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PRECE

ONDE ESTÃO AARÃO E HUR PARA SUSTENTAR OS BRAÇOS DE MOISÉS?

(continuação)

converteu e batizou alguns tártaros, os quais, nus como ele, esperavam, na cela da morte, a execução. Estava também junto com eles, condenado à mesma sorte, um coronel da N.K.W.D.. Este, vendo o zelo e a paz do nosso Padre, lhe disse certo dia: "Tudo consagrei ao ideal comunista. Consagrei-lhe minha juventude, minha família e minha pátria. Hoje, porém, vejo que toda a minha vida estava em erro. Vem, Padre, e fala-me de Jesus Cristo".

"Estava no cárcere e não me visitastes"

Além da cortina de ferro trava-se a batalha de Israel com Amalec (Ex. 17, 8-16), não com o fio da espada, mas com a espada do Espírito, "não somente contra a carne e o sangue, mas contra os principados e potestades do inferno, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares" (V. 6, 12).

No alto da montanha está, qual Moisés da Nova Aliança, o Santo Padre, "tendo em sua mão a graça de Deus" (Ex. 17, 9). Onde, porém, estão esses novos Aarões e Hurs, sustentando as mãos do Guia do povo eleito em sua oração (Ex. 10, 12)?

Não são, porventura, os nossos irmãos deportados e encarcerados o prenúncio daquilo que pode suceder a todos nós?

Se, como escreve São Paulo aos romanos (8, 19), até a natureza, gemendo e sofrendo, não somente experimenta a nostalgia de Deus, mas também, com grande desejo, suspira e espera pela manifestação dos filhos de Deus, com quanto maior desejo não esperam os nossos irmãos a demonstração da nossa caridade, a que têm direito incondicional?

Bem sabem eles que o sofrimento é obrigação do seu sacerdócio, mas não menos bem sabemos nós que a oração por eles é nossa obrigação. Por aí é que se prova a caridade sacerdotal, como reflexo do amor infinito.

No Juízo Final dirá o Juiz Divino aos seus servos: "Estava enfermo e no cárcere e não Me visitastes" (Mt. 25, 43). Eles, porém, Lhe retorquirão: "Quando, Senhor, Te vimos enfermo ou no cárcere e não Te visitamos?" (25, 44). A isto Ele responderá dizendo: "Na verdade vos digo: todas as vezes que o não fizestes a um destes pequeninos, a Mim mesmo o não fizestes" (25, 45).

Um dia, perguntaram-me como se há de fazer chegar aos encarcerados a notícia de que estamos rezando por eles. Ora, isto não interessa muito, porque a nossa oração chegará até eles, tenham notícia dela ou não; e eles a supõem, porque conhecem a lei da caridade. Devemos por acaso permitir que, em lugar da ânfora da caridade sacerdotal, da qual quererão tomar o bálsamo para as chagas da sua alma, fiquem em suas mãos somente as asas da mesma ânfora? Embora nos separem as maiores distâncias, somos vasos ligados entre si na caridade. "Qui non diligit, non novit Deum, quoniam Deus caritas est" (1 Jo. 4, b). A fé e a caridade não são Deus, mas Deus é a caridade (Cardeal Manning, "The internal mission of the Holy Ghost").

"Si habuero prophetiam et noverim mysteria omina et omnem scientiam et si habuero omnem lidem, ita ut montes transferam, caritatem autem non habuero, nihil sum" (1 Cor. 13, 2).

Também Balaão, no início, tinha fé e esperança, e contudo não possuía a caridade (Cardeal Newman, "Faith and love"). Possuía também a obediência, e contudo teve um triste fim, porque sua obediência era destituída de caridade (Cardeal Newman, "Obediente without love").

