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VERBA TUA MANENT IN AETERNUM

BENEFICIOS DA LEITURA ESPIRITUAL

B. PIO X: Quem não sabe a influência imensa que sobre o espírito de um amigo exerce uma voz amiga que o adverte francamente, o ajuda e aconselha, o repreende, o levanta e afasta do erro? "Feliz o que encontra um amigo verdadeiro" (Ecl. 25, 12), "aquele porém que o encontra, encontra um tesouro" (ib. 6, 14). Ora, devemos pôr os livros piedosos no número dos nossos amigos verdadeiramente fiéis, porque nos chamam severamente ao cumprimento de nossos deveres e das prescrições da verdadeira disciplina. Despertam no coração as vozes do céu já adormecidas. Sacodem o torpor de nossas boas resoluções. Não nos deixam adormecer numa tranqüilidade enganadora. Reprovam nossas afeições secretas quando são pouco recomendáveis. Descobrem aos imprudentes os perigos que os esperam muitas vezes. Prestam-nos todos estes bons ofícios, e com uma benevolência tão discreta que não somente vêm a ser amigos, mas ainda os melhores dentre os melhores amigos. Temo-los quando os quisermos, sempre ao nosso lado, prontos a cada momento para nos ajudar nas necessidades de nossas almas. Deles a voz nunca é dura, os conselhos sempre desinteressados, e a palavra nunca tímida ou mentirosa — (Exortação "Haerent Animo" ao Clero católico, de 4-VIII-1908).

UMA CIVILIZAÇÃO FABRICADA DE PROPÓSITO PARA DESTRUIR A IGREJA

PIO IX: A esta civilização assim construída, como poderia o Romano Pontífice estender a destra amiga e firmar com ela cordialmente pactos e alianças? Restituam-se às coisas os seus próprios nomes, e esta Santa Sé permanecerá sempre coerente consigo mesma. Pois ela foi sempre patrocinadora e fautora da verdadeira civilização; e os monumentos da história atestam e provam de maneira eloquentíssima que em todos os tempos esta Santa Sé levou sempre e por toda a parte, mesmo aos povos mais remotos e bárbaros, a verdadeira e sincera humanidade de costumes, a sabedoria, a disciplina. Mas, querendo-se dar o nome de civilização a um sistema fabricado de propósito para enfraquecer e talvez até destruir a Igreja de Cristo, certamente não poderão jamais esta Santa Sé e o Romano Pontífice entrar em acordo com ela. Pois, como diz sabiamente o Apóstolo (II Cor. VI, 14), que comunicação pode haver entre a justiça e a iniqüidade, ou que união entre a luz e as trevas? E que acordo entre Cristo e Belial? (Alocução no Consistório Secreto de 18-III-1861).

SEM REGRAS MORAIS PRECISAS NÃO SE ADQUIREM NEM CONSERVAM AS RIQUEZAS DA GRAÇA

PIO XII: A "moral nova" afirma que a Igreja, em lugar de suscitar a lei da liberdade humana e do amor, e de insistir sobre ela como justo estímulo da vida moral, se apóia, ao contrário, por assim dizer exclusivamente e com uma rigidez excessiva, sobre a firmeza e a intransigência das leis morais cristãs, recorrendo freqüentemente a estes "vós sois obrigados", "não é permitido", que têm por demais o tom de um pedantismo aviltante. Ora, a Igreja quer, ao contrário e Ela o põe expressamente em evidência quando se trata de formar as consciências — que o cristão seja introduzido nas riquezas infinitas da fé e da graça de um modo persuasivo, a ponto de sentir-se inclinado a penetrá-las profundamente. Entretanto a Igreja tem de advertir os fiéis de que estas riquezas não podem ser adquiridas e conservadas senão pelo preço de obrigações morais precisas — (Alocução sobre a formação cristã da consciência, de 23-111-1952).

A PROPRIEDADE PARTICULAR CONVÉM À TRANQUILIDADE SOCIAL

LEÃO XIII: É pois com razão que a universalidade do gênero humano, sem se deixar mover pelas opiniões contrárias de um pequeno grupo, reconhece, considerando atentamente a natureza, que nas suas leis reside o primeiro fundamento da repartição dos bens e das propriedades particulares; e foi com razão que o costume de todos os séculos sancionou uma situação tão conforme à natureza do homem e à vida tranqüila e pacífica das sociedades. Por seu lado, as leis civis, que tiram o seu valor, quando são justas, da lei natural, confirmam esse mesmo direito e protegem-no pela força. Finalmente, a autoridade das leis divinas vem pôr-lhe o seu selo, proibindo (Deut. V, 21), sob pena gravíssima, até mesmo o desejo do que pertence aos outros: "Não desejarás a mulher do teu próximo, nem a sua casa, nem o seu campo, nem o seu boi, nem a sua serva, nem o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença" (Encíclica "Rerum Nova-rum", de 15-V-1891).

