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A MORTIFICAÇÃO

SEM A GRAÇA TORNA-SE INCOMPREENSÍVEL A UTILIDADE DO SOFRIMENTO

(continuação)

realidade o bem-estar de que gozamos nos conduz diretamente ao materialismo. Eis o perigo! Não o reconhecer importaria para nós em adormecer em uma falsa segurança, e assim correr ao abismo".

2) - "Entre nós ninguém ousaria negar abertamente Deus, e afirmar como realidade única a existência da matéria". Mas "a crença em um Deus remunerador, juiz dos vivos e dos mortos, continua a ser o alicerce de nossa vida, a mola propulsora de nossa atividade?" O temor de Deus "inspira ainda nossa vida pública e privada?" O Episcopado, com manifesto pesar, o põe em dúvida.

3) - "O pensamento máximo do homem moderno é o de se estabelecer tão confortavelmente quanto possível, em sua morada terrena; ele a desejaria abundantemente provida, não só do necessário, mas também do supérfluo, de tudo quanto faz o encanto e o prazer da vida".

4) - É de se "condenar vigorosamente esta tendência moderna, nitidamente materialista, que leva o homem a procurar os bens terrenos com exclusão dos bens eternos. Esta tendência está na raiz da desordem profunda de que padece nossa geração sem norte e infeliz".

5) - O Episcopado, com estas palavras, "pensa especialmente na corrida em pós do dinheiro, que se transformou para muitos no fim supremo da vida, o deus a que tudo se sacrifica e que, por si só, justifica tudo".

6) - Os Bispos se referem igualmente "à sede de prazeres e deleites, que cega literalmente tantos infelizes", "a tantas transgressões dos Mandamentos de Deus", tão numerosas "que se seria por vezes tentado a crer que, a despeito de aparências brilhantes, a vida cristã estará em breve reduzida a mera fachada".

Infelizmente, repetimos, não podemos reproduzir todo o magnífico documento, e nem sequer a parte esplêndida em que indica os Exercícios Espirituais, e os outros meios para resolver o problema.

Detenhamo-nos no quadro que o Episcopado Suíço pinta. Uma crise moral gerada precisamente de uma prosperidade da qual os homens abusaram, voltando seus olhos para a terra, e ficando, em consequência, com um terrível vazio na alma. É bem o caso sueco... e está sendo cada vez mais o caso brasileiro.

Pois este nosso pobre país, cheio de misérias, mazelas e crises, padece espiritualmente do mal dos prósperos! Não somos ricos, mas nosso perigo moral é exatamente o da Suíça e da Suécia. Pusemos - feitas as exceções raras, honrosas, etc. - o dinheiro como nosso deus. Só nos preocupamos com prazeres e deleites. Vivemos como se a terra fosse nossa única morada. E por isto estamos prontos para o "rock and roll" e todas as desordens psíquicas ou morais de que ele é símbolo. Ou, por outra, o "rock and roll" é para nós um pouco atrasado. Por isto, nem sequer encontrou ele no Brasil a explosão de entusiasmo de mil instintos perversos postos em estado de desabafo, que suscitou em outros países. É que de há muito foi ele precedido pelo frevo, pelo candomblé, pela macumba.

* * *

O que tem isto que ver com a Semana Santa? Tudo. Vamos ao fato concreto. O homem contemporâneo se encontra diante do quadro de uma civilização material que o deslumbra. Os arranha-céus, as grandes avenidas asfaltadas, os anúncios luminosos cintilantes, as vitrinas, os grandes cinemas, as salas de baile, as boites, os automóveis, os aviões, tudo o fascina, o atrai, e lota inteiramente suas apetências.

É certo que, dentro de todo este esplendor, há misérias sem conta, fervem desesperos, espumam revoltas. Mas tudo isto fica na linha da chamada marginalidade. São situações excepcionais, numerosas é certo, mas que de nenhum modo representam a atitude mental da maioria. Mal nutridos, mal dormidos, mal agasalhados, imperfeitamente medicados, os habitantes das grandes cidades insistem em ficar nelas, para viver no esplendor quotidiano de sua existência brilhante. A prova disto é o desgosto com que aceitam qualquer transferência para o interior, onde entretanto o ritmo de vida é tão mais tranquilo e saudável. De outro lado, os do interior em geral deploram sua situação, e invejam os das megalópolis. E os moradores do campo migram em quantidade para a cidade.

