VERBA TUA MANENT IN AETERNUM
• Lepanto, vitoria do Rosário
LEÃO XIII: A eficácia e o poder da mesma oração (o Santo Rosário) foram depois experimentados também no século XVI, quando as imponentes forças dos turcos ameaçavam sujeitar quase toda a Europa ao jugo da superstição e da barbárie. Nessa circunstância, o Pontífice S. Pio V, depois de estimular os soberanos cristãos à defesa de uma causa que era a causa de todos, dirigiu todo o seu zelo a obter que a poderosíssima Mãe de Deus, invocada por meio do Santo Rosário, viesse em auxílio do povo cristão. E a resposta foi o maravilhoso espetáculo então oferecido ao Céu e à terra; espetáculo que empolgou as mentes e os corações de todos! Com efeito, de um lado os fiéis prontos a dar a vida e a derramar o sangue pela incolumidade da Religião e da pátria, junto ao golfo de Corinto esperavam impávidos o inimigo; e de outro lado, os que estavam sem armas, em piedosa e súplice falange, invocavam a Maria, e com a fórmula do Santo Rosário repetidamente A saudavam, a fim de que assistisse aos combatentes até a vitória. E Nossa Senhora, movida por aquelas preces, os assistiu: porquanto, havendo a frota dos cristãos travado batalha perto de Lepanto, sem graves perdas dos seus derrotou e aniquilou os inimigos, e alcançou uma esplêndida vitória. Por este motivo o santo Pontífice, para perpetuar a lembrança da graça obtida, decretou que o dia aniversário daquela grande batalha fosse considerado festivo em honra da Virgem das Vitórias; festa que depois Gregório XIII consagrou sob o título do Rosário. — (Encíclica "Supremi Apostolatus", de 1-IX-1883).
• Linguagem reprovável inspirada em novidades malsãs
S. PIO X: Deve-se reprovar igualmente nas publicações católicas toda linguagem que, inspirando-se em novidades malsãs, escarneça da piedade dos fiéis e faça alusão a novas orientações da vida cristã, novas diretrizes da Igreja, novas aspirações da alma moderna, nova vocação social do Clero, nova civilização cristã, e similares. — (Encíclica "Pieni l'animo", aos Arcebispos e Bispos da Itália, de 28-VII-1906).
• A queda da monarquia portuguesa, pretexto para perseguir a Igreja
S. PIO X: Os ataques dos perversos contra a Igreja não pararam nos muros de Roma ou nas fronteiras da Itália. Vós sabeis, Veneráveis Irmãos, que uma violenta tempestade de ódio e a perseguição se abateram sobre o Catolicismo em Portugal, com sua transformação de monarquia em república; e não ignorais que esta revolução se processou sob a direção e os auspícios da seita de que acabamos de falar: ela com efeito não hesita em vangloriar-se disso; e sob pretexto de uma mudança de governo, na realidade visava oprimir mais facilmente a Religião. Nós, como o exigia Nosso dever apostólico, rejeitamos e condenamos em face do mundo inteiro a lei da separação da Igreja e do Estado, isto é, esse monumento insigne de má fé que visa, disto não haja dúvida, destacar Portugal da comunhão da Igreja Romana e apagar nessa nação, pouco a pouco, todo vestígio da Fé católica. — (Alocução Consistorial "Gratum Quidem", de 27-XI-1911).
• Uma propaganda pacifista muito duvidosa
PIO XII: A esta meta (aceitação da ordem moral autêntica e da doutrina da Igreja sobre a guerra) se chegará certamente se, de uma parte e de outra, com ânimo sincero e quase religioso, se voltar a considerar a guerra como objeto da ordem moral, cuja violação constitui realmente uma culpa que não ficará impune. Até lá se chegará se em concreto os homens políticos, antes mesmo de pesarem as vantagens e os riscos das suas determinações, vierem a reconhecer-se pessoalmente sujeitos às eternas leis morais, e tratarem o problema da guerra como uma questão de consciência diante de Deus. Nas presentes condições não há outro meio de libertar o mundo desse pesadelo angustioso, senão recorrendo ao temor de Deus, que não avilta quem o possui, mas pelo contrário o preserva do infame e cruel crime que é a guerra não imposta. E quem poderá maravilhar-se com o fato de que a guerra e a paz se encontrem tão estreitamente unidas com a verdade religiosa? Toda a realidade é de Deus: em separar essa realidade do seu princípio e do seu fim está propriamente a raiz de todo o mal.
Daqui se segue ainda com evidência que um esforço ou uma propaganda pacifista proveniente de quem nega toda a fé em Deus é sempre muito duvidoso e incapaz de diminuir ou eliminar o angustioso sentido de temor, se é que tal propaganda não é feita adrede como expediente para provocar um efeito tático de sobressalto e confusão. —(Rádio-Mensagem do Natal de 1954).
• O poder das trevas ameaça também hoje em dia a Igreja de Deus
PIO XII: O poder das trevas, que intentou confundir, atacar e extinguir em seu nascimento a sociedade fundada pelo Divino Redentor, também hoje em dia, com novos recursos muito poderosos, ameaça insidiosamente a Igreja de Deus. A Religião Cristã, ou é combatida abertamente e com furor em alguns lugares, onde seus direitos divinos são espezinhados seus grandes Pastores são impedidos de desempenhar sua missão sagrada ou lançados nos cárceres, - ou então é essa mesma Religião arrancada dos corações de muitos por meio de calunias e falsas doutrinas. Pois em quase toda parte os que estão afastados da Igreja costumam combatê-La com inúmeras publicações e todas as armas mais apropriadas para causar-Lhe dano. De um lado, volumes laboriosos ou revistas fúteis compostos e divulgados em profusão para escarnecer da virtude e exaltar os vícios; de outro, as folhas volantes dos diários difundem o seu veneno mortífero, de modo que atraem para o mal o povo de espírito simples e particularmente a juventude incauta, e parecem converter a nobilíssima profissão de escritor num lucro vergonhoso: por estas e outras razões, mal se pode dizer quão grande perigo, à incolumidade da Religião. — (Carta ao Cardial Micara, Vigário de Sua Santidade em Roma, de 5-XII-1954).
• Liberdade que leva à corrupção e ao indiferentismo
PIO IX: Proposição condenada: "É falso que a liberdade civil de todos os cultos e o pleno poder concedido a todos de manifestarem clara e publicamente as suas opiniões e pensamentos produza corrupção dos costumes e do espírito dos povos, e contribua para a propagação da peste do indiferentismo". — (Proposição 79.a do "Syllabus", de 8-XII-1864).
• Desigualdade, condição de existência da sociedade humana
S. PIO X: A sociedade humana, tal qual Deus a estabeleceu, é formada de elementos desiguais, como desiguais são os membros do corpo humano. Torná-los todos iguais é impossível: resultaria disso a própria destruição da sociedade humana. — (Art. I do "Motu Proprio", "Fon dalla prima Nostra Enciclica", de 18-XII-1903, sobre a ação popular católica).
CORRESPONDÊNCIA
Do Revmo. Pe. Antonio Myszka, C. M., Vigário de Contenda (Est. Paraná): "Caiu em minhas mãos um número do CATOLICISMO que me agradou muito, e peço por esta me enviar alguns números para que eu faça propaganda, bem como quero ficar assinante desse jornal".
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Do Revmo. Pe. Francisco Luiz de Rezende, SS. CC., Seminário dos Sagrados Corações, Pindamonhangaba (Est. São Paulo): "Posso garantir a V. S. que sempre me empenhei em recomendar o CATOLICISMO aos conhecidos que por ele possam se interessar e que dele estejam à altura. Pois considero providencial a missão desse periódico para nossa pátria, como o foi para a França o "Univers" de L. Veuillot.
"Além disso, a meu ver, um dos grandes méritos de CATOLICISMO é combater com denodo uma pseudo-arte, que chamam de moderna, especialmente a infiltração da mesma nossos templos sagrados, prejudicando seriamente a dignidade do culto católico. Os inimigos de nossa Fé observam prazenteiros essa invasão quase sacrílega do super-realismo, cuja finalidade é obnubilar os sentimentos nobres e sadios, provocar a desordem e o superficialismo nas consciências.
