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CONSIDERAÇÕES SOBRE O APOSTOLADO MARIANO

POR ocasião, do Congresso Mariano de Goiás, realizado com extraordinário êxito em Goiânia em maio p. p., o Exmo. Revmo. Snr. D. Antonio de Castro Mayer, DD. Bispo de Campos proferiu uma alocução notável pela atualidade do tema abordado e profundidade dos conceitos.

Dado o ardente interesse com que nesta Diocese e em todo o Brasil se ouve o pronunciamento do ilustre Prelado sobre os problemas modernos, transcrevemos na integra, acrescentando-lhe subtítulos, a importante, peça oratória, que trata do apostolado do congregado e da filha de Maria, sua oportunidade, e os principais assuntos relacionados com seu desenvolvimento.

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É com profunda emoção que me apresento diante desta ilustre assembléia que o Exmo. Revmo. Snr. Arcebispo D. Emanuel Gomes de Oliveira congregou no planalto central do Brasil, para glorificar a Maria Santíssima, Rainha de nossa terra por disposição do afeto de nossa gente, e oficial declaração do Vigário de Cristo...

O APOSTOLADO MARIANO É PROVIDENCIAL

MARIA Santíssima já tem dado provas marcantes de sua proteção especial ao Brasil. Uma delas, que causará assombro aos futuros historiadores, é o florescimento admirável das falanges marianas de moços e moças, nas últimas décadas, precisamente quando vem atingindo seu clímax a conjuração de todos os meios de publicidade imprensa, cinema, teatro, rádio, televisão — para difundir a impureza e afastar a mocidade da prática da virtude, e até da profissão da fé católica. Por todo o Brasil, nestes últimos trinta anos, gerações sucessivas de jovens ingressaram nas CC. MM. E Pias Uniões, ávidas de formação mais profunda, de pureza mais ilibada, de vida intimamente associada às atividades apostólicas da Igreja. Mérito singular deste movimento é o desprezo dos prazeres mais aliciantes, para abraçar voluntariamente a austeridade, é o sacrifício dos lazeres mais justos, para se empenhar na difusão do reinado da Soberana dos céus e da terra. É bem de ver que fato tão contrário às inclinações da natureza decaída, e aos pendores impetuosos da humanidade hodierna, não se poderia explicar sem uma proteção particularmente eficaz de Nossa Senhora.

Proteção que nos abre largos e confortadores horizontes. Um país em que a Providencia encontra substância para a formação de tais reservas morais não é, como muitos propalam, uma nação espiritualmente esgotada, irremediavelmente corroída por uma crise moral omnímoda. Cumpre-nos, isso sim, buscar os remédios onde Deus os pôs. A regeneração dos costumes, a maior e a mais premente das necessidades nacionais, está bem provado que nas falanges marianas, e sob o manto de Maria, tem ilimitadas possibilidades de propagação. A Igreja, cônscia deste fato, volta-se com afeto e esperança para o apostolado mariano, e principalmente depois da luminosa Constituição Apostólica "Bis Saeculari Die", nele saúda uma das formas mais eficiente, mais brilhantes, mais ricas em perspectivas de futuro, da Ação Católica nacional.

O APOSTOLADO MARIANO E A AÇÃO CATÓLICA

A falta de Clero e as peculiaridades de nossa época tornam mais urgente do que nunca o apostolado dos leigos. As CC. MM., conscientes do que lhes prescrevem suas regras, se votaram desde há muito a esse apostolado, sob todas as formas, e principalmente em seu aspecto social, motivo que lhes valeu merecidamente o título de verdadeira Ação Católica, no sentido mais pleno e exato da expressão. Ao lado delas, as falanges de filhas de Maria vêm se incumbindo das mesmas atividades, com êxito não menor. Na ordem concreta dos fatos têm elas também atuado como preciosos organismos de ação católica, e só merecem aplausos por terem sabido estar presentes no campo do apostolado onde quer que seu zelo tivesse ocasião de se aplicar.

Considerando, pois, em seu conjunto estas numerosas e escolhidíssimas associações que, em torno da bandeira de Maria, atuam unidas "ut castrorum acies ordinata", convém definir os traços essenciais de seu apostolado, e da formação espiritual a ele correspondente.