Em uma palavra, o esplendor material de nossa civilização desperta no homem moderno um tal desejo de gozar a vida, que qualquer esforço para o desapegar desta atitude parece vão.

Ora, trata-se precisamente de o desapegar. E isto, não só porque esse tipo de felicidade terrena para a grande maioria dos povos é inatingível, mas porque, se realizado, gera bárbaros. A dor é necessária no panorama mental do homem, e isto sob todos os aspectos. Dor moral, dor física, insegurança, pobreza, morte, tudo enfim que faça o homem gemer ou chorar. Não é que achemos que a vida é só dor. Mas sem ela a vida não é vida. É vulgaridade, é egoísmo, é baixeza de alma, é infâmia.

Não se trata, pois, na organização de uma sociedade, exclusivamente de criar condições de existência benignas e suportáveis. Trata-se, principalmente, de fazer ver aos homens que apesar de tudo a dor existirá. Que ela tem em nossa vida um papel central. E que nossa vida não vale pelo muito que tenhamos gozado, mas pelo muito que tenhamos sofrido. Pelo alto teor moral inerente ao modo pelo qual tenhamos sofrido.

* * *

Tudo isto posto, se de uma parte temos a persuasão de ter dito coisas de maior importância, de outro lado não podemos fugir à sensação de que tudo é palavreado oco, uma coleção de lugares comuns mais do que sabidos, mas que não arrastam, não convencem, não servem para coisa alguma.

E é bem exato. Nunca a humanidade, por si mesma, abraçará estas verdades. E a de nossa época menos do que outra qualquer.

Como sem esta verdade a nossa geração se perde, e se perde mesmo no plano temporal, não se vê para ela remédio nem salvação. O círculo de ferro está fechado. A civilização gera o desejo do gozo, e este, satisfazendo-se, produz a barbárie. Logo, ou o homem fica na barbárie, ou sai dela. Se sai, é para civilizar-se. E se se civiliza, volta à barbárie. E que barbárie! A do "rock and roll" e da bomba de hidrogênio!

Como fugir disto?

* * *

Senhor Jesus, todas estas considerações me levam aos pés de vossa Cruz. Homem das dores, em vossa Alma e em vosso Corpo sofrestes tudo quanto é dado a um homem sofrer.

Contemplo vosso cadáver descido do patíbulo, vossa humanidade como que aniquilada, e vosso Sangue infinitamente precioso derramado ao longo da Paixão.

Enquanto o mundo for mundo, representareis a dor no horizonte de nossas almas. A dor, com tudo quanto ela tem de nobre, de forte, de grave, de doce e de sublime. A dor elevada do simples âmbito das considerações filosóficas para o firmamento infinito da Fé. A dor compreendida em sua significação teológica, como expiação necessária, e como meio indispensável de santificação.

Pelo mérito infinito de vosso preciosíssimo Sangue, dai à nossa inteligência a clareza necessária para compreender o papel da dor, e à nossa vontade a força necessária para amá-la com todas as veras.

É só pela compreensão do papel da dor e do mistério da Cruz que a humanidade pode salvar-se da crise tremenda em que está afundando, e das penas eternas que aguardam os que até o último momento permaneceram fechados ao vosso convite para trilharmos convosco a via dolorosa.

Maria Santíssima, Mãe das Dores, multiplicai sobre a terra as almas que amam a Cruz.

É a graça de valor incalculável, que Vos pedimos, no crepúsculo de nossa civilização, nesta Semana Santa.


"Desejamos ardentemente o crescimento das Congregações Marianas"

No dia 3 de novembro próximo findo, o Santo Padre Pio XII dignou-se enviar ao Revmo. Pe. Erwin A. Juraschek, Presidente da Conferência Nacional dos Diretores Diocesanos das CC.MM., dos EE.UU., uma carta referente aos sodalícios de Nossa Senhora. Traduzimo-la diretamente do original inglês, publicado pela "Acies Ordinata" em seu no de novembro-dezembro de 1956.

Nesse documento o Pontífice mariano manifesta mais uma vez todo o seu amor às Congregações, reafirmando a força da Constituição Apostólica "Bis Saeculari Die", o caráter de Ação Católica que esses sodalícios têm, e exortando a uma fraternal cooperação entre todas as associações que se dedicam ao apostolado.