"Pode ser que o super-realismo seja reação contra o sentimentalismo mórbido, já por demais, espalhado entre o povo, fruto da industrialização da arte sacra, principalmente no tocante a nossos ícones e estampas.
"Se assim for, então devemos dizer que ele excedeu os limites, e constitui uma "hiper-reação". Em todo caso ele está no extremo oposto, igualmente vicioso. Tão doentio é o sentimentalismo "meloso" como a rudeza disforme, hedionda.
"Fiquemos no meio, batalhemos pelo meio, que nele só, está a virtude, a dignidade. Isto faz o CATOLICISMO com lealdade, para seus leitores numerosos, pondo em confronto, sem cessar, a verdadeira e a pseudo-arte sacra. Está, pois, de parabéns, e merece todo o apoio dos católicos, particularmente dos Sacerdotes".
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Do Seminarista Jorge Saraiva Castro, Seminário Maior de Mariana (Est. Minas Gerais): "De há muito que acompanho o jornal CATOLICISMO, que admiro pelo seu dinamismo... O jornal CATOLICISMO nos põe a par de muitas coisas e nos previne de muitos abusos. E por isso quero-o muito".
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Do Sr. Avimar de Faria Guimarães, Divinópolis (Est. Minas Gerais): "Tenho a dizer-lhe que estou sempre mais entusiasmado com o CATOLICISMO porque seus artigos são muito atraentes e, além disso, nenhum outro jornal, ouso dizer, está à altura de sua cultura".
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Do Sr. Giovanni Battista Sacchetti, da Congregação Mariana dos Nobres, Roma (Italia): "bel articolo sulla Congregazione dei Nobili che mi ha molto interessato".
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Do Dr. Elpidio Antonio Ramalho, São João del Rei (Est. Minas Gerais): "... o grande jornal CATOLICISMO... Minha impressão é de um órgão de imprensa com uma sábia orientação, colaborações preciosíssimas, além do aspecto material que é o melhor possível".
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Do Sr. Rubens Dias Maia, Bauru (Est. São Paulo): "... sendo eu admirador de CATOLICISMO e desejando sua difusão o mais possível, no meio dos católicos do Brasil, especialmente entre os intelectuais..."
OS CATÓLICOS FRANCESES DO SÉCULO XIX
ENQUANTO VIVER, DESEJAREI A LUTA ENTRE CATÓLICOS
Fernando Furquim de Almeida
Em 1866, quando começaram a transpirar as notícias das primeiras providências tomadas pelo Santo Padre Pio IX a fim de reunir um concílio ecumênico, alguns líderes do movimento julgaram oportuno o momento para tentar uma pacificação geral que unisse as forças católicas. Essa união era tanto mais necessária porquanto os horizontes políticos se apresentavam dia a dia mais ameaçadores contra o poder temporal do Papa.
Era natural que a tentativa começasse com a reconciliação de Veuillot e Montalembert. Eram eles os dois católicos mais influentes da França, e era de se esperar que, unidos, voltassem a dar ao movimento católico os dias de glória que tivera quando lutavam juntos pela liberdade de ensino. Foi Théophile Foisset quem teve a idéia, logo secundado por Mons. Mermillod, que tomou a iniciativa de se dirigir a Veuillot e Montalembert como mediador.
Louis Veuillot sofria por ver seu antigo chefe completamente desarvorado, e combatendo justamente o que antes defendia. Era-lhe frequente sonhar com a reconciliação. Apressou-se pois a responder, dizendo: "Sim, toda circunstância é boa para se refazer a união, e isso é hoje mais oportuno e mais premente do que nunca. Ouso dizer diante de Deus, e do mais profundo de minha alma, que de minha parte estou disposto. Mas em que campo refazer a união, Monsenhor, e quem delimitará o terreno? Caso houvesse apenas dificuldades de caráter pessoal, estou convencido de que elas seriam tão fácil e completamente apagadas como o estão em meu coração. A doença tão longa e ainda tão perigosa de um dos nossos irmãos me deixou numa verdadeira angústia, e sinto um tormento indizível ao pensar que ele poderá morrer sem que eu tenha apertado a sua mão. Não desprezei nada do que a discrição me permitia, para fazer com que ele o soubesse: ignoro se soube".