O MAGISTÉRIO DA IGREJA É O UNICO INTÉRPRETE AUTÊNTICO DA REVELAÇÃO

PIO XII: É também verdade que os teólogos devem sempre voltar às fontes da Revelação; pois a eles cabe indicar de que maneira "se encontra, explicita ou implicitamente" (Pio IX, Inter Gravissimas), na Sagrada Escritura e na Divina Tradição o que ensina o Magistério vivo. Ademais, ambas as fontes da doutrina revelada contêm tantos e tão sublimes tesouros de verdade que nunca realmente se exaurirão. Por isso, com o estudo das fontes da revelação as ciências sagradas rejuvenescem continuamente; ao passo que, pelo contrário, a especulação que deixa de investigar o depósito da Fé se torna estéril, conforme vemos pela experiência. Entretanto, isto não autoriza a fazer da teologia, mesmo da chamada positiva, uma ciência meramente histórica. Pois, junto com as sagradas fontes, Deus deu também o Magistério vivo, para esclarecer e ressaltar o que no depósito da Fé não se acha senão obscura e como que implicitamente. E o Divino Redentor não confiou a interpretação autêntica desse depósito a cada um dos fiéis, nem mesmo aos teólogos, mas exclusivamente ao Magistério da Igreja. Se a Igreja exerce esse munus (como o tem feito com freqüência no decurso dos séculos, pelo exercício, quer ordinário, quer extraordinário desse mesmo ofício), é evidentemente falso o método que pretende explicar o claro pelo obscuro; antes, pelo contrário, faz-se mister que todos sigam a ordem inversa. Eis porque Nosso Predecessor de imortal memória, Pio IX, ao ensinar que é dever nobilíssimo da teologia mostrar como uma doutrina definida pela Igreja está contida nas fontes, não sem grave motivo acrescentou estas palavras: "com o mesmo sentido com que foi definida pela Igreja" — (Encíclica "Humani Generis", de 12VIII-1950).

O POVO NÃO É A FONTE DO PODER, NEM PODE MUDAR DE GOVERNO SEMPRE, QUE LHE APRAZ

LEÃO XIII: Mas, em falta de uma destruição total da autoridade política nos Estados, destruição essa que seria impossível, os homens aplicaram-se pelo menos, por todos os meios, a lhe enfraquecer o vigor, a lhe diminuir a majestade. Foi o que se fez sobretudo no século XVI, quando tantos espíritos se deixaram transviar por uma funesta corrente de idéias novas. Desde então viu-se a multidão não somente reivindicar uma parte excessiva de liberdade, mas pretender dar à sociedade humana, com origens fictícias, uma base e uma constituição arbitrárias. Hoje, vai-se mais longe: bom número dos nossos contemporâneos, seguindo as pegadas daqueles que no século passado se outorgaram o título de filósofos, pretendem que todo poder vem do povo; que, por conseqüência, a autoridade não pertence como própria aos que a exercem, senão a título de mandato popular, e sob a reserva de que a vontade do povo pode sempre retirar aos seus mandatários o poder que lhes delegou. Muito diferente é neste ponto a concepção dos católicos, que vão buscar em Deus o direito de mandar, e daí o fazem derivar como de sua fonte natural e princípio necessário. — (Encíclica "Diuturnum Illud", de 29-VI-1881).

QUAIS SÃO OS EFEITOS DOS MAUS FILMES

PIO XI: É manifesta a grande influência dos maus filmes sobre os espectadores: na mesma medida em que exaltam as paixões e a leviandade, incitam ao pecado; desviam a juventude do reto caminho; deformam o sentido da vida; alteram e debilitam os melhores propósitos de perfeição; são a morte do amor casto, da santidade do matrimônio, da ordem na intimidade da vida familiar. Servem ademais para inculcar toda a sorte de preconceitos e erros tanto a indivíduos como a classes sociais, a nações e a raças — (Encíclica "Vigilanti Cura", de 15-VII-1936).

OS ASSALARIADOS NÃO TÊM NECESSARIAMENTE DIREITO À CO-GERÊNCIA ECONÔMICA DAS EMPRESAS

PIO XII: Igual perigo se apresenta também quando se exige que os assalariados de uma empresa tenham direito de co-gerência econômica, nomeadamente quando o exercício deste direito depende, de fato, direta ou indiretamente, de organizações dirigidas por entidades alheias à empresa. Ora, nem a natureza do contrato de trabalho, nem a natureza da empresa, comportam necessariamente, por si mesmas, direito semelhante — (Discurso aos membros do Congresso Internacional de Estudos Sociais e da Associação Internacional Social Cristã, de 3-VI-1950).

