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VERDADE ESQUECIDA: "O que temo para vós não são esses miseráveis da Comuna, verdadeiros demônios escapados do inferno; é o liberalismo católico, esse sistema fatal que sonha sempre em estabelecer acordo entre a Igreja e a Revolução" — Pio IX

(continuação)

sem heresiarca, desvio doutrinário sem o seu semeador, comunismo ou socialismo sem a ação de fautores dessas ideologias dissolventes.

A Encarnação do Verbo, em seu aspecto de Redenção, foi motivada pelo pecado dos homens. É assim que se compreende o que diz o Apóstolo São João ao afirmar que "o Filho de Deus apareceu a fim de destruir as obras do demônio" (1 Jo. 3, 8). Ora, o anjo decaído não se limita a agir diretamente sobre as criaturas humanas individualmente consideradas, mas antes reconhece no homem um ser criado para viver em sociedade, dela sofrendo profundos influxos, através de sugestões e influências que lhe são externas, entre as quais uma das mais poderosas procede do próprio ambiente social em que ele vive? Os militantes de "Catolicismo", como todo e qualquer fiel que se dedique ao apostolado intelectual, sentem o caráter de ação organizada de que se reveste a atuação das forças do mal no mundo contemporâneo. Que forças são estas? Como agem? Quais os princípios que as norteiam? Uma das mais importantes tarefas, para precisar os contornos desse monstro, vem a ser a da separação dos campos, pois entre as mais sagazes táticas do inimigo se acha a confusão de princípios, não apresentando o erro nu e descarado, mas misturando-o à verdade, em um autêntico contrabando doutrinário.

"REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO"

Já em 1871, por ocasião dos sangrentos atentados comunistas de Paris, dizia Pio IX a um grupo de peregrinos franceses: "O que aflige vosso país e o impede de merecer as bênçãos de Deus, é a confusão de princípios. Direi a palavra, não me calarei: o que temo para vós, não são esses miseráveis da Comuna, verdadeiros demônios escapados do inferno; é o liberalismo católico, isto é, esse sistema fatal que sonha sempre em estabelecer acordo entre duas coisas irreconciliáveis, a Igreja e a Revolução". Obra das mais necessárias, portanto, é a de delinear claramente os contornos da Revolução, dessa imensa conjuração que há séculos vem tentando destruir em seus fundamentos a Cidade católica, assumindo para isso nomes e feições diferentes, como um terrível Proteu.

Acostumados a atacar os diversos aspectos da Revolução, descobrindo-lhe a ação não somente nos fenômenos políticos, sociais e econômicos da atualidade, mas também nas próprias manifestações da chamada arte moderna, tivemos no n.° 100 de "Catolicismo" outro marco a consolidar nossos rumos. "Revolução e Contra-Revolução" foi o monumental trabalho em que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira apresentou o processo revolucionário em sua história, em suas metamorfoses, em suas táticas, analisou com profundeza a essência da Revolução, seu modo de agir sobre a inteligência, sobre a vontade, sobre a sensibilidade, os recursos culturais de que ela se vale para espalhar sua influência como a fumaça letal que sai dos poços do abismo. Daí passou o autor à segunda parte desse estudo fundamental, que trata da Contra-Revolução. Assim como há um processo revolucionário, também existe um processo contra-revolucionário. Conhecido aquele, não será difícil destroçá-lo através da Contra-Revolução, como facilitada ficará a tarefa dos batalhões de engenharia se bem conhecerem a estrutura e sobretudo os pontos chave dos obstáculos a fazer saltar na linha de frente.

Teve esse trabalho o grande mérito de concorrer para evitar um certo naturalismo com que costumam ser encarados os fenômenos religiosos, filosóficos, políticos, sociais e econômicos que se desenrolam aos nossos olhos desprevenidos. Essa espécie de fatalismo com que se invocam "fatores históricos", "fatores psicológicos", a "evolução social" e outras mistificações, constitui autêntica cortina de fumaça com que os mentores da Revolução acobertam os mil modos pelos quais a propaganda sectária encaminha a humanidade por sendas que ela não seguiria se com clareza lhe fosse indicado o verdadeiro fim dessa marcha dirigida.

