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(continuação)

FECISTI VIRILITER

consequência contra o dogma da Maternidade Divina da Santíssima Virgem, para, em seguida, por uma seqüela de efeitos que chega a ser monótona em sua uniformidade, arrasarem a família, a propriedade, o poder civil, toda a ordem sobrenatural e natural desejada por Deus, para terminar no mais declarado comunismo ou gregarismo do demônio.

AS ORIGENS DO COMUNISMO HODIERNO

Sob novas roupagens, vemos essas mesmas heresias ressurgirem na Idade Média e nos Tempos Modernos. Toma assim essa obra realizada pelo erro religioso através dos séculos, o aspecto de uma verdadeira conjuração contra a Igreja e a Cristandade. É a Revolução em marcha que, bem estudada, apesar da descontinuidade de suas fases, nos mostra uma perfeita continuidade de propósitos. E como mero exemplo para demonstrar como é antigo o espírito revolucionário igualitário e socialista, bem como a autenticidade das consequências sociais que atribuímos às heresias, podemos citar algumas inscrições gnóstico-maniqueias descobertas no século passado na Cirenaica e datando das primeiras centúrias da era cristã. Em uma delas, vemos colocados na mesma linha Thot ou Hermes Trimegisto, Kronos, Zoroastro, Pitágoras, Epicuro, Mazdac, S. João e Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais teriam unanimemente pregado a comunidade dos bens. Em outra dessas inscrições temos o seguinte: "A comunidade de todos os bens e, das mulheres é a fonte da justiça divina, e a perfeita felicidade para os homens bons tirados da populaça cega. Foi a eles que Zaradés e Pitágoras, os mais nobres dos hierofantes, ensinaram a viver juntos". E em um livro intitulado "Da Justiça", do gnóstico Epifanio, lemos: "A própria natureza deseja a comunidade de todas as coisas, do solo, dos bens da vida, das mulheres; e as leis humanas, invertendo a ordem legítima, produziram o pecado por sua oposição aos instintos mais poderosos depositados por Deus no fundo das almas" (apud A. Nicolas em "Du Protestantisme et de toutes les Hérésies dans leur rapport avec le Socialisme", tomo 1°, pp. 387/388).

E são essas mesmas heresias maniqueias que ressurgem através de Wiclef, de João Huss, de Lutero, de Calvino e de outros agentes da pseudo-reforma protestante, a qual é a verdadeira base religiosa da grande Revolução política, social e econômica que teve mais duas importantes etapas em 1789 na França e em 1917 na Rússia.

A VERDADEIRA SOLUÇÃO

Ora, esses dois cataclismas desabados sobre os povos do Ocidente cristão estão a indicar como são frágeis em si mesmas as instituições sociais, tais como as formas de governo, a propriedade, o matrimônio, a estratificação em classes. É que os títulos de propriedade, é que a base de toda autoridade e os fundamentos da sociedade humana se acham no Céu, pois que o homem em relação aos seus semelhantes e em relação aos bens da terra haure da vontade de Deus as normas com que há de dirigir suas ações.

Abolida toda essa ordem de coisas que nos vem do Céu, desprezado o fim último do homem, que é Deus, tudo se esboroará. Abandonado o amor de Deus, o ódio e a inveja prevalecerão entre os homens. Em vão se empenharão eles em organizar miríficos planos de reformas políticas e sociais. Se Deus não se achar no fundamento dessas edificações, será como elevar uma torre sobre areia. Eis porque a Santíssima Virgem em Fátima não apela para esses pobres recursos humanos para restaurar a paz sobre a terra. Não acharemos remédio para nossos males em nós mesmos, mas no cumprimento da vontade daquele que nos criou.

Ora, como procurar a Sabedoria Eterna que nos há de guiar neste mare magnum do mundo paganizado de hoje? Havemos de atingir a Sabedoria Eterna, ou Jesus Cristo, Verbo Encarnado, pela imitação de seu exemplo, pelo desprezo do mundo, pela aceitação das cruzes, das mortificações, dos sofrimentos, pelo uso dos meios materiais como se deles não usássemos. Sobretudo, ensina-nos São Luiz Maria Grignion de Montfort, "o grande meio e o segredo mais maravilhoso para adquirir e conservar a Divina Sabedoria vem a ser uma terna e verdadeira devoção à Santíssima Virgem" ("O Amor da Sabedoria Eterna", n.° 203).

NÃO TÊM A DEUS POR PAI

Para que o Grande Pan de fato morra, será necessário que a humanidade aceite essa Mediação desejada por Deus entre o Céu e a terra. Pois "assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, assim também, na geração sobrenatural, todos os verdadeiros filhos de Deus e predestinados têm a Deus por Pai e a Maria por Mãe, e aquele que não tem a Maria por Mãe não tem a Deus por Pai. É por isto que os réprobos, tais como os hereges, cismáticos, etc., que odeiam ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Virgem, não têm a Deus por Pai, embora disto se gloriem, porque não têm a Maria Santíssima por Mãe: pois que, se a tivessem por Mãe, a amariam e honrariam como um bom e verdadeiro filho naturalmente ama e honra a mãe que lhe deu a vida" (S. Luiz M. Grignion de Montfort em "Tratado da Verd. Dev. à SSma. Virgem", n.° 30).

E a verdadeira ordem somente virá para a humanidade quando o mundo inteiro se consagrar ao Coração Imaculado daquela que sozinha esmagou todas as heresias.

Neste mês de maio, de modo particular dedicado à Mãe de Deus, repitamos com redobrado fervor a oração do Anjo diante dos pastorinhos de Fátima:

"Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".


CORRESPONDÊNCIA

De um leitor de Madrid (Espanha) recebemos um exemplar da "Revista Bíblica", de Buenos Aires, n° 78, de outubro-dezembro de 1955, que publica a seguinte nota em sua secção de "Bibliografia": "D. Antonio de Castro Mayer, Obispo de Campos (Brasil): Carta Pastoral sobre los Problemas del Apostolado Moderno, seguida de un "Catecismo". — Secretariado "Cristo Rey", Colección "Fe Integra", Madrid, Santa Clara 4, 2°; 1955, 116 págs.

Después de una clara exposición de los errores y peligros que amenazan por dentro y fuera la fe, en la Carta Pastoral, llena de celo apostólico, señala el Prelado en 80 breve frases contrapuestas, los errores que corroe las entrañas del mundo de hoy, cristiano o no, y las verdades que nos hacen libres; es un denso "Catecismo" de verdades oportunas que se oponen a los errores modernos sobre la liturgia, estructura de la Iglesia, métodos de apostolado y vida espiritual, sobre la moral nueva, sobre el racionalismo, evolucionismo y laicismo, sobre las relaciones entre la Iglesia y el Estado, sobre cuestiones políticas, económicas y sociales. La exposición catequística va seguida de directivas que señalan los principales errores. El original portugués, cuya segunda edición tenemos a la vista (142 págs. en octava), tuvo en Brasil dos ediciones en tres meses (Junio y Septiembre de 1953) y aventaja a la edición española que, por lo demás, recomendamos encarecidamente a nuestros lectores, por unas "Notas" y un "índice de materias" que se agregan a este "Syllabus" positivo y negativo que tiene un valor práctico excepcional y será un instrumento valioso de trabajo para la Acción Católica, la cura de almas y la ilustración de los fieles en general".

Do Revmo. Pe. Jorge Vinson, C.P.C.R., Casa de Exercicios Espirituais Nossa Senhora de Fatima, Rosario (Rep. Argentina): "Tengo sumo interés en recibir su Revista mensual CATOLICISMO, tan identificado su espíritu con el movimiento de cristianización o recristianización del mundo que intenta llevar a cabo esta humilde Congregación por medio de la predicación de los Ejercicios Espirituales intensos, según el método de San Ignacio, y manteniendo abierta lucha por la defensa de la doctrina de la Iglesia, bajo la luz de Roma, a fin de conseguir el Reinado Social de Cristo en el universo entero".