É o seguinte o texto da carta:

"A Nosso amado filho Erwin A. Juraschek,

Presidente da Conferência Nacional dos Diretores Diocesanos das Congregações Marianas.

É, com grande satisfação que dirigimos uma saudação especial aos zelosos Diretores e dignos membros das Congregações Marianas dos Estados Unidos da America. Como escrevemos certa ocasião, "todos os que conhecem Nosso pensamento sobre o apostolado moderno também sabem como Nos são, caras as Congregações Marianas, e quanto desejamos seu continuo progresso espiritual" (A.A.S., XLV, p. 494).

Alegra-Nos saber que foi instalada nos Estados Unidos uma Conferência Nacional dos Diretores Diocesanos das Congregações Marianas, e que entre seus membros já se contam Padres Diretores de muitas Arquidioceses e Dioceses. Louvamos o trabalho da Conferencia e pedimos a Deus Onipotente e à sua Mãe Santíssima que conduzam a ela todos aqueles que sinceramente se preocupam com o crescimento das Congregações, tão ardentemente desejado por Nosso coração.

Essa Conferencia deve procurar sempre aplicar seus melhores esforços para fortalecer as Congregações Marianas nas várias Dioceses, a fim de que elas possam em tudo conformar-se mais plenamente com o pensamento da Igreja. Alegra-Nos saber que muitas Congregações, sob a direção e o encorajamento do Episcopado e dos Padres Diretores, já deram uma atenção mais solicita a uma maior seleção de seus membros. Pois nisso reside — como declaramos por ocasião do Congresso da Federação Mundial das Congregações Marianas, realizado em Roma em 1954 — o "ponto de partida para uma renovação do espírito", e aquilo que deve ser sempre considerado em primeiro lugar na renovação das associações religiosas. O espírito e as finalidades das Congregações foram por Nós expostos mais largamente na Constituição Apostólica "Bis Saeculari", documento este que, desde então, deve governar todas as Congregações legítimas e seus membros (cf. A.A.S., XL, pp. 393-402).

É muito agradável a Nosso coração saber que a Conferencia, tendo presentes Nossas palavras de aprovação da Federação Mundial das Congregações, e Nosso desejo de que se fundem Federações em todos os países, propôs a organização de uma Federação Nacional nos Estados Unidos. Tal Federação Nacional deve realmente fortalecer o movimento das Congregações em seu conjunto, pois é uma força constante e dinâmica, capaz de fomentar Congregações genuínas em todas as Dioceses. Do mesmo, modo que a Federação Mundial auxilia a constituição de Federações Nacionais onde estas não existem, assim também a Federação Nacional deve ajudar a constituição de Federações Diocesanas das Congregações Marianas, onde ainda não existem. Entretanto, isso só se pode realizar com a plena aprovação do Ordinário da Diocese.

Incumbirá à vossa Conferencia de Diretores e à proposta Federação das Congregações Marianas, fazer com que Nossos veneráveis Irmãos no Episcopado, vejam, como Nós, a força apostólica das Congregações que se desenvolvem retamente conforme o pensamento da Igreja. Mas é da maior importância, e um dos principais objetivos de qualquer Federação, que sempre procureis a mutua colaboração com outros organismos apostólicos, num espírito de caridade cristã. Desse modo, tereis assegurado os melhores resultados possíveis para o Reino de Deus.

No próximo ano, em outubro, quando se reunir novamente em Roma o Congresso Mundial do Apostolado Leigo, é Nossa esperança e desejo que se encontre entre os delegados dos Estados Unidos uma representação de congregados leigos exemplares. Desejamos realmente que os congregados marianos estejam, por toda parte, em pleno contacto com as outras formas de Ação Católica. O tema do Congresso do Apostolado Leigo, "O Laicato na Crise do Mundo Moderno", é tal, que conclama os congregados que se dedicam ao trabalho de extensão, do Reino de Deus, não menos do que outros que se dedicam ao serviço da Igreja. Pois os congregados, em vista de sua formação singular, devem estar prontos para o dom de si mesmos, de todo o coração, segundo as circunstâncias dos diferentes tempos, e segundo se apresentam as diversas necessidades nas várias partes do mundo.

A fim de que os objetivos da Conferência Nacional dos Diretores Diocesanos das Congregações Marianas, especialmente o de fundar uma Federação Nacional das Congregações nos Estados Unidos, sejam levados a feliz termo, e a fim de que a Santíssima Mãe de Deus, à qual todos os Diretores e congregados estão totalmente consagrados, derrame sobre vós com abundância as graças merecidas por seu Divino Filho, concedemos-vos, a vós, a todos os Diretores de Congregações Marianas, e a todos os seus membros e candidatos, Nossa Benção Apostólica.

Dada no Vaticano, aos 3 de novembro de 1956.

Pius PP. XII".


MOMENTO entre todos memorável, nos fastos contemporâneos da Igreja. Na Capela Sistina, o Cardeal Eugenio Pacelli acaba de ser elevado ao trono pontifício. Os baldaquins dos Cardeais do Conclave foram descidos. Só o do eleito continua erguido. Começa a cerimônia dita da "obediência" do Sacro Colégio. Nas vésperas de um conflito que dilacerará a humanidade, Purpurados de nações inimigas aceitam Pacificamente o novo Pontífice, diante do qual se prosternam. É que as sapientíssimas disposições de São Pio X sobre a eleição dos Papas produziram seu fruto. Nenhuma nação ousa vetar qualquer candidato. Desapareceu assim o último vestígio do regalismo antigo. Esta situação admirável foi o produto de uma longa reação da Igreja contra as ingerências do Poder temporal, na origem da qual está a figura indômita e santa do grande lutador de Jesus Cristo, o monge Hildebrando, o Papa São Gregório VII.

SÃO GREGÓRIO VII

Prudência e força na luta pela liberdade da Igreja

Celso da Costa Carvalho Vidigal

Um autor moderno, fazendo a crítica de um volume de história da Igreja recentemente publicado, dizia: "Sonho com um livro composto sobre um plano inteiramente diferente, e que não incitaria nem os autores nem os leitores a confundir a política de um Barbarroxa ou de Alexandre III com a história de uma Religião geradora de tantos pensamentos, sentimentos, obras de arte e construções sociais. Religião que estava no coração de nossa Idade Média e a animou com seu calor e sua irradiação" (Lucien Febvre, in "Annales — Économies, Sociétés, Civilisations", ano 10 p. 580). Está certo esse autor ao afirmar o papel primordial da Religião na elaboração da cultura medieval; engana-se, contudo, se pretende apresentar a luta entre o Papado e o Poder Temporal como um conflito estéril, travado por meras razões políticas. A esse respeito é importante frisar aqui que o movimento empreendido pelos Papas a partir de meados do século XI, no sentido de libertar a Igreja da ingerência perniciosa dos Imperadores e de quaisquer outros poderes laicos, assegurando à Esposa de Cristo a supremacia sobre os senhores temporais, deve ser considerado como um dos passos mais importantes na obra de impregnação religiosa da vida medieval. O principal responsável por esse movimento foi o monge Hildebrando, o qual, elevado ao trono pontifício a 22 de abril de 1073, passou à história com o nome de São Gregório VII.

O Padre Marie-Théodore Ratisbonne, fundador das duas Congregações de Nossa Senhora de Sion, escreveu a seu respeito: "São Gregório VII proclamou à face do mundo o princípio da supremacia espiritual, e declarou que o Papado, investido do poder do Alto, e representando o próprio Deus sobre a terra, está necessariamente acima dos poderes políticos. Penetrado dessa verdade, o santo Pontífice tirou corajosamente as consequências dela, e se esforçou por realizá-las". E mais adiante: "É preciso dizê-lo : apesar do que ela parecia ter de intempestivo em sua aplicação imediata ao século, apesar das contradições e da efervescência que ela excitou em toda parte, era bom que aquela alta doutrina fosse promulgada. Era chegado o momento em que o princípio da centralização universal, idéia fundamental do Cristianismo, devia ser implantado no mundo; e embora deplorando as sangrentas disputas que se ligaram a ele (e que verdade entrou no mundo sem efusão de sangue?), não se poderia desconhecer o impulso vigoroso que aquele princípio deu à civilização cristã" ("Histoire de Saint Bernard et de son siècle", Paris, Libr. Ch. Poussielgue, 1903).

Vejamos em que consistiu a ação de São Gregório VII e de que maneira ele solucionou os graves problemas que então afligiam a Igreja.

