Kremlin sempre representou para os russos o que na alma nacional havia de mais alto, expressivo e nobre. Utilizado pelos soviéticos depois da revolução de outubro, passou a servir de cidadela da tirania a um tempo "mística" e atéia do comunismo. Seus muros veneráveis presenciaram então o desenrolar de uma conspiração sem precedentes na história, contra tudo que, na Rússia e no mundo, representa elevação, dignidade, cultura. No interior dessa cidadela conservou-se, transformada em garage, uma igreja consagrada à Assunção de Nossa Senhora. Praza a Deus seja isto penhor de uma conversão sincera do povo russo, que represente a derrocada do comunismo em todos os seus aspectos, tanto religioso, quanto político, social e econômico.
“QUEREM DESFRALDAR O ESTANDARTE DO DEMÔNIO NA ROMA CATÓLICA”
Por ocasião do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, a Confederação Nacional das Congregações Marianas, ofereceu aos Exmos. Revmos. Snrs. Arcebispos e Bispos, e aos Diretores e Presidentes de Congregações Marianas do Brasil e do exterior, presentes no Rio de Janeiro por motivo daquele certame, uma sessão cinematográfica que se realizou no auditório da Associação Brasileira de Imprensa.
Terminado o espetáculo, S. Excia. Revma. Mons. Joseph Gawlina, Arcebispo titular de Madito e Diretor da Federação Mundial das Congregações Marianas dispôs-se a responder às questões que lhe quisessem formular os Exmos. Prelados presentes.
GRANDE ESPERANÇA PARA O MOVIMENTO MARIANO
Tomando a palavra, S. Excia. Revma. D. Geraldo de Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, perguntou se a Constituição Apostólica "Bis Saeculari Die" estava ainda em vigor.
"Sim, certamente", foi a resposta do Diretor da Federação Mundial, ela continua a ser a Carta Magna das Congregações Marianas".
D. Geraldo de Proença Sigaud solicitou, então, informações acerca da modalidade de colaboração que a Federação Mundial proporcionaria às associações dela dependentes nos diversos países.
A isso Mons. Joseph Gawlina respondeu que a Federação estava em começo e que, por conseguinte, era muito cedo para afirmar qualquer coisa a esse respeito, mas que se poderia certamente esperar grandes frutos para o movimento mariano no mundo inteiro, do ato inspirado do Santo Padre ao instituir o organismo superior e central das Congregações Marianas em Roma.
AS CONGREGAÇÕES MARIANAS E O APOSTOLADO SOCIAL
S Excia. Revma. D. Antonio de Castro Mayer, Bispo desta Diocese, perguntou em seguida se a Federação Mundial das Congregações Marianas oferecia às suas filiadas uma orientação sobre os problemas sociais.
A resposta foi que as Congregações Marianas não são destinadas somente a favorecer a piedade, mas também o apostolado. Nessas condições, e como o apostolado social é de grande importância no conjunto das atividades da Igreja em nossos dias, é claro, segundo os próprios termos da Constituição "Bis Saeculari Die", que os sodalícios marianos devem consagrar-se a esse apostolado. A Federação Mundial não pode deixar de se interessar intensamente pelos esforços que as Congregações Marianas de todo o mundo realizam nesse sentido.
OS CATÓLICOS E O COMUNISMO
O Snr. Bispo Diocesano desejou então saber se a Federação dava uma orientação a respeito da tendência muito generalizada entre os católicos do mundo inteiro, para um movimento rumo à esquerda.
S. Excia. Revma. afirmou, em resposta, que a Federação certamente não perderia de vista esse problema, que é de importância capital. O comunismo é uma "religião", acrescentou S. Excia., e enganam-se os que pretendem contemporizar com ele, ou ao menos atenuá-lo por meio de concessões ao ímpeto comunista. Na realidade, o comunista é inexorável e perseguirá inexoravelmente e de maneira especial aos que tiverem manifestado alguma flutuação em suas atitudes para com ele. Entre os deportados na Rússia, por exemplo, certos Padres que pretenderam obter alguma coisa, tomando em relação ao comunismo uma atitude sem firmeza, foram sacrificados, ao passo que, pelo contrário, os comunistas expulsaram todos os que se mostraram enérgicos. Pode-se dizer que esta é uma homenagem prestada pelo próprio inferno a quem tem a coragem católica.
CORTINA DE FERRO ENTRE CATÓLICOS
O Exmo. Sr. Bispo de Jacarezinho perguntou em seguida se certos movimentos, originários da França, que reclamam uma colaboração com o comunismo e de certo modo orientam a opinião católica para sentimentos comunistas, são bem vistos por Moscou.