"REFORMA AGRARIA - QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA"

Como aplicação prática dos princípios expostos pela Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno e pelo ensaio sobre "Revolução e Contra-Revolução", temos, por fim, o terceiro marco ao longo da estrada percorrida por "Catolicismo": o livro "Reforma Agrária — Questão de Consciência".

Com efeito, trata essa grande obra da investida da Revolução através do agro-reformismo, não somente em nossa Pátria, mas em todo o mundo. A tática socialista para impor ao Brasil a "Reforma Agrária" se identifica perfeitamente com o modo por que a Revolução age sobre a opinião pública, começando por um trabalho de transformação de mentalidades através de "slogans" socializantes habilmente escolhidos, do falseamento de nossa realidade econômico-social, de infiltrações sub-reptícias nos mais variados ambientes, colorindo-se o socialismo até de "católico" para melhor poder passar seu contrabando doutrinário. Tratando especificamente dessa fase socialista da Revolução, mostram os autores desse livro o grave problema de consciência que nasce com a tentativa de fazer ingressar no Brasil esse cavalo de Tróia por processos chamados evolutivos e pacíficos, isto é, através de uma legislação que fere frontalmente o direito natural, constituindo portanto grave violação do Decálogo.

Vivemos em um momento histórico em que os campos se vão claramente delineando, e em que nenhuma neutralidade é possível. Que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não, dizia o Divino Salvador (cf. Mt. 5, 37). Se as palavras têm sentido, e as definições doutrinarias da Santa Igreja são princípios de vida e não letra morta, nem farrapos de papel diante do poder totalitário do Estado, então o socialismo e o comunismo são abomináveis heresias sociais que devem merecer a execração de todos os que lutam contra os progressos da Revolução. Eis porque consideramos "Reforma Agrária — Questão de Consciência" outra praça-forte erguida ao longo da estrada que trilhamos. Pelas verdades que esse livro contém, os redatores de "Catolicismo" darão sua vida se preciso for, pois neste mundo conturbado em que tanto se ouve falar em guerra e em ameaças de guerra, nada mais desejam eles do que seguir aquele Rei invencível, o Rei imortal dos séculos, que tem palavras de vida eterna, e servir à Santa Igreja como arautos dessas verdades claras e cristalinas que formam o conjunto da doutrina católica.

Nosso programa está traçado, nosso modo de apreciar todos os temas de que nos ocupamos nestes dez anos é do conhecimento de quantos nos leem. Procuramos sempre dar uma feição atraente ao nosso jornal, fornecendo não somente textos sobre assuntos de atualidade, mas também nos esmerando na parte gráfica, para impressionar agradavelmente os nossos leitores através dessas janelas da alma que são os olhos. Uma coisa não podemos nem queremos fazer: alterar a verdade, ou atenuá-la, ou dissimulá-la, sob pretexto de não ferir possíveis adversários. Mas em tudo aquilo que não envolver direta ou indiretamente uma questão de princípios, "Catolicismo" está aberto às sugestões e alvitres de nossos leitores, aos quais agradecemos de coração o incentivo que nos têm enviado, não somente de todos os pontos do território nacional, mas também de tantos outros países.

À Mãe da Sabedoria e Esposa do Espírito Santo mais uma vez consagramos o nosso jornal, neste seu décimo aniversário, para que Ela nos ampare e abençoe na luta em que continuaremos a nos empenhar para instaurar no mundo o reinado de seu Divino Filho.


UM GRANDE ARCEBISPO PARA DIAMANTINA

O Santo Padre João XXIII vem de elevar a Arcebispo Metropolitano de Diamantina o Exmo. Revmo. Sr. D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., Bispo de Jacarezinho, premiando assim os grandes serviços prestados à Igreja pelo eminente Prelado. Ao ser divulgada a auspiciosa noticia, no dia 31 do mês p. p., a nossa presente edição já estava encerrada. Reservando-se, por isso, para no próximo número dar ao acontecimento todo o relevo que ele merece, «Catolicismo» desde já presta a S. Excia. Revma. — que ocupa lugar impar no corpo de colaboradores desta folha — a homenagem de todo o seu afeto e admiração.