O doente era Montalembert. Já desde alguns anos ele sofria de uma moléstia dos rins, e em 1866, depois de uma operação sem resultado, estivera às portas da morte. Desde então não deixaria mais o leito, e durante quatro anos a doença iria consumir pouco a pouco as suas forças.
A resposta de Montalembert, que provavelmente tivera conhecimento da carta de Veuillot, foi lamentável e inconcebível. Nem os seus biógrafos mais entusiastas conseguem defendê-lo. Vamos citar os trechos reproduzidos pelo Pe. Lecannet:
"Na minha opinião, essa reconciliação é impossível e indesejável. Não se trata de perdão das injúrias. Espero estar bem com minha consciência nesse ponto, mas trata-se antes de mais nada da honra, da qual os católicos contemporâneos aprenderam a fazer muito pouco caso; trata-se em seguida da causa católica, ao menos tal como eu a compreendi e servi até agora.
"Não tenho nenhuma reparação a fazer ao Sr. Veuillot. Combati suas doutrinas e sua influência sobre a Igreja, sem nunca atacar sua pessoa direta ou indiretamente. Seu nome somente se achou uma vez em minha pena, e ainda assim para protestar contra a medida excepcionalmente arbitrária de que foi vítima.
"Ele, ao contrário, me insultou pessoalmente e me caluniou indignamente durante vários anos em seguida, numa série de artigos no "Univers", os quais reproduziu nos doze volumes de suas ‘Mélanges’; sem ter, portanto, a tola desculpa das excitações da polêmica quotidiana; mas com o orgulho muito natural do homem que, cumulado de elogios pelo Papa e pelo Episcopado, pôde tornar a dizer ainda uma vez nos Odeurs de Paris: ‘Não me desculpo nem me acuso de nada’.
"Se o Sr. Veuillot se retratasse publicamente das injúrias e calúnias com que publicamente me gratificou, nem por isso deixaria de considerá-lo o mais temível inimigo da Religião, que o século XIX produziu; mas poderia e deveria ter para com ele a atitude prescrita pela cortesia a pessoas de bem. Enquanto ele não fizer essa retratação, eu o considerarei um caluniador e um insultador público, com quem o respeito de meu bom nome impede todas as relações, sob pena de aceitar tacitamente as acusações ou as insinuações de que fui objeto, de sua parte.
"Vós me dizeis, meu amigo, que ninguém mais quer a luta. Pois bem, eu a quero ainda, e enquanto tiver um sopro de vida desejá-la-ei. Posso sofrer os entraves e as limitações que as circunstâncias me impõem; mas absolver os traidores e os loucos que nos conduziram até onde estamos, nunca! Poderão me impedir de falar ou de escrever, mas nunca direi ou escreverei uma palavra que não seja um protesto direto ou indireto contra o espírito do qual o Sr. Veuillot é a funesta personificação entre nós".
Um dos mais recentes biógrafos de Montalembert, sobre essa carta de réplica, não a considera de arrogância mesquinha e amarga. Infelizmente, atitudes como essa não constituem exceção entre os liberais, quando tratam com os católicos ultramontanos.
NOVA ET VETERA
RENUNCIAR ÀS FRASES ÔCAS
J. de Azeredo Santos
É a corporação, na economia social, um organismo acentuadamente mais perfeito que o sindicato. Se a Igreja, no século passado, apoiou as associações de classe criadas para defesa dos interesses do operariado, fê-lo por um imperativo de ordem prática, pois naquela quadra ferrenhamente liberal quase nada mais se podia suscitar em favor das reivindicações do trabalho.
