(continuação)
ARTE E NEOMANIQUEÍSMO
«Necessário e urgente usar a vara com que Jesus expulsou os profanadores do templo»
para cá nossas instituições políticas, sociais, econômicas, nossas idéias, nossos gostos, nossos hábitos, tudo enfim, vem sofrendo a ação dessa verdadeira magia da modernidade. Poder-se-ia quase afirmar que pelo menos de 1822 para cá, no Brasil não se operou uma só transformação boa ou má, que não fosse inspirada em certa medida pelo grande argumento: "é preciso mudar, porque assim fica mais moderno". E por isto um povo como o nosso, inteligente, dotado de um robusto senso do ridículo, apreciador de tudo que é harmônico, se vai afeiçoando gradualmente às manifestações brutais, cacofônicas, teratológicas, de uma suposta arte moderna.
Cremos ser, portanto, da maior oportunidade abrir os olhos de nosso povo para o verdadeiro sentido das obras dessa assim chamada arte.
Passamos pois a traduzir alguns trechos do artigo do Emmo. Sr. Cardial Costantini.
Horresco referens
COMEÇA sob esta epigrafe o artigo. Na parte introdutória seu Autor afirma:
"Doe-me deturpar as páginas serenas e límpidas desta revista, reproduzindo, pelo menos parcial e sumariamente, os horrores iconográficos de uma suposta arte modernista. Mas é necessário documentar aspectos desta recentíssima heresia iconográfica, para que não se diga que falo quasi aerem verberans (I Cor. 9, 26). Tratei do assunto no fascículo II de Fede e Arte de fevereiro de 1954, sob o título Senhor, amei o decoro de tua Casa. Mas a deformação das sagradas imagens continua a crescer em furor, do mesmo modo por que recalcitraram obstinadamente as antigas heresias.
"É por isto que parece necessário e até mesmo urgente empunhar o açoite com que Jesus Cristo Nosso Senhor expulsou os profanadores do Templo".
Negação da divindade de Cristo
O artigo qualifica assim a "novíssima heresia":
"A heresia, considerada somente sob o aspecto objetivo (o aspecto subjetivo pertence à moral), é definida da seguinte maneira: Uma doutrina que contraria diretamente uma verdade revelada por Deus e como tal proposta pela Igreja aos fiéis. Nesta definição se revelam duas notas essenciais da heresia: a) a oposição a uma verdade revelada: b) a oposição à definição do Magistério Eclesiástico (Parente, Piolanti, Garofalo: Dizionario di Teologia Dommatica, Studium, pag. 86).
"O atentado de Leão, o Isaurico e de outros Imperadores bizantinos contra o culto das sagradas imagens foi chamado de heresia iconoclástica, que ficou famosa na História da Igreja.
"Hoje em dia não se nega, teoricamente, o culto das sagradas imagens, mas, sob certo aspecto, faz-se qualquer coisa de pior, isto é, degrada-se o culto, nega-se com a heresia figurativa a divindade de Cristo e de sua Igreja".
Comunismo, maçonaria e nova heresia
Sobre este importante aspecto da questão, o ilustre Purpurado se exprime nestes termos:
"Alguns Religiosos e muitos artistas estão por certo de boa fé, e convém elucidá-los, dissipando o fetichismo da modernidade. Mas alguns artistas, inscritos em partidos inimigos da Religião ou ateus, desenvolveram uma subtil e pérfida ofensiva contra a Religião, paralelamente à ofensiva que se conduz em certa imprensa, tornando desprezível e repugnante a iconografia sagrada e portanto o culto cristão. São conhecidas as caricaturas blasfemas difundidas na Rússia e na China.
"Bem sabemos que, segundo a teoria de Marx, Engels, Lenine, etc., a religião é uma superstição anticientífica, é o ópio dos povos, e como tal deve ser combatida por todos os meios afim de se instaurar a ditadura do povo. Para estes corifeus do materialismo também a arte está ligada à luta de classes, e nela deve tomar parte contra a assim chamada arte burguesa, especialmente contra a arte religiosa. Parece que a arte comunista se afirma onde começa o esfacelamento da arte burguesa e especialmente o esfacelamento da arte cristã.
"O escultor P. Canonica me disse: Deus deu aos artistas o dom de compreender e reproduzir a beleza. Agora, pelo contrário, deturpa-se a beleza criada por Deus. Estamos na presença do anti-Cristo, que arrasta tantos artistas, conscientemente ou não, levando-os a desonrar a arte da Igreja. Há também uma instigação da maçonaria. É necessário reagir incansavelmente contra a obra do anti-Cristo, que entra nas igrejas, ocultando-se com os paramentos sagrados para enganar os fiéis. Não se trata somente de arte, mas da defesa da Religião, e isto diz respeito a vós, Sacerdotes.
"Sim, temos o direito e o dever de reagir, apoiando-nos sobre o Magistério da Igreja. E queiram perdoar-me se insisto sobre alguns princípios e documentos citados no artigo de Fede e Arte de fevereiro de 1954".
A nova heresia e o maniqueísmo
O Emmo. Autor põe em relevo que as aberrações da arte moderna ressuscitam o maniqueísmo:
"Volta-se, em arte, também para a heresia do maniqueísmo, que se manifestou no século II depois de Jesus Cristo, e floresceu na seita dos cátaros do século XII. Sabe-se que o maniqueísmo pregava o dualismo entre a matéria e o espírito, entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal, entre Deus e Satanás. "Ora alguns artistas, ao contrário de remontar a Deus, fonte do bem e da beleza, para dele fazer refletir um raio sobre as criaturas, depravam a natureza, e especialmente a figura humana, tornando-a abjeta e odiosa; pior ainda, estes novos maniqueus lançam a lama de sua heresia satânica sobre as adoráveis imagens de Cristo, da Virgem e dos Santos.
"Muitos artistas agem provavelmente sem um conhecimento consciente da heresia maniqueísta. Mas, praticamente, são atenazados nas espirais desta heresia. O que os maniqueus pregavam com palavras e escritos, estes tardios epígonos o fazem com um horrível catecismo figurativo. Quae autem conventio Christi ad Belial? (II Cor. 6. 14). Certas máscaras diabólicas fazem lembrar o que escrevia Minucio Felix cerca de um século depois de Cristo: Os espíritos impuros. os demônios se escondem por detrás das imagens consagradas e por suas emanações produzem a impressão de que uma divindade maléfica está presente (Octavius XVII).
"Caros artistas é tempo de cair em si. Os Religiosos, que conhecem bem a teologia e o maniqueísmo. estejam de sobreaviso contra o pulular de uma heresia condenada pela Igreja e especialmente por Inocêncio III. Se a ignorância pode desculpar muitos artistas, dificilmente se pode desculpar os Religiosos que são patrocinadores do renascimento do maniqueísmo na arte. Na profissão de fé se lê: Firmiter assero imagines Christi ac Deiparae semper Virginis aliorumque Sanctorum habendas et retinendas esse ataque eis debitum honorem ac venerationem impertiendam".
A autoridade da Igreja
O artigo baseia-se, em seguida, em decisões do Concilio de Trento, na Instrução de Urbano VIII, em dispositivos do Código de Direito Canônico, em textos de S. Pio X, do Papa Pio XI, e de Pio XII, gloriosamente reinante, e na Instrução do Santo Oficio de 30 de junho de 1952, para afirmar o direito que tem a Igreja de Se pronunciar sobre este assunto. E conclui:
"Cumpria chamar novamente a atenção para essas claras e severas advertências, porque, também da parte de Religiosos e de artistas cristãos, tenta-se ignorar, deformar ou diminuir o valor do Magistério Eclesiástico. De resto, nil sub sole novi: a atual heresia iconográfica tem remotíssimos precedentes, que põem em evidencia o pensamento linear da Igreja e as suas vitorias decisivas. É o que veremos no capítulo seguinte".
As antigas heresias iconográficas
Passa então o eminente Articulista a lembrar as antigas heresias iconográficas registradas pela História eclesiástica. Depois de se referir a hesitações ocorridas entre certos fiéis na Igreja primitiva sobre o culto das imagens, menciona ele a heresia dos monofisitas, contraria à representação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Refere-se ainda às caricaturas anti-cristãs do primeiro século. E mostra como por fim a Igreja fez triunfar o culto das imagens sagradas.
Em seguida, o artigo dá interessantes notas históricas sobre a iconografia de Nosso Senhor Jesus Cristo, e passa a historiar a heresia iconoclástica dos Imperadores de Bizâncio, e a heresia iconográfica dos protestantes.
Oficio e características da arte sacra
Sobre o "oficio e características da arte sacra" o Cardial Costantini cita um trecho da alocução do Santo Padre Pio XII, de 8 de abril de 1952, aos artistas da Quadrienal Romana, tão profundo, tão rico, tão elucidativo que não nos furtamos ao gosto de, por nossa vez, o transcrevermos aqui:
"Quanto Nos seja grata a vossa presença, vo-lo ensina a própria tradição do Pontificado Romano, que, herdeiro de cultura universal, nunca deixou de prezar a arte, de circundar-se de suas obras, de torná-la colaboradora, nos devidos limites, de sua divina missão, conservando-lhe e elevando-lhe o destino, que é conduzir o espírito a Deus.
"E vós, de vossa parte, já ao transpor o limiar desta casa do Pai comum vos sentistes em vosso mundo, reconhecendo-vos a vós mesmos e a vossos ideais nas obras primas aqui reunidas através dos séculos. Nada portanto falta para tornar reciprocamente grato este encontro entre o Sucessor, se bem que indigno, dos Pontífices que refulgiram como mecenas muníficos da arte, e vós, continuadores da tradição artística italiana.
"Não é necessário explicarmos a vós — que o sentis em vós mesmos, muitas vezes como um nobre tormento - uma das características essenciais da arte, a qual consiste numa certa intrínseca afinidade da arte com a Religião, que faz com que os artistas sejam de algum modo intérpretes das infinitas perfeições de Deus, e particularmente de sua beleza e harmonia. A função de toda arte consiste de fato em romper o âmbito augusto e estreito do finito, no qual o homem está imerso enquanto vive nesta terra, e abrir como que uma janela a seu espírito avidamente voltado para o infinito.
"Dai decorre que qualquer esforço - vão, na realidade - que vise negar e suprimir qualquer relação entre Religião e arte, resultaria em menosprezo da própria arte; pois qualquer beleza artística que se queira colher no mundo, na natureza, no homem, para exprimi-la em sons, em cores, em jogo de massas, não pode prescindir de Deus, dado que tudo quanto existe está ligado a Ele com relações essenciais. Não se encontra pois, na vida, como na arte - entenda-se arte no sentido de expressão do sujeito, ou no sentido de interpretação do objeto - o exclusivamente humano, o exclusivamente natural ou imanente. Quanto maior for a clareza da arte no espelhar o infinito, o divino, tanto maior será para ela a probabilidade de feliz êxito no alçar-se ao ideal e à verdade artística.
"Por isso, quanto mais o artista vive a Religião, tanto melhor se prepara para falar a linguagem da arte entender-lhe as harmonias, bem como comunicar-lhe os frêmitos.
"Naturalmente, estamos bem longe de pensar que, para ser intérprete de Deus no sentido ora exposto, se devam tratar explicitamente assuntos religiosos; de outro lado, não se pode contestar o fato de que talvez em nenhum campo a arte atingiu tão altos fastígios quanto neste.
"Dessa maneira, os sumos mestres da arte sacra se tornaram intérpretes não só da beleza mas também da bondade de Deus Revelador e Redentor. Maravilhosa permuta de serviços entre o Cristianismo e arte. Da fé, os artistas obtiveram as sublimes inspirações; à fé atraíram eles as almas, enquanto, durante séculos, comunicaram e difundiram as verdades contidas nos Livros Santos, verdades inacessíveis, pelo menos diretamente, ao povo humilde. Com muita razão deu-se o nome de Bíblia do povo a obras primas artísticas, como, para citar conhecidos exemplos, os vitrais de Chartres, a porta de Ghiberti (com feliz expressão chamada Porta do Paraíso), os mosaicos de Roma e de Ravena, a fachada da Catedral de Orvieto. Obras primas, estas e outras, que não somente traduzem em caracteres de fácil leitura e com linguagem universal verdades cristãs, mas comunicam o sentido íntimo e a comoção dessas verdades, com uma eficácia, um lirismo, um ardor, que talvez não possua a mais fervida pregação. Ora, as almas tornadas mais delicadas, elevadas, preparadas para a arte, ficam por isso mais dispostas para acolher a realidade religiosa e a graça de Jesus Cristo. Eis pois um dos motivos pelos quais os Sumos Pontífices, e em geral a Igreja, honram e honraram a arte, e oferecem as suas obras como homenagem das criaturas humanas à Majestade de Deus nos seus templos, que foram sempre ao mesmo tempo lugares de arte e de Religião.
"Coroai, diletos filhos, vossos ideais de arte, com os ideais religiosos, que os revigoram e completam. O artista é de per si um privilegiado entre os homens, mas o artista cristão é, em certo sentido, um eleito porque é próprio dos Eleitos contemplar, gozar e exprimir as perfeições de Deus. Procurai Deus, neste mundo, na natureza e no homem, mas antes de tudo em vós; não tenteis em vão representar o humano sem o divino, nem a natureza sem o Criador; harmonizai, pelo contrário, o finito com o infinito, o temporal com o eterno, o homem com Deus, e dareis assim a verdade da arte, a verdadeira arte. Ainda que sem vo-lo propordes expressamente como objetivo, aplicai-vos em educar as almas - tão facilmente inclináveis ao materialismo - para a delicadeza e o gosto espiritual. Aproximai-vos uns dos outros, vós a quem foi dado falar uma linguagem que todos os povos podem compreender. Seja esta a missão a que tenda a vocação artística, da qual sois devedores a Deus; missão tão nobre e digna que basta por si só para dar à vossa vida quotidiana, muitas vezes áspera e árdua, plenitude e confiante coragem".
Toda arte tem um sentido religioso
O artigo completa esta citação com um trecho de igual elevação, contido no discurso pronunciado pelo Santo Padre Pio XII a 20 de abril p.p., quando da inauguração da exposição do Beato Angélico no Vaticano.
"É verdade que para que a arte seja arte, não se exige uma explicita missão ética ou religiosa. Como linguagem estética do espírito humano, a arte, se o espelha em sua verdade total, ou pelo menos não o deforma positivamente, já é de per si sacra e religiosa, enquanto intérprete de uma obra de Deus; mas se também o conteúdo e a finalidade forem aqueles que o Angélico escolheu para a sua própria arte, então assumirá a dignidade de quase ministro de Deus, refletindo-Lhe um maior número de perfeições. Essa excelsa possibilidade da arte, quereríamos aqui comentá-la diante da plêiade, por Nós tão amada, dos artistas. Pois se a linguagem artística, ao contrário, se adequasse com suas palavras e cadencias a espíritos falsos, vazios e turvos, isto é, opostos ao desígnio do Criador; se, em vez de elevar a mente e o coração a nobres sentimentos, excitasse as mais vulgares paixões, talvez encontrasse junto de alguns ressonância e acolhida, ainda que em virtude somente da novidade, que nem sempre é um valor, e da exígua parte de realidade que toda linguagem contém; mas tal arte degradar-se-ia a si mesma, renegando o seu aspecto primordial e essencial, não seria universal e perene como o espírito humano, ao qual se dirige.
"No tributar portanto Nossa homenagem ao sumo artista, e ao convidar os Nossos diletos filhos a acolher, como foi disposto pela Providência, a mensagem religiosa e humana de Fra Giovanni da Fiesole,
(continua)
CONCLUE NA PÁGINA 6
HOJE COMO ONTEM
as verdades enérgicas empolgam
Raras vezes, na história de nosso país, um documento do magistério eclesiástico - exceção feita, é obvio, dos atos da Santa Sé - terá alcançado repercussão comparável à dá "Carta Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno", da autoria do Exmo. Revmo. Sr. Bispo Diocesano, D. Antonio de Castro Mayer.
E esta repercussão não se circunscreve aos limites de nosso país. Copiosa correspondência do exterior atesta que, tanto nas duas Américas quanto na Europa, aquele documento monumental impressionou profundamente.
Muito expressiva deste fato é a iniciativa que tiveram várias editoras e revistas européias, de o traduzir.
Assim, a editora "Verbe", de Paris, que se vai afirmando com tanta pujança nos ambientes intelectuais católicos de seu país, publicou o texto completo daquela Pastoral, em francês.
Na Espanha, a tradução do trabalho do Exmo. Snr. Bispo Diocesano foi editada nada menos de três vezes. Primeiramente na coleção "Fé Integra" dos RR. PP. Cooperadores Paroquiais de Cristo Rei, a novel Congregação Religiosa fundada pelo Padre Valle, que vem dando na Espanha, na França, na Argentina e no Uruguai os mais preciosos frutos.
"Cristiandad", o magnífico órgão de cultura superior de Barcelona, está reproduzindo parceladamente esta tradução. E a excelente revista "San José Oriol", da mesma cidade, também a divulgou em suas páginas.
Por outro lado, "Acies Ordinata", o prestigioso órgão do Secretariado Central das Congregações Marianas, de Roma, e vários outros jornais e revistas nacionais e estrangeiros consagraram ao documento artigos altamente encomiásticos.
A "Boa Imprensa Ltda." resolveu recolher em um fascículo a correspondência recebida a propósito da Pastoral que teve a gloria de editar ("D. Antonio de Castro Mayer — Carta Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno — Repercussão no Brasil e no exterior", 1 vol. In-16, 78 pgs.). Trata-se de documentário riquíssimo, que inclui também outras formas de repercussão, como sejam artigos e notícias de revistas e jornais. É o depoimento sereno e límpido de Cardeais, Arcebispos e Bispos, Sacerdotes seculares, Religiosos, Religiosas, leigos que ocupam lugares eminentes ou humildes nas fileiras do movimento católico, que põe em evidencia a alta oportunidade daquela Pastoral nos mais variados quadrantes do Brasil e de muitos outros países. Documentário largamente suficiente para deixar ver as apreensões que vem causando a observadores autorizados e clarividentes uma corrente ideológica que existe muito realmente, e não constitui - infelizmente - mero produto de algumas imaginações incandescentes. Esse documentário tem, além da importância que apresenta deste ponto de vista, também outro interesse. Mostra ele que a verdade, enunciada com a sobriedade e a firmeza da coragem apostólica, encontra hoje, como outrora, grata repercussão. Pois a verdade ensinada pela Igreja não é de ontem, nem de hoje. Ela é eterna. Alentadora observação para quantos se consagram ao apostolado nestes dias.
ADOROÇÃO DIÁRIA
índice e causa do progresso de uma Diocese
S. Excia. Revma. o Snr. Bispo Diocesano, D. Antonio de Castro Mayer, acaba de enviar ao Revmo. Clero um documento em que mais uma vez se manifesta, ao par de sua intensa atividade de Pastor, sua luminosa visão de teólogo, acerca de todos os fatos da vida quotidiana da Igreja. A este título interessará por certo a todos os nossos leitores conhecer o belo e substancioso texto que a seguir publicamos:
É chegado o dia, que tão ansiosamente desejávamos, de dar um passo da maior significação na vida espiritual de Nossa querida Diocese.
Fruto abençoado da esplêndida Semana Eucarística Diocesana realizada em abril p.p. e do imponente Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, será instalada em Nossa Diocese a adoração diurna do Santíssimo Sacramento em todos os dias do ano, de maneira que não haja dia em que, em alguma parte da Diocese, não seja Nosso Senhor Jesus Cristo presente no seu Sacramento do Amor, objeto de culto especial por parte de fiéis da Diocese de Campos.
Na aparência o acontecimento não apresenta maior importância. Mas, quem sabe perscrutar com os olhos da fé o significado profundo de tudo quanto faz a Santa Igreja, reconhece, sem dificuldade, o valor transcendental desse fato.
Primeiramente, pelo que significa como índice de afervoramento da população. Graças a Deus, já há fundadas razões para esperar que, nas diversas cidades de Nossa amada Diocese, tão profundamente devastada pelo laicismo e pelo naturalismo, o Santíssimo Sacramento possa ser exposto sem que Lhe faltem piedosos adoradores. Pelo contrário, florescem por toda a parte as almas eucarísticas, que se revezarão como guardas de honra aos pés do Deus Sacramentado, tributando-Lhe os atos de adoração e reparação de seus corações filiais.
Este escol de almas eucarísticas constitui a elite mais autêntica, mais valiosa e mais indispensável neste pobre mundo tão falho de elites em todos os ramos da vida intelectual e material. É na fé que se alicerça a civilização. É da piedade e da ação das almas eucarísticas que nascem aos poucos as verdadeiras elites católicas em todas as classes sociais.
Entretanto, há uma razão mais profunda para que se rejubile Nossa alma pela instituição da adoração contínua em Nossa Diocese. É que a humanidade pecadora precisa, hoje mais do que nunca, da misericórdia de Deus, isto é, daquelas graças superabundantes, quase diríamos fulminantes, que tocam o filho pródigo, no mais baixo de sua abjeção, e o movem a voltar, cheio de humildade e arrependimento, à casa paterna. Estas graças, o Rei Eucarístico no-las quer dar. Mas, Ele quer que Lhas peçamos, e, em certo sentido, até as compremos da justiça divina, rezando e expiando pelos pecadores. E como é a graça de Deus o meio essencial e único para a conversão dos homens e dos povos, nada é mais importante para o bem da Igreja do que o incremento de uma esclarecida e vigorosa piedade eucarística.
Mas, a razão suprema da adoração contínua não está ainda aí. A adoração se destina essencialmente dar glória a Deus, afirmando-Lhe nossa vassalagem, e reparando, quanto possível, as injúrias que Lhe faz, a todo momento, a humanidade.
... Para que a piedade eucarística seja verdadeiramente agradável a Deus, há de ser essencialmente marial. É verdade de fé a mediação universal de Maria Santíssima - e esperamos ansiosamente pela definição deste dogma. Nenhuma súplica chega ao trono do Rei Eucarístico, se não tiver passado pelas mãos de Maria Santíssima. O que o Céu inteiro pedir sem Maria, não obterá; o que Maria pedir por Si só, e sem o concurso de qualquer outra criatura, obterá certamente.
O progresso da vida eucarística de Nossa amada Diocese se deve inteiramente ao fato de se ter incrementado a devoção a Maria Santíssima. Todos sabemos, todos vimos quanto Nossa Senhora do Rosário de Fátima concorreu para que atingissem sua plenitude os esplendores da Semana Eucarística Diocesana.
Isso Nos move a recomendar insistentemente a Nossos amados Cooperadores que levem o povo fiel a praticar toda devoção eucarística, e particularmente a adoração ao Santíssimo exposto, em Maria, com Maria e por Maria. Estamos certo de que, exercida assim, a adoração de Nossa Diocese será agradabilíssima aos olhos de Deus, e eficacíssima na abundância de graças de que tanto necessita Nossa circunscrição eclesiástica.
Como intenções especiais deste piedoso exercício da adoração ao Santíssimo, recomendamos que se tomem aquelas que Nossa Senhora, por meio de Lúcia, Jacinta e Francisco, indicou para toda a humanidade.
Concluindo, levantamos Nosso coração de Pai e Pastor numa súplica à dulcíssima Mãe celeste: esteja Ela particularmente presente, por sua assistência e sua graça, em todas as igrejas desta Diocese em que se exponha o Santíssimo Sacramento, a fim de obter do Sagrado Coração Eucarístico de Jesus, para cada alma, cada família, cada escola, cada instituição, cada cidade, para o mundo inteiro enfim, a graça por excelência, a instauração do Reinado de Jesus Cristo pelo Reinado de Maria, Regnum Christi per Regnum Mariae.
Como penhor de Nossa caridade, enviamos a todos os Nossos diletíssimos Cooperadores e a todas as almas que lhes estão confiadas, a benção pastoral em Nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo. Amén.
Dada e passada em Nossa Episcopal Cidade de Campos, sob o selo e sinal de Nossas armas, aos 28 de agosto de 1955, na festa de Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja.
Antonio, Bispo de Campos
MANDAMENTO
Nomine Domini invocato,
Havemos por bem determinar que
1. Esta Nossa circular seja lida à estação da Missa no primeiro dia de guarda após sua recepção;
2. Do dia 1o de setembro deste ano em diante, se faça o piedoso exercício da adoração diante do Santíssimo exposto, desde após a Missa até a hora costumeira das Ladainhas vespertinas, segundo a pauta das igrejas que segue em anexo.
Dado e passado em Nossa Episcopal Cidade de Campos, sob o selo e sinal de Nossas armas, aos 28 de agosto de 1955, festa de Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja
Antonio, Bispo de Campos
Campos: a Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo.