(continuação)
APPARUIT BENIGNITAS
educadores, missionários, oradores, dirigentes de obras, terão frutos positivos a Lhe oferecer. Enquanto tantos se Lhe apresentarão com as mãos cheias de ouro e incenso, o que Lhe daremos nós?
Uma coleção de jornais. Nesta coleção, o que há? Se cada palavra contendo boa doutrina, por mais modesta que seja, tem aos olhos da misericórdia divina o valor do ouro, e Lhe é agradável como incenso, por certo há muitos grãos de incenso e ouro em nossas páginas. Mas também há muita mirra. Do que, aliás, sentimos alegria, já que o Evangelho conta que os Reis Magos levaram ao presépio não só ouro e incenso, mas também mirra.
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Há verdades que aos homens impressionam como o ouro. Há outras que lhes são suaves e perfumadas como o incenso.
Quanto à mirra, é mais modesta. A raiz etimológica dessa palavra se relaciona com o vocábulo "mur", que em árabe quer dizer "amargo". Os especialistas descrevem a mirra como uma resina gomosa, em forma de lágrima, dotada de gosto amargo, aromática, vermelha, semitransparente, frágil e brilhante. Seu odor é agradável, mas um pouco penetrante. Como se vê, tem ela a beleza discreta, austera, forte, do sangue. E seu perfume é o da disciplina e da sobriedade.
Diríamos que no campo ideológico a grande verdade representada pela mirra é o princípio de contradição, pelo qual o sim é sim e o não é não Todas as outras são ouro e incenso, mas só valem se apreciadas num ambiente perfumado pela mirra. E é desta mirra que larga, muito, muito largamente necessita o Brasil.
Não se confunda o princípio de contradição, que é quinta-essência da lógica, da coerência, da objetividade, com o espírito de contradição. Este é um vício que resulta do prazer jactancioso de contrariar o próximo: é volúvel, e faz do sim, não e do não sim, conforme convenha à posição arbitrariamente tomada de momento.
Somos um povo que tem o defeito de suas qualidades. Propensos habitualmente a tudo que é bom, infelizmente não somos ao mesmo tempo infensos a tudo quanto é mau. Em geral, os outros povos, quando amam uma verdade, odeiam o erro que lhe é contrário. E reciprocamente, quando amam o erro detestam a verdade que a ele se contrapõe. Em última análise, é pelo jogo desse princípio que se explicam as grandes fidelidades, como as grandes apostasias. Na psicologia do brasileiro, o ódio explícito e declarado à verdade e ao bem é raro. Neste sentido somos um dos melhores povos da terra. Mas quando se trata, para nós, de deduzir do amor à verdade e ao bem uma atitude militante contra o erro e o mal, o caso é outro. E no fundo isto se dá porque o princípio de contradição é antipático à pacateza brasileira. Uma expressão muito conhecida exprime em linguagem popular o princípio de contradição: "pão, pão; queijo, queijo". Mas em inúmeros casos confundimos pão com queijo.
Esta tendência de espírito se reflete em muitos aspectos da nossa mentalidade. O Brasil é uma República. Entretanto, em nenhum lugar o monarca destronado e a monarquia deixaram mais saudades. Separamo-nos de Portugal numa atmosfera borrascosa. Entretanto, no tratado em que a antiga Metrópole reconhecia nossa independência asseguramos a D. João VI até o fim de seus dias o título de Imperador do Brasil. O quadro corrente, e por assim dizer oficial do Marechal Deodoro, proclamador da República, apresenta-o com o peito constelado com as insígnias do Império que derrubou. Expulsamos em 1930 o Presidente Washington Luiz. Restaurado o regime constitucional regressou ele ao Brasil num ambiente de respeito e de simpatia tão gerais, que com exceção de D. Pedro II nenhum homem público reuniu em torno de si unanimidade maior. Porque então foi destituído? Dessas pitorescas contradições, poder-se-ia fazer uma longa lista. E o assunto Getúlio Vargas - ainda quente demais para ser abordado num artigo desta índole - forneceria a este respeito farta documentação.
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Talvez, à vista destas reflexões, algum leitor sorria, como quem está em presença de um amável desfeito. Pois não deixa de ter algo de simpático e tranquilizador um tal cúmulo de bonomia.
Mas estudemos este assunto no terreno da moral. Trata-se de analisar esta tendência psicológica, para ver se é conforme à Lei de Deus. E não é com meros sorrisos, mas com muita seriedade que se resolvem os problemas morais.
