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ESCREVEM OS LEITORES

Permitiu-nos o Exmo. Revmo. Sr. Bispo Diocesano publicar o seguinte cartão, que recebeu do Exmo. Sr. Marcello Caetano, Ministro da Presidência, Lisboa (Portugal): "Com respeitosos cumprimentos, agradece a oferta da Carta Pastoral "sobre problemas do apostolado moderno" e a gentileza da dedicatória que muito o sensibilizaram, tendo sido um verdadeiro prazer a leitura das páginas em que o vigor e a elegância da forma tão bem se casam com a pureza da doutrina".

Exmo. Revmo. Mons. Sales Brasil, Salvador (Est. Bahia), em dedicatória de exemplar de seu livro "A literatura infantil de Monteiro Lobato, ou Comunismo para crianças": "À brilhante redação de CATOLICISMO, o jornal que, desde o nome, não se envergonha da gloria de ser católico, sincera homenagem".

Revmo. Pe. Francisco Navarro, C.P.C.R., Superior dos RR. PP. Cooperadores Paroquiais de Cristo-Rei, Salto (Argentina): "Vamos recibiendo CATOLICISMO y mis compañeros lo aprecian cada vez más y piden al Señor se abra camino en esa grande nación y vaia cumpliendo la misión que el Señor ha confiado a los dirigentes de CATOLICISMO".

Revmo. Pe. Chauvet, Santuário de Nossa Senhora das Vitórias, Paris (França): "Votre CATOLICISMO est remarquable. Gardez toujours la bonne doctrine, la seule qui conduit au salut. Vous faites de l'excellent travail. Grande sera votre recompense. C'est très difficile en ce moment de rester dans la voie droite et sûre avec toutes les doctrines qui circulent et qui conduisent les ames sur de fausses routes. Heureusement que nous avons Rome et un Pape admirable qui n'hésite pas à montrer à tous la route qu'il faut prendre et ne cesse de donner la verité révélée. Je vous félicite de le suivre et de le faire suivre".

Revdo. Irmão Leopoldo, Colegio La Salle, Arguello, Cordoba (Argentina): "...soy un humilde Hermano de Las Escuelas Cristianas que ejerce su misión dando clase en un Colegio de La Salle en Argentina. Como español y, más aún, como navarro, soy un ferviente partidario de lo tradicional, de lo integral en la fe y en las costumbres. No me gustan las componendas tan de moda en nuestros tiempos con los enemigos de en frente. Hoy día la confusión es enorme y lamento que muchos católicos, Sacerdotes beneméritos incluso, y revistas de prestigio en el mundo católico, siembren la confusión y tiendan la mano al enemigo, no para atraerlo a nuestro campo, sino más bien para establecer un término medio de catolicismo con sordina, donde no haya ni vencedores ni vencidos. Como si los que poseemos la verdad debiéramos tomar una postura de implorantes de perdón ante el error, para que nos aguanten en esta sociedad desquiciada.

Por eso su CATOLICISMO aporta cada mes entusiasmo y fervores a mi corazón. .... Lo leo con fruición y lo hago leer a cohermanos en religión y a profesores seglares que nos ayudan en nuestro apostolado.

...seguir leyendo CATOLICISMO, será para mí un verdadero placer y de mucho provecho para mi alma".

Revdo. Clgo. Frei Pedro Maria de Coluna, O.F.M. Cap., Belo Horizonte (Est. Minas Gerais): "Aprecio muito a leitura do jornal CATOLICISMO, obra colossal, causadora de grande bem à juventude... magnífico jornal..."

Revda. Madre Maria Josephina, Diretora da Escola Normal Sagrado Coração de Jesus, Itajubá (Est. Minas Gerais): "Rogamos encarecidamente, pela segunda vez, o obsequio de não nos enviar o jornal. E a razão é que o julgamos tendencioso. Nunca soubemos que o Santo Padre o Papa tivesse alguma coisa contra o filosofo católico Jacques Maritain. No dia em que a Santa Igreja declarar a sua não ortodoxia, nós nos submeteremos filialmente.

Eis a nossa razão. Desejamos ser atendidas".

R. — Em resposta, foi enviada a seguinte carta:

"Recebemos sua carta recusando nosso jornal por julgá-lo tendencioso.

