VERBA TUA MANENT IN AETERNUM
MARIA É TERRIVEL COMO EXÉRCITO EM ORDEM DE BATALHA
PIO XII: A Igreja, porém, toma outra imagem da Sagrada Escritura e a aplica à Virgem. Maria é bela em si mesma como a lua, refulgente em torno de si como o sol; mas, contra o "inimigo", é forte, é terrível, como um exército em forma de batalha. "Acies ordinata".
Neste dia de alegria e júbilo, Deus sabe como quiséramos poder esquecer a aspereza dos tempos que atravessamos! Mas os perigos que se acumulam sobre o gênero humano são tais que — por assim dizer —nunca devemos Nós cessar de lançar o brado de alerta. Existe o "inimigo", que investe contra as portas da Igreja, que ameaça as almas. E aí está outro aspecto — atualíssimo — de Maria: sua fortaleza no combate.
Já desde a miserável queda de Adão, o primeiro anúncio de Maria, segundo a interpretação de não poucos Padres e Doutores, nos fala de inimizades entre Ela e a serpente inimiga de Deus e do homem. Do mesmo modo que é para Ela essencial ser fiel a Deus, assim também o é ser vencedora do demônio. Sem mancha alguma, esmagou Maria a cabeça da serpente tentadora e corruptora. Quando Maria se aproxima, o demônio foge; da mesma forma que se dissipam as trevas quando desponta o sol. Onde está Maria, não está Satanás; onde está o sol, não está o poder das trevas. — (Rádio-mensagem à Ação Católica Italiana na abertura do Ano Mariano, de 8-XII-1953).
FORTÍSSIMO GUARDA DA LIBERDADE DA IGREJA
PIO XII: Acérrimo defensor da Religião e fortíssimo guarda da liberdade da Igreja de Cristo, cônscio do seu ofício pastoral, (PIO X) aboliu o chamado "Veto civil" na eleição do Pontífice Romano; repudiou impavidamente as leis de separação entre o Estado e a Igreja; à França, afligida pela perseguição, deu novos Bispos, e resistiu à audaciosa irrupção da malícia dos homens. Para defesa da Religião, restaurou a disciplina da Ação Católica e tornou-a mais sólida; deu novo desenvolvimento à ação social dos católicos; conduziu com sapientíssimas leis as associações operárias para o caminho religioso; reforçou as Ordens Religiosas com mais oportunas normas jurídicas. — (Breve Apostólico da Beatificação, de 3-VI-1951).
RESPEITAR TUDO QUE EMBELEZA A VIDA SOCIAL
PIO XII: Não seria, pois, equitativo julgá-la (a arte da ourivesaria) inútil por si mesma, ou também nociva, e ver nela um insulto à pobreza, e quase um desafio lançado aos que dela não podem utilizar-se. Sem dúvida, neste campo, mais do que em outros, é fácil o abuso. Muito frequentemente, apesar dos limites que a reta consciência fixa para o uso das riquezas, vem-se alguns fazer alarde de um luxo provocante, falto de qualquer significado razoável e destinado tão somente à satisfação de uma vaidade, que ignora e, por isso mesmo, insulta os sofrimentos e necessidades dos pobres. Mas seria, de outro lado, injusto condenar a produção e uso de objetos preciosos, todas as vezes que correspondam a um fim honesto e conforme aos preceitos da lei moral. Tudo o que contribui para o embelezamento da vida social, tudo o que lhe põe em relevo os aspectos alegres ou solenes, tudo o que faz resplandecer nas coisas materiais a perenidade e nobreza do espírito, merece ser respeitado e apreciado. — (Discurso aos participantes do IV Congresso Nacional da "Cofendorafi", Confederação Italiana de Ourives, Joalheiros, Relojoeiros e Afins, de 9-XI-1953).
Correspondência
Do Revmo. Pe. Clemente Tresson, C. SS. R., de Garanhuns (Pernambuco): "CATOLICISMO deve ser o jornal de todos os intelectuais e estudantes católicos do Brasil".