Aquele que veio ao mundo para pregar as Bem-aventuranças, nos deixou por preceito que fossemos fiéis ao princípio de contradição: "seja vossa linguagem sim, sim; não, não" ( Mt. 5, 37 ). E se tal deve ser nossa linguagem, tal deve ser nosso pensamento. Em matéria de moral, mais do que em qualquer outra, todo excesso é um mal, ainda que seja de qualidades tão simpáticas quanto a bonomia, e a suavidade de trato. E um mal que conforme o caso pode tornar-se muito grave.
Exemplifiquemos. No terreno religioso, não é bem verdade que o amortecimento do princípio de contradição nos conduz com muita frequência a atitudes lamentáveis? Quantos são os católicos que se julgam no direito de discordar da Igreja em algum ou em muitos pontos? Com isto, embora se ufanem de católicos, pecam contra a fé. Porque? Simplesmente porque imaginam possível um "tertium genus" entre ser católico e não ser. O mesmo se diga da naturalidade com que se admite entre nós uma categoria de católicos "não praticantes"! Claro que os há no mundo inteiro. Mas parece-nos que em nenhum país eles têm tão pouca consciência do que seu estado apresenta de cacofônico, de antitético, em uma palavra, de contraditório. Por fim, mais um exemplo. Quantas famílias temos, modelarmente constituídas! Porque progridem tanto as modas imorais? É que essas famílias, que prezam tanto a virtude, são por vezes pouco enérgicas no combate ao vício. Em todos estes casos o que nos falta? Viveza no princípio de contradição lapidarmente definido por Nosso Senhor, quando mostrou a incompatibilidade entre o "sim" e o "não".
Este artigo se vai alongando. Não resisto entretanto ao desejo de indicar outro exemplo. Todos se queixam da anemia de nossa vida partidária, de nossa atonia em matéria de ideologia política, e do predomínio das questões pessoais em nossa vida pública. Uma das causas deste fato está na carência do princípio de contradição. Pois se em face de uma idéia que temos por certa não nos arregimentamos para a defender resolutamente contra as que lhe são opostas, como pode haver partidos de verdadeiro conteúdo ideológico?
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O amortecimento do princípio de contradição gera o gosto, a mania das soluções intermediárias, eu quase diria a servidão às soluções intermediárias. Dados dois caminhos, escolher sempre o do meio, o que não é carne nem peixe: é no que se cifra para muita gente toda a sabedoria. Ora, se rejeitar por princípio as soluções intermediárias é um erro, erro também é adotá-las por princípio. Pois há casos em que a Sabedoria as condena formalmente: "Oxalá fosses frio ou quente; mas, como és morno, nem frio nem quente, começarei a vomitar-te de minha boca" ( Apoc. 3,15 ).
A pessoa viciada nas soluções intermediárias é a vítima ideal de todos os velhacos. Pois a habilidade do velhaco consiste precisamente em fazer com que o ingênuo aceite, com algum disfarce, aquilo que, a nu e sem maquilagem, ele repudiaria. Os hereges são useiros e vezeiros em velhacarias desta natureza. Rejeitado o pelagianismo, obtiveram eles a adesão de inúmeros ingênuos por meio do semi-pelagianismo. Condenado o arianismo, puseram eles em circulação o semi-arianismo. Fulminado o protestantismo, inventaram o baianismo e o jansenismo. Condenados o comunismo e o socialismo fabricam um "socialismo mitigado", que em última análise não é senão comunismo velado. E assim por diante.
Que essa tática é particularmente desenvolvida em nosso tempo, nada mais notório. Estamos no século da 5ª coluna. E que uma das formas mais hábeis de solapar os meios católicos é esta, as mais altas Autoridades Eclesiásticas de nossos dias já o disseram. Disse-o Sua Eminência o Cardeal Saliège, Arcebispo de Toulouse, quando afirmou em declaração mundialmente famosa, que tudo se passa como se houvesse uma ação articulada para "preparar no seio do Catolicismo um movimento de acolhida ao comunismo" ( cf. CATOLICISMO, nº 37, de janeiro de 1954, pág. 8 ).
E assim nada mais perigoso para o Brasil, nesta hora, do que o amortecimento do princípio de contradição. E nada mais necessário do que trabalhar para que, em nosso país, este princípio tome mais força, mais cor, mais eficiência em toda a vida mental.