Não sabíamos que apresentar argumentos com a intenção de esclarecer os leitores sobre pontos nevrálgicos da Doutrina Católica é ser tendencioso. Não opomos a Maritain simples negação. Opomos argumentos. Aliás, se Vossa Caridade se dignar ler a Carta da Sagrada Congregação dos Seminários aos Bispos do Brasil — Carta publicada na "Acta Apostolicae Sedis", vol. 42, p. 841 — poderá facilmente perceber que também não nos falta base em documentos pontifícios, como Vossa Caridade deseja.

Nossos modelos, os Padres da Igreja, com Santo Atanásio à frente, não aguardaram a decisão da Santa Sé, para denunciar os desvios doutrinários que notavam entre os escritores católicos. E por isso os louva a Santa Igreja.

Estas notas são ditas sem acrimônia; apenas para justificar nossa posição diante de uma pessoa que nos merece respeito e veneração.

Queira rezar por nós".

Sr. S. A. B. L., São Paulo (Est. São Paulo): "Acredito que interessará aos leitores do nosso CATOLICISMO o incluso recorte da "Documentation Catholique" de 21 de julho último, a respeito da aplicação do decreto de excomunhão dos comunistas". É o seguinte o texto aludido:

"A Cúria Episcopal de Agrigento fez chegar a nossas mãos a seguinte resposta do Santo Oficio, em aplicação do decreto de 1° de julho de 1949, a propósito da participação de um prefeito comunista numa procissão:

Suprema Sagrada Congregação

do Santo Oficio

Prot. n.° 413/44, n.° 18

19 de junho de 1957

Excelência Reverendíssima

Por sua estimada carta n.° 847/56, de 12 de junho corrente, Vossa Excelência Reverendíssima submeteu a esta Suprema Sagrada Congregação o caso da participação de prefeito pertencente ao grupo comunista, com seu conselho municipal, na procissão religiosa em honra da SSma. Virgem, numa localidade, e de Santo Angelo, em outra localidade dessa Diocese.

O Santo Ofício confirma a opinião negativa na decisão de Vossa Excelência e julga que nos casos expostos o prefeito, com seu conselho, não pode ser convidado nem admitido à procissão precisamente porque comunista, e isso em aplicação do decreto desta Suprema Sagrada Congregação, de 1° de julho de 1949.

Valho-me prazerosamente desta ocasião para me professar, com sentimentos de distinta consideração, de Vossa Excelência Reverendíssima

seu muito devotado G. Card. Pizzardo

A Sua Excelência Reverendíssima

Mons. João Batista Peruzzo

Bispo de Agrigento".

Sr. Duilio de Paiva Lenza, Belo Horizonte (Est. Minas Gerais): "Primeiramente desejo congratular-me com a notável contribuição jornalística para a Igreja, feita primorosamente por CATOLICISMO. Guardo, como relíquias de coleção, todos os números do jornal, que sistematicamente leio e releio".

Sr. Luiz Gouveia, Rio de Janeiro (D. Federal): "Desejo imensamente continuar recebendo os números deste excelente mensário católico".

* * *

RIQUEZAS DA INIQUIDADE; USO DE FIGAS

Sra. H. Y., Rio de Janeiro (D. Federal): "Já conheço bastante CATOLICISMO para desejar tirar com ele, e somente com ele, minhas dúvidas, quando as tenho.

Desejava saber qual é a interpretação católica do final do oitavo Evangelho depois de Pentecostes: "Facite vobis amicos de mammona iniquitatis: ut, cum defeceritis recipiant vos in aeterna tabernacula". Ser rico é ser do diabo? Toda riqueza vem do mal? Deve-se voltar à pobreza "comunitária" dos albores do Cristianismo? Ou as riquezas ilícitas não prejudicam a salvação?

Noutro domingo o pregador falou da necessidade de estudarmos catecismo, para evitarmos uma fé fraca, tíbia, etc., etc., e com ela os perigos da superstição; e o Revdo., após explicar o que era superstição, mostrava suas manifestações no "paganizado mundo moderno"; entre elas:... "essas senhoras que usam os braços cheios de figas"!!

Protesto! Aqui está uma que usa os braços cheios de figas e belas miçangas, mas que nunca deu ou reconheceu qualquer atributo mágico a esses adornos femininos, nem eu, nem ninguém que eu conheça, sejam minhas filhas, ou parentas, ou amigas!

Para nós, figas, miçangas são balangandãs feitos de marfim, tartaruga, chifre, ouro ou prata — jóias, portanto. E... nada mais...

Que pensa CATOLICISMO a esse respeito?"

R. 1) O versículo citado na consulta é o 9° do cap. 16 de São Lucas: "Procurai — lê-se na tradução de D. Duarte — procurai adquirir amigos com as riquezas da iniquidade, a fim de que, quando cairdes em pobreza, vos recebam eles nos tabernáculos eternos".

Segundo alguns exegetas, deve-se unir esse versículo aos precedentes; segundo outros, começa ele uma nova perícope evangélica. Na primeira hipótese, constitui aplicação da parábola do ecônomo infiel (Luc. 16, 1-8): "Assim como o ecônomo soube fazer amigos neste mundo, sabei constituir vossos amigos no outro, não traficando com riquezas desonestamente adquiridas, mas desapegando-vos delas em benefício dos pobres" (Lagrange). Na segunda hipótese, não haveria aplicação da parábola, mas o sentido seria o mesmo: "É preciso consagrar as riquezas à caridade para ser recebido no Céu, quando elas faltarem no momento da morte" (Marchal).

Nos dois casos permanece a dificuldade, objeto da consulta presente. Qual o significado da expressão "mammona iniquitatis"? Ou melhor, porque as riquezas são chamadas "da iniquidade"?

1) Que Nosso Senhor não condena pura e simplesmente a riqueza, CATOLICISMO já teve ocasião de mostrá-lo, nesta mesma secção, em seu número 72, de dezembro de 1956. A expressão "riquezas da iniquidade", aqui usada, deve pois entender-se dentro do contexto da doutrina do Divino Mestre. Nesta doutrina, as riquezas são foco de iniquidades, de pecados, quando determinam em quem as possui um apego desordenado. Assim, comenta muito bem Marchal no seu "L'Evangile selon Saint Luc", no versículo em apreço "não se trata de bens mal adquiridos, mas de bens aos quais há um apego exagerado, com perigo de serem utilizados para fins maus".

2) Sim, porque Nosso Senhor exige que se devolvam aos legítimos donos as riquezas mal adquiridas, como se pode ver muito bem no caso de Zaqueu: só depois que esse publicano resolveu restituir, et quidem, no quádruplo o que tinha recebido fraudulentamente, é que Jesus declarou que a salvação lhe entrara em casa (Luc. 19, 8-9).

3) Não obstante, exegetas da primeira opinião, que juntam o vers. 9 aos precedentes, insinuam que Nosso Senhor Jesus Cristo bem poderia englobar na expressão "mammona iniquitatis" também os bens de fortuna mal adquiridos. Lagrange, por exemplo, diz: "Il (Jesus) ne parle pas seulement de biens mal acquis". Cornélio a Lapide dá desta interpretação um comentário que a harmoniza com toda a doutrina do Divino Mestre: "Frequentemente as riquezas se acumulam por meio da iniquidade, ou seja, de fraudes, usuras, contratos injustos, rapinas dos pais, dos avós, ou mesmo próprias. Acontece que muitas vezes o filho ou neto ignora a iniqüidade dos pais ou avós, ou já não sabe com certeza a quem fazer a restituição. Nesse caso, deve fazê-la aos pobres".

4) Não encerramos esta resposta à primeira parte da consulta que nos fazem, sem transcrever aqui a explanação que, de uma perspectiva mais ampla, faz Meschler ("Meditations sur la Vie de N. S. J. C." — Paris, Lethielleux, 2.° vol., p. 317) sobre a parábola do ecônomo infiel.

Mauricio Meschler considera esta parábola e a do filho pródigo que a precede imediatamente (Luc. 15, 11-32); como versando sobre o mesmo assunto. Em ambas, diz ele, o Salvador ensina o caminho do Céu. "A estrada verdadeira, o caminho reto é a penitência depois do pecado, e Jesus mostrou esta via na parábola do filho pródigo. Mas, há um outro meio, um desvio que também chega ao Céu: consiste em fazer bom uso dos bens temporais para obter a graça da reconciliação com Deus. Este meio, o Senhor o ensina aqui nesta parábola (do ecônomo infiel)". Acrescentamos apenas que a reconciliação deve ser feita ainda neste mundo.