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Do Revmo. Pe. João Alberto, C. M., Diretor da Missão, de Fortaleza (Ceará) : "Gosto muito dos artigos de CATOLICISMO. Parabéns a toda a redação".
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Do Revmo. Pe. Jorge Vinson, C. P. C. R., de Rosario (Argentina) : "Solicitamos pués que sin dejar de enviar un ejemplar a nuestra casa de Salto (Uruguay), donde los Padres reciben con gusto la revista, tengan también la bondad de enviarnos un ejemplar a esta nuestra Comunidad de Rosario... Por otra parte, en la pequeña medida de nuestros medios, procuraremos hacer conocer su valiente revista".
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Do Clérigo Walter Bini, S. D. B., de Lorena (S. Paulo): "... CATOLICISMO, cujos números vieram, cada um, alimentar a fé e o zelo apostólico dos que os lêem neste Instituto Filosófico e Faculdade Salesiana de Lorena".
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Do Snr. Francisco Casado Gomes, de Porto Alegre (R. Grande do Sul): "Mais uma vez cumprimento V. Revma. pela matéria e pela apresentação de seu mensário. A cada número mais o aprecio".
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Do Prof. Jacinto do Prado Coelho, de Lisboa (Portugal) : "Exprimo a minha viva admiração pela altura mental e combativo desassombro de CATOLICISMO (infelizmente, nada de comparável temos em Portugal), continuando, pois, muito interessado em receber o jornal".
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Da Snra. Charles Du Mont, Diretora de "L'Observateur de Genève", de Genebra (Suissa) : "... seu interessantissituo jornal, que defende, como "l'Observateur", o Bem e o Belo"
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Do Snr. Domingo Sanmarti Font, de Barcelona (Espanha): "Como uno de los miembros fundadores, que soy, de la revista "Cristiandad", me creerán si les digo la agradabilísima sorpresa que tuve al conocer su revista y la absoluta compenetración, en todos los aspectos, en que estoy con ella. Espero con verdadero interés los números nuevos y los leo de cabo a rabo sin dejar una sola línea. Especialmente me han gustado los dos artículos que sobre la moderación han publicado, aunque ahora me doy cuenta de que talves sea así porque son los últimos que he leído puesto que también recuerdo aquel de si la caridad manda amar a los pecadores, el artículos sobre "o bom coração", para no hablar más que de los artículos de Plinio Corrêa. También encuentro magníficos los artículos que publican sobre Veuillot y los católicos franceses del siglo XIX, los que aparecen sobre economía de J. de Azeredo, los que toman como asunto las cuestiones estéticas y de arte. En fin, todo.
Me gusta especialmente, y en esto concordar con nuestro grupo, el espirito antiliberal que impregna toda la revista. A veces nos dicen que estamos anticuados y que el liberalismo ha pasado de moda. Esto es cierto por lo que respecta al liberalismo político, fracasado en toda la línea, pero el liberalismo doctrinario nunca había estado tan infiltrado como en nuestros días. Este espíritu que tan magníficamente analiza Plinio Corrêa en sus dos artículos sobre la moderación. Cuando los leía me parecía oír a nuestro maestro, el P. Ramón Orlandés, S. J., hablando en portugués".
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De D. Maria do Carmo de Mendonça Lima, de S. Leopoldo (R. Grande do Sul): "Acho CATOLICISMO uma preciosidade".
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De "Mariano", de S. Paulo (Est. S. Paulo): "Pode uma associação religiosa — digamos uma Congregação Mariana — promover, com participação de seus membros, representações teatrais mistas, isto é, em que tomem parte pessoas de um e outro sexo? — No caso particular de serem adolescentes os atores, haverá observação especial a fazer?
