P.08

IN TE SPERAVERUNT PÁTRES NOSTRI: SPERÁVERUNT, ET NON SUNT CONFUSI

Em Vós puseram sua esperança nossos pais:... puseram sua esperança, e não foram confundidos" (S1. 21, 5-6). Em Vós, ó Maria, depositaram toda a sua esperança os nossos pais que viveram naquela "doce primavera da fé" que se chamou Idade Média. Neste mês de maio, que Vos é especialmente consagrado pela piedade do povo fiel, neste mês de maio em que os horizontes da humanidade se apresentam tão conturbados, queremos dirigir-Vos, ó Consolação dos desolados, aquela oração que foi a mais conhecida das orações marianas nos séculos de fé: a Obsessio. Nós a elevamos até os vossos pés com a confiança de que nos ouvireis como ouvistes a nossos pais : "Eles clamaram a Vós, e foram salvos ; puseram sua esperança em Vós, e não foram confundidos" (ibid., 6).

Ó Santa Maria, ó Mãe de Deus sempre virgem, ó filha do grande Rei, ó Rainha misericordiosíssima; Consolação dos desolados, mãe dos órfãos, caminho dos que se extraviaram, salvação de todos os que esperam em Vós; Fonte de salvação e de graça, fonte de consolação e de bondade, fonte de amor e de alegria;

Em nome daquela alegria de que exultastes, quando o Arcanjo Gabriel Vos anunciou a encarnação do Filho de Deus, quando se realizou a concepção daquele Verbo feito homem;

Em nome daquele divino mistério que o Espírito Santo operou em Vós, e em nome daquelas inestimáveis graças, amor, misericórdia e caridade, que Vos mereceram que Deus entrasse em vosso seio venerabilíssimo, onde Ele Se revestiu de nossa carne;

Em nome de tantas virtudes que Vos valeram aquele doce olhar de vosso Filho, quando do alto de sua Cruz Ele Vos confiou a São João, e também quando Vos elevou acima de todos os Coros dos Anjos;

Em nome daquela imensa, humildade que Vos fez responder a Gabriel: "Eis a escrava do Senhor, faça-Se em Mim segundo a vossa palavra";

Em nome daquelas quinze alegrias que sentistes com relação a vosso Filho, Nosso Senhor Jesus;

Em nome de vossa indizível compaixão; em nome daquela dor atroz e espantosa que Vos transpassou a alma quando vistes vosso Filho, Nosso Senhor Jesus, despido ao pé da Cruz, elevado sobre a Cruz, pendente da Cruz, coberto de chagas, ardendo em sede, lançando um grande brado, e expirando;

Em nome das cinco chagas de Jesus, em nome daquela terrível contração de vossas entranhas à vista daquelas cinco feridas sangrentas, no momento mesmo em que as vistes fazer;

Em nome de toda a sua Paixão, de toda a vossa dor; em nome da torrente de vossas lágrimas:

Venho hoje exorar-Vos, Virgem Maria. Pudésseis Vós, com todos os Santos, com todos os eleitos de meu Deus, descer até mim, e conservar-Vos perto de mim para me servir de conselho e de apoio em todas as minhas preces e súplicas, em todas as minhas angústias e necessidades, em tudo o que sou chamado a fazer, dizer ou pensar, a cada dia, a cada hora, a cada instante de minha vida.

Alcançai-me de vosso Filho todas as virtudes de que careço; alcançai-me as misericórdias e as consolações celestes, a assistência e a benção de Deus, a santificação, a paz, a prosperidade, a alegria, a salvação, a abundância de todos os bens do corpo, de todos os bens da alma.

Alcançai-me a graça do Espírito Santo, que me disponha, em tudo segundo a sua vontade, que conduza meu corpo, eduque minha alma, dirija minha vida, ordene meus costumes, inspire meus atos, realize meus desejos e meus votos, radique em mim pensamentos santos, perdoe meus pecados do passado, corrija-os no presente e me preserve deles no futuro;

Essa graça, que me assegurará uma vida realmente honesta e honrosa, e à qual deverei a vitoria contra todas as adversidades mundanas, com a paz, a verdadeira paz, no corpo e na alma, com a fé, a esperança, a caridade, a humildade, a castidade e a paciência;

Essa graça, que será a protetora e a senhora de meus cinco sentidos; que me fará trabalhar sem cessar nas sete obras de misericórdia; que me fará crer nos doze artigos da fé e praticar os dez mandamentos da lei; que, enfim, me livrará dos sete vícios capitais até o último dia de minha vida.