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Não sei se um leitor não brasileiro compreenderá bem toda esta problemática. Duvido bastante. Mas para um brasileiro isto é bem mais inteligível. E é inteligível sobretudo para Vós, Senhor Jesus, que, deitado num berço rústico, sondais entretanto até o fundo as almas e os corações. Para Vós que, sendo a Sabedoria incriada, e tendo nascido d'Aquela que é a Sede da Sabedoria, conheceis totalmente a índole de cada povo, a todos amais, a todos quereis santificar. Para Vós que desde toda a eternidade tão particularmente amastes o povo brasileiro, e o predestinastes a uma grandeza que encherá a história de amanhã.
Nossa obra é principalmente de mirra. Jornal feito para católicos militantes e praticantes, queremos que eles Vos amem sem mescla de qualquer outro amor. Que só sirvam a um Senhor. Que sejam cada qual em seu coração uma cidade sem divisão, contra a qual nada pode o Inimigo. Que não olhem para trás, ao empunhar o arado, e que no afã de semear não se esqueçam de arrancar a erva daninha.
De certo modo, os católicos militantes e praticantes são, também eles, sal da terra e luz do mundo. Em parte depende da cooperação deles que o mundo não se corrompa, nem caia nas trevas. Queremos que eles sejam um sal muito e muito salgado, uma luz posta no mais alto da montanha, e muito brilhante. Neste sentido, Senhor, é nossa cooperação. Este o presente de Natal que acumulamos durante o ano inteiro, para Vos oferecer. Outros Vos darão o incenso de suas inúmeras obras, capazes de um bem inapreciável. Nós nos inserimos nessa grande obra queimando em abundância, no solo bem amado do Brasil, a mirra austera mas odorífera do "sim, sim; não, não".
Que Maria Santíssima aceite essa mirra em suas mãos indizivelmente santas e Vo-las ofereça. Ela terá para Vós então o encanto do ouro, e do incenso, com alguma coisa a mais: e isto lhe virá do suor, do sangue de alma, e das lágrimas de um apostolado que tem suas horas muito amargas... Mas na Cruz está a luz. E neste amargor o melhor da alegria e da beleza de nosso apostolado.
Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno
Editada em italiano
Com o transcurso do tempo, os ecos da Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno, da autoria do Exmo. Revmo. .Sr. Bispo Diocesano, em lugar de se irem amortecendo paulatinamente, vão pelo contrário ganhando em intensidade.
Na Espanha, como noticiamos, foi o monumental documento objeto de duas traduções mais ou menos simultâneas, por iniciativa, respectivamente, da Editora Fé Integra, de Madrid, pertencente aos RR.PP. Cooperadores Paroquiais de Cristo Rei, e da revista "San José Orion de Barcelona. E atualmente também o está publicando "Cristandad", da mesma cidade.
A revista "Verbe", de Paris, editou em separata uma tradução francesa da Pastoral, largamente difundida nos meios católicos daquele país.
Agora, por fim, fomos informados de que apareceu uma edição da insigne Pastoral em italiano, por iniciativa do Instituto Editorial Bartolo Longo, de Pompéia. A tradução foi feita pelo Exmo. Revmo. Mons. G. Petralia.
A propósito da edição italiana, a revista "Civiltà Católica", dos RR. PP. Jesuítas de Roma, órgão de alta cultura religiosa de prestígio mundial, publicou o seguinte expressivo comentário na "Bibliografia" de seu número de 15 de outubro p. findo:
"Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos — "Problemi dell'Apostolato Moderno". "Lettera pastorale con un catechismo delle verità opposte agli errori del nostro tempo". Tradução do português por Mons. G. Petralia. — Pompeia, Istituto Editoriale Bartolo Longo, 1954. in-16, pp. 120.
Contra uma multidão de erros que circulam também no meio de um bom número de fiéis, quer por demais pouco instruídos nas doutrinas, tradições e práticas da Igreja, quer demasiadamente propensos a render-se às novidades das opiniões que continuamente vão ressurgindo aqui e ali; o Bispo de Campos publicou uma Carta Pastoral de esclarecimento e imunização para salvaguarda do seu rebanho, em que segue um método didático que à clareza e exatidão adiciona uma sadia brevidade. Com efeito, em oitenta referências, ou parágrafos, o Autor faz em primeiro lugar menção do erro; depois apresenta uma resposta sucinta e precisa, que vem logo esclarecida por uma explicação mais completa. Os assuntos tratados são todos de interesse: liturgia, estrutura da Igreja, métodos de apostolado, ação católica, vida espiritual, moral nova, laicismo, relações entre Igreja e Estado, questões políticas e sociais. Algumas diretrizes acerca do modo de tratar e de exprimir-se nas diversas circunstâncias constituem uma ótima conclusão.