R. Algumas considerações, esperamos, auxiliarão nosso n. consulente.
Nas representações teatrais de que trata a consulta, há que distinguir á momento mesmo do espetáculo, quando a peça é levada à cena, e o tempo de preparação. Antes da representação, há os ensaios. Os ensaios proporcionam inevitavelmente convívio mais íntimo entre os atores de sexos diversos. As longas repetições, as conversas nos bastidores, etc., criam um ambiente onde facilmente se fomentam atrações recíprocas, sem o correlativo da austeridade de uma casa de família. Acresce o esforço, especialmente nos adolescentes, ávidos de perfeição artística, de se compenetrarem dos sentimentos da personagem que vão representar, um trabalho no sentido de excitar a paixão condizente com a cena a realizar.
Quem não vê como tudo isso é muito próprio para pôr em perigo a virtude, desordenando os sentimentos, afrouxando a piedade, fomentando a "meia castidade" que é a desgraça de nossos tempos?
Pretender que se deva favorecer a convivência entre adolescentes de sexo diferente porque a natureza os impele para tal, é naturalismo condenado pela Igreja. Depois do pecado original, nossa natureza perdeu o equilíbrio que mantinha graças ao dom da integridade com que foi criada.
De maneira que é a custo que a razão obtém o domínio sobre nossa parte sensível. E na adolescência esta é mais viva, porque é o momento em que se acentua seu desenvolvimento. Em todas as idades, mas especialmente na juvenil, sem uma graça especial não consegue o homem conservar a sujeição dos sentidos por longo tempo. E de sua parte deve ele colaborar com a graça, evitando as ocasiões que normalmente criam um ambiente interior infenso à virtude.
Entre tais ocasiões, ocupa lugar de destaque a convivência intima entre pessoas de diverso sexo. Pois nela se excita além do normal a vida sentimental, e ninguém ignora o encadeamento que existe entre o sentimental e o sensual.
Não é preciso dizer que Congregados Marianos e Filhas de Maria têm, mais ainda do que os membros de outras associações religiosas, um dever especial de evitar ocasiões dessas, uma vez que ao ingressar no sodalício a que pertencem, assumem a obrigação de fomentar o espírito de pureza e castidade próprio de sua Mãe Santíssima, a Virgem das virgens.
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De A. C. P., de Brusque (Santa Catarina): "... uma explicação clara e a exposição completa das normas por que se orienta o Rotary Club. Muitas pessoas já sobre isto pediram informações que não pude dar suficientes... E se não me torno importuno, desejo mais um esclarecimento. Que diria o redator sobre o caso de um Vigário, nos dias de Carnaval, após uma hora de adoração, permitir às crianças da paróquia os folguedos carnavalescos com fantasias e cantos censurados? E se para isso pusesse mesmo à disposição o salão paroquial? (Naturalmente sua intenção é afastar as crianças dos salões públicos e por vezes perniciosos. Seria empregar as mesmas armas do inimigo, mas contra ele)".
R. Não cabe no curto espaço reservado à secção de "Correspondência" uma exposição completa sobre o "Rotary Club". Mas é fácil reproduzir aqui a norma de procedimento que, quanto a ele, deve manter todo católico. A Igreja considera suspeita essa associação, e manda que os Sacerdotes desviem os fiéis de a ela se filiarem. É o que lemos, por exemplo, no decreto 146, § 1o, do Concilio Plenário Brasileiro: "Segundo o prescrito no Canon 684, os Sacerdotes, e sobretudo os Párocos, exortem os fiéis a que... se acautelem quanto às associações condenadas ou suspeitas, como por exemplo a protestante Associação Cristã dos Moços e o Rotary Club".
Para o católico basta esta reserva da Igreja, para ditar sua atitude perante tal sociedade. A Igreja é Mãe, e é assistida pelo Espírito Santo em tudo que respeita à edificação de seus filhos.
E aliás a experiência tem mostrado que a adesão ao Rotary acarreta um entibiamento na vida de piedade, quando não o relaxamento no cumprimento dos deveres essenciais impostos pela condição de católico.
