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(continuação)

A Pastoral do Bispo de Campos marcará clima nos fastos da vida religiosa do Brasil

carta da Sagrada Congregação dos Seminários ao Episcopado Brasileiro. De outro lado, os trabalhos estampados aqui sobre tais erros tiveram repercussão internacional. Dois documentos sobre a Constituição "Bis Saeculari", feitos com olhos postos apenas no Brasil, o discurso do ilustre Bispo de Jacarezinho D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., na concentração mariana de Porto Alegre em 1948, e o discurso pronunciado por nosso eminente Bispo Diocesano D. Antonio de Castro Mayer em 1949, em Piracicaba, foram transcritos por vários órgãos da imprensa estrangeira, por sua oportunidade para outros países. A tal ponto são mundiais os nossos problemas.

A polêmica entre católicos é um bem? É um mal? Há que distinguir. É um grande mal que a polêmica seja necessária. Pois o ideal é que não haja erros entre os fieis, e que todos estejam unidos em torno da Cátedra infalível de São Pedro. Mas, uma vez que entre eles circulam erros, é bom que alguém os combata.

Que a polêmica entre fieis indica uma ordem de coisas anormal, não há dúvida. Que se deve desejar sua cessação, igualmente não há dúvida. Mas para este efeito há dois meios. Alguns desejam pura e simplesmente que cessem as discussões. Outros vão mais fundo, e preferem que cessem os erros contra os quais as discussões são remédios indispensáveis. Uns acham que se deve contemporizar com o erro, até que ele se apague por si mesmo. Outros julgam que é preciso agir com urgência, e até agir preventivamente no campo em que o erro não haja aparecido, para impedir que deite sementes.

O Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, com a argúcia e a prudência que lhe é própria, considera indispensável resolver o problema em sua raiz, matando as discussões, as dissensões, as polêmicas em suas causas profundas, que são os erros, e considerando que não basta extirpar o mal onde já apareceu, mas cumpre ainda evitar sua entrada nos lugares onde ainda não tenha feito adeptos. Este ponto de vista valeu-nos, a nós que temos a ventura de ser seus diocesanos, um documento luminoso, providencial, que é a recente "Pastoral sobre problemas do apostolado moderno", que a Boa Imprensa Ltda., desta cidade, apresenta em bem cuidada e elegante edição.

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Esse documento trata com extraordinária precisão e profundeza de vistas todos os problemas que têm ocasionado discussões e polemicas em nossos dias: liturgicismo, erros sobre A. C., métodos de apostolado, necessidade da vida espiritual, moral nova, nacionalismo, evolucionismo, laicismo, relações entre a Igreja e o Estado, o "socialismo cristão".

Compõe-se a Pastoral de três partes distintas: uma substanciosa introdução, em que se ressalta a atualidade e importância dos problemas tratados, um elenco de teses verdadeiras e das proposições erradas ou perigosas que se lhes opõem, e um conjunto de diretrizes praticas para o Revmo. Clero.

Parece-nos que, das três partes, a que mais atrairá a atenção, e será lida com maior proveito, é o elenco ou Catecismo das proposições certas e erradas, e as excelentes e documentadíssimas explanações que as acompanham.

Para bem compreender o Catecismo, é preciso tomar em consideração que o mais das vezes os erros que serpeiam hoje entre os fiéis não se apresentam às claras, sob forma de proposições nítida e inteiramente falsas. Pelo contrário, misturando o bem com o mal, para melhor iludir, contêm velada sob aparências legítimas, e não raro até excelentes, a tese errada. Por isto, a Carta Pastoral ora formula o erro abertamente, em sua oposição frontal à sentença certa; ora apresenta a sentença errada com o que ela pode ter de verdadeiro e belo, e na sentença verdadeira enuncia apenas a tese oposta ao erro. Com este hábil sistema, fica facílimo ao leitor perceber o ponto preciso em que o erro está, ressalvadas e respeitadas, por vezes até explicitamente, as parcelas de verdade em que se encobre. E o artifício do mal se destrói inteiramente.

A forma de catecismo apresenta por sua vez a incontestável vantagem da concisão, pois permite tratar de forma breve assuntos que de outro modo exigiriam explanação interminável.

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Lemos sofregamente a Pastoral, e devemos declarar que nela encontramos as principais qualidades de seu eminente autor: um amor a toda a prova, e um conhecimento profundo da doutrina ensinada pela Santa Sé, uma clarividência marcante, uma lealdade admirável no exprimir seu próprio pensamento, e um zelo apostólico ardente.