O PLENO ÊXITO DE UM GRANDE LIVRO

“Reforma Agrária – Questão de Consciência”

Por ocasião da passagem do ano é oportuno apresentar um apanhado da situação relativamente à acolhida e à difusão de "Reforma Agrária — Questão de Consciência". Estamos certos de atender com isto à expectativa de nossos leitores.

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Tem-se dito e escrito que o livro é um "best-seller". Nada de mais verdadeiro.

Já noticiamos que ele foi lançado primeiramente em São Paulo, cidade em que tem sua sede a Editora Vera Cruz Ltda. O lançamento ocorreu no dia 10 de novembro. Desde logo, as cinquenta livrarias da cidade mais populosa do Brasil perceberam a importância da obra, que em todas elas foi exposta com grande destaque. A procura do público se revelou tão intensa, que em três semanas se esgotou inteiramente a primeira edição, de cinco mil exemplares (tiragem considerável para obra do gênero). Pelos vários órgãos da imprensa paulista, começaram logo a se manifestar de modo elogioso ao livro vozes das mais autorizadas, como as dos Srs. deputado federal Miguel Leuzzi, Armando de Alcantara, antigo presidente do Banco do Estado de São Paulo, Francisco Malta Cardoso, ex-Secretario da Agricultura de São Paulo, Paulo Murgel, vice-presidente da Associação dos Criadores de Gir, jornalista Péricles Eugenio da Silva Ramos, Sylvio Galvão, assessor jurídico da FARESP, Prof. Sebastião Pagano, da Pontifícia Universidade Católica paulista, Alberto Prado Guimarães, e outros. Ao mesmo tempo, o deputado federal por São Paulo, Sr. Carvalho Sobrinho, em magnífico discurso a que já aludimos em nosso número anterior, fazia o "lançamento" da obra na Câmara Federal. E o brilhante cronista Al Neto, na TV Tupi do Rio, lia uma crônica altamente elogiosa a ela. Na imprensa carioca, destacaram-se os artigos dos Srs. Joaquim Bento Ribeiro Dantas e Murillo Maranhão Galliez, em "O Jornal".

Os órgãos de classe não regatearam aplausos a "Reforma Agrária — Questão de Consciência". Os Centros Agropecuários do CONCLAP — Conselho Superior das Classes Produtoras, que reúne os presidentes das principais associações nacionais das classes produtoras — distribuíram sobre a mesma, a toda a imprensa, um comunicado que a qualifica de "extraordinária, uma obra magnífica do mais alto patriotismo e da mais pura ciência econômica, que situa o problema em termos racionais e cristãos, . . . um livro que deve ser lido por todos os brasileiros". O Centro Agropecuário de Santa Catarina enviou aos autores uma mensagem encomiástica. E, aproveitando a passagem por São Paulo dos Exmos. Srs. Bispos D. Antonio de Castro Mayer e D. Geraldo de Proença Sigaud, o Sr. Clovis Salles Santos, Presidente da Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo (FARESP), acompanhado do consultor jurídico daquele órgão, Sr. Sylvio Galvão, esteve em visita de cumprimentos a SS. Excias. Revmas., bem como ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e ao economista Luiz Mendonça de Freitas, expressando-lhes seu apreço pelo livro. Por sua vez, a assembleia geral de lavradores promovida pela FARESP, em São Paulo, no dia 9 de dezembro, aprovou um voto de louvor aos autores de "Reforma Agrária — Questão de Consciência".

Nessa sessão o Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira, representando a Associação Rural de Itapetininga, leu, devidamente autorizado, o texto da carta enviada pelo Exmo. Revmo. Sr. D. José Mauricio da Rocha, Bispo de Bragança, no Estado de São Paulo, ao Governador Carvalho Pinto. É do seguinte teor esse importante documento, datado de 5 de dezembro último e acolhido por entusiásticos aplausos do plenário:

"Exmo. Sr. Dr. Carlos Alberto de Carvalho Pinto.

Os governantes de boa formação e bem intencionados, em cujo número, sem lisonja, coloco V. Excia., não podem subestimar uma colaboração construtiva e desinteressada, como é a da Igreja, em ordem ao bem do povo. Daí esta carta que, confiadamente, dirijo a V. Excia., acompanhada dos relatórios anexos, relativos ao projeto de reforma agrária e seus substitutivos originados do governo de

(continua)