De Mme. Veuve Charles du Mont, Diretora do "Observateur de Geneve", Genebra (Suíça) : "Pendant plusieurs années vous m'avez envoyé votre très intéressant journal, qui semble etre en parfait accord avec notre organe "L'Observateur de Genève". Nous vous adressions régulièrement notre journal en échange.

Or, depuis un certain temps je ne reçois plus le CATOLICISMO et je me permets de vous en demander la raison, car j'aurais été très heureuse que cet échange se poursuive".

Estamos escrevendo a nosso valoroso confrade de Genebra, para informar-lhe que CATOLICISMO lhe tem sido enviado regularmente.

Do Sr. Arnaldo Tercio Mattos Santos, Rio de Janeiro (DF): "Sendo leitor assíduo desse magnífico jornal, honestamente católico apostólico, romano verdadeiro, venho, Sr. Redator, incomodá-lo pedindo a conclusão do artigo do Sr. Carlos Alberto de Sá Moreira, intitulado: "O Castelo, Imagem da Cristandade Medieval", do n° 57, de setembro de 1955. O senhor mesmo poderá verificar que o artigo está incompleto. Acho-me ansioso pela interpretação psicológica prometida no final do artigo acima referido.

As interpretações psicológicas fazem desse excelente mensário (que pena não ser hebdomadário!) uma publicação única nesse semi-deserto de publicações católicas (o que vem a ser bem diferente de publicações catolicantes...) que é infelizmente o Brasil".

R. A conclusão do artigo em questão foi publicada no ultimo n°, sob o titulo de "Torres, muralhas, masmorras na doçura da Civilização Cristã?". Ficou assim atendido o pedido de nosso leitor.


OS CATÓLICOS FRANCESES NO SÉCULO XIX

UMA GRANDE SURPRESA

Fernando Furquim de Almeida

No primeiro Concílio, realizado em Nicéia e convocado por Constantino para julgar o arianismo, que então perturbava a paz da Igreja no Oriente, o Imperador compareceu às sessões e auxiliou eficazmente os Padres Conciliares na execução das medidas que estes julgaram necessárias para jugular a heresia. Desde então os príncipes católicos tomaram parte em todos os Concílios, quer pessoalmente, quer por intermédio de embaixadores. Embora não votassem nem tivessem direito de intervir nos debates, exerciam uma influência considerável.

Essa a razão pela qual os governos dos países católicos não se alarmaram quando começaram a correr os primeiros rumores de que Pio IX ia convocar um Sínodo universal. Esperavam poder influir sobre as decisões conciliares, e talvez mesmo obter que a Igreja dificultasse a expansão do movimento ultramontano, cujo progresso incessante punha em perigo a obra dos revolucionários, que desde o início do século iam se apossando dos governos da Europa. Os próprios católicos liberais punham muito de suas esperanças no auxílio que os políticos lhes dariam, ao menos para evitar que suas idéias fossem definitivamente condenadas.

Pio IX, no entanto, na bula de indicação do Concílio, não convocou os governos católicos. À surpresa que esse fato provocou entre os que se sentiam atingidos por ele, seguiu-se uma geral indecisão sobre a atitude a tomar. Era claro que a Santa Sé pretendia resolver os problemas da Igreja sem sofrer pressão de nenhuma espécie, e que o Concílio seria exclusivamente eclesiástico. Ruía todo o castelo de cartas liberal.