O sindicato de classe não é, com efeito, o instrumento ideal para resolver a questão social no que diz respeito às relações entre capital e trabalho. Pelo contrário, historicamente tem ele frequentes vezes concorrido para agravar o conflito entre um e outro até a luta de classes.
DETURPAÇÃO DO SINDICATO
Já Leão XIII, referindo-se a um grande número de associações operarias de seu tempo, acentuava ser "uma opinião confirmada por numerosos indícios, que elas são ordinariamente governadas por chefes ocultos, e que obedecem a uma palavra de ordem igualmente hostil ao nome cristão e à segurança das nações; que, depois de terem açambarcado todas as empresas, se há operários que se recusam a entrar em seu seio, elas lhes fazem expiar a sua recusa pela miséria" (Encíclica Rerum Novarum). E como remédio para tão lamentável estado de coisas lembrava o Pontífice da Ação Social não somente a fundação de sindicatos católicos, mas também a organização de corporações adequadas às diversas profissões.
No mesmo documento o Papa frisava do seguinte modo uma das mais importantes características de tal organização corporativa, que é a liberdade: "Proteja o Estado estas sociedades fundadas segundo o direito; mas não se imiscua no seu governo interior e não toque nas molas íntimas que lhes dão vida; pois o movimento vital procede essencialmente de um princípio interno, e extingue-se facilmente sob a ação de uma causa externa".
Na estruturação de uma sociedade orgânica, tais corporações se apresentam como co-naturais à vida civil dos povos. É o que quarenta anos mais tarde Pio XI acentuaria: "Mas a cura só será perfeita quando cessada tal luta, os membros do corpo social se acharem retamente dispostos em ordens ou profissões, que agrupem os indivíduos não segundo a sua categoria no mercado do trabalho, mas segundo as funções sociais que desempenham. Assim como as relações de vizinhança dão origem aos municípios, do mesmo modo os que exercem a mesma profissão ou arte são pela própria natureza impelidos a formar associações ou corporações; tanto que muitos julgam estes organismos autônomos, se não essenciais, ao menos naturais à sociedade civil" (Encíclica Quadragesimo Anno).
E também Pio XI insiste no princípio da liberdade de associação, isto é, na espontaneidade com que hão de surgir tais corporações, sem interferência estatal em sua organização e vida interna: "Mas, porque o Nosso Predecessor tratou distinta e claramente em sua Encíclica destas associações livres, basta-Nos agora inculcar um ponto: os cidadãos podem livremente não só instituir associações de direito e caráter privado, mas ainda eleger livremente para elas os estatutos e regulamentos que julgarem mais convincentes ao fim proposto (Enc. Rerum Novarum, § 76). Idêntica liberdade deve-se reconhecer às sociedades cujo objetivo ultrapassa os confins das diversas profissões" (Enc. Quadragesimo Anno).
SUPERAÇÃO DO SINDICATO CLASSISTA
O ideal, portanto, seria a superação do sindicato de classe destinado à defesa dos interesses de um grupo contra os de outro, por essa harmonia mais alta visada pelas corporações. É o que acentua o Santo Padre Pio XII em resposta àqueles que julgam a organização corporativa como coisa adequada à bolorenta Idade Média, em que os trabalhadores ainda eram menores, e entendem que cabe agora aos sindicatos operários, nesta época de emancipação do homem, conduzir a luta pelas reivindicações do proletariado contra o capital. Pelo contrário, diz Pio XII, "a Igreja não deixa de intervir ativamente para que a oposição aparente entre capital e trabalho, entre patrões e empregados, se resolva em uma unidade superior, em uma cooperação das duas partes - indicada pela natureza - segundo as empresas e os setores econômicos, em agrupamentos corporativos. Que não se ache longe o dia em que possam cessar sua atividade todas as organizações de autodefesa, tornadas necessárias pelas fraquezas do sistema econômico atual e sobretudo pela falta de espírito cristão" (Mensagem radiofônica "Mit Dem Gefuhl", de 4 de setembro de 1949).