OBRA PERNICIOSA E TEMERARIA O ENQUADRAR APENAS NOS ESQUEMAS LITÚRGICOS OS EXERCICIOS DE PIEDADE APROVADOS PELA IGREJA

PIO XII: Alem disso, há outros exercícios de piedade que, embora não pertençam a rigor e de direito à sagrada Liturgia, todavia se revestem de particular dignidade e importância, de modo que são tidos por insertos no quadro litúrgico, e gozam de repetidas aprovações e louvores desta Sé Apostólica e dos Bispos. Entre esses se devem enumerar as orações que se costuma fazer durante o mês de Maio em honra da Virgem Mãe de Deus, ou durante o mês de Junho em honra do Sacratíssimo Coração de Jesus, os tríduos e novenas, a Via Sacra e outros semelhantes. Estas piedosas práticas, que excitam o povo cristão a uma assídua freqüência do Sacramento da Penitência e a uma devota participação no Sacrifício Eucarístico e na Mesa Divina, como também à meditação dos mistérios da nossa Redenção e à imitação dos grandes exemplos dos Santos, por isso mesmo contribuem com fruto salutar para a nossa participação no culto litúrgico. Por isso faria obra perniciosa e de todo errônea quem ousasse temerariamente assumir a reforma destes exercícios de piedade, para enquadrá-los apenas nos esquemas litúrgicos — (Encíclica "Mediator Dei", de 20-XI-1947).


O EXÉRCITO AZUL CONTRA O COMUNISMO

Nestes tempos em que o mundo corrompido está na iminência de ser golpeado pelo vigor dos castigos divinos, a devoção autêntica à Santíssima Virgem está destinada a desempenhar um papel decisivo. E essa é mais uma razão para que devam ser recebidas com apreço pelos que lutam pela causa da Igreja todas as iniciativas que visam incrementar o culto a Nossa Senhora.

O EXÉRCITO AZUL

Uma das mais recentes e vigorosas entre essas iniciativas é a milícia organizada na América do Norte pelo Rvmo. Pe. Colgan, Vigário da paróquia de Santa Maria de Plainfield, em New-Jersey. Denomina-se "Exército Azul" e tem por objetivo reunir sob o estandarte da Virgem Santíssima a todos os que, como soldados disciplinados da Santa Igreja, estão dispostos a fazer frente aos assaltos do "Exército Vermelho". Três anos após a fundação contava o Exército Azul mais de um milhão de inscritos, e atualmente, por todo o mundo, um número incontável de pessoas recebe, através da revista "Soul" (Alma) e de boletins informativos, as orientações emanadas da direção do movimento.

UMA CONSAGRAÇÃO TOTAL A MARIA

Em novembro de 1946 uma crise cardíaca lançava o Pe. Colgan numa cama de hospital. Os médicos afirmaram que o caso era perdido. Vendo que as possibilidades de cura eram humanamente nulas o enfermo recorreu Àquela que é o Auxílio dos cristãos.

Pediu, pois, que lhe trouxessem uma imagem de Nossa Senhora, diante da qual decidiu passar o dia inteiro em oração. E, nesse mesmo dia, fez um "contrato" com Maria Santíssima. Se Ela lhe conservasse a vida ele a consagraria inteiramente ao Seu serviço. Uma semana depois o Pe. Colgan, curado, deixava o hospital certo de que Nossa Senhora aceitara benignamente sua proposta.

A MENSAGEM DE FÁTIMA

Certo dia, durante o breve período de repouso a que se submeteu, caiu-lhe nas mãos um artigo sobre Fátima que o impressionou muito e lhe sugeriu a maneira de realizar a promessa que fizera: atender ao apelo de Fátima suscitando um exército de almas consagradas a Maria. Nas dez semanas seguintes fez uma série de pregações sobre a Mensagem de Fátima: "É preciso que os homens se emendem e peçam perdão de seus pecados... Nosso Senhor não deve ser mais ofendido pelos homens... Para impedir os castigos pedirei ao Santo Padre a Consagração do mundo a meu Coração Imaculado e a Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados". Surgiu assim o Exército Azul.

