IMPERTINÊNCIAS DE JORNALISTAS; PADRES OPERÁRIOS
Pe. JOSE RICART TORRENS
(de Cruzado Español)
Continua em ascensão a maré de afirmações temerárias na boca de alguns católicos e nas páginas da imprensa.
Anos depois da "Pascendi", São Pio X ainda dizia, em 1º de setembro de 1910, que os modernistas "não cessaram de congregar numa associação secreta os seus novos adeptos". Seria de se agradecer se algum historiador nos pudesse demonstrar que a organização em sociedade secreta, de que falou São Pio X, efetivamente "cessou de existir". Dizemos isto e recordamos este dado capital porque se nota que a insubordinação ao magistério da Igreja, em matéria de filosofia, teologia, sociologia, apostolado operário e política, está se mostrando à luz do dia e já incomoda todos os ouvidos e olfatos normais com os latidos e os maus odores de poderosas conjurações contra a verdade e a disciplina da Santa Igreja.
LA PIRA
Há algum tempo foi La Pira, o ex-síndico de Florença, que, depois de sua viagem a Moscou, disse: "O primeiro-ministro Kruchev é um homem muito inteligente e de espírito aberto. Creio que não me engano ao afirmar que dentro de dez anos a União Soviética será uma potência ainda maior, e será também maior sua autoridade no mundo". Esta afirmação de La Pira está em contradição declarada com a posição que todo cristão deve tomar ante a tragédia diabólica do comunismo. Dizia o Cardeal Roncalli — hoje João XXIII — em sua Pastoral de 12 de agosto de 1956: "Participação viva nas dores da Santa Igreja Universal pelos incessantes sofrimentos e perseguições a que está sujeito o Catolicismo em muitos países da Europa e da Ásia; perseguições exercidas, de maneira às vezes implacável, por aqueles que ali detêm o poder político, e favorecidas pelos que ajudaram os opressores a se instalarem no governo; situação dramática que ainda não oferece nenhuma garantia de novos rumos, nem a esperança de um novo dia de liberdade e de paz para os povos desventurados que a suportam. E pensar que a abertura para a esquerda deve ser orientada em direção aos amigos dos opressores, amigos insensíveis a toda preocupação de ordem espiritual, preocupados unicamente com um imaginaria bem-estar puramente econômico e material que, no fim das contas, não chega a manter-se, quando logra sair vitorioso, senão com a guerra e no sangue!"
SANTIAGO NADAL
Aqui na Espanha, é lamentável a nota de Santiago Nadal ("Destino", 21 de novembro de 1959), que qualifica de "política" a nova "fornada" de Cardeais, com este infeliz e inoportuno comentário: "De alguns meses para cá se nota certa tendência para a modificação dos pressupostos que, dir-se-ia, deveriam marcar os rumos do pontificado do Papa Roncalli... Não é fácil negar, pelo menos enquanto não se manifestar o erro dessa suposição, que isso significa o fortalecimento do que se veio a chamar a tendência Ottaviani".
Já por ocasião da eleição do Papa João XXIII, Santiago Nadal fez uns prognósticos que demonstravam seu analfabetismo teológico. Um comentarista deve manejar informações mais autorizadas e, sobretudo, mais reverentes. Pio IX, num documento de 1873, se queixava dos que, naquele tempo, chamavam de "ultramontanos e jesuítas os mais zelosos e obedientes filhos da Igreja", e acrescentava que tais críticas, "inchados de orgulho e de vaidade, se consideram mais sábios do que a Igreja a que foi prometida uma especial, divina e eterna assistência". A hodierna denominação de "tendência Ottaviani" é a continuação, adaptada a nossos dias, das mesmas calunias liberais que Pio IX reprovou. Constitui comentário infelicíssimo falar do pontificado de João XXIII como de um governo parlamentar qualquer, esquecendo que é o Espírito Santo quem rege a Igreja por intermédio do Papa!
SEMPRONIO E O PADRE MOELLER
Na mesma linha de impertinências estão as lastimáveis e injuriosas insinuações de Sempronio a propósito da visita e conferencias do Pe. Charles Moeller. Estranha Sempronio que se considere "tabu" Simonne de Beauvoir. Ignora ele a inclusão das obras dessa escritora no Índice?
Não podemos tampouco deixar de discrepar de algumas das afirmações que Sempronio atribui ao próprio Pe. Moeller. Destacamos algumas: "A última obra teatral de Sartre, Os Sequestradores de Autona, supõe uma mudança essencial nos rumos desse escritor. O protagonista aparece ligado efetivamente a seu pai. O homem já não se acha só, como nas obras anteriores de Sartre... O homem sai de si mesmo, e então é possível a salvação. Deus emprega vias insuspeitadas.Teilhard é um fermento importantíssimo, pois obriga os cristãos a considerarem em toda a sua amplitude os problemas científicos. — Pois bem, Teilhard está cheio de erros. Seu sistema não é a Suma. E ele não é São Tomás de Aquino. Repito que é um fermento muito importante. Ademais, é o único filósofo católico que os comunistas e os incrédulos respeitam. (Unamuno) é um personagem duplo: há um Unamuno sinceramente cristão, e outro Unamuno que fala sem cessar, sem acreditar muito naquilo que diz..." ("Diario de Barcelona", 10 de novembro de 1959; "Destino", 14 do mesmo mês). Repetimos que não estamos de acordo com estas afirmações do Pe. Moeller, se são de fato autênticas. Não se pode salvar tão levianamente Sartre, ateu e corruptor, só por causa de certos indícios de reverencia filial numa obra teatral recente, quando permanece de pé todo um sistema nauseante.