Estamos certos de que Campos, que tanto admira as virtudes e a cultura de seu egrégio Prelado, receberá a Pastoral com a submissão, o respeito, a admiração que merece.

Conhecido como é em todo o Brasil por suas qualidades de teólogo e homem de ação o Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, estamos persuadidos além disto, de que sua Pastoral despertará interesse em todos os pontos do território nacional.


VERBA TUA MANENT IN AETERNUM

É ABSURDO E INJURIOSO PRETENDER QUE A IGREJA AFASTOU-SE DE SUA PRIMITIVA INTEGRIDADE

GREGORIO XVI: Constando; com efeito, como reza o testemunho dos Padres do Concílio de Trento (Sess. 13, dec. De Eucharistia in proem), que a Igreja recebeu sua doutrina de Jesus Cristo e dos Seus Apóstolos, e que o Espírito Santo a está continuamente assistindo, ensinando-lhe toda a verdade, é por demais absurdo e altamente injurioso dizer que se faz necessária uma certa restauração ou regeneração, para fazê-la voltar à sua primitiva incolumidade, dando-lhe novo vigor, como se fosse de crer que ela é passível de defeito, ignorância ou outra qualquer das imperfeições humanas; com tudo isto pretendem os ímpios que, constituída de novo a Igreja sobre fundamentos de instituição humana, venha a dar-se o que São Cipriano tanto detestou: que a Igreja, coisa divina, se torne coisa humana (Ep. 52, edit. Baluz.). Considerem, pois, os que tal supõem, que somente ao Romano Pontífice, como atesta São Leão, foi confiada a constituição dos cânones; e que somente a ele, e não a outro, compete julgar dos antigos decretos, ou, como diz São Gelásio (Carta ao Bispo de Lucania) : pesar os decretos dos cânones, medir os preceitos dos seus Antecessores, para moderar, após diligente consideração, aquelas coisas cuja modificação é exigida pela necessidade dos tempos. (Encíclica "Mirari vos", de 15-VIII-1832).

NÃO É SÓ QUANDO TOCAM O DOGMA QUE OS JUIZOS PONTIFICIOS EXIGEM ASSENTIMENTO SOB PENA DE PECADO

PIO IX: Não podemos silenciar a respeito da audácia dos que, não suportando os princípios da sã doutrina, defendem que "aos juízos e decretos da Sé Apostólica que visam o bem geral da Igreja e seus direitos, e que se referem à sua disciplina, enquanto não tocam os dogmas da fé e dos costumes pode-se negar assentimento e obediência sem pecado e sem infração alguma da profissão católica". Não há quem não veja e entenda clara e abertamente até que ponto tal opinião contrasta com o dogma católico do pleno poder, divinamente conferido pelo mesmo Cristo Nosso Senhor ao Romano Pontífice, de apascentar, reger e governar a Igreja. (Encíclica "Quanta Cura", de 8-XII-1864).