Não é preciso procurar muito para encontrar a razão disso. O Rotary se propõe fins culturais que afetam os elementos constitutivos de uma civilização. Ora, na prossecução destes fins, pretende ele conservar-se equidistante de todas as "confissões religiosas". "De política e religião não se cogita nesse grêmio admirável", escrevia há alguns anos um rotariano de projeção em nosso país. Em outras palavras, pretende o Rotary fundar sua obra de elevação da sociedade numa moral leiga, ou, na melhor das hipóteses, numa religiosidade vaga, que evita ferir as crenças divergentes dos seus membros. Precisamente o que, com expressões enérgicas, condenou o Papa São Pio X ao proscrever o movimento cultural francês conhecido pelo nome de "Le Sillon", na Carta "Notre Charge Apostolique".
Apesar de todas as manifestações de respeito de muitos rotarianos para com a Religião, não é de admirar que a Igreja advirta do perigo que para os fiéis representa o filiar-se a um grêmio que lhes vicia o próprio fundamento da concepção que devem ter da sociedade e da civilização. “Sine fide impossibile est placere Deo". Também sem a fé, sem a adesão à Igreja, é impossível criar uma civilização, renovar e elevar a sociedade, de maneira a que corresponda aos desígnios de Deus, e portanto também ao bem da humanidade.
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Sobre o Vigário a que se refere a segunda parte da consulta, devemos em primeiro lugar louvar sua oposição aos bailes públicos, sempre nocivos.
Parece-nos, no entanto, que a maneira como agiu, isto é, proporcionando divertimentos da mesma natureza que aqueles que pretendia evitar, não foi muito feliz. Pois a frequência a tais folguedos carnavalescos no salão paroquial predispõe os pequenos ao Carnaval "tout court", que mais tarde lhes parecerá mais atraente (não carregasse a natureza humana a pesada herança do pecado original).
Pode aplicar-se a este caso o que das modas afirmava o Santo Padre Pio XI em carta ao Eminentíssimo Cardeal Vigário, lá pelos idos de 1926, se não nos falha a memória. Dizia o Papa que desde a infância se deve exigir a modéstia no traje feminino, e não desculpar os vestidos curtos e sem mangas com a inocência que ainda não conhece a malícia do pecado e o perigo do escândalo. Crescem as meninas, prossegue o Papa, e conservam o gosto da exibição que insensivelmente adquiriram com as vestes usadas nos anos da inocência. E dai a cada vez maior imodéstia no traje das mulheres.
Igualmente, as crianças que se divertem com fantasias e músicas carnavalescas, previamente censuradas, guardam o gosto do travestimento, e se acostumam com melodias de letra desonesta. Mais tarde deixar-se-ão levar pela tendência adquirida, e não terão pejo de tais canções maliciosas, como não terão escrúpulos de frequentar os salões onde domina o vício e a sensualidade.
Seria interessante ocupar as crianças, no tempo do carnaval, com outros divertimentos, Jogos, algum teatrinho, etc.
Não é demais salientar quanto é conveniente em um povo precoce como o nosso, evitar diversões infantis mistas, em que tomam parte meninos e meninas.
Católicos Franceses do Século XIX
AUDACIOSO, ARDENTE E, MUITAS VEZES, PERIGOSO
Fernando Furquim de Almeida
Ao mesmo tempo que iam se acentuando cada vez mais as tendências revolucionárias do governo de Napoleão III, modificava-se aos poucos sua atitude em relação à Santa Sé. No início do Império, a França protegera Pio IX contra os carbonários italianos; mas, certo de ter captado definitivamente as simpatias dos católicos, o Imperador retirara a máscara depois do atentado de Orsini e orientava sua política exterior para um franco apoio à unificação da Península.