Façamos violência aos Céus, pelas mãos da Virgem

Perdoai-me, caríssimos irmãos, se ouso falar-vos com tanta franqueza. Sei que a caridade divina foi derramada nos vossos corações pelo Espírito Santo. Sei também que alguns dentre vós quotidianamente oferecem o segundo noturno do breviário pela Igreja do silêncio e pelos Sacerdotes encarcerados. É coisa muito louvável. Mas será o suficiente? Este segundo noturno já o devíamos rezar; o simples fato de lhe acrescentarmos intenção coincidirá perfeitamente com os anseios de vosso coração sacerdotal tão generoso? "Flamescat igne caritas, accendat ardor proximos".

No meio das grandes correntes emigratórias, vulgarizou-se o belíssimo costume de cada qual, onde quer que esteja, na Europa ou na Argentina, na Austrália ou na Índia, rezar em uma das nove horas da noite um Pater, Ave e Gloria, peles compatriotas perseguidos, de sorte que haja dia e noite uma cadeia ininterrupta de orações.

E assim estas orações, a cada hora, farão violência aos Céus e pelas mãos da Consoladora dos Aflitos serão apresentadas a Deus Filho, que fará cair a sua bênção sobre as almas sedentas de além cortina de ferro, qual chuva de graças e de consolação.

Não creio que uma tal prova de amor seja para nós uma oferta muito pesada; eu vo-la peço, em nome de todas aquelas nações que estão gemendo sob o jugo da tirania. "Vinculum perfectionis est caritas" principalmente quando todos, sem distinção de cor e de raça, rezam pelos irmãos agrilhoados. "Caritas fraternitatis maneat in vobis... Me mentote victorum tamquam simul vincti, et laborantium tamquam et ipsi in corpore morantes" (Hebr. 13, 1, 3).

Pesadíssima é a sua sorte. Estão cercados pelos inimigos e perseguidores. Para que, com Jesus (Ecli. 51, 10), não se vejam obrigados a se lamentarem: "circumdederunt me undique, et non erat, qui adjuvaret, respiciens eram ad adjutorium, hominum, et non erant", mostremos-lhes a nossa caridade eficiente, ao menos pela oração.

No livro ao Genesis (21, 9) lemos a triste história da desterrada Agar, cujo filho Ismael morria de sede no deserto. À desesperada mãe apareceu o Anjo do Senhor e lhe indicou uma fonte de água pura, com a qual salvou a criança agonizante. Assim também os Bispos e os Sacerdotes estão perecendo no deserto no cativeiro e na crueldade. Onde pois encontrarão eles a fonte do socorro:

Caríssimos irmãos: estou vendo esta fonte e ouço a sua voz, ou melhor o seu suave murmúrio. Vendo-a estou nos vossos corações sacerdotais, e ouço a sua voz e o seu murmúrio nas orações que deslizam do vosso coração. O amor de Deus e a vossa caridade serão esta fonte de socorro.

E quanto à sorte da Igreja, realizar-se-ão as palavras de Santo Ambrósio. Dizia ele: "Quanto mais dolorosamente a herança de Jesus, estendendo-se a todos os povos, for provada, tanto mais fiel ela se há de tornar; porque freqüentes perseguições movidas contra a Igreja trouxeram-nos as vitórias dos santos e as glórias do martírio. E assim como o verdadeiro ouro, quanto mais é submetido a ação do fogo, tanto mais brilhante se torna, sem sofrer nenhum prejuízo, - assim também quanto mais provada for a Igreja no fogo da perseguição, tanto maior será o seu esplendor, até o dia em que Cristo venha para o seu Reino e recline sua cabeça na fé da Igreja. Amén" (Expositio .n psalmum 118, sermo 3, 7).


CORRESPONDÊNCIA

De um leitor: "Li em Salve Maria, órgão da Federação das Pias Uniões de Filhas de Maria dessa Diocese, orientações para donzelas e fiéis em geral, concernentes a diversões no mundo de hoje. Naquele mensário fazem-se críticas também ao cinema. Não teria sido prudente ressalvar que os cinemas paroquiais, pelas garantias que oferecem, não merecem as censuras levantadas contra os cinemas em geral, e, mesmo, são dignos de todo aplauso? Um só cinema paroquial, que afasta centenas de pessoas do mau cinema, não faz muito mais bem do que toda uma campanha de jornal contra o mau cinema? Em lugar de atacar o que outros fazem de mau, façamos o bem, por meio de uma obra que não inspira preocupação, nem pode fazer mal a ninguém. Construir não é sempre melhor do que destruir?"