Auxiliado generosamente pelos seus paroquianos o Pe. Colgan de pressa conseguiu resultados admiráveis. Em maio de 1950 dirigiu-se a Fátima levando, em vez das cem mil que esperava, quase um milhão de adesões ao Exército Azul, que enterrou no lugar das Aparições. Em seguida o Pe. Colgan foi a Roma, onde foi recebido pelo Santo Padre, que lhe disse estas palavras: "O senhor é o Pe. Colgan... Nós, na qualidade de Chefe mundial da oposição ao comunismo, lhe concedemos com alegria a Nossa Bênção, bem como a todos os membros do Exército Azul".

O TERÇO, ARMA PODEROSA DOS SOLDADOS DA VIRGEM

O Pe. Colgan insiste no caráter providencial do Exército Azul. É a própria Virgem Santíssima, afirma ele, que através dessa milícia trabalha por neutralizar o poderia maligno das forças vermelhas e reconquistar a Rússia para a Fé.

Nas circunstâncias mais graves do último século o Rosário foi a arma com que a Virgem dotou os seus soldados para levá-los à vitória. No século XVI, enquanto D. João d'Áustria, comandando as forças cristãs, alcançava miraculosamente a vitória sobre os turcos na famosa batalha de Lepanto, o Papa S. Pio V concitavas os fiéis à recitação do Rosário. Em nossos dias os combatentes do Exército Azul e todos os fiéis sabem que o Comunismo será vencido pela mesma arma: o Santo Rosário de Maria.


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

A verdadeira santidade é força de alma e não moleza sentimental

Plinio Corrêa de Oliveira

A Igreja ensina que a verdadeira e plena santidade é o heroísmo da virtude. A honra dos altares não é concedida às almas hipersensíveis, fracas, que fogem dos pensamentos profundos, do sofrimento pungente, da luta, da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo enfim. Lembrada da palavra de seu Divino Fundador, "o Reino dos Céus é dos violentos", a Igreja só canoniza os que em vida combateram autenticamente o bom combate, arrancando o próprio olho ou cortando o próprio pé quando causava escândalo, e sacrificando tudo para seguir tão somente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Na realidade, a santificação implica no maior dos heroísmos, pois supõe não só a resolução firme e séria de sacrificar a vida se preciso for, para conservar a fidelidade a Jesus Cristo, mas ainda a de viver na terra uma existência prolongada, se tal aprouver a Deus, renunciando a todo o momento ao que se tem de mais caro, para se apegar tão somente à vontade divina.

Certa iconografia infelizmente muito em uso, apresenta os Santos sob aspecto bem diverso: criaturas moles, sentimentais, sem personalidade nem força de caráter, incapazes de idéias sérias, sólidas, coerentes, almas levadas apenas por suas emoções, e, pois, totalmente inadequadas para as grandes lutas que a vida terrena traz sempre consigo.

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A figura de Santa Terezinha do Menino Jesus foi especialmente deformada pela má iconografia. Rosas, sorrisos, sentimentalismo inconsistente, vida suave, despreocupada, ossos de açúcar cândi e sangue de mel, eis a idéia que nos dão da grande, da incomparável Santinha.

Como tudo isto difere do espírito vasto e profundo como o firmamento, rutilante e ardente como o sol, e entretanto tão humilde, tão filial, com que se toma contacto quando se lê a "Histoire d'une Ame".

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Nossos dois clichês apresentam por assim dizer duas "Terezinhas" diversas e até opostas uma à outra. A primeira nada tem de heróico: é a Terezinha insignificante, superficial, almiscarada, da iconografia romântica e sentimental. A segunda é a Terezinha autentica, fotografada a 7 de Junho de 1897, pouco antes de sua morte, que ocorreu a 30 de Setembro do mesmo ano. A fisionomia está marcada pela paz profunda das grandes e irrevogáveis renúncias. Os traços têm uma nitidez, uma força, uma harmonia que só as almas de uma lógica de ferro possuem. O olhar fala de dores tremendas, experimentadas no que a alma tem de mais recôndito, mas ao mesmo tempo deixa ver o fogo, o alento de um coração heróico, resolvido a ir por diante custe o que custar. Contemplando esta fisionomia forte e profunda, como só a graça de Deus pode tornar a alma humana, pensa-se em outra Face: a do Santo Sudário de Turim, que nenhum homem poderia imaginar, e talvez nenhum ouse descrever. Entre a Face do Senhor Morto, que é de uma paz, uma força, uma profundidade e uma dor que as palavras humanas não conseguem exprimir, e a face de Santa Terezinha, há uma semelhança imponderável mas imensamente real. E o que há de estranhável em que a Santa Face tenha impresso algo de Si no rosto e na alma daquela que em religião se chamou precisamente Tereza do Menino Jesus e da Sagrada Face?