países satélites. A morte de Gottwald, a agravação da moléstia de Thorez, e as doenças de Wilhelm Pieck e de outros chefes comunistas regionais, parecem ser os primeiros sintomas desse novo expurgo.
II — As futuras eleições norte-americanas e inglesas poderão levar ao poder, em seus respectivos países, governos de orientação bem diversa da dos atuais, o que constitui evidentemente uma desvantagem para a política anti-socialista e anticomunista de Eisenhower e de Churchill. A Rússia e os comunistas do mundo inteiro, pelo contrário, caso Malenkov consiga firmar-se no poder — e tudo leva a crer que o conseguirá — contarão com um mesmo governo e com uma mesma orientação política por dezenas de anos, pois tanto Malenkov como seu imediato Beria, ainda são relativamente moços.
III — O Times de Londres publicou declarações de um almirante inglês, de que a esquadra russa ultrapassou em potência de fogo a britânica, que era a segunda do mundo, inferior apenas à norte-americana. Por outro lado, a maioria dos observadores que têm comentado os ataques dos Mig-15 a aviões aliados, não deixam de ressaltar as esplendidas e inigualáveis qualidades desses aparelhos russos, bem como o fantástico número deles existente ao longo da cortina de ferro. E sabemos que só agora é que os americanos enviaram duzentos (!) Sabre-86 para a Europa, os quais, note-se bem, são os únicos aviões aliados que podem medir-se com os Mig-15. Esses tristes dados fazem prever insofismavelmente que, apesar do rearmamento norte-americano e mesmo que os Estados europeus venham a formar um só exército, a Rússia continuará a se armar com muito maior eficiência. O tempo trabalha a seu favor. Uma vez admitido isso, concluiremos que para os russos a melhor política será a da contemporização por um certo período. Ora, o que servirá melhor para esse efeito do que a subida ao poder de um homem que tem por rival o grande fautor da guerra que é Molotov? Quem melhor poderá convencer o mundo das "boas intenções" da Rússia e de seu "amor pela paz" do que um novo ditador cujas primeiras palavras foram "creio ser possível a coexistência pacifica entre a Rússia e as nações ocidentais, especialmente os EE.UU."? Malenkov vestirá a pele da ovelha e contará com milhões de "otimistas inveterados", que clamarão contra o rearmamento americano e contra a formação do exército europeu com o mesmo entusiasmo com que aplaudiram Chamberlain em Munique.
Se bem que estranho ao assunto destas considerações, o fato de o Marechal Tito ter sido recebido festiva e cordialmente em Londres não pode passar sem um reparo nosso. Tito e o seu comunismo são tão perigosos quanto Stalin e o bolchevismo russo, ou talvez mais ainda: por isso, o almoço oferecido a ele pela rainha constitui um autêntico escândalo e um sinal tristíssimo de decadência política e moral da Grã-Bretanha.
CORRESPONDÊNCIA
Sarita Santos, depois de várias considerações que justificam seu pedido, deseja que elucidemos os seguintes pontos:
1. Qual é o pensamento da Igreja a respeito do exame pré-nupcial?
2. Pode um católico, servindo-se da autoridade que lhe confere a sua posição na Igreja, obrigar em consciência uma pessoa ao exame pré-nupcial?
Na encíclica "Casti connubii" o Santo Padre Pio XI condena aqueles que, firmando-se nos princípios da eugenia, pretendem que a autoridade pública pode vetar o casamento a pessoas aliás capazes de contrair núpcias. Eis o texto: "Há alguns que, com demasiada solicitude dos fins eugênicos, não só dão certos conselhos salutares para que facilmente se consiga a saúde e o vigor da futura prole — o que não é certamente contrario à reta razão — mas chegam a antepor o fim eugênico a qualquer outro, mesmo de ordem superior, e desejam que seja proibido pela autoridade pública o matrimônio a todos aqueles que, segundo os princípios e conjecturas de sua ciência, supõem deverem gerar uma prole defeituosa por causa da transmissão hereditária, embora pessoalmente sejam aptos para contrair matrimonio".
Mais adiante, afirma o Papa que não se pode inculpar de falta grave aqueles que se casam na previsão de prole defeituosa, embora se lhes deva desaconselhar o casamento.
Estes tópicos da "Casti connubii" contêm uma proibição do exame pré-nupcial obrigatório, com a finalidade de vetar o casamento a quem quer que seja.
O Papa dá a razão por que ao Estado não assiste este direito: é a sociedade civil posterior ao indivíduo, e o direito de casar é inerente à pessoa. Não pode, pois, o Estado proibir que indivíduos de si aptos exerçam este direito. Poderíamos acrescentar outra razão, e é que, entre ser e não ser, sempre é preferível a existência ainda que falha e imperfeita.
Às razões apresentadas pelo Santo Padre, juntam os teólogos outras, de ordem moral e social, que mostram como a doutrina da Igreja é racional e equilibrada.
De fato, qual seria o efeito de uma decisão do Estado que, por causa da eugenia impossibilitasse muitos homens de casar-se?