A utilidade e eficácia do método pode também servir de estímulo a outros, para que sejam induzidos a segui-lo com o fim de manter os fiéis despertos ante os erros que se difundem nos vários círculos de leitores e ouvintes, e aguerri-los para discernir a falsidade espalhada sob uma vã aparência de ciência ou de zelo, frequentemente fatais".
A primogenitura cristã da França encontra uma de suas mais altas expressões na Sainte Chapelle, elevada por S. Luiz IX para abrigar a Coroa de espinhos. Assim como esta Capela se ergue altaneira entre os incontáveis edifícios da Paris atual, assim também a primogenitura religiosa da França perdura intacta a despeito das inúmeras transformações por que tem passado a cultura francesa. — E por isto os inimigos da Igreja, hoje como sempre, procuram com empenho capital arrancar a pátria do Rei São Luiz dos braços amorosos da Esposa Mística de Nosso Senhor Jesus Cristo.
"Eles não sabem o que fazem"
Maquinações que expõem a riscos e angústias a causa católica
Cunha Alvarenga
Em abril do corrente ano saiu do prelo, em Paris, um livro que muito tem dado que falar. Dizemos falar, porque em linguagem escrita os comentários tem sido muito parcimoniosos, et pour cause...
Referimo-nos ao "Ils ne savent pas ce qu'ils font" de Jean Madiran (Nouvelles Editions Latines, 1, rue Palatine, Paris). Seu autor, com acuidade de espírito e precisão bem francesas, revela a existência de um verdadeiro consorcio religioso e político que, dispondo de sólidas bases econômico-financeiras e especializado no ramo publicitário, serve a causa do comunismo soviético não somente perante o grande público, mas também e sobretudo nos ambientes católicos, sendo suas publicações vendidas até, e muito largamente, nos átrios das igrejas.
Expõe Jean Madiran o assunto em termos concretos, dando os nomes dos principais responsáveis, descendo a pormenores esclarecedores quanto às suas ligações, locais de reunião, atividades a que se entregam. Ao lado desses dados práticos, entra na exposição do conteúdo ideológico comum que norteia os trabalhos desses variados grupos de pessoas, dando assim mais um indicio da trama que denuncia.
Não admira, pois, que entre os raros comentários escritos sobre o livro de Jean Madiran haja surgido o seguinte em "L'Ami du Clergé": "Esse livro é um documento; pode ajudar a compreender melhor certos aspectos dos acontecimentos que perturbaram, de alguns anos a esta data, mais de uma consciência na Igreja da França".
É importante assinalar que até o presente momento, ao que nos consta, as personalidades atingidas pelos fatos narrados em "Ils ne savent pas ce qu'ils font" conservam um silêncio que não deixa de ser significativo. Tanto mais que, à vista da imensa repercussão do livro, seria de seu interesse premente desmenti-lo.
Continua, portanto, de pé o tremendo libelo contido nas páginas de Jean Madiran, dos quais tentaremos fazer um resumo para os nossos leitores, dada a importância e atualidade do assunto.
UM ALMOÇO ÀS TERÇAS-FEIRAS
A história começa com um almoço que todas as terças-feiras reúne no restaurant "Au Petit Riche" o sr. Beuve-Méry, diretor de "Le Monde", e Mme. Sauvageot, principal empresaria da imprensa católica francesa, os quais presidem uma mesa em que também tomam lugar outros elementos, financistas e teólogos do publicismo católico. Tais almoços de terça-feira são almoços de negócio, que reúnem editores, homens de dinheiro, jornalistas políticos, doutores em hábito branco e negro. Ora uns, ora outros, mas sempre com a presença do sr. Beuve-Méry e de Mme. Sauvageot.
Pergunta-se: quais são os laços pessoais, políticos e financeiros que unem esses vários elementos? Comecemos pelas duas figuras principais, que são Mme. Sauvageot e o sr. Beuve-Méry.