Ninguém poderia negar a legitimidade e mesmo a necessidade dessa decisão do Soberano Pontífice. De fato, como conceber a presença, em um Concílio, de chefes de governo que timbravam em proclamar a utilidade da separação entre a Igreja e o Estado e a independência da organização política em relação aos ensinamentos da Religião Católica? Mas se a medida era na verdade consequência lógica da orientação que os governos adotavam, não era menos certo que, privados de agir diretamente no Concílio, tornava-se impossível a eles controlar o Catolicismo, como pretendiam. Ora, apesar de afetarem ignorar a influência da Igreja, eles sabiam que é ela a verdadeira formadora dos povos, e que as decisões do Concílio podiam ferir de morte a onda revolucionária.

Colocados diante de uma situação absolutamente inesperada, os políticos voltaram os olhos para a França e a Áustria, a fim de acompanhá-las na atitude que tomassem. Para a Áustria, por ser a mais atingida (de vez que seu soberano era o sucessor dos antigos imperadores do Sacro Império), e para a França, por manter um exército nos Estados Pontifícios (para impedir que o governo de Turim deles se apossasse), o que lhe facultava fazer pressão sobre o Papa.

Mas a Áustria estava enfraquecida demais para acrescentar um novo caso à sua política internacional, já tão cheia de complicações. Napoleão III, por seu lado, não ousava tomar uma medida violenta contra a Santa Sé, pois sabia que a opinião pública francesa certamente não o acompanharia. O movimento ultramontano progredia consideravelmente na França e aplaudia sem restrições a decisão do Santo Padre. Os católicos liberais, ante o inesperado da decisão pontifícia, estavam desnorteados e não tinham tido tempo de combinar uma orientação uniforme. Assim é que alguns se mantinham reservados e outros procuravam convencer Napoleão III da oportunidade ao menos de um protesto.

Diante disso, Doellinger, como sempre infatigável no combate em prol do liberalismo, tomou a dianteira e pediu ao Príncipe Clóvis de Hohenlohe, ministro da Baviera, que mostrasse aos governos europeus os riscos com que os ameaçava o futuro Concílio. Cedendo às instâncias do professor de Munich, o Príncipe de Hohenlohe enviou, a 9 de abril de 1869, um memorando a todas as potências, propondo a realização de uma conferência internacional para conjurar o perigo.

Essa tentativa de intimidação da Santa Sé falhou completamente. Na França, Emile Ollivier, futuro ministro de Napoleão III e já amigo íntimo do Imperador, conduziu a discussão no Parlamento a respeito da proposta bávara, e conseguiu evitar que os deputados menos prudentes obrigassem o governo a uma aventura sem glória e fadada ao insucesso. O Príncipe de La Tour d’Auvergne, Ministro das Relações Exteriores, pôde então declarar que o Imperador estava disposto a julgar os atos do Concílio num espírito largo e liberal, e não reivindicava nenhuma participação nos trabalhos. A mesma atitude tomou o novo astro da política européia, Bismarck. Preparando a guerra contra a França, e por isso mesmo desejoso de não desgostar os ultramontanos alemães, afirmava que uma intervenção das potências nos negócios da Igreja Católica era medida que pertencia a um estado de coisas para sempre desaparecido.

Os outros países acompanharam a França e a Rússia. Para salvar as aparências, todos eles terminavam suas declarações ameaçando a Santa Sé com represálias, se o Concílio deliberasse sobre questões capazes de prejudicar o poder temporal. Queriam desse modo convencer a opinião pública de que se conservavam numa "expectativa ameaçadora", mas ninguém se iludiu. Ficou patente que Roma ganhava a partida, e que o Concílio se realizaria livremente e sem nenhuma influência externa.

Impedidos de ter uma participação direta no Concílio, os governos quiseram influir indiretamente, apoiando os bispos liberais. Pouco antes da inauguração dos trabalhos, Napoleão III modificou seu ministério. Um dos novos ministros foi o Conde Daru, católico liberal, cuja política se revela bem claramente na carta que escreveu a Montalembert depois de pronunciar um discurso no Senado: "Pensei em vós durante todo o tempo que lá permaneci. Aceitando a interpelação, tive por fim acorrer em socorro daqueles dos nossos bispos que sustentam nossa causa em Roma. Falei para ser ouvido em Roma, muito mais do que no Senado".