Quanto a este último dia, a esse derradeiro momento, anunciai-mos antes, ó Virgem Maria; e dignai-Vos estar então, estar lá, bem perto de mim, para que eu possa sair deste mundo contemplando a vossa face.

Escutai esta prece de quem Vos implora, e concedei-me a vida eterna.

Dulcíssima Virgem Maria, dignai-Vos não me repelir, ó Vós que sois a Mãe de Deus, a Mãe de misericórdia.

Amém.

(O texto se lê em numerosos documentos franceses dos seculos XIII a XVI - apud «Prières à la Vierge, d'après les manuscrits du Moyen Age, les liturgies, les Pères, etc.», por Léon Gautier — Alfred Mame et Fils — 1897).


VERDADES ESQUECIDAS

« Prudência »:

disfarce com que o demônio se apresenta como anjo de luz

Santo Antonio Maria Claret

Discurso pronunciado na sessão LXII, de 30 de maio de 1870, do I Concílio do Vaticano («San Antonio Maria Claret — Escritos Autobiográficos e Espirituales» — BAC, Madrid, 1959 — p. 498):

Tendo ouvido há dias (no dia 17 deste mês de maio) certas palavras que me desgostaram extremamente (refere-se ao discurso do Bispo de Rottenburgo contra a infalibilidade), resolvi em meu coração que em consciência devia falar, temendo aquele «Vae» do Profeta Isaias que diz: «Ai de mim que me calei» (Is. 6, 5)!

E assim falarei do Sumo Romano Pontífice e de sua infalibilidade, segundo o esquema que temos em mãos.

E digo que, lidas as Sagradas Escrituras, explicadas pelos expositores católicos, considerando a tradição nunca interrompida, depois de meditar profundamente as palavras dos Santos Padres da Igreja e dos sagrados Concílios, bem como as razões dos teólogos, que por amor à brevidade não referirei aqui; digo que estou sumamente convicto e, levado por esta convicção, asseguro que o Sumo Pontífice é infalível (...).

Esta é a minha fé, e desejo com veemência que esta seja a fé de todos. Não temamos aqueles homens que não têm outro apoio senão a prudência deste mundo, prudência que na verdade é inimiga de Deus, prudência com a qual Satanás se disfarça em anjo de luz; esta prudência é nociva à autoridade da Santa Igreja Romana; esta prudência é, por fim, auxilio para a soberba daqueles homens que odeiam a Deus, soberba que, como diz o Profeta Davi (SI. 74, 23), cresce dia a dia e se eleva continuamente.

Não duvido, Emmos. e Revmos. Padres, de que esta definição dogmática da infalibilidade do Sumo Romano Pontífice será a pá com que Nosso Senhor Jesus Cristo limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro, queimando num fogo inextinguível as palhas (Luc. 3, 17). Esta declaração separará a luz das trevas (Gen. 1, 4).

Oxalá pudesse eu na confissão desta verdade derramar todo o meu sangue e sacrificar a própria vida!

Oxalá pudesse eu consumar o sacrifício que começou em 1856 (refere-se ao atentado que sofreu em Cuba), ao descer do púlpito depois de ter pregado sobre a fé e os bons costumes (...). «Trago em meu corpo as cicatrizes de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Gal. 5, 17).

Oxalá pudesse eu consumar minha carreira confessando de todo o coração esta grande verdade: Creio que o Sumo Pontífice é infalível!

Desejo em sumo grau, Emmos. e Revmos. Padres, que todos conheçamos e confessemos esta verdade. Na vida de Santa Teresa se lê que Nosso Senhor Jesus Cristo lhe apareceu e disse: «Minha filha, todos os males deste mundo provêm de que os homens não entendem as Santas Escrituras».

Realmente, se os homens entendessem as Escrituras Sagradas, veriam clara e abertamente esta verdade de que o Sumo Romano Pontífice é infalível, pois esta verdade se acha contida no Evangelho.

Qual é, porém, a causa de não entenderem eles as Escrituras? Três são essas causas:

1 - Porque os homens não têm amor a Deus, como disse o mesmo Jesus a Santa Teresa;

2 - Porque lhes falta a humildade, como se lê no Evangelho: «Graças Vos dou, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos humildes» (Luc. 10, 21).

3 - Finalmente, porque há alguns que não querem entendê-las, porque não querem praticar o bem.

Digamos, pois, com David: «Deus tenha piedade de nós e nos abençoe; faça resplandecer o seu rosto sobre nós, e tenha piedade de nós» (Si. 66, 2).