Em resposta, lembrou o ilustre Diretor da Federação Mundial que a Santa Sé condenou recentemente a revista "La Quinzaine" e não aprova a atitude que os chamados intelectuais católicos da esquerda francesa tomam em relação ao comunismo. Os comunistas, ao contrário, são muito gratos ao procedimento desses elementos. Convém insistir, acrescentou Mons. Joseph Gawlina, no fato de que o comunismo não é pura e simplesmente um movimento econômico, mas antes uma pseudo-religião, que deseja cravar sobre as ruínas da Roma católica o estandarte do demônio. Através dos elementos avançados que introduzem nos meios católicos, os comunistas conseguem estabelecer uma verdadeira cortina de ferro entre os próprios católicos, mais perigosa do que a outra porque desce sobre os corações e as almas, e pode separar da Igreja numerosos espíritos.
AS CONGREGAÇÕES MARIANAS NA LUTA CONTRA O COMUNISMO
Cumpre lembrar, prosseguiu S. Excia. Revma., que as Congregações Marianas foram particularmente visadas pelo comunismo na Polônia, porque constituídas de elementos excelentes que opuseram ao marxismo uma barreira muito firme. Foi a resistência dos congregados marianos da Polônia e de outros países agora ocupados pelos soviéticos que permitiu a sobrevivência de importantes núcleos católicos do outro lado da cortina de ferro.
O Santo Padre constituiu a Federação Mundial das Congregações Mariolas justamente para uma luta mais enérgico dos elementos católicos contra as forças do mal.
Terminando suas importantes declarações, Mons. Joseph Carolina afirmou que todos os apoios humanos, na luta contra o comunismo, são muito apreciáveis sob certos aspectos, mas não são decisivos. O elemento verdadeiramente decisivo é a proteção da Divina Providência, que já salvou a Igreja em tantos outros perigos e dificuldades consideráveis.
Nesse momento S. Excia. volta o olhar para o auxílio de Nossa Senhora, que sozinha esmaga todos os nossos inimigos; Nossa Senhora que possui, no coração mesmo do Kremlin, uma igreja que Lhe é dedicada sob a invocação da Assunção de Maria, justamente o dogma há pouco definido pelo Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante. S. Excia. frisou que "res clamat ad Dominam" e que a existência dessa igreja - infelizmente degradada em nossos dias à categoria de garage - é, dentro dos próprios muros do Kremlin, um grito que se eleva até ao trono da SSma. Virgem a pedir que Ela faça triunfar os estandartes de Nosso Senhor em Moscou, enquanto os comunistas levam avante o plano diabólico e irrealizável de plantar em Roma os estandartes de Satanás.
VERDADES ESQUECIDAS
Pode ser pecado oferecer a outra face
Padre Victor Cathrein, S.J.
De "A Humildade Cristã" (trad. U. R. B., "Vozes de Petrópolis, 1925, pag. 140):
Diz o Divino Mestre: "Não resistas ao que te fizer mal, mas se algum te ferir na face direita, oferece-lhe também a esquerda ..." ( Mat. 5, 39-42).
Neste preceito como muito bem notam Sto. Agostinho (Ep. 138 ad Marcell, Migne, P. L. XXXIII, 530) e S. Tomaz (S, Theol., 2 a. 2 ae., q. 40, a. 1, ad 2. ), trata-se apenas da disposição interior. Não nos devemos vingar, mas sofrer as injurias e estar dispostos a não nos defendermos de qualquer agressão, caso da nossa parte ou da parte do agressor e do bem público as circunstâncias não exijam outra coisa. Cristo também não ofereceu a outra face ao criado que Lhe deu a bofetada (Jo. 18, 22 e seg. ), nem retribuiu do mesmo modo, mas defendeu-se modestamente, para que não se julgasse que tinha faltado ao respeito devido ao Sumo Sacerdote.
Muitas vezes a posição do agredido reclama que ele defenda da agressão, ou que se valha da autoridade para obter uma condigna satisfação dos direitos lesados; outras vezes a segurança pública exige também a punição das injustiças; e finalmente ainda o bem do mesmo agressor pede às vezes o seu castigo, como nos ensina Sto. Agostinho quando diz: "Deve-se proceder com benéfico rigor contra os recalcitrantes, porque salutarmente será vencido aquele a quem se tirou a liberdade de praticar o mal. Nada há mais infeliz que a felicidade dos pecadores, que lhes permite a impunidade e os confirma na sua má vontade" (Ep. 138, ad Marcell., Migne, P. L., XXXIII, 531).