* * *

II) A Enciclopédia e Dicionário Internacional, publicado pela Editora Jackson com a colaboração de escritores portugueses e brasileiros, define: "Figa, s. f. Amuleto, sinal, figura, que supersticiosamente se usa ou traz como preservativo de doenças, perigos e malefícios". No mesmo sentido, o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de Hildebrando de Lima e Gustavo Barroso, e o Dicionário Pratico da Língua Nacional, de J. Mesquita de Carvalho. Os dicionários, em geral, registram o significado atual das palavras. Esses por nós citados são recentes. E, infelizmente, a superstição entre nós só tem crescido, no Rio e em toda parte. Basta lembrar as festas da mãe d'água no Distrito Federal, em Salvador e outros lugares. Assim, o pregador, ao censurar o uso de figas, considerou de modo geral o significado costumeiro que têm esses objetos. Não quis dizer que todas as pessoas que os trazem consigo tenham intenção supersticiosa. E possível que ele tenha também querido advertir as senhoras e moças católicas que, embora sem intuito mau, não deixam de dar alguma desedificação adornando-se com objeto cujo significado comum envolve superstição. O caso seria diferente se se tratasse de coisas cujo sentido idólatra tenha desaparecido inteiramente: por exemplo, ter entre os bibelôs da casa um gigantezinho Atlas com seu mundo às costas.

Hoje não há mais, entre nós, quem adira à mitologia grega. Não há perigo de escândalo. Ninguém se lembrará, sequer do paganismo, ao observar tal bibelô. Creio que não podemos dizer o mesmo quanto ao uso das figas.

Aqui está, senhora, uma modesta opinião que lhe transmitimos com franqueza e respeito, como convém à atenção que lhe devemos.


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Dois estilos de festa,

duas concepções do universo

Plinio Corrêa de Oliveira

Aspecto interno de um templo católico, no qual se realiza uma cerimônia litúrgica. O altar e o presbitério estão iluminados. O Pontífice, no trono, está rodeado por seus acólitos. Na abside, da qual se vê uma parte, se comprimem os fiéis. Grandes festões, pendentes do teto e presos às colunas, acentuam a nota festiva do ambiente. A atmosfera é de pompa e alegria, como sói ser nas solenidades da Igreja. Nada, absolutamente nada se nota nela que possa parecer revolucionário, totalitário ou proletarizante.

Entretanto, a festa que se realiza é uma festa do trabalho. Se observarmos bem, verificaremos que as guirlandas são feitas de cestos, cestos decoram o púlpito e revestem a própria Cruz a cujos pés se realiza o Sacrifício.

É que a região — Thiérache, no Aisne, França — é especializada no fabrico de cestos. E, sendo esta a festa dos cesteiros, ornamentaram eles todo o edifício sagrado com o fruto de seu trabalho.

O sentido dessa decoração é profundíssimo. Ela nos faz ver que o trabalho, mesmo manual, é considerado pela Igreja com maternal carinho, e que esta Mãe amorosa se regozija em adornar-se com as oferendas de seus filhos.

Mas, em sentido contrário, também vemos aí que, para conviver amorosamente com o mundo da indústria e do trabalho, a Santa Igreja não precisa tomar ares de usina ou estilos de sindicato. Continuando autenticamente Ela mesma, na sua pompa, na sua majestade, pode a Esposa de Cristo reunir em torno de si os filhos de todas as classes, como uma Rainha cheia de bondade. E, assim, sob o seu influxo as festas do trabalho assumem um ar de nobreza e dignidade que bem exprime o alto apreço em que Ela as tem.

* * *

Num passo cadenciado e rápido, fisionomias sombrias, gesto mecânico e padronizado, avançam os porta-estandartes. Neles o ódio transluz de todos os modos. Seus pés parecem calcar inimigos, seus olhos parecem fitar inimigos, seu coração parece cheio de inimizades, seus imensos estandartes tremulam pesados e sinistros, ao sopro de um vento inteiramente impregnado de ameaças, rancores e trágicos desígnios.

É um desfile de trabalhadores na festa dos esportes em Moscou. O trabalho manual é apresentado aí como um vencedor que expande todos os seus ódios secularmente comprimidos, e está na iminência de destruir tudo o que não seja músculo, massa, máquina, matéria. Materialismo agudo, em suma, forma extrema de igualitarismo, que reduz tudo ao nível do que há de mais baixo na escala da criação, isto é, a matéria.

* * *

Dois estilos de festa, duas concepções do trabalho, duas visões do universo.

Em uma, se exprime o amor de todos os valores sobrenaturais, espirituais e materiais da criação, dos mais altos até os mais modestos, no convívio hierárquico e harmônico desejado por Deus. Na outra, o infernal e inexorável conflito entre tudo quanto é elevado, o qual dará "fatalmente" no triunfo final da Revolução, e no sombrio reinado da matéria sobre o mundo.

Uma é a festa do trabalho como o entendem os filhos da luz. E outra é uma festa em que se estadeia o trabalho como o entendem os filhos das trevas.