A PRINCIPAL TAREFA: AFERVORAR OS TÍBIOS

INDICAM as estatísticas que no Brasil mais de 90% da população é católica. Admitido que o fim da Ação Católica é instaurar o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, este fim se realizará no Brasil, não tanto pela conversão dos hereges e infiéis, quanto movendo a imensa massa católica a estudar, amar e praticar os princípios e as normas que formam o reino de Cristo. O mariano, congregado ou filha de Maria, é chamado a atuar, pois, o mais das vezes num campo frouxamente católico. Aí despertará energias adormecidas e latentes, tradições, pendores, ideais que a ignorância e a tibieza amorteceram, sem chegar porem a destruir. Cumpre-lhe reavivar a mecha que ainda fumega, endireitar o arbusto ferido.

Para tanto, é mister antes de tudo boa instrução religiosa, pois ninguém difunde ou faz amar doutrina que não conhece. Mas, a doutrina católica não se ensina apenas em termos de catecismo. É necessário animá-la com o exemplo. As palavras instruem; os exemplos empolgam. É de todos os tempos esta verdade experimental. Desde as catacumbas até os últimos dias da Igreja e do mundo, a vida cristã retamente vivida tem sido e será um dos melhores elementos para impregnar do bom odor de Cristo Jesus todos os ambientes.

O VERDADEIRO APOSTOLADO DE PRESENÇA

PARA isso terá o mariano a indispensável coragem. O mariano não pode resignar-se a ser no meio em que vive, luz posta sob o alqueire. Deve, ao contrário, servir-se de todas as oportunidades para manifestar claramente suas convicções, e, sem alardear sua virtude, não há de esconde-la, movido por falsa prudência. Disse bem o Beato Pio X que o Catolicismo não é mercadoria avariada que deva entrar de contrabando. Ao mariano não seduza a idéia de que a simples presença, muda e apagada, do cristão desprende não sei que energia contagiante que converte magneticamente as almas. Não. Sua presença não seja muda. Fale, insista, discuta, argumente, proclame enfim os direitos da Igreja e as glorias da virtude, com ufania ainda maior do que o intrépido com que a humanidade hodierna aplaude a Satanás, suas pompas e suas obras.

Por certo, em circunstâncias em que ao católico sejam tolhidos todos os meios de ação — em alguma região da Igreja do silêncio, por exemplo — a simples presença do fiel pode ser ocasião de graças para os outros. Isso é porém exceção. Normalmente Deus nos dá meios de ação e exige que deles façamos uso. E sua graça não assiste nem torna fecunda a presença dos que se calam por tibieza, displicência, ou respeitos humanos. — Por certo, neste apostolado de viseira erguida e bandeira desfraldada, também pode haver excessos. Uma formação interior cuidadosa preservará o mariano dos exageros que desfiguram a coragem em arrogância, o destemor em brutalidade, a ufania da virtude em vangloria. Esses riscos, no entanto, superáveis pela vigilância contínua de quem milita no exército de Cristo Rei, não podem servir de pretexto para que se faça do mutismo, do recuo, da prudência carnal, normas de apostolado.

LIMITES DO APOSTOLADO DE INFILTRAÇÃO

APOSTOLADO mariano deve exercer-se no ambiente de vida própria a cada qual: família, escola, oficina, etc. Não se trata de ser zeloso apenas dentro dos muros da sede social, mas em toda a parte.

Um falso zelo, entretanto, não deve levar o mariano a freqüentar lugares e convívios em que sua alma se exponha ao pecado.

O primeiro objeto da caridade bem ordenada somos nós mesmos. Aliás, é preciso não esquecer que não somos indispensáveis. Deus se utiliza de instrumentos porque quer. Pode Ele agir por Si imediatamente e saberá favorecer segundo os desígnios de sua justiça e de sua misericórdia as almas que ficam à margem da ação apostólica.

Importa lembrar que ambientes perigosos são todos aqueles que arrastam as almas à sensualidade, ao naturalismo, ao liberalismo, ao relaxamento moral, não só pela ação veemente do escândalo mas ainda pela ação paulatina, sub-reptícia, imensamente eficaz, de uma atmosfera toda impregnada de imponderáveis influencias pagãs.

