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Interior da Catedral de Reims. Qual teria sido a reação de Santa Joana d'Arc se, no decurso da coroação de Carlos VII, um Anjo lhe tivesse feito antever a entrada do anticristo vermelho no templo em que eram ungidos os monarcas do reino cristianíssimo?

Revolução e Contra-Revolução em 30 dias

“A Rússia espalhará seus erros pelo mundo”

Plinio Corrêa de Oliveira

Embora não tenham faltado nos últimos trinta dias acontecimentos importantes – entre muitos outros, o noivado desigual da Princesa Margaret com um jovem cujos pais são casados, divorciados e “recasados” mais de uma vez – do ponto de vista da Revolução e Contra-Revolução o fato mais relevante foi, sem dúvida, a visita de Nikita Kruchev à França.

Esta visita constitui um elo entre a anterior, que Kruchev fez aos Estados Unidos, e a que o Presidente Eisenhower fará a Moscou.

Os Estados Unidos são preponderantemente protestantes. A França foi o cenário da Revolução de 1789. Dir-se-ia que a terceira Revolução, que é a comunista, visita e oscula assim suas duas ancestrais: a primeira Revolução, que foi o Protestantismo, e a segunda, que foi a Revolução Francesa. Visita e ósculo parecem ter neste caso um matiz particular, algo de parecido com uma cobrança. Em nome da coerência com os princípios fundamentais que as duas primeiras traziam em seu bojo, a terceira Revolução vem exigir, de uma e outra, simpatia, apoio, cooperação.

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Se a viagem do ditador bolchevista aos Estados Unidos foi muito importante por sua repercussão em todos os povos anglo-saxões, e pela influência daquele país sobre toda a humanidade hodierna, sua visita à França tem um alcance ainda maior.

De um lado, a França conserva, no mundo inteiro, uma irradiação cultural que seria tolo subestimar. De outro lado, filha primogênita da Igreja, elemento de primeira ordem no imenso bloco das nações católicas e latinas, o que nela se passa tem uma ressonância particularmente viva em todos os povos que lhe são afins pela Religião e pela raça. Estes povos são os mais naturalmente anticomunistas e interessa em alto grau a Kruchev seduzi-los. Por fim, a importância política e militar da França foi recentemente realçada pela deflagração de suas bombas atômicas no Saara. Assim, os dois pontos de mira da ofensiva de paz de Nikita Kruchev foram cuidadosamente escolhidos: católicos e protestantes, latinos e anglo-saxões, nisto se contém todo o mundo cristão de raça branca. E, enquanto esta ofensiva assim se desenvolve, a China comunista vai lenta e sub-repticiamente minando o Islã e os povos da África. A terra toda se acha, pois, envolvida pelos tentáculos do monstro bicéfalo do comunismo.

Se a humanidade não atendesse ao apelo de Fátima, “a Rússia espalharia seus erros pelo mundo”, disse Nossa Senhora em sua terceira aparição na Cova da Iria. É o que está sucedendo. O apelo não foi atendido integralmente. E, pela terra inteira, os erros do comunismo estão sendo espalhados em grande escala.

É nesta perspectiva que analisaremos a viagem do senhor do Kremlin à França.

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Em tal viagem devem notar-se dois aspectos bem distintos. De um lado, as conversações diplomáticas entre Kruchev e o General de Gaulle, feitas principalmente em Rambouillet. De outro, o efeito propagandístico da visita, sobre a França e sobre o mundo.

Até o momento em que escrevemos, pouco ou nada se pode afirmar quanto aos frutos diplomáticos da viagem. Tem-se uma vaga e vacilante impressão, pela leitura do comunicado final, de que os resultados neste plano foram medíocres. Nem de Gaulle se afastará da linha geral da política francesa de pós-guerra, nem Kruchev conseguirá algo de sólido para a consecução de seu objetivo diplomático essencial, que é a debilitação dos vínculos que unem a França à Alemanha de Adenauer e ao Ocidente. É possível, isto sim, que o General de Gaulle explore a visita do líder soviético como meio para melhorar a posição da França no conjunto das nações ocidentais. Mas, de que valem todas estas nossas considerações, que não passam de conjeturas indecisas e instáveis, à vista da probabilidade de ter havido um acordo secreto entre os dois chefes de Estado, de alcance indefinido, e capaz de proporcionar à Rússia vantagens que só num futuro próximo ou remoto poderão ser bem conhecidas e avaliadas?

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De qualquer forma, um aumento de influência de um grande país católico e latino, como a França, no Ocidente, só pode ser um bem. Mas é preciso reconhecer que, por este bem, de Gaulle pagou um preço excessivo, permitindo que a pátria de S. Luís e de Santa Joana d’Arc, de S. Luís Maria Grignion de Montfort e dos heróis da “chouannerie” oferecesse um palco ao histrião mais descomposto, ao fautor de heresia mais pernicioso de nossos dias. E que palco! O melhor, o mais brilhante, aquele por onde têm passado quase todas as figuras ilustres do mundo

(continua)