A Declaração dos Bispos do Rio Doce teve em vista um fato regional de grande importância: o surto econômico consequente à rápida industrialização da zona. Na foto, siderúrgica em Monlevade.
POLITICA AGRÁRIA SEM EIVA DE SOCIALISMO
Não tendo tido caráter noticioso nossa última edição, «Catolicismo» se acha na contingência de publicar hoje diversas notícias relevantes e inadiáveis. Esta folha se vê assim na impossibilidade de divulgar na sua íntegra um documento de grande importância sobre o problema agrário no Brasil, que é a Declaração dos Exmos. Revmos. Srs. Arcebispos e Bispos reunidos na localidade de Coronel Fabriciano, no Estado de Minas, de 4 a 7 de junho p.p., para tratar dos principais problemas da Bacia do Rio Doce.
A reunião, que foi pedida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, estiveram presentes os Exmos. Srs. Magalhães Pinto e Abel Rafael Pinto, respectivamente Governador e Secretário da Agricultura de Minas Gerais. Compareceu também, na qualidade de Secretario da CNBB, o Exmo. Revmo. Sr. D. Helder Câmara, Arcebispo Auxiliar do Rio de Janeiro.
Os Prelados signatários da Declaração foram os Exmos. Revmos. Srs. D. João de Rezende Costa, Arcebispo Coadjutor e Administrador Apostólico de Belo Horizonte, D. Oscar de Oliveira, Arcebispo de Mariana, D. João Batista da Mota e Albuquerque, Arcebispo de Vitoria, D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, D. José Eugenio Corrêa, Bispo de Caratinga, D. Herminio Malzone Hugo, Bispo de Governador Valadares, D. José Dalvit, Bispo de São Mateus, D. Quirino Adolfo Schmitz, Bispo de Teófilo Otoni, e D. Helder Câmara, Arcebispo Auxiliar do Rio de Janeiro.
A reunião, cujos resultados vinham sendo aguardados com grande expectativa, foi a segunda promovida a pedido da CNBB, pois a primeira teve lugar em São Paulo, dando origem à Declaração de 5 de dezembro de 1960, da qual foram signatários quase todos os membros do venerando Episcopado Paulista, bem como os Exmos. Revmos. Srs. D. Helder Câmara e D. João Batista da Mota e Albuquerque. Assinalamos nesta folha alguns aspectos do importante documento.
A Declaração dos Bispos da Bacia do Rio Doce foi feita em função de um fato regional de grande importância, isto é, o surto econômico da zona, consequência de sua rápida industrialização.
Os Prelados se reuniram não só para dar o inapreciável apoio da Igreja ao desenvolvimento espiritual e material da região, como para lembrar as bases cristãs sobre as quais esse progresso deve assentar-se. Para um e outro efeito, sugerem várias medidas de grande alcance. Sem a intenção de as resumir aqui, pois constituem um extenso programa enunciado em forma já, muito sucinta, queremos entretanto pôr em realce alguns aspectos do oportuno documento.
Primeiramente, merece comentário o fato de que a Declaração espera solução dos problemas da Bacia, não só da ação dos poderes públicos, como ainda da iniciativa privada. Com isto, ela se situa em campo oposto ao socialismo, hoje tão em voga, que põe toda a sua confiança no Estado e persegue a iniciativa privada como se fosse a grande inimiga do bem comum. E rejeita igualmente o erro do liberalismo econômico, hoje agonizante, que pretende subtrair inteiramente a economia à ação do Estado.
Tal posição, que se nota no documento desde as primeiras palavras do preâmbulo, está presente em todas as sugestões, que formam em seu conjunto um vigoroso programa de propulsão, ao longo do qual em nenhum tópico se manifesta qualquer excesso de intervencionismo estatal, ou vestígio de liberalismo econômico.
Neste período de profunda desordem ideológica, essa posição dos Exmos. Prelados é própria a inspirar aos católicos uma salutar reserva no que diz respeito a tantas medidas socialistas ou socializastes de que se faz propaganda por todo o País.
Outro aspecto da Declaração, que se nota ao longo de todo o texto, e que constitui oportuna lição, está na preocupação de considerar a economia na Bacia do Rio Doce como um todo a ser desenvolvido harmonicamente em seus diversos elementos. Sem o dizer expressamente, o documento procura evitar que a industrialização prospere com detrimento da agricultura. Por isso, as sugestões apresentadas pelo Episcopado do Rio Doce, a par de visarem o desenvolvimento da indústria, objetivam também, sob vários aspectos, o progresso da agricultura.
Do ponto de vista do problema agro-reformista, esta atitude da Declaração é de uma primordial importância, pois o equilíbrio das relações entre patrões e trabalhadores se alcança muito mais facilmente numa agricultura pujante, onde existe fartura para dividir entre uns e outros, do que numa agricultura pobre, onde só se divide miséria.
É este um aspecto fundamental do problema agrário que os agitadores deliberadamente põem de lado, porque não se trata para eles de resolver as questões entre fazendeiros e trabalhadores, mas antes de as agravar com o intuito de levar ao paroxismo a luta de classes.
Com a louvável preocupação de ver o desenvolvimento econômico em todos os seus ângulos, os Prelados põem em muito relevo o papel que os fatores educacionais e religiosos têm em todo desenvolvimento equilibrado e sadio. O documento contém, pois, a par de sugestões de caráter econômico, todo um elenco de medidas tendentes a favorecer o ensino e o apostolado.
Também nisto há um ensinamento fecundo para a mentalidade do homem contemporâneo. Enquanto o comunismo e o socialismo inculcam que todos os problemas se reduzem em última análise a termos econômicos, a Declaração, sem subestimar o papel destes fatores, afirma a prevalência dos valores religiosos e culturais.
Como de direito, o documento se mostra muito preocupado com a melhoria da situação dos trabalhadores. Entretanto, as medidas por ele aventadas para este efeito, e com as quais espera resolver o delicado problema, tem o mérito de respeitar inteiramente o direito de propriedade. Assim, nada dispõem seus autores contra o regime do salariado, nem contra a existência de grandes propriedades. Favorecem eles, é verdade, o acesso do trabalhador à condição de proprietário, e manifestam uma especial solicitude para com a média e pequena propriedade. Mas isto é perfeitamente legítimo e nada tem de hostil à propriedade grande.
Particularmente simpática é a sugestão de que o Estado auxilie os proprietários a construírem casas condignas para os trabalhadores e escolas para seus filhos.
Vistas em seu conjunto, as recomendações contidas na Declaração constituem um verdadeiro programa de política rural, o qual nada tem de comum com o agro-reformismo socialista e anticristão, que está na base de tantos projetos de lei agrária em trâmite no Congresso Nacional. Há uma viva consonância entre este programa e as medidas sugeridas no livro «Reforma Agrária - Questão de Consciência» para a promoção de um progresso agrícola que sirva ao País, respeite o direito dos proprietários, e alcance a necessária melhoria das condições de vida do trabalhador do campo.
O pronunciamento dos Exmos. Prelados da Bacia do Rio Doce apresenta um interesse que transcende o âmbito estritamente regional que ele teve em vista, para constituir uma preciosa fonte de ensinamentos doutrinários e sugestões práticas para os legisladores pátrios.
3a EDIÇÃO de Reforma Agrária Questão de Consciência
"Catolicismo", que, publicado sob a égide do grande Bispo de Campos, está inteiramente solidário com o livro "Reforma Agrária — Questão de Consciência", noticia com prazer o lançamento da terceira edição dessa obra, levado a efeito em todo o País, pela Editora Vera Cruz, na última semana de junho passado.
A nova edição, enriquecida por um substancioso apêndice consagrado à Revisão Agrária paulista, contém também utilíssimos índices onomástico, analítico e de documentos pontifícios citados.
Esse lançamento despertou vivo interesse, pois coincidiu com o momento em que, em quase todo o Brasil, a imprensa católica e os diários sem matiz religioso vinham publicando dois grandes debates travados a propósito do livro. Com efeito, a polêmica havida a respeito dele entre o jornalista Gustavo Corção e o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira foi reproduzida em várias cidades do País, o mesmo acontecendo com o artigo escrito contra a obra pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Fernando Gomes, Arcebispo de Goiânia, e a resposta de autoria do Exmo. Revmo. Sr. Bispo Diocesano. Em vários outros órgãos, católicos, socialistas, comunistas ou de outra coloração, vinha sendo também o livro vivamente atacado. De outro lado, nos meios católicos, como em outros setores da opinião, igualmente se vinham pronunciando por ele vários elementos de imprensa, entre os quais sobreleva notar o Exmo. Revmo. Mons. Francisco de Sales Brasil, famoso paladino da luta contra a influência comunista de Monteiro Lobato na juventude brasileira. Os comentários escritos sobre "Reforma Agrária — Questão de Consciência" pelo ilustre Sacerdote baiano foram largamente divulgados pela imprensa nacional ("Catolicismo" publica-os em outro local deste número).
Um dos fatos sintomáticos do interesse suscitado pela terceira edição do livro foi o brilhante discurso pronunciado na Câmara Federal pelo Deputado Carvalho Sobrinho, especialmente para recomendá-lo à atenção de seus pares.
É fácil explicar assim como, nos mais diversos ambientes, continua a exercer larga influência a obra em questão. "O Globo", do Rio de Janeiro, por exemplo, noticiou no dia 30 de junho p.p. que, segundo uma pesquisa feita quinzenalmente nas livrarias do Rio, São Paulo e quinze outras capitais de Estados, "Reforma Agrária — Questão de Consciência" foi uma das obras mais vendidas da quinzena: figurou em quinto lugar, sendo os três primeiros colocados livros de ficção.
Em síntese, pode-se dizer que, talvez, nenhuma obra especializada jamais alcançou influência tão profunda sobre algum grande problema nacional, como a que o trabalho escrito pelos ínclitos Prelados de Diamantina e de Campos, pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e pelo economista Luiz Mendonça de Freitas, está exercendo sobre a questão agrária.
ANTONIO ABLAS Fo
Tendo sido nosso último número inteiramente consagrado à momentosa Pastoral do Exmo. Revmo. Sr. Bispo Diocesano, D. Antonio de Castro Mayer, advertindo os fiéis contra os ardis da seita comunista, não nos foi dado registrar então que no dia 25 de junho transcorrera o primeiro aniversário do falecimento do Prof. Dr. Antonio Ablas Filho, um dos elementos mais insignes da grande família de almas de «Catolicismo», e nosso representante para o Sul do País.
Decorrido um ano, ainda mais firme está entre os colaboradores e amigos desta folha a convicção de que foi irreparável a perda sofrida com o falecimento daquele saudoso companheiro. Ao mesmo passo, seu nobre exemplo se vai tornando sempre mais fecundo para todos. E a persuasão de que, com sua morte, ganhamos no Céu uma alma de escol, a rezar por nós, nos conforta e nos anima.
A missa de aniversário do falecimento do Prof. Antonio Ