A EXPLICAÇÃO DE UMA POPULARIDADE IMENSA
Plinio Corrêa de Oliveira ( Atribuído )
Em 1917, quando ainda troavam os canhões da primeira guerra mundial, dois acontecimentos se processavam, a que o mundo não deu atenção. Em Portugal três pastorinhos diziam ter visto e ouvido Nossa Senhora. Em Roma, era sagrado um Bispo. No próprio dia em que o Bispo era sagrado, dava-se a primeira das seis aparições de Nossa Senhora. Mas o troar dos canhões impediu que o mundo ouvisse a voz da Virgem, e os cânticos de júbilo da sagração. Quarenta anos depois, tudo quanto era empolgante em 1917 feneceu e morreu. Os canhões mortíferos cessaram de troar e foram recolhidos aos museus, ou fundidos como ferro velho. As glórias dos generais e dos soldados foram superadas pelos feitos de guerra maior e mais recente. O vulto dos exércitos e das batalhas, o poder mortífero das armas, a extensão do conflito, tudo enfim nos parece pequeno diante da guerra em perspectiva.
A voz de Fátima, entretanto, não ficou superada. Pelo contrário, no mundo inteiro ela repercute com uma sonoridade crescente. E o Bispo sagrado a 13 de maio de 1917 também não desapareceu no tumulto dos fatos, das crises, das invenções e das batalhas. Ele está no próprio âmago dos acontecimentos contemporâneos.
Assim são, sob o governo da Providência, os imprevistos, ora terríveis, ora admiráveis, da história.
Na encruzilhada histórica verdadeiramente dramática em que nos achamos, a mais grave de quantas a Igreja tenha encontrado em seu longo percurso, há um ponto para o qual se volta todo o amor e todo o ódio que há sobre a terra. Um ponto que está no centro de todos os problemas, no fundo de todas as lutas, na base de todas as esperanças. É o Vaticano.
Todas as questões que afligem nosso século são de ordem moral. Ora, por sua própria essência as questões morais são religiosas. E, assim, a Religião está no âmago de tudo. Quem diz Religião diz Igreja, e quem diz Igreja diz Roma. Pois Roma é o âmago da Igreja. E assim, bem no ponto central de todos os problemas de nossos dias, está o Papa Pio XII. É só sobre sua fronte que pode pousar, como em seu lugar perfeitamente próprio, a coroa de espinhos da "solicitude de todas as Igrejas" ( 2 Cor. 11, 28 ), nesta hora tenebrosa. Foi feita para pesar sobre seus ombros a cruz de todas as negações, de todas as traições, de todas as torpezas e imoralidades desta hora crepuscular. É a seus olhos que compete encontrar, nas trevas que se fazem cada vez mais espessas, o caminho para o rebanho inumerável, que lobos vorazes atacam de todos os lados. Pela própria natureza das coisas, o Sumo Pontificado é hoje, mais do que nunca, uma posição de angústia, de agonia e de luta estrênua.
E é porque o mundo inteiro sente esta dura verdade, que todos os corações se voltam - hoje também mais do que nunca - para o Papa, a quem amam com uma ternura pessoal, como que lhe adivinhando, cada sofrimento, e dele participando com toda a intensidade.
Na imensa popularidade de Pio XII, há um sentido de participação de dores e de consolação, que é um de seus lados mais nobres e delicados.
Entretanto, há neste amor dos povos ao Pontífice imortal que os governa, uma causa peculiar. Eles se enternecem considerando que diante de tantas provações Sua Santidade não toma - e nem de longe - a atitude de um Pastor lacrimejante e fraco. Nas audiências às imensas multidões, vindas do mundo inteiro para o contemplar, para ouvir o som de sua voz e se rejubilar no calor de sua presença, todos encontram de porte ereto, de olhar vivo e animado de sorriso
(continua)