Quanto ao Pe. Teilhard de Chardin, não há como esquecer que suas obras se editam sem "Nihil obstat", contra a vontade da Companhia de Jesus, e se têm publicado depois da morte do autor. O Pe. Moeller qualifica Teilhard de Chardin de "filósofo católico". Mas não é possível coordenar o evolucionismo absoluto de Teilhard com os ensinamentos da Igreja. Teilhard prescinde do testemunho do Genesis no que se refere aos primeiros pais. Aceita o evolucionismo, que cientificamente não se pode demonstrar. Diz Koppers: "Quem afirma que hoje se deve ter como cientificamente demonstrada a ascendência animal do homem, afirma, sem dúvida nenhuma, mais do que pode provar".
E não admitimos que nos apresentem um "Unamuno sinceramente cristão" e um outro "que fala sem cessar, sem acreditar muito naquilo que diz", quando, em 31 de janeiro de 1957, o "Osservatore Romano", comentando a condenação de duas obras desse autor, dizia: "Personalidades do mundo intelectual espanhol e de outras nações têm feito, inclusive recentemente, grandes elogios de Unamuno ... A condenação está plenamente justificada pela quantidade de erros extremamente graves contidos nos livros do escritor espanhol". Se, segundo o Pe. Moeller, há dois Unamunos, um, "sinceramente cristão", outro, "que fala sem acreditar muito naquilo que diz", acontece que, desse paralelismo inventado pelo Pe. Moeller, nós, católicos, só conhecemos o autor reprovado, que a Igreja considerou nocivo e corruptor de inteligências, e não sabemos com que fundamento ele nos afirmaria agora que não crê muito naquilo que dizia.
O que é decisivo é que não se podem apresentar obras ortodoxas de Unamuno e sim obras blasfemas. Que se pretende com esses malabarismos ?
Todos sabemos que não há erro nem heresia que não contenha algum reflexo de verdade, mesclado com dislates substanciais. Se se apresentasse um erro quimicamente puro, todos o repeliriam. Já o disse São Tomás: "A própria doutrina dos demônios contém algumas verdades pelas quais logra ser aceita" (Suma Teol., IIa. IIae., q. 182, a. 6).
Em toda heresia há algum lume de verdade. A Providencia serve-se das próprias heresias, utilizando-as para que a verdade fulgure limpidamente e seja aceita e conhecida com mais exata precisão. O objetivo que elas visam não é, porém, esta consequência providencial, senão, pelo contrário, promover confusões, trevas e desvios.
O Cardeal Roncalli — hoje, mercê de Deus, nosso amado Papa João XXIII — dizia em sua citada Pastoral de 12 de agosto de 1956: "Guardemo-nos desse novo e sedicioso magistério, cujos mestres bem pouco se importam de estarem ou não vinculados ao Magistério vivo da Igreja e se abandonam demasiadamente — é sempre o Papa quem fala — a seu próprio gênio, a uma mentalidade moderna, aos princípios de outras disciplinas que julgam e afirmam serem as únicas que possuem caráter de verdadeiro método cientifico. — Basta esta evocação do pensamento do Santo Padre para repelir esse dito irônico, nem respeitoso nem cortês, que por vezes se dirige aos órgãos do Magistério eclesiástico, a saber: que a Igreja chega sempre com atraso, e que aos audaciosos, de início olhados com desconfiança e censurados, é que se deve atribuir o mérito da abertura do caminho para as revoluções que, no decurso dos séculos, influíram largamente no progresso e na melhoria de posições importantes. Se é verdade que o Senhor tem sabido tirar lições de bem das imprudências e dos erros dos homens, nem por isso o erro deixa de ser erro, erro de substância ou erro de método, e ele deve ser evitado em todo tempo e por todo mundo.
"Isto serve, em segundo lugar, de advertência para quantos tendem a qualificar globalmente de clericais a todos aqueles que permanecem fiéis às diretrizes da Hierarquia, e que são declarados insensíveis às necessidades dos tempos e desprovidos da audácia dos vanguardeiros.
"Sem falar da ponta de orgulho que frequentemente acompanha a pecha de intolerância e hostilidade facciosa com que os recém-chegados gratificam os mais antigos".
Estas, entre outras, as razões por que não nos convencem as afirmações aludidas do Pe. Moeller.
Voltaremos ao assunto.
Verdades esquecidas
GRANDE O PODER DA ESTIRPE SOBRE NOSSAS ACÕES
SÃO FRANCISCO DE SALES
Da oração fúnebre de Filipe Emanuel de Lorena, Duque de Mercoeur, pronunciada em 1602:
Julguei conveniente falar de sua estirpe, embora pareça a muitos que, sendo a nobreza coisa extrínseca a nós, unicamente nossas ações são nossas. Na verdade, a estirpe muito nos serve e tem um grande poder sobre nossos desígnios, e até sobre nossas próprias ações, seja pela afinidade das paixões que muitas vezes herdamos de nossos ancestrais, seja pela memória que conservamos de seus feitos, seja ainda pelo bom e mais atraente alimento de alma que dela recebemos. — ("Oeuvres de St. F. de S., Ev. et Prince de Genève et Docteur de l'Egl." — Imprimerie J. Niérat, Annecy, 1896 — t. VII, Sermons, v. 1, p. 413).