UM DEVER URGENTE E TREMENDO: DESMASCARAR E COMBATER O MULTIFORME INIMIGO

PIO XII: Ora, o trabalho do pastor, o trabalho de cada um de vós, deverá ser, em primeiro lugar, de defesa contra os ladrões. Todo redil é espreitado por ladrões e malfeitores que ambicionam convertê-lo em campo de suas pilhagens. Quando estes se aproximam do redil e o invadem furtivamente, não têm senão um fim: roubar e devastar: "Fur non venit nisi ut furetur et mactet et perdat" (Joa. 10, 10). Deveis pois, sobretudo, esforçar-vos por identificar e reconhecer os ladrões, tomando o cuidado de não vos deixardes levar por certa simplicidade que orientasse vossa atenção para um lado somente. Como no grande mundo da Igreja universal, assim também no pequeno mundo da Paróquia o "inimigo" parece ser um, mas é múltiplo. Nós o advertimos - como vos lembrareis - ante a imensa multidão dos Homens da Ação Católica na radiosa jornada de 12 de outubro passado. Existe, bem o sabeis, - seria impossível não o notar - um inimigo que particularmente causa preocupação a todos; torna-se dia por dia mais ameaçador, e espreita e assalta com todos os meios e sem medir os golpes; este inimigo, porém, tornou-se entre todos o mais fácil de reconhecer. Há outros inimigos - ou se quiserdes, o mesmo "inimigo" sob diversas formas e disfarces, e que é necessário desmascarar, frequentemente revestido com pele de ovelha, "in vestimentis ovium" (Math. 7, 15). Convém pois aplicar-se afim de que os fiéis os reconheçam por suas obras, isto é, pelas plantas que deles nasçam e cresçam no campo de Deus, bem como pelos frutos que produzam tais plantas, "a fructibus eorum". Com esse objetivo é oportuno mostrar quanta desorientação e quantas trevas se encontram muitas vezes lá onde antes tudo era esplendor de luzes; assinalar o ódio que oprime certos corações em que já esfriou o amor operante; a discórdia e a guerra que se enfurecem onde reinava o candor e a pureza. O "inimigo" desanima os jovens, extinguindo neles a chama dos supremos ideais; despoja as crianças da inocência, convertendo-as em pequenas fúrias, rebeldes contra Deus e os homens. E quando virdes os pobres privados das mais altas e consoladoras esperanças, e certos ricos encerrados em pertinaz egoísmo; quando ficardes tristes ante o lar em que os esposos gemem no frio porque se extinguiu o fogo do amor; dizei: aqui veio o ladrão, aqui veio o inimigo, e veio "ut furetur et mactet et perdat", para roubar e semear a desordem e a morte. Contra este multiforme inimigo é preciso reagir com uma veemência do pai que defende os filhos, e com a presteza que impõe um dever tão urgente e tremendo. — (Discurso aos Párocos e Pregadores Quaresmais de Roma, de 27-111-1953).


OS CATÓLICOS FRANCESES NO SÉCULO XIX

A SANTA SÉ DESAPROVA A INICIATIVA DE MONS. DUPANLOUP

Fernando Furquim de Almeida

Depois da publicação da carta em que Mons. Parisis elogiava o "Univers", outros prelados manifestaram seu apoio e simpatia ao jornal, de modo que Mons. Dupanloup ficou na impossibilidade de divulgar a declaração que preparara com tanto carinho, pois dera como principal pretexto de sua iniciativa o propósito de evitar dissensões no episcopado. O bispo de Orléans, no entanto, já estava muito comprometido. Todos os jornais de Paris tinham anunciado a próxima condenação do "Univers", e por outro lado custava a Mons. Dupanloup perder o trabalho que tivera, e que no início parecera tão promissor. Teve então um gesto que bem mostra a que ponto chegava sua hostilidade para com Louis Veuillot.

Um dia Veuillot recebe em sua casa a visita do Pe. Place, Vigário Geral de Orléans. Emocionado, este lhe comunica que Mons. Dupanloup o encarregara de lhe dar verbalmente conhecimento de uma declaração assinada por um certo número de bispos, e que não podia ser publicada porque vários dos signatários não o desejavam. Acrescentou tratar-se de matéria a tal ponto confidencial, que ele não podia sequer deixar cópia do documento. Veuillot respondeu que, embora não conhecesse o texto, sabia do que se tratava, por informações de vários bispos que haviam se recusado a apoiá-lo e de alguns que o tinham assinado. O Pe. Place procedeu então à leitura da declaração e dos nomes dos seus signatários, finda a qual se retirou, sem permitir que Veuillot ao menos corresse os olhos pelo documento. Com esse episódio tristemente ridículo, o "Univers" via-se livre do mais grave dos perigos que o ameaçaram em toda sua existência.

Roma, cuja intervenção fora solicitada pelo Cardeal Gousset, acompanhava com atenção os acontecimentos. Pouco tempo depois do recuo de Mons. Dupanloup, o Cardeal Antonelli, Secretário de Estado, respondeu a Mons. Gousset em nome da Santa Sé, nos seguintes termos:

"Sem ter nenhuma intenção de censura contra quem quer que seja, é preciso observar, no interesse da verdade, que há um ponto da mais grave importância para os bispos, e que Vossa Eminência assinalou bem a propósito. É a necessidade de conformar às regras e costumes estabelecidos pela Igreja a natureza e a forma dos atos emanados do corpo episcopal, sem o que se corre um risco eminente de romper a tão necessária unidade de espírito e de ação, até mesmo com providências pelas quais se poderia, às vezes, procurar ardentemente estabelecê-la.

"A força dessa observação fundamental, e de outras que Vossa Eminência tão bem aplicou ao caso presente, faz pressentir a influência que ela deve ter tido para interromper a marcha de uma questão tão grave para as partes que nela estavam interessadas quanto cheia de consequências deploráveis, dado o modo por que foi encetada.