A BARCA DE PEDRO PARECIA VOGAR AO SABOR DAS ONDAS

HAVIA dois séculos que — com injúria aos direitos de Deus — a Sé Apostólica estava ora nas mãos dos Imperadores Alemães, ora sob a tutela dos nobres romanos: estes e aqueles dominavam sucessivamente a eleição dos Sumos Pontífices, os quais, atados aos seus eleitores por relações familiares ou políticas, nem sempre tinham fortaleza de espírito suficiente para fazer prevalecer os direitos da Santa Igreja. Como consequência disso, a barca de Pedro parecia vogar ao sabor das ondas; mas a Divina Providencia velava por ela.

Assim é que, já em princípios do século X, foi fundada a Ordem de Cluny, que devia desenvolver uma grande ação de reforma, inicialmente no interior das almas, e depois no corpo social da Igreja. Este nos parece o dado mais importante da restauração gregoriana: nasceu de um movimento puramente contemplativo e que, por isso mesmo, começava por zelar pela vida interior.

Após mais de um século de ação da que então se tornara uma grande corporação monástica, com ramificações por todos os países civilizados, começou propriamente o que a história denominou reforma gregoriana. Em 1045 foi eleito Papa, em circunstâncias muito discutidas e pouco claras, um Arcipreste da Igreja de São João de Latrão, Graciano, que adotou o nome de Gregório VI. Seu antecessor, Bento IX, renunciara espontaneamente à tiara. Sustentou-se que ele a vendera a Graciano: não é certo que isso tenha ocorrido, e o que se pode afirmar é que Gregório VI era de orientação francamente reformista.

Já antes da ascensão de Graciano, a nobreza romana havia escolhido seu próprio Pontífice na pessoa de João, Bispo de Sabino, que se fez chamar Silvestre III. Bento IX, por sua vez, decidiu recuperar a coroa a que havia voluntariamente renunciado, e então viram-se em Roma três pessoas disputando o trono de São Pedro. Percebendo que estavam em jogo os interesses germânicos, o jovem, Imperador Henrique III empreendeu uma expedição à Itália, convocou um Concilio em Sutri, e ali, em dezembro de 1046, os três pretendentes foram declarados sem direitos. Pouco depois, em Roma, o Bispo de Bamberg era designado pelo próprio Henrique III para exercer a suprema direção da Igreja: assim surgiu o Papa Clemente II.

Por oposta que fosse a atitude imperial à obra de reforma esboçada com a ascensão frustrada de Gregório VI, pode-se dizer que o pontificado de Clemente II, bem como o de seus três sucessores imediatos, também designados pelo Príncipe alemão, constituíram como que o prelúdio da ação gregoriana. Dentre esses Papas se destacou São Leão IX, o qual, indicado pelo Imperador, só se considerou Vigário de Crista depois de aclamado pelo Clero e pelo povo de Roma, segundo o antigo costume da Igreja. E foi nesse pontificado que um outro Santo, conhecido então como o monge Hildebrando, começou a assumir papel de importância na direção dos negócios eclesiásticos.

A 28 de julho de 1057 morre Vitor II, último dessa serie de Papas escolhidos por Henrique III. Cinco dias depois, o Clero e o povo de Roma elegem Sumo Pontífice a Estevão IX, até então Frederico de Lorena, Abade de Monte Cassino. Este envia Hildebrando à Alemanha a fim de notificar à Imperatriz-regente, Inês, sua elevação à Sé Apostólica. Estevão IX morreu sem rever seu embaixador, mas não sem reunir os Cardeais e os "cives romani" e adverti-los, sob pena de excomunhão, de que não deveriam proceder à escolha de seu sucessor antes do regresso de Hildebrando.

"SEJA CONSIDERADO, NÃO PAPA APOSTÓLICO, MAS APÓSTATA"

Voltando a Roma, o santo monge encontra-a dominada pelos partidários de um antipapa suscitado pelos Condes de Tusculo e de Galeria, Bento X. Indicando para o trono pontifício a Geraldo, Bispo de Florença (provavelmente de acordo com a Imperatriz-regente ), Hildebrando, com o auxilio do Duque de Lorena e Marquês da Toscana, Godofredo, o Barbudo, logrou expulsar da Cidade Eterna os usurpadores. O novo Pontífice adotou o nome de Nicolau II — fato que não é de somenos importância, pois São Nicolau I se destacara na luta contra o poder civil, dois séculos antes.

Em abril de 1059, no Concílio

(continua)