Felizmente, os horizontes políticos se anuviaram com a tensão que levaria a França e a Prússia à guerra. Ao se abrir o Concílio do Vaticano, nem sequer o apoio aos bispos liberais pôde ser eficaz, e Pio IX conseguiu que as sessões não fossem perturbadas pela intromissão manifesta de agentes externos.


NOVA ET VETERA

Como nasce uma democracia popular

J. de Azeredo Santos

Segundo opinião muito difundida nos dias que correm, o problema comunista se reduziria a um equívoco: as massas proletárias, vítimas das injustiças capitalistas, procurariam na ideologia marxista uma solução extrema para os seus males. Daí uma consequência também muito aceita mesmo em certos ambientes católicos: o comunismo não deve ser combatido por meios violentos, mas unicamente através de uma reforma da estrutura social e econômica que tiraria a razão de ser da subvenção planejada pelos adeptos do credo vermelho.

OS QUE MATAM A ALMA

Quão radicalmente errada seja essa apreciação do fenômeno comunista, manifesta-o a evidência dos fatos relativos à expansão soviética na Europa e na Ásia. Entre os numerosos documentarias sobre o assunto, ao alcance daqueles que não querem ser cegos voluntários, merece destaque o livro claro e corajoso "L'Ame Roumaine Ecartelée", de autoria do Revmo. Pe. Pierre Gherman, da Missão Católica Romena de Paris, com prefacio de S. Excia. Mons. Jean Rupp, Bispo Auxiliar do Emmo. Cardeal Feltin (Les Editions du Cèdre, Paris, 1955). É uma narração documentada, serena, inteligente, que aparece num momento oportuno para lançar luz neste assunto de tanto interesse para a civilização cristã. Desejamos, pois, condensar e analisar para nossos leitores esta obra digna de nota.

Já dizia Nosso Senhor que mais devemos temer aqueles que matam a alma, do que os que destroem apenas o corpo. Conforme o título desse documentário, a ação comunista na Romênia se desenvolveu no sentido de esquartejar a alma religiosa daquela infeliz nação.

E não são pobres operários equivocados que ali dirigem a luta contra a Igreja Católica. Registremos de passagem que o Partido Comunista romeno, quando da invasão soviética, era constituído por uma minoria inexpressiva. Para implantar na Romênia a "democracia popular", os sectários infectados por esse vírus comunista que "ameaça a lei natural bem como os valores essenciais comunicados à humanidade pelo Cristianismo e até a existência desse mesmo Cristianismo", começaram por promulgar uma lei básica em que se proclamava a liberdade de cultos. Era preciso não provocar a reação do povo logo de início com perseguições religiosas. As medidas nesse sentido vieram lentamente, começando pela prática de certos atos estranhos, como por exemplo a nomeação de professores não católicos para escolas pertencentes à Igreja. Mais ainda: foi tornado obrigatório o uso nos colégios católicos de manuais escolares redigidos segundo os dogmas marxistas. Em seguida, valendo-se de elementos da igreja cismática, tais coma o metropolita Nicola Balan, o governo títere promoveu a dissolução da Igreja Católica romena de rito bizantino e sua anexação à citada igreja cismática colaboracionista. Isto após ter fracassado a tentativa de levar a Hierarquia greco-católica a fazer o jogo comunista. Veio depois a imposição forçada do ensino leigo, com o fechamento das escolas católicas. Chegou por fim a vez da Igreja Católica de rito latino, com a supressão das Ordens Religiosas, o confisco dos bens eclesiásticos e o afastamento dos Bispos de suas Dioceses.

