O Castelo de Caux, transformado em grande hotel antes da primeira guerra mundial, foi posteriormente adaptado para sede do "Rearmamento Moral". Para lá afluíram centenas de pessoas dos mais variados níveis e de todas as religiões, para serem sujeitas á técnica de "filantropização" naturalista e total diluição de princípios, característica do movimento fundado pelo Dr. Frank Buchman.
Traz graves perigos para a fé o “Rearmamento Moral”
O "Osservatore Romano", em sua edição em francês de 20 de dezembro p.p., publicou a nota que abaixo traduzimos para nossos leitores, e cuja oportunidade não é necessário sublinhar:
ENTRE os movimentos, surgidos fora do Catolicismo, que visaram ao renascimento moral dos homens, o "Rearmamento Moral" é dos que maior fama alcançaram.
Nascido poucos anos antes da segunda guerra mundial (chamava-se outrora "Grupo de Oxford"), ele se desenvolveu largamente nos últimos dez anos. Seu fundador e chefe é o pastor protestante Dr. Frank Buchman, e protestantes são seus principais dirigentes.
Tem-se dito e escrito, mesmo em nossos meios, que os católicos podem, sem inquietação, colaborar com o "Rearmamento Moral" ou ser membros dele.
Temos sérias reservas a fazer a esse respeito. Não se trata de discutir as intenções do Dr. Buchman e de seus adeptos. Todavia, não se podem esconder certas preocupações, tão graves quanto justificadas.
Por vezes, o "Rearmamento Moral" parece querer desenvolver sua ação somente no plano da honestidade natural, no qual — entendem seus aderentes — e possível reunir homens de diferentes raças e de diferentes religiões.
Observa-se, a propósito, que mesmo fora do ""Rearmamento Moral" há numerosos espíritos nobres que se inquietam intensamente com a desorientação espiritual de nossos dias e com a confusão moral da humanidade. Essas pessoas se propõem trabalhar para restaurar no mundo a primazia do espiritual e para neutralizar o veneno inoculado nos homens pelos propagandistas do ateísmo materialista.
Para tais fins e em certas condições, bem como dentro de certos limites, há colaborações possíveis, mesmo por parte de católicos, mas só quando não haja riscos de indiferentismo ou de sincretismo religioso.
Impelidos por essas considerações, certos católicos julgaram poder, pura e simplesmente, dar sua adesão ao "Rearmamento Moral". Mas, ainda desse único ponto de vista, as coisas não são tão claras e simples quanto poderiam parecer. Com efeito, o "Rearmamento Moral", para facilitar sua propaganda nos países não cristãos, como os do Extremo Oriente e da África, de tal modo diluiu e obscureceu os princípios religiosos, mesmo elementares, que se tornam ainda mais evidentes e graves os perigos citados acima.
Ao mesmo tempo, há outras afirmações dos principais dirigentes do "Rearmamento Moral", e outros fatos, que nos apresentam o movimento como uma verdadeira ideologia religiosa, de natureza diferente da ideologia católica.
Fala-se frequentemente de "inspiração de Deus", fala-se de Cristo, de Cruz, de Redenção, de Igreja: os católicos ficariam bem contentes com isso, se as palavras e as idéias não fossem ditas e expressas num sentido pelo menos equívoco, senão errôneo.
Os quatro absolutos (a saber: honestidade, desinteresse, pureza, amor) não podem deixar de receber nossa aprovação, sob a condição de tirarem explicitamente seu valor do único absoluto perfeito, que é Deus.
Enfim, convém fazer graves reservas a respeito das práticas (como estas são entendidas e realizadas no "Rearmamento Moral") do recolhimento ("quiet-time") e da inspiração divina ("God's guidance"), da comunicação, entre companheiros de equipe, de nossos sentimentos e de seu estado moral ("sharing").
Não admira, pois, que membros autorizados da Hierarquia Católica tenham proibido os fiéis de suas respectivas jurisdições de participar do "Rearmamento Moral".
Além disso, como é sabido, em 1955 a Suprema Congregação do Santo Oficio — por intermédio das representações pontifícias — enviou aos Bispos certas instruções sobre essa questão. Proibia-se aos Eclesiásticos, tanto seculares quanto regulares, a participação nas reuniões do "Rearmamento Moral": no que concerne aos leigos, lia-se naquele documento: "Não convém que os leigos aceitem cargos nos quadros de direção do movimento".
Fundamentando essas disposições, a Carta fazia importantes observações, que parece muito útil recordar, inclusive porque completam as feitas mais acima: "Muitos se admiram, com razão, de ver certos católicos, e até Eclesiásticos, procurar a realização de determinados fins morais e sociais, verdadeiramente louváveis, no seio de um movimento que não possui o patrimônio de doutrina, de vida espiritual e de meios sobrenaturais de graça, que pertencem à Igreja Católica.
"Enfim, não se deve esconder o perigo de sincretismo religioso que muitos vêem no Rearmamento Moral".
Apesar de certas tentativas de esclarecimento e das experiências feitas por pessoas particulares, as reservas da Hierarquia ainda permanecem atuais: as disposições do Santo Oficio para o mundo inteiro, e as dos Bispos para seus respectivos territórios, continuam plenamente em vigor e, por conseguinte, devem ser fielmente observadas, tanto pelo Clero quanto pelos fiéis.
Não se vê como possa um católico trabalhar, sobretudo como membro "permanente", no "Rearmamento Moral", sem sérios inconvenientes práticos e perigosas confusões no campo doutrinário.
E a exatidão e a integridade da doutrina constituem, para o católico, um dever preciso e inelutável, especialmente quando ele quer consagrar seu trabalho e suas forças a uma obra como a da reconstrução do mundo.
Os católicos, que se sentem de tal modo animados de zelo e de caridade, não devem esterilizar sua atividade em, movimentos não católicos. Consagrem-se, antes, com entusiasmo e perseverança, a alguma das diferentes formas de apostolado, que o Soberano Pontífice indicou no Discurso dirigido, em 5 de outubro último, aos participantes do II Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos (1). Assim se empregarão eles com fruto na obra que é própria ao laicato católico, denominada pelo Santo Padre de "consecratio mundi", e que contribui para a edificação e aperfeiçoamento do Corpo Místico de Jesus Cristo".
(I ) "Catolicismo", no 84, de dezembro de 1957.
VIRTUDES ESQUECIDAS
SUMA CARIDADE CATÓLICA
D. Felix Sardá y Salvany
Do livro "El liberalismo es pecado" (do qual disse a Sagrada Congregação do Indice, em carta de seu Secretario datada de 10 de janeiro de 1887: nele nada se "achou contra a sã doutrina; antes, seu autor merece louvor, porque com argumentos sólidos ... propõe e defende a sã doutrina na matéria de que trata") :
A suma intransigência católica não é senão suma caridade católica. Suma caridade em relação ao próximo, quando para seu próprio bem o confunde e envergonha e ofende e castiga. Suma caridade em relação ao bem alheio, quando, para livrar o próximo do contagio de um erro, desmascara seus autores e fautores, chama-os por seus verdadeiros nomes de maus e perversos, fá-los aborrecer e desprezar como aborrecidos e desprezados devem ser, denuncia-os á execração com um e, se possível, ao zelo da força social encarregada de reprimi-los e puni-los. Suma caridade, finalmente, em relação a Deus, quando para sua gloria e serviço se faz necessário prescindir de todas as considerações, passar por cima de todos os limites, afrontar todo respeito humano, ferir todos os interesses, expor a própria vida e todas as vidas que seja preciso expor para tão alto fim. (Edição E. P. C., S. A. — Madrid, 1936 — p. 85. cap. XXI).