O jogo do falso dilema fascismo-comunismo fez, porém, cindir-se artificialmente a opinião católica nesta questão: o corporativismo, pelo fato de ter sofrido uma contrafação estatal na Itália de Mussolini, passou a ser ferreteado por muitos como solução fascista, ao mesmo tempo que o esquerdismo infiltrado entre os católicos iniciava um movimento para manter o sindicato operário como arma das reivindicações trabalhistas. Entre estas entrou a figurar obrigatoriamente a passagem das empresas para as mãos do trabalho sindicalizado, através da co-propriedade e da co-gestão obtidas pelo engodo da participação compulsória nos lucros.
Em que pesem tais hostilidades contra a organização corporativa, dela tem Pio XII falado favoravelmente em várias circunstâncias. Mas foi sobretudo na alocução aos membros da União Internacional das Associações Patronais Católicas, de 7 de maio de 1949, que o Soberano Pontífice gloriosamente reinante acentuou os pormenores dessa verdadeira morfologia normal do organismo econômico que deve substituir a morfologia patológica da economia moderna, para que esta sobreviva aos embates da maré montante socialista. Mostra Pio XII como entre os elementos que participam da produção de bens econômicos "não há uma oposição irredutível de interesses divergentes", mas, pelo contrário, "há comunidade de atividades e de interesses entre chefes de empresas e operários". E acrescenta: “Desconhecer esse laço recíproco, trabalhar para rompê-lo, não pode ser senão o fato de uma pretensão despótica, cega e não razoável".
O regime da co-gestão e da participação nos lucros é apenas um temo acessório na Quadragesimo Anno. Acessório e deixado à espontaneidade da iniciativa privada, por acordo entre patrões e empregados. Fundamental na solução católica da questão social vem a ser além do espírito de caridade e de justiça, o reconhecimento prático dessa "comunidade de interesses e de responsabilidades na obra da economia nacional", de que fala Pio XII, (aloc. cit., de 7 de maio de 1949).
PRECONCEITOS INCONSISTENTES
E, prossegue Sua Santidade, "Nosso inolvidável Predecessor Pio XI dela havia sugerido a fórmula concreta e oportuna quando, na Encíclica "Quadragesimo Anno” recomendou a organização profissional aos diversos ramos da produção. Nada, com efeito, lhe parecia mais próprio a triunfar do liberalismo econômico do que o estabelecimento, para a economia social, de um estatuto de direito público fundado precisamente sobre a comunidade de responsabilidades entre todos os que tomam parte na produção. Este ponto da encíclica foi objeto de grande celeuma: uns viam nele uma concessão às correntes políticas modernas, outros uma volta à Idade Média. Teria sido incomparavelmente mais sábio deixar de lado velhos preconceitos inconsistentes e se dispor de boa fé e de bom coração à realização da própria coisa e de suas múltiplas aplicações práticas" (alocução cit., de 7 de maio de 1949).
Já em alocução aos participantes do Congresso das Associações Cristãs de Trabalhadores Italianos, de 11 de março de 1945, dizia o Soberano Pontífice, referindo-se ao movimento sindical como arma de opressão: "Quanto à democratização da economia, ela se acha não menos ameaçada pelo monopólio ou pelo despotismo econômico de uma aglutinação anônima de capitais privados do que pela força preponderante de multidões organizadas e prontas a usar de seu poder em detrimento da justiça e do direito de outrem".
O pensamento da Igreja em matéria de política social já se acha suficientemente conhecido. Para as consciências esclarecidas chegou o momento da ação. "É o momento agora de deixar as frases ocas e de pensar com a Quadragesimo Anno em uma nova organização das forças produtivas do povo" (alocução de 11 de março de 1945).
E na alocução de 7 de maio de 1949, acima citada, e à qual voltaremos oportunamente Pio XII alude à necessidade de se porem de lado injustas desconfianças entre trabalho e capital e de se unirem estes espontaneamente "enquanto é tempo", pois os horizontes se acham carregados com as nuvens negras do Leviatã socialista.
Diante de linguagem tão clara, como explicar a preponderância dada à política sindical e a campanha de silêncio em torno da solução corporativa?