Não creio que se vá admitir a criação de muitos cenóbios, onde solteirões humilde e resignadamente aceitarão o decreto oficial que lhes veta o exercício de um direito fundamental.- É evidente que muitos procurariam uniões ilegais. De maneira que o exame pré-nupcial instituído para melhorar a raça, e aliviar a sociedade do ônus de cuidar de tantos infelizes que são postos no mundo por pais inescrupulosos, absolutamente não atingiria seu fim. Antes agravaria o mal. No seio da família, os indivíduos, por interesse próprio, empregam todos os meios por que sua descendência não venha a padecer as influencias nefastas de taras de que são eles os portadores. Fora dessa defesa natural, não teriam escrúpulo nenhum nas uniões que livremente procurariam. Em outras palavras, aumentaria em vez de diminuir o número de doentes e defeituosos congênitos, que ficariam ainda mais desamparados, acarretando um acréscimo de encargos à sociedade.
Isto para não falar das fraudes, da dificuldade de estabelecer o tempo do exame, etc. Também é preciso não esquecer que o homem não é apenas um organismo biológico, mas um ser dotado de paixões, que nem sempre, e mesmo mais geralmente, não são controladas por princípios superiores.
Todas estas considerações mostram a inutilidade pratica do exame pré-nupcial. E qualquer pessoa percebe que valem não apenas contra o exame pré-nupcial obrigatório, como para o suasório que se faça em posto público, estabelecido especialmente para esse fim.
Ainda duas palavras. Quando o Santo Padre manifesta seu agrado pelos conselhos que se dão em nome da eugenia com o fim, de manter a saúde e o vigor da prole, não se deve pensar que ele seja favorável ao estabelecimento de um posto público de exame pré-nupcial, com a consequente coação moral para os candidatos ao casamento. Suas palavras podem e devem entender-se como referindo-se a conselhos que as famílias, no seu próprio interesse, cuidarão de pôr em pratica.
A melhor maneira de evitar cidadãos defeituosos, e o empobrecimento da raça, está na pratica da virtude. O homem tem um fim sobrenatural que governa todos os demais. Por isso mesmo, o esforço para a consecução deste fim beneficia a obtenção, quanto possível perfeita dos demais. É pela pratica da virtude que se emendam muitos defeitos herdados de antepassados; como só a virtude é capaz de levar uma pessoa a abster-se do uso de um direito que não poderia exercer sem prejuízo de outros.
Parece-nos supérfluo, depois do que ficou dito, responder a segunda pergunta de nossa consulente.
AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES
TUDO IGUALAR: MANIA E NÃO NECESSIDADE
Plinio Corrêa de Oliveira
Enquanto o cavalo vai sendo cada vez mais abandonado pelo homem como meio de transporte e tração, sua voga no esporte continua a ser plenamente atual, e por toda a parte o hipismo permanece objeto de vivo interesse. E daí também o fato de que o campeão de football e o do box não destruíram de modo nenhum a popularidade do jockey e do cavaleiro. E realmente as qualidades de arrojo e prudência, percepção fina, presença de espírito, agilidade, conhecimento e domínio perfeito da montaria, que o autêntico cavaleiro deve possuir, em grau relevante, bem lhe merecem o interesse e o aplauso do público.
Nossos clichês apresentam três cavaleiros saltando difíceis obstáculos. Fotografias típicas de clubs de equitação no mundo inteiro. É um prazer contemplar a destreza, a força, a elegância destes três cavaleiros.
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Sim, com uma restrição: é que não são cavaleiros, mas "cavaleiras", elementos de destaque do hipismo [gaúcho], às quais o sistema de montar, o traje, tudo enfim concorre para dar um aspecto marcadamente masculino.
Sem entrar em pormenores na análise deste ponto, lembremos de passagem quanto é antinatural e anormal que em qualquer circunstância e sob qualquer pretexto uma mulher pareça homem: absolutamente tão antinatural e tão anormal como se um homem parecesse mulher. A estranha mania de masculinização da mulher - e quanto haveria que dizer também sobre o efeminamento do homem! - penetrou igualmente no hipismo. É o que todo o mundo sabe e nossos clichês mostram com irrecusável evidência.
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De onde vem esta tendência? Em cada caso concreto ela se inculca sob um pretexto diverso: comodidade, simplicidade, economia, etc. No caso da equitação, talvez se pense que seja o desembaraço de movimentos e a segurança. Mero engano...
Aqui temos um grupo encantador de amazonas alemãs, que galopam céleres em um parque aristocrático. Usando silhões, montam com a distinção de verdadeiras senhoras, o que não impede que seu galope tenha a rapidez, o desembaraço, a leveza de uma cavalgata de Valkirias. Todo o seu traje põe bem em evidência toda a graça e delicadeza de damas de destaque em uma nação altamente civilizada: mas em nada fica prejudicada a nota propriamente esportiva ( usemos no seu bom sentido esta palavra sobre cujas múltiplas e duvidosas aplicações se poderia fazer todo um artigo ) que é inseparável da equitação.
No clichê acima a Imperatriz Sissi ( Áustria)
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Não são, pois, as razões de ordem prática que impõem a masculinização da mulher na equitação. Devemos antes ver neste fato mais uma manifestação da tendência, cada vez mais acentuada hoje, de tudo nivelar, igualar, homogeneizar, e confundir.