APOSTOLADO DE ELITE DENTRO DOS SODALÍCIOS

Ao lado deste apostolado extra-muros, para fora, existe um apostolado intra-muros, no seio do próprio sodalício. Uma Congregação Mariana ou Pia União não pode dispensar elementos de escol, que reanimem os fracos, empolguem os novos, afervorem os bons. Este apostolado é mais necessário do que qualquer outro: é ele a própria vida de um sodalício mariano. Sem uma elite interior ardente, profunda, disposta a todas as renúncias, a todas as dedicações, a todos os heroísmos, não há movimento mariano que prospere.

É esta uma exigência inerente à ordem natural das coisas. Nesta época de glorificação das massas, de nivelamento absoluto, de socialização demagógica, afirmemos bem alto o papel das elites. Ai do país sem elites. Ai da sociedade cristã privada de elementos de escol. No plano sobrenatural a necessidade das elites nos foi ensinada pelo próprio Jesus Cristo, que constituiu em torno de si os grupos concêntricos dos Apóstolos e dos discípulos, aos quais confiou de modo capital a expansão do Evangelho.

Formar elites, mantê-las, animá-las a uma perfeição sempre maior, a uma dedicação sempre mais generosa, eis a preocupação máxima de todos os que se consagram com zelo e discernimento ao progresso do movimento mariano. Este apostolado interior é mais nobre e mais necessário do que a ação externa, por motivos análogos, sob todos os pontos de vista, aos que fazem da vida interior um domínio mais alto e mais necessário que o da vida ativa.

UBI PETRUS IBI ECCLESIA

DESTAS noções se infere quais sejam os traços essenciais da formação espiritual dos marianos. Fé profunda, pureza ilibada, abnegação heróica, destemor apostólico. Pertencendo à progênie espiritual d'Aquela que esmagou a cabeça da serpente, o mariano - congregado ou filha de Maria - deve em todos os atos de sua existência esmagar também ele o dragão infernal.

O demônio incita o homem ao naturalismo - eritis sicut dii - o mariano deve ser homem de fé e de espírito sobrenatural. Não se contentará com a simples profissão do Credo, mas primará por um senso católico, vivaz e clarividente, que se manifesta numa devoção sem restrições ao Vigário de Cristo na terra. Pois ter fé não é crer só em Deus, mas também em Jesus Cristo; não é só crer em Jesus Cristo, senão também em sua única Igreja; não é só crer na Igreja, mas também naquele que a personifica, o Papa: ubi Petrus ibi Ecclesia, ubi Ecclesia ibi salus...

O SENTIMENTALISMO, ADVERSÁRIO DA PUREZA

Por sua pureza, à imitação da Virgem Imaculada, o mariano esmagará o espírito impuro quando este procura arrastá-lo às muitas formas da lascívia.

A pureza do mariano não deve consistir apenas em fugir às impudicícias que maculam o corpo. Ele deve criar um ambiente interior de austeridade e mortificação que preserve sua alma de conivência com a sensualidade moderna. Sua pureza não pode consistir tão somente na rejeição do que ofende gravemente a virtude angélica, mas de todas as formas de sentimentalismo e sensualidade que entretêm na alma urna atmosfera de volúpia e relaxamento.

ENFRENTAR AS PERSEGUIÇÕES

PERMANECER fiel à Igreja implica quase sempre em atrair sobre si ódios irredutíveis, antipatias militantes. Já dizia São Paulo: qui pie volunt vivere in Christo Iesu, persecutionem patiuntur. Não raro, o verdadeiro mariano verá que se cerram diante dele as portas que conduzem às honras, à consideração social, à fortuna. São sacrifícios que lhe toca fazer de coração alegre e generoso, sem qualquer veleidade de concessões ou acomodações com o espírito do mundo. Esmagará assim o demônio do orgulho e da ambição, imitando Aquela que foi a serva do Senhor.

ESMAGAR A CABEÇA DA SERPENTE

NA luta contra o adversário, o mariano não tentará golpear tanto os satélites do dragão, quanto o próprio dragão. Não irá feri-lo em qualquer lugar, mas em sua cabeça. Não atingirá sua cabeça de qualquer modo, mas esmagando-a, isto é, destruindo-a completamente. Sua ação apostólica será corajosa e inteligente. Corajosa, pois ele atacará o inimigo no ponto capital, e desencadeará contra si as iras que soem ser suscitadas pelos golpes mais rijos e mais fundos. Sua coragem será inteligente, pois concentrará as melhores forças no ponto mais conveniente, no momento mais propicio, com a destreza mais consumada.

OUVINDO O SANTO PADRE

FIEL imitador da Virgem Santíssima, o mariano é o soldado ideal para a imensa luta que a Igreja de Deus trava ao longo da grande tormenta contemporânea. A ele especialmente é dirigido o apelo do Santo Padre Pio XII quando registra "o plano espantoso que visa a arrancar radicalmente das almas a fé em Cristo, e à dominação do mundo pelo inimigo dos homens e de Deus. E há homens - prossegue o Papa - homens miseráveis, que servem de instrumento a esta destruição. Trava-se uma luta que cresce por assim dizer cada dia, em proporção e em violência; e por isso é necessário que todos os cristãos, mas especialmente todos os católicos militantes, estejam de pé e combatam até a morte, se for preciso, pela Igreja, sua Mãe, com as armas que lhes são permitidas (rádio-mensagem à A. C. Italiana na abertura do Ano Mariano — 8-12-1953). "DAI-NOS VERDADEIROS FILHOS VOSSOS"

DIANTE desta grave advertência de Vigário de Cristo na terra, dirijamos uma prece à Virgem Imaculada, neste seu ano jubilar, para pedir-lhe apóstolos marianos para o Brasil, servindo-nos das mesmas palavras com que o mais ardente de seus servidores, S. Luiz Maria Grignion de Montfort, implorava a Nosso Senhor missionários para sua Companhia:

Dai-nos, ó Virgem Imaculada, verdadeiros filhos vossos, engendrados e concebidos por vossa caridade, conduzidos em vosso seio, presos ao vosso coração, por Vós nutridos, educados por vossa solicitude, sustentados em vossos braços, enriquecidos de vossas graças.

Verdadeiros filhos vossos que vão como outros tantos S. Domingos com o facho lúcido e ardente dos Santos Evangelhos na boca, em sua mão o Santo Rosário, o ladrar, como cães fieis, contra os lobos que só buscam estraçalhar o rebanho de vosso Filho, Jesus Cristo.

Verdadeiros filhos vossos que vão, ardendo como fogos, e iluminando como sóis as trevas deste mundo; e que por meio de uma verdadeira devoção a Vós, Mãe terníssima isto é, uma devoção interior, sem hipocrisia; exterior, sem criticas; prudente, sem ignorando; terna, sem indiferença; constante, sem versatilidade, e santa, sem presunção esmaguem, por toda a parte, a cabeça da antiga serpente, afim de que a maldição que sobre ela lançou o Altíssimo seja inteiramente cumprida: Inimicitias ponam inter te et Mulierem, et semen tuum, et semen illius. Ipsa conteret caput tuum.

Verdadeiros filhos vossos, que por seu abandono à Providencia e pela devoção ao vosso Coração Imaculado, tenham a pureza da doutrina e dos costumes, a integridade da Fé e da moral; e uma caridade perfeita e firme para com o próximo, cuja alma amem até darem a vida para salvá-la.

Dai-nos, Virgem Imaculada, verdadeiros filhos vossos, que vivam esquecidos de si, consagrados à vossa gloria e ao vosso reino, para que seja glorificado Jesus, vosso Divino Filho e a nós venha seu reino bendito".


VERDADES ESQUECIDAS

Não há educação sem castigo

Da Santa Regra (Capítulo XXX):

CADA idade e cada inteligência deve ter sua medida especial. Portanto, sempre que as crianças, ou os adolescentes, ou os que não entendam bem quão grande seja a pena da excomunhão (monástica), praticarem uma falta, sejam afligidos com severos jejuns ou reprimidos com fortes açoites, para que se emendem. S. BENTO.