"No momento, graças à resolução prudente que tomou o personagem que tinha o principal papel nessa discussão, parece que podemos considerá-la como encerrada, e que, portanto, deixou de ser necessária a intervenção suprema de que Vossa Eminência falava no fim da carta com que quis me honrar.

"Aplaudindo calorosamente o interesse que Vossa Eminência revelou nessa questão, na qual, com zelo e sabedoria admiráveis procurou atingir um fim tão conforme à Santa Sé, sou, etc."

Esse caso da declaração teve consequências graves, uma das quais, e não a menor, foi envenenar completamente a discussão sobre o ensino clássico. De tal modo a declaração desviou a questão de seus verdadeiros termos, que os católicos de todas as correntes puseram-se de acordo sobre a necessidade de encerrar os debates suscitados pelo livro de Mons Gaume. Veuillot, embora tivesse mantido o "Univers" numa linha perfeita, só discutindo o aspecto doutrinário do problema do ensino clássico, atendeu ao pedido de vários prelados, que o aconselharam a deixar morrer o assunto. Vamos reproduzir uma carta que ele dirigiu ao Vigário Geral da Diocese de Limoges, a qual mostra bem exatamente a situação e o estado de espírito em que se achava então o redator-chefe do "Univers":

"Achava-me ausente de Paris quando me destes a honra de me escrever, e só hoje tive conhecimento de vossa carta. Como vistes, minhas opiniões eram semelhantes às vossas, e segui o vosso conselho sem saber que o tínheis dado. Se a questão dos clássicos não está encerrada, a culpa não é minha. Aliás, o rancor que nela se misturou não vinha de nós, e não deixarei de proclamar, levado por um sentimento profundo de justiça, que o "Univers" constantemente observou as leis da moderação e da equidade. Não fomos nós que sustentamos polêmicas acaloradas contra católicos; foram católicos, a meu ver muito mal inspirados, que começaram e sustentaram a polêmica contra nós com muito calor. Deduzo daí uma paixão evidente e uma boa fé muito suspeita.

"Que fizemos nós? Sustentamos, não toda a tese, mas o principal pensamento de um livro publicado por um eclesiástico sábio e venerável, apoiado pelo Cardeal Gousset, encorajado por Montalembert e Donoso Cortés, que são sem dúvida católicos, e encorajado também pelo Bispo de Arras. Foi então que o Sr. Bispo de Orléans se lançou na querela com uma rapidez sem igual, e que convinha tão pouco às suas forças quanto ao seu caráter. Eu lhe respondi. Acho que tinha o direito de fazê-lo, e estou certo de que, salvo alguma frase que não mereceria ser tão fortemente assinalada, não ultrapassei os limites do respeito. Se ele não fosse bispo, eu teria dito muita coisa que calei, pois nunca um homem abriu tanto o flanco. Seu mandamento veio do alto. Nele fui tratado sem caridade, sem dignidade e sem justiça. Não me defendi. Só retomei a questão quando as cartas de dois cardeais e manifestações de vários bispos a declararam livre. Com exceção do Pe. Cahours, qual de nossos adversários se mostrou moderado? E quem pode apontar uma frase em que eu não o seja?

"Batido na questão da declaração, o Sr. Bispo de Orléans quis tomar sua desforra com a questão dos clássicos. Mandou escrever livros, encorajou o Cardeal Donnet, o Cardeal Mathieu, etc. Tratam-me como um inimigo da Igreja, comparam-me com o Sr. de Lamennais, injuriam-me e me ameaçam de estar usando injustamente de um direito sagrado, se eu ousar responder.

"É de mim que se devem queixar? Após doze anos de combate e devotamento, tenho a vantagem singular de ser o escritor francês mais maltratado pelos bispos franceses. Recebo golpes que os piores inimigos da Igreja não receberam. Há mandamentos contra mim, e não há contra Eugênio Sue, contra Proudhon, contra Michelet, contra tantos outros. Entretanto, não encontraram para me reprovar um só erro contra a Fé. Não disse tudo. Há pormenores, nessa iniqüidade, que a tornam mais amarga, mas que envolverei em um religioso silêncio.

"Vós me permitireis achar um pouco penoso que, depois disso, me venham ainda recomendar moderação. Aliás, graças a Deus esta moderação, que creio possuir, não me é difícil. Tenho sempre (e isso se saberá mais tarde, porque me obrigarão a me justificar) feito sacrifícios à paz, e sempre os farei. Mas não é suficiente que um católico, mesmo um católico que reverencio, se ponha de permeio a uma tese boa, legítima e autorizada, para que eu a ela renuncie. Se tivesse levado a este ponto o amor da paz, o "Univers" teria se abatido nas questões mais importantes destes tempos, ou teria feito triste figura. O que posso fazer — e fiz e farei — é não tomar em consideração para nada a minha pessoa, e tirar das feridas pessoais o amargo veneno que lhes dá o amor próprio ofendido. Exprimo-vos confidencialmente, e para corresponder à confiança que me manifestastes, o que tenho no coração. Não direi nada ao público. E esses ressentimentos, que serão logo esquecidos, não guiarão nunca a minha pena, que nunca lhes obedeceu.

"Peço, Mons. Vigário Geral, comunicar esta carta a Mons. de Limoges, a quem agradeço humildemente o interesse. E creia-me vosso muito reconhecido e devotado servidor".


Retiros clandestinos sob a Revolução Francesa

Talvez poucos saibam que muitos dos Sacerdotes, Religiosos e leigos que tombaram por causa da Fé durante a Revolução Francesa haviam se preparado para o martírio por meio de retiros espirituais clandestinos em plena perseguição religiosa.

Esses retiros, escreve o boletim "Marchons", dos Padres de Chabeuil, foram organizados em Paris no Colégio Lombardo, conhecido como "dos Irlandeses", pelo Padre Picot de Clorivière, um dos últimos Jesuítas professos de quatro votos, admitido na Companhia na própria véspera da supressão, fundador dos Padres do Coração de Jesus e futuro restaurador da Ordem na França. Começou ele a pregar os exercícios no mês de outubro de 1791 aos primeiros Padres de sua Sociedade. Desde o princípio contou com o auxílio do Padre Cormaux, chamado pelo seu biógrafo "o santo da Bretanha". As Irmãs da Sociedade do Coração de Maria serviam os retirantes.

O Padre de Salamon, então Vigário Apostólico da França, escrevia ao Cardeal Zelada: "Sua Santidade saberá com grande satisfação que, em meio ao perigo que corremos, tem havido exercícios espirituais de muitos eclesiásticos, que vieram para se reunir no silêncio. Os retiros têm sido muito freqüentados. Apesar de minhas ocupações participei deles duas vezes com a maior alegria... Fiquei profundamente edificado com tal fervor. Posso assegurar a Vossa Eminência que lá se renovam de maneira particular os juramentos de fidelidade e obediência à Santa Sé". O Papa reinante, Pio VI, ao ter esta notícia disse: "É verdadeiramente um exemplo digno dos primeiros tempos".

Os retiros, que eram pregados segundo o método de Santo Inácio, se sucediam todos os meses, e em março foram estendidos a outros sacerdotes. Este quinto retiro contou com 37 participantes e foi pregado pelo Padre Cormeaux, futuro mártir.

Entre os retirantes contam-se muitos confessores da fé e quatro mártires, vítimas dos massacres de 2 de setembro de 1792, que foram beatificados pelo Papa Pio XI em 17 de outubro de 1926. São eles: Charles Hurtel, Mínimo do Convento de Paris; Thomas Aubuisson, Cura de Barville, Charles Carnus, Professor do Colégio de Rodez (os três foram martirizados no Convento do Carmo); e Bertrand de Coupenne, Vigário de Montmagny, martirizado no Seminário de São Firmino.

Além do caráter profundamente inaciano, esses exercícios tiveram como nota essencial o espírito de fidelidade à Cátedra de São Pedro. Ao fim de cada retiro os participantes enviavam ao Papa uma mensagem. Este trecho comovente é da mensagem do quinto retiro, datada de 27 de março de 1792: "Santíssimo Padre, Vossa Santidade não ficará importunado, temos certeza, com a freqüência das homenagens de piedade que a toda hora lhe prestam os Padres da França... É chorando que detemos o olhar em Jesus, autor e consumador da fé; osculando o crucifixo estamos pregados à Cruz de Cristo; chorando temos os olhos fixados na Cátedra de Pedro. E, por esta nossa mensagem, abraçamo-la com todo o amor de nosso coração; a nos ligamos, nos submetemos e aderimos".