A perseguição, de modo geral, começava pela tática da persuasão, do suborno, do oferecimento de regalias em troca do apoio à bolchevização do país. Logo após vinham as ameaças e por último as violências de toda ordem.

QUE FAZER DIANTE DO MAL?

O resultado de toda essa tragédia pode ser apreciado através de alguns dados numéricos. Os doze Arcebispos e Bispos da Romênia foram presos, julgados e condenados. Três morreram na prisão, os outros foram deportados. De 3.331 Sacerdotes existentes em 1945, apenas contava a Igreja 1.405 em 1953. A diferença se explica pelas mortes, pelas prisões, pelos exílios e, infelizmente, também pelas apostasias. Das 3.795 igrejas e capelas que havia em 1945, somente 700 permaneciam em 1953 abertas ao culto católico. As outras foram confiscadas para uso profano ou passaram para as mãos dos cismáticos colaboracionistas. De 160 casas religiosas, apenas restam 25. Das 224 escolas católicas masculinas e das 152 femininas, com um total de 51.000 alunos, nenhuma continua em funcionamento, todas foram suprimidas. O mesmo aconteceu com 160 obras de caridade e com 30 jornais e outros periódicos católicos.

Ora, diante da inaudita violência dessa perseguição, que dizer da passividade gandhica pregada pelo Sr. Maritain e pelos seus sequazes?

É bem verdade que, à vista da apostasia dos Estados modernos, não se pode esperar uma cruzada para libertar esses nossos irmãos escravizados por detrás da cortina de ferro. Mesmo porque, conforme documenta o Pe. Pierre Gherman, foram as potências ocidentais que entregaram os países balcânicos à Rússia soviética. Mas se tal cruzada é inviável presentemente por razões estranhas à vontade dos verdadeiros católicos, nossa atitude não deve ser de meros espectadores diante da desgraça de nossos irmãos. Conforme diz Mons. Jean Rupp em seu incisivo prefacio, "os carrascos do Cristianismo atribuem imensa importância à propaganda. É sobre os espíritos que desejam agir, ao mesmo tempo que acumulam os recursos-militares. Há nisso, aliás, uma curiosa homenagem prestada às forças espirituais pelos materialistas mais doutrinários que conhece a história da filosofia. É paradoxal que os materialistas se apoiem sobre o espírito, enquanto os cristãos confessam com demasiada facilidade sua incapacidade de empregar as mesmas armas" (p. 7).

UMA FORÇA QUE SE IGNORA

Se o mundo ocidental estivesse verdadeiramente persuadido da trágica realidade dessa perseguição comunista, e se acreditasse na força de seu protesto, acrescenta o ilustre Bispo Auxiliar de Paris, o adversário se abalaria, cederia terreno (mesmo porque, conforme sabemos, a política comunista vive em grande parte de "bluffs"). Conhecem, pelo contrário, os mentores do Kremlin "o poder de nossa indiferença e o paradoxo de muitas cumplicidades inesperadas. Eis porque sua ação se desenvolve segundo um plano de aniquilamento cuidadosamente preparado" (prefacio cit., p. 8).

Há varias modos de ser Caim. Não é só quem trucida o irmão pelas próprias mãos que se torna responsável por sua morte. E quando se trata, não da destruição do corpo, mas da perdição da alma, aí é que cresce o horror de cumplicidades como essa com a opressão comunista. Não nos tornemos cúmplices desse crime pela nossa inação. Brademos contra esses salteadores sacrílegos, denunciemos as hipocrisias que os acobertam, façamos tudo que estiver ao nosso alcance para que se ponha um paradeiro à expansão comunista sobre o mundo e para que se apresse o dia do resgate dos que hoje sofrem essa servidão totalitária.

É esta a importante conclusão a que se chega com a leitura do livro do Revmo. Pe. Pierre Gherman, que consideramos uma contribuição importante para a defesa da Igreja na luta que contra Ela trava o comunismo em todo o orbe.