Segundo Madiran, Mme. Sauvageot, antiga militante radical-socialista convertida ao Catolicismo antes da última guerra, é hoje a primeira personalidade financeira da imprensa católica francesa. As empresas e publicações que ela controla são as mais importantes, seja por sua tiragem, seja por seu papel político: "La Vie catholique illustrée", "Radio-Cinéma-Télévision", "La Quinzaine" e, através de seus amigos, "L'Actualité religieuse dans le monde". Mantém pessoalmente e por intermédio de pessoas de sua família contactos seguidos, não somente com os meios políticos "progressistas", mas ainda com o estado-maior do Partido Comunista. Nunca desmentiu tais contactos, embora prefira que deles não se fale, por razões evidentes. Assinou uma declaração de cristãos progressistas em favor do Apelo de Stockholmo (conforme notícia publicada no jornal comunista "Humanité" de 13 de maio de 1950). Protestou, mais recentemente, em "L'Humanité" de 9 de fevereiro de 1952, contra a interdição, pelo governo, de uma manifestação comunista. Foi, em 1951, vice-presidente de um organismo nitidamente pró-comunista, a "Associação pela defesa da liberdade de difusão da imprensa". Suas convicções políticas não variaram desde então, mas se tornaram mais discretas.
Ora, Mme. Sauvageot é a administradora da "Société des Editions du Temps présent", que hoje não edita coisa alguma e se acha praticamente em estado de hibernação, mas que detém a maioria das ações da sociedade que publica "La Vie catholique illustrée". Pessoalmente, Mme. Sauvageot possui apenas algumas ações deste último órgão, mas, na qualidade de gerente da referida sociedade, ela controla "La vie catholique ilustrée", bem como "Radio-Cinéma-Télévision": são os mais poderosos hebdomadários católicos franceses, vendidos até no interior das igrejas, com uma tiragem que ultrapassa quinhentos mil exemplares.
Concebidos como magazines, esses dois jornais não têm conteúdo ideológico, e só raramente se mostram claramente favoráveis ao comunismo, como no caso de um estudo publicado pela "Vie catholique illustrée" sobre a "reforma agrária" da China, no qual só apareciam elogios e nenhuma restrição a esse aspecto da política de Mao Tsé Tung. Mas, normalmente essas publicações de Mme. Sauvageot nada fazem para suscitar ou encorajar um espírito de resistência ao comunismo, e se mostram voluntariamente despreocupadas com relação ao maior perigo de nossa época. No combate moral e político que o comunismo move à Igreja, os dois maiores hebdomadários católicos franceses se mantêm praticamente "neutros" no sentido militar da palavra.
POLÍTICA DE NÃO-RESISTÊNCIA
Mme. Sauvageot fundou também "La Quinzaine", órgão recentemente condenado pela Santa Sé, e do qual foi gerente no início. Desligou-se ela oficialmente de "La Quinzaine" desde as primeiras dificuldades havidas entre as Autoridades eclesiásticas e essa publicação que sustentava abertamente quase todos os pontos de vista da política comunista. Mas "La Quinzaine", mesmo depois da condenação episcopal que a fulminou em 1954, continuou a se beneficiar do apoio material, do conforto moral, da presença e dos conselhos de Mme. Sauvageot. Ela não esconde, aliás, aos que a cercam, que uma publicação do gênero de "La Quinzaine" responde muito melhor às suas intenções e a seus projetos que "La Vie catholique illustrée". Permanece, porém, nesta última porque "La Vie Catholique illustrée" representa a riqueza, o poder, os meios de ação, ao mesmo tempo que o melhor modo de impedir o aparecimento de um hebdomadário católico de grande tiragem, animado por um anti-comunismo militante.
Pelo fato de ter em suas mãos o poder financeiro e publicitário, Mme. Sauvageot pôde fundar e preside o "Centro nacional de imprensa católica", criado em março de 1952 para "favorecer a difusão da imprensa católica de âmbito nacional". Tal organismo tem por co-presidente o sr. René Finkelstein, das Obras católicas da rue de Fleurus, em Paris. Dispondo, também ele, de recursos financeiros consideráveis, o sr. Finkelstein coloca-os igualmente ao serviço de uma política de não resistência: o papel desse cidadão é aparentemente muito mais apagado e realmente muito mais secreto do que o de sua colega de presidência. Também faz parte do "Centro nacional de imprensa católica" o sr. Montaron, co-diretor de "Témoignage chrétien".
A organizadora hábil e infatigável de tudo isso é Mme. Ella-Blanche Sauvageot.
MAIS UM ELO DA CORRENTE
Quanto ao sr. Beuve-Méry, suas tendências políticas podem ser percebidas por detrás de uma verdadeira cortina de fumaça. É dos tais que pensam, como fez publicar em "Le Monde" a partir de 1945, que "a hora slava soou no quadrante da história". Por "hora slava" entenda-se "hora soviética".
(continua)