R. - Certamente, construir é melhor que destruir. Mas, construir não dispensa a ingrata tarefa de destruir. A casa em ruínas deve primeiro ser demolida, para que em seu lugar se possa edificar algo de aproveitável. Ao Profeta Jeremias, a quem deu a missão de reformar o povo de Israel, mandou o Senhor que primeiro arrancasse e destruísse, para depois edificar e plantar (Jerem. 1, 10). Estará a tarefa de destruir abolida hoje das cogitações apostólicas? Não parece. Ao menos, o Santo Padre gloriosamente reinante, ao introduzir na Sagrada Liturgia a Missa para o "Comum de um ou mais Sumos Pontífices", achou útil, conveniente, e portanto salutar lembrar que isso faz parte da missão do Papa. Constituído para governar os povos e os reinos, ele o foi, também, para que "arranque e destrua, e edifique e plante" (Communio da Missa pro uno aut pl. Sum. Pont.). Em geral, pois, é necessário destruir e arrancar o que há de mau, afim de, purificado o espírito, nele edificar para a vida eterna, isto é, nele semear os germes das virtudes que vão florescer e dar frutos dignos de Deus Nosso Senhor.

Aliás, a idéia de que basta difundir a verdade e o bem, sem atacar o mal, sem alertar contra as heresias e os desvios morais, vem a ser precisamente o Liberalismo de Lamennais, Montalembert e Lacordaire, condenado pelo Santo Padre Gregorio XVI na encíclica "Mirari vos". Realmente, outra coisa não pretendiam esses corifeus do Modernismo do século passado, senão plena liberdade para o bem e para o mal, pois que, acreditavam, nessa livre concorrência o bem naturalmente triunfaria.

De sorte que é necessário atacar o mal e destruí-1o, e esta é uma obra construtiva, visto que, sem ela, o bem não só corre sempre perigo, como também não se realiza com a amplitude e intensidade que seria para desejar.

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Tais princípios valem em qualquer campo. Têm, no entanto, especial aplicação quando se trata do cinema. De fato, o perigo que apresenta esta diversão, hoje generalizada - comenta o Santo Padre que, nas classes humildes, é frequente não haver outra em que o povo espaireça - é imenso. Basta considerar a influência poderosíssima que exerce o filme sobre os espectadores, acrescida, cada dia mais, pelo progresso dos estudos psicológicos utilizados pela técnica cinematográfica.

Ora, infelizmente, a influência do cinema, de modo geral, não é utilizada para o bem. Em alocução de 21 de junho deste ano, dirigida aos membros da indústria cinematográfica italiana, o Santo Padre salienta este fato. Como causas desse mal, aponta o Sumo Pontífice, primeiramente, a dificuldade de se conseguir o filme ideal, uma vez que este exige artistas excelentes, que estejam acima do ordinário; e depois, porque "todo mundo sabe que não é, em absoluto, difícil fazer filmes atraentes tornando-os cúmplices dos instintos inferiores e das paixões que aliciam o homem e o afastam das normas de uma reta razão e de uma vontade bem ordenada". "A tentação dos caminhos fáceis - continua o Papa - é grande, e tanto maior quanto mais o filme perverso se mostra eficiente para encher as salas e as caixas e para suscitar nos jornais críticas servis e benévolas".

Acrescente-se a estas considerações uma outra, sobre a qual também se externa o Papa: a condição atual da natureza humana faz com que "os espectadores - pelo menos nem todos eles - não tenham, ou não conservem sempre, a energia, a reserva interior, muitas vezes até a vontade de resistir à sugestão atraente, e com isso a capacidade de se dominarem e de se guiarem a si mesmos".

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Além do mais, o cinema apresenta ainda um perigo que lhe é próprio, e que o faz temer ainda mais do que o teatro. É a faculdade amplíssima de sugerir emoções e atos internos. Muito mais do que pela palavra, pelo gesto, ou pela ação, influencia o cinema pelo jogo de fisionomia realçado pela intensidade luminosa e pelos recursos cênicos. Quanta sensualidade, quanta maledicência, quanta falta de caridade, e quanta coisa mais pode ser sugerida por uma contração de rosto, um rictus, um nada na fisionomia! Na alocução que vimos citando, encarece o Papa esta peculiaridade do cinema. Os seus produtores tiram "igualmente proveito dos gestos hábeis, aparentemente insignificantes, como poderia ser, por exemplo, um movimento de mão, de ombros que se levantam, etc."

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Por outro lado, ocorre responsabilidade gravíssima quando se trata de recomendar ou simplesmente permitir uma diversão deste gênero. Ouçamos o Emmo. Cardeal Siri, Arcebispo de Genova: "A moral cristã, no que diz respeito a espetáculos, exige a absoluta honestidade do enredo em geral, e da representação no palco, e reputa que o espetáculo imoral é ocasião próxima ou remota de pecado para os assistentes. De maneira que um espetáculo que, sob qualquer ponto de vista, seja incentivo ao pecado, ainda que só de pensamento ou desejo realmente contrário aos Mandamentos da Lei de Deus, está proibido sob pecado mortal'.

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Daí a grande perplexidade dos Pastores de almas, num mundo em que o cinema passou quase para a categoria de gênero de primeira necessidade.

O venerável e apostólico Bispo de Salto, no Uruguai, Exmo. Revmo. Mons. Alfredo Viola, em sua Pastoral de Quaresma deste ano, manifesta às suas ovelhas as preocupações que lhe causa o cinema: "Não vos deixeis absorver pelo cinema, nem façais dele um hábito dominante, pois, do contrário, chegará a influir, sem que o percebais, na vossa vida, nas vossas idéias, na vossa mesma psicologia pessoal, e, o que é pior, atenuará e diminuirá, se não levar ao desaparecimento, a vida sobrenatural, que deveis viver".

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Parece, então, que a solução será precisamente o cinema paroquial, como sugere nosso amável missivista.

Transcrevemos aqui, a esse propósito, as palavras ponderadas da Carta Pastoral do Exmo. Sr. Bispo de Salto. "Cinemas paroquiais, solução do problema?" pergunta S. Excia. Revma., e responde: "É este um ponto muito discutido, mesmo em países que não estão, como o nosso, sujeitos ao monopólio das grandes empresas distribuidoras de películas, e com isto não queremos desconhecer ou subestimar o meritório esforço dos que se propõem remediar o mal". O ilustre Prelado transcreve então as seguintes palavras pronunciadas pelo Cardeal Schuster em 19 de janeiro de 1952: "Em vinte e cinco anos de episcopado, nada me proporcionou tantas mágoas e preocupações como os cinemas paroquiais... Condenamos novamente, em matéria cinematográfica, a doutrina do menor mal. A Igreja, que, por essência, é santa, nunca pode ensinar o mal menor".

"E - prossegue Mons. Alfredo Viola - compreende-se que seja assim, porque se um filme com passagens más ou perigosas se exibe em uma sala pública, resta-nos o direito de reprovar tal exibição, e disso ninguém nos poderá culpar, nem a nós nem à Igreja.

"Mas, se em um cinema nosso acontece coisa semelhante, ainda que seja em muito menor escala, Os culpados somos nós mesmos, como diz o Cardeal Siri, porque" - e S. Excia. passa a citar aquele Emmo. Purpurado - como "toda iniciativa proveniente direta ou indiretamente do Clero só se justifica como meio ordenado ao fim último da salvação das almas, sempre que o cinema, por qualquer razão, não logre esse fim, deve, sem mais, ser eliminado como inconciliável com as características do ministério sacerdotal".

"O cinema paroquial, portanto - continua o Bispo de Salto - se justifica para tirar os católicos das salas públicas, onde as películas são frequentemente inconvenientes.

"Logra o cinema paroquial tal fim? "Tememos muito que aconteça o contrário (como às vezes temos ouvido que aconteceu), e que o cinema paroquial se converta em ante-sala do cinema público, ao acostumar ao cinema aqueles que antes não costumavam lá ir".

E a chave de ouro desta parte da Pastoral são estas palavras, com que julgamos poder encerrar esta resposta que já vai longa: "Temos repetido muitas vezes, e cremos que seja coisa fora de dúvida: com cinema não tiraremos jamais os católicos do cinema. Ou os tiramos com piedade e vida sobrenatural, ou não os tiramos".


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Duas concepções da sociedade: família de famílias ou campo de concentração

Plinio Corrêa de Oliveira

Uma jovem camponesa de Castela considera solícita e enternecida o filho que tem ao braço.

Nota-se nela certa rusticidade própria aos campônios. Mas uma rusticidade na qual é por assim dizer imperceptível a tal ou qual aspereza que o conceito de "rústico" contém. Pelo contrário, a vida do campo concentrou nessa jovem seus melhores efeitos. Seu semblante, seu porte exprimem uma vigorosa plenitude de saúde de corpo e de alma. Mas uma plenitude à qual séculos inteiros de tradição cristã imprimiram seu cunho próprio. Nessa camponesa, que talvez apenas saiba ler, há uma intensidade da vida de espírito, uma lógica, uma temperança, uma harmoniosa sujeição da matéria ao espírito, e ao mesmo tempo um frescor e uma delicadeza que só podem resultar de muita fé e muita pureza. Os traços fisionômicos, muito nítidos, são enérgicos. As sobrancelhas fortes, e de traçado muito definido, servem de moldura a um olhar penetrante e preciso. Mas há no rosto uma serenidade, uma candura, que o toucado alvíssimo parece acentuar com uma nota de louçania especial.

Trata-se de uma simples filha do povo. Mas de um grande povo, grandemente católico. Há nele tesouros de toda ordem, étnicos, históricos, morais, sociais, religiosos, que fazem desta humilde e altiva filha de Castela um modelo digno de despertar o talento de um grande pintor.

Todos estes tesouros estão voltados para a maternidade. Salta aos olhos o carinho delicadíssimo com que contempla seu filho, a consciência que tem de sua função protetora, a dedicação com que ela está por assim dizer mobilizada em todas as suas aptidões, em toda a sua capacidade de afeto (afeto profundo, sério, sem moleza, diga-se de passagem) em prol do filho que Deus lhe deu.

Feliz criança em cujo favor a Providência dispôs maravilhas da natureza e da graça, no desvelo de uma mãe pura e cheia de fé.

"Somos filhos de Lenine, não queremos pai, nem mãe... ". Fazendo vibrar os ares com esta miserável canção, desfilam pelas ruas de uma cidade comunista estes pequenos escravos do Anti-Cristo, que trazem ao peito as insígnias de seu sinistro senhor: a estrela de cinco pontas, com a foice e o martelo.

São crianças que parecem formadas, não para uma vida civil comum, mas para a agressão, o insulto e a brutalidade. Nelas se nota que a capacidade de odiar foi despertada, excitada, e fixada num grau de tensão habitual muito alto, para constituir nelas uma segunda natureza. Os olhos fitam a objetiva do fotógrafo, ou qualquer outro ponto do espaço, penetrantes de desconfiança, carregados de ódio. O andar deixa transparecer uma intenção malfazeja, que parece dar aos passos uma cadência feroz. Os transeuntes, que contemplam o cortejo, parecem animados de sentimentos análogos. Dir-se-ia filhos do ódio, cantando na cidade do ódio o hino do ódio! E é bem natural que, para conseguir formar assim filhos da ira, se lhes tenha roubado o amor paterno e materno, se lhes tenha inspirada um ódio monstruoso contra a vida de família.

Piedade e impiedade, virtude e amoralidade, delicadeza temperante e forte, brutalidade desbragada e luciferina, em suma civilização católica e comunismo, eis a alternativa trágica diante da qual o homem do século XX se encontra.