O "Univers" a princípio abrira um largo crédito de confiança ao Império, dadas as boas disposições que este manifestava para com a Igreja. Vendo, no entanto, o abismo em que se lançava Napoleão III, passou a combatê-lo com vigor; e com isso, líder incontestável que era dos católicos franceses, causava o mais grave prejuízo aos planos do governo. Daí o esforço que este empregava para criar um jornal católico que se opusesse a Veuillot. Mostramos como fracassaram diversas tentativas feitas nesse sentido. Em fins de 1858, no entanto, quase se realizava esse sonho.
Mons. Dupanloup colocara na redação de "L’Ami de la réligion" o Pe. Sisson, que não se afastou quando o Bispo de Orléans resolveu cortar as suas ligações com o jornal. Em pouco tempo Sisson tornou-se seu único proprietário e resolveu transformá-lo em diário. Nessa época, tais mudanças num órgão de imprensa dependiam da autorização imperial. Ao solicitá-la, o Pe. Sisson, prometia transformar "L’Ami de la réligion" num periódico exclusivamente eclesiástico, fielmente galicano e admirador do ministro dos Cultos. Como se não bastasse, acrescentava: "L’Ami de la réligion" se esforçará antes de tudo e unicamente por defender os princípios conservadores da sociedade, princípios que o governo imperial protege com tanta firmeza e constância. De acordo com o seu título e com a missão que se propõe, reconhece e saberá louvar no governo imperial um poder que, pelos serviços que presta à França e à Religião, tem títulos incontestáveis ao reconhecimento e à adesão das pessoas de bem".
A licença para passar a diário foi concedida, mas — pormenor significativo — a mudança no nome foi negada. O governo preferia ter a serviço de sua política um órgão tradicional do movimento católico; um jornal novo não poderia lançar a confusão desejada.
Os projetos do Pe. Sisson foram objeto de grande propaganda, e ele começou a executá-los. Pouco duraram, porém, as esperanças de "L’Ami de la réligion". Os católicos continuavam a seguir o "Univers". O fracasso foi completo, e o episódio não mereceria nem sequer uma referência, se não tivesse dado causa a uma carta do ministro dos Cultos, Rouland, a seu colega do Interior, na qual a situação religiosa da França nessa época está bem sintetizada, e que mostra a importância e o sucesso do apostolado de Louis Veuillot. Vamos transcrevê-la na íntegra:
"A atitude religiosa do jornal "L’Ami de la réligion" há vários anos é satisfatória, pela sua moderação nas idéias e discussões. Esse jornal representava, sobretudo, as tradições francesas contra o "Univers", que pregava com excesso as pretensões ultramontanas, mas o mesmo não acontecia com as tendências políticas do "L’Ami de la réligion". Sendo legitimistas e orleanistas os seus proprietários e dirigentes, visando ao que se chamava a fusão, evitava cuidadosamente toda adesão ao governo imperial e não era avaro de alusões hostis a este; em conseqüência, pudera obter apenas o concurso de alguns poucos bispos, não querendo a grande maioria se apoiar, nas discussões religiosas, em uma folha reputada contrária aos homens do Império.
"Esse estado de coisas parece ter mudado, o que não me surpreende. É sabido que os bispos franceses que suportam com impaciência a espécie de papado leigo do "Univers", e que compreendem que a invasão das doutrinas e práticas italianas destrói a constituição do episcopado e sua autoridade sobre o clero inferior, gostaria de ter um órgão moderado mas firme, e que o governo pudesse aceitar por causa da sinceridade de suas opiniões políticas. Creio, portanto, que esses numerosos bispos ajudaram o Pe. Sisson a se tornar o único proprietário de "L’Ami de la réligion", a fim de desembaraçar essa folha de um patrocínio político incômodo ou mau.
"O Pe. Sisson veio ver-me e me deu garantias das mais positivas. Vossa Excelência poderá chamá-lo, por sua vez, e apreciar a lealdade e a energia de suas declarações, nas quais, confesso, tenho plena confiança. "De fato, Sr. Ministro e caro colega, não hesito em considerar como coisa útil, no estado atual dos negócios religiosos, a publicação diária de "L’Ami de la réligion", constituído sobre essas novas bases. É um auxílio poderoso oferecido ao episcopado francês para se libertar do jugo tão pesado do "Univers". O clero prudente, fiel às tradições francesas, amigo do governo imperial, terá um órgão; e todos os nossos jovens padres, tão entusiasmados pelas seduções de uma teocracia universal, aprenderão a refletir e a obedecer.
"A imprensa religiosa não tem razão de existir; mas, já que ela existe com um jornal audacioso, ardente e, muitas vezes, perigoso, é indispensável que haja contrapeso, contradição. E por esses motivos veria com prazer V. Exa. dar ao Pe. Sisson a autorização que ele solicita".
NOVA ET VETERA
O Estado redistribuidor de rendas
J. de Azeredo Santos
No caso dos ágios ou do confisco cambial procede o Governo como redistribuidor de rendas, isto é, apodera-se da maior parte da arrecadação proveniente dos leilões cambiais e acena para a lavoura com a promessa de financiá-la com certa parcela desse dinheiro. O lógico e justo seria que os próprios interessados ficassem com as divisas obtidas por seu trabalho, empregando tal renda naquilo que eles, mais do que os burocratas governamentais, sabem melhor convir para o incremento da produção.
Mas não é esta a questão que hoje nos interessa. Queremos nos ocupar do problema do Estado redistribuidor de rendas, em seu aspecto mais geral.
PLANO DE EXECUÇÃO A LONGO PRAZO
Não se cansam os revolucionários, mesmo nos ambientes católicos, de insistir na surrada tecla de que não basta a igualdade política, instaurada pelo liberalismo, mas que é preciso coroá-la com a igualdade econômica. Ora, se examinarmos o que se passa não somente em nosso país, mas em outras partes do globo, veremos que um dos meios práticos para se atingir essa artificial e antinatural igualdade econômica vem a ser a adoção, pelo Estado, de medidas tendentes à redistribuição das rendas. Não se trata, portanto, de simples intervenção ditada por ocasionais circunstâncias sociais e econômicas, mas de um verdadeiro programa de nivelamento econômico ou de proletarização progressiva do povo.
E não é exato dizer-se que o regime liberal promoveu só o apregoado igualitarismo político. O absolutismo republicano desde o início tem agido de modo não menos truculento no sentido da redistribuição de rendas pela destruição e empobrecimento das famílias. Assim, por exemplo, a lei da partilha forçada do patrimônio familiar entre todos os filhos foi votada pela assembleia revolucionária francesa, durante o Terror, a 7 de março de 1793, com o fim premeditado de anular a influência das famílias tradicionais nos conselhos da nação. Mas as consequências foram de alcance ainda maior, pois feriram fundo não somente as grandes famílias, o que já foi uma calamidade sem par, mas também e sobretudo as pequenas, que tinham evidentemente menos que dividir... E Já reconhecia Cambacérès, em discurso publicado pelo "Moniteur" de 28 de dezembro de 1793: "A lei sobre a igualdade das partilhas Já ocasionou muitas desordens em bom número de famílias... fizestes um grande ato de justiça; quisestes golpear as grandes fortunas, sempre perigosas em uma república; mas, sendo a lei geral, os pequenos proprietários foram atingidos..."
Havemos de voltar a este importante tema da destruição do patrimônio familiar, e portanto da família em sua base econômica, pela abolição revolucionária do sagrado direito de testar. Por hoje fica aqui apenas consignado o fato de que o processo de socialização dos bens, ou de igualitarismo econômico, foi iniciado, e a largos traços, pelo absolutismo dos chamados governos liberais caudatários da Revolução francesa.
PROLETARIZAÇÃO PELA DESTRUIÇÃO DA CLASSE MÉDIA
Notemos uma característica importante e constante dessa redistribuição de rendas realizada compulsoriamente pelo Estado: como já reconhecia Cambacérès, mais tarde fiel colaborador de Napoleão na feitura do seu malfadado Código, o fim visado ao se adotar o princípio da partilha forçada do patrimônio familiar era o empobrecimento e a desorganização de todas as famílias. Mesmo porque, contra as mais destacadas, da nobreza francesa, não faltou o recurso direto do confisco de todos os bens, para não nos referirmos aos incêndios e à destruição que as hordas revolucionárias levaram por toda a parte do território francês.
E a mesma consequência da adoção da partilha forçada pela multidão dos herdeiros vemos em todos os países em que se introduziu essa medida. Entretanto ela não impediu o aparecimento das grandes fortunas conseguidas à custa do trabalho proletário ou do crescente empobrecimento da classe média, pois é arque evidente que foi sobretudo durante o regime liberal que estas se multiplicaram. Quer isto dizer que a partilha compulsória veio também concorrer para acentuar ainda mais as desigualdades de fortuna, pelo progressivo desaparecimento da pequena e da média propriedade, as mais atingidas por essa injusta e anti-social medida legislativa dos governos liberais.
Depois de 1789, o maior movimento propulsor da redistribuição de rendas foi o que se verificou na Rússia em 1917... Tal movimento não somente se encarregou da redistribuição, mas da própria distribuição dos bens econômicos...
Entretanto, também nas chamadas democracias ocidentais o processo revolucionário e socialista da redistribuição de rendas continuou a andar em ritmo, às vezes lento, mas sempre seguro. Assim é que o embaixador Joseph Davis narra em seu livro "Missão em Moscou" o modo significativo com que Stalin sorriu e abanou a cabeça após ouvir a exposição sobre o verdadeiro confisco de propriedade que representa o imposto sobre a renda na América do Norte.
ABSORÇÃO TOTALITÁRIA DA VIDA ECONÔMICA
E no Brasil o sr. Getúlio Vargas afirmava em discurso no Senado, em 9 de maio de 1947: "A participação nos lucros e o imposto sobre a renda eliminarão progressivamente as diferenças de nível social."
Ora, é sabido que a participação compulsória nos lucros, ou uma política de salários como a que estamos vendo com o salário mínimo, atinge mais as pequenas empresas do que as grandes, isto é, atinge mais àqueles cujos negócios dão menor margem de lucro de que aos reais "tubarões", que se cevam à custa do protecionismo do Estado.
O mesmo podemos dizer do imposto sobre a renda, que sacrifica muito mais a classe média do que os possuidores de grandes fortunas. Como aquilo do Evangelho, um dá do que lhe sobra, e outro daquilo que lhe é necessário para o próprio sustento.
Enfim, outra importante frente de combate para a redistribuição de rendas, ou proletarização compulsória do povo, se acha na previdência social.
Gradativamente vai o Estado se erigindo em providencia de todos os seus súditos. O natural é que cada homem se constitua em sua própria providência. Não o poderá fazer, é claro, se não puder economizar. E somente poderá economizar, se puder livremente exercer o direito de propriedade, cada vez mais cerceado pelo Estado desde os primeiros atos das assembleias revolucionarias de 1793. Assim, quando o Estado se arroga o monopólio da poupança pela previdência social, ele se substitui àquela legítima providencia que parte do próprio interessado.
"Somente aquele que recusa ao homem esta dignidade de pessoa livre, diz o Santo Padre, pode admitir a possibilidade de substituir o direito à propriedade... não se sabe por que sistema de seguros ou garantias legais de direito público" (alocução de 20 de maio de 1948, aos membros do Instituto Internacional pela Unificação do Direito Privado).
Veremos, em próximo rodapé, como no mundo moderno o direito público revolucionário cada vez mais reduz e atrofia o âmbito de ação do direito privado, preparando assim as veredas para o Leviatã totalitário.