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CONSIDERAÇÕES SOBRE O CATOLICISMO

D. Antonio de Castro Mayer

BISPO DIOCESANO

COMPLETA o CATOLICISMO em janeiro mais um ano de existência, rico em serviços prestados à, causa católica, em meio à confusão e às dificuldades dos dias em que vivemos. E por isto não lhe podia faltar a palavra de aplauso e apoio do Bispo Diocesano.

Ocupa o jornal, no conjunto das atividades católicas da Diocese, um lugar muito definido; é de certa maneira um órgão especializado.

Graças a Deus, não é pouco o bem que aqui se faz, tanto no campo da ação propriamente sacerdotal, como no do apostolado dos leigos. Os esforços em prol do novo Seminário, o ensino primário e secundário, os trabalhos catequéticos, a ação católica desenvolvida pelas falanges marianas masculina e feminina, o apostolado vicentino, as obras de assistência espiritual e material à pobreza, prosperam e crescem graças à dedicação de nosso benemérito Clero, à generosidade e atividade de nossos caríssimos diocesanos.

Neste concerto de notas álacres, no conjunto destas atividades tipicamente construtivas e progressistas, CATOLICISMO representa a nota grave e nobre da preocupação doutrinária.

Destinado essencialmente a orientar leitores católicos dotados de certo nível de desenvolvimento cultural, ele é um convite permanente ao escol de nossos elementos de ação, para que tempere o ardor das obras com o recolhimento da reflexão e do estudo. Sua tarefa é instruir, sobretudo formar. Não com uma preocupação mera- mente teórica e livresca, mas ajudando os seus leitores a situar-se no prisma exato da doutrina católica para analisar os problemas nacionais e internacionais que empolgam o brasileiro contemporâneo.

A Santa Igreja, mística cidade de Deus, é atacada pelo poder das trevas em pontos e com armas que variam de século para século. O "bonus miles Christi" não é o que se empenha em lhe guarnecer as muralhas em pontos que já não sofrem ataques; ou em a defender com armas obsoletas, que já não atingem o adversário. No afã de ser inteiramente atual, o CATOLICISMO se tem colocado nas brechas em que o inimigo tem desferido seus ataques mais ardilosos e insistentes. E por isto tem preferido tomar a defesa, não tanto das verdades que o comum dos católicos admite, mas sobretudo das que mesmo em nossas fileiras haveria tendência a subestimar, esquecer, ou quiçá abandonar. Ainda com o mesmo afã, tem lutado por desmascarar a grande manobra que a impiedade usa em nossos dias, isto é, a difusão em massa, de meias verdades contendo em seu bojo os piores erros. Nisto, no combate em prol das verdades esquecidas, e na luta contra os erros ocultos em meias verdades, está o traço característico, o verdadeiro campo de especialização do jornal. Esta especialização oportuna, indispensável, de tal maneira lhe valeu uma posição de relevo na imprensa católica nacional, que com surpresa e satisfação vemos dilatar-se seu raio de ação por todo o Brasil; e de outro lado se insere harmoniosamente e em lugar saliente, no conjunto das atividades católicas da Diocese, assegurando-lhes uma preciosa integridade de espírito e uma inegável precisão de objetivos.

De como seja atual este apostolado, dá-nos idéia um exemplo. Os leitores do CATOLICISMO têm visto com quanta insistência tem ele atacado o igualitarismo moderno, em seus dois aspectos, o igualitarismo declarado da sociedade neo-pagã e principalmente o igualitarismo velado que se insinua de tantos modos nos meios católicos. É bem de ver que o primeiro igualitarismo vai tornando cada vez mais semelhante ao ideal comunista a sociedade ocidental; e que o segundo prepara os meios católicos a receber sem reação esta imensa transformação. Fenômeno que decorre da convergência de muitas causas culturais e sociais que seria longo enumerar, mas que a sagacidade do Kremlin observa e aproveita. Pois serve poderosamente ao êxito de certas manobras comunistas que o Emmo. Cardeal Saliège, Arcebispo de Toulouse, denunciou relativamente à França com estas graves e recentes palavras:

"Tudo se passa como se houvesse uma ação orquestrada por certa imprensa mais ou menos periódica, por certas reuniões mais ou menos secretas, tendente a preparar no seio do Catolicismo um movimento de acolhida ao comunismo.

"Há guias que o sabem, e asseclas inconscientes que caminham sob suas ordens" (cfr. "Documentation Catholique", 18-10-53, p. 1315).

Desde que é este o objetivo de Moscou, como imaginar que seus leaders poderiam não aproveitar para seus fins o potencial imenso da avalanche naturalista e igualitária que desde Lutero vem minando a ordem cristã no Ocidente? E como não reconhecer então a oportunidade e a transcendente importância da obra que neste campo vai sendo realizada pelo CATOLICISMO?

Damos, pois, a este benemérito jornal nossa afetuosa bênção, que por suas colunas tornamos extensivas, neste princípio de ano, a nosso Reverendo e diletíssimo Clero, e a quantos trabalham na Diocese de Campos, segundo os anelos do Augusto Vigário de Cristo, com as armas pacíficas da oração, da mortificação e da ação apostólica, para a edificação do Reino de Deus, construído sobre o fundamento das virtudes cristãs: "opus justitiae pax".


A FALTA DE REAÇÃO TEM SIDO A CAUSA O TRIUNFO DO MAL

SENDO cada vez mais numerosas em muitos lugares do Brasil as senhoras que adotam o uso de calças masculinas, S. Excia. Revma. o Snr. D. José Maurício da Rocha, DD. Bispo de Bragança, publicou recentemente um edital condenando tal hábito. Esse edital teve a maior repercussão no visinho Estado de São Paulo e constitui um documento de importância essencial na luta da Hierarquia em prol da modéstia cristã.

Publicamo-lo, pois, chamando a atenção de nossos leitores, não só para as suas disposições, como ainda para os considerandos em que o ilustre Prelado mostra a gravidade do pecado de omissão, nesta importante matéria.

Na Diocese de Campos o interesse do documento não é apenas informativo, como ainda preventivo.

Está assim redigido o edital do Exmo. Snr. Bispo do Bragança:

A FALTA DE REAÇÃO CAUSA DO TRIUNFO DO MAL

"Considerando que a falta de justa e oportuna reação contra o mal tem sido a causa do seu triunfo nos vários setores da vida, sobretudo atualmente; considerando que é dever da autoridade, no âmbito de suas atribuições, procurar impedir o mal; considerando que é mau não só o que o é por natureza, mas o que como tal é tido e proibido pela autoridade competente, mesmo que outros digam o contrário; considerando que Deus não pode errar e que, por conseguinte, o que por Ele é proibido não deve ser praticado, e somente a Ele cabe revogar Sua proibição; considerando que Deus, na Sagrada Escritura, capítulo XXII, v. 5, do Deuteronômio, proíbe formalmente que "as mulheres usem vestes masculinas, porque Deus abomina a quem pratica isso"; considerando que não pode Deus errar, e que a severidade com que veda tal prática, declarando abominável a Seus olhos quem a adotar, torna evidente a gravidade do mal que ela encerra; considerando que os interpretes das palavras do escritor sacro confirmam a abominação pelas consequências, quando dizem que a mulher deixando as vestes próprias, deixa também o pudor — "mulier cum veste etiam pudorem exuit"; considerando que seria muito mais agradável à autoridade poder silenciar no caso, se o bem geral não exigisse o contrário; considerando que o Código Penal Brasileiro proíbe o uso das vestes de um sexo pelas do outro, não sendo portanto proibição meramente eclesiástica:

EXCLUÍDAS DOS SACRAMENTOS

"Havemos por bem, muito a contragosto, mas premido pelas circunstâncias, enfrentar diretamente a situação, que está tomando proporções alarmantes nesta cidade e em outras paróquias da Diocese, com a quebra das nobres e honrosas tradições da família bragantina e paulista. Nós cumprimos o Nosso dever; e quem for católico cumpra o seu, obedecendo a seu Bispo e, sobretudo, a Deus.

"Em virtude das razões expostas, somos forçados, pois, a determinar que sejam excluídas da recepção dos Sacramentos até que se emendem, não podendo também servir de madrinhas de batismo, de crisma e de casamentos, todas as mulheres, de qualquer estado ou condição, que, afrontando a proibição divina e estas Nossas determinações, continuarem a usar calças, a modo de homens, ou vierem a usá-las, pelas ruas, em passeios, etc., excetuadas as montarias em viagens a cavalo, tanto mais porque não há necessidade de tal uso, nada havendo que o justifique senão, a insensatez dos que o inculcam.

"Esta proibição não visa, evidentemente, apenas ao momento da recepção dos Sacramentos, mas às atitudes anteriores, o que quer dizer que, embora se apresentem para os Sacramentos em trajes femininos, se, em outras ocasiões, usarem vestes masculinas, estão incursas na proibição".

TAMBÉM AS MÃES

"Em iguais penas incorrem as mães que permitem a suas filhas, mesmo pequenas, tal uso, pois a isso acostumadas desde crianças, com maioria de razão hão de fazê-lo quando crescidas.

"Estamos certo de que, em face das considerações expostas, as pessoas sensatas e os bons católicos estarão ao lado da Igreja".

Termina S. Excia. Revma. determinando que os Sacerdotes sejam inflexíveis no cumprimento de suas determinações, que deverão ser lidas nas igrejas e capelas por um mês seguido e afixadas nos quadros dos avisos paroquiais.


VERDADES ESQUECIDAS

UMA GRANDE GLORIA: SER HOSTILIZADO PELOS INIMIGOS DA IGREJA

De uma lápide na igreja da Abadia beneditina de Solesmes, em memória de D. Guéranger, o grande restaurador da liturgia e da Ordem de S. Bento na França:

FOMENTOU as sãs tradições da sagrada liturgia, que estavam decadentes, — E, lutador incansável, defendeu estrenuamente os direitos da Sé Apostólica; — Jamais poupou aos fautores de falsos dogmas; — Doutor irrepreensível, conquistou para si o grande louvor de que os inimigos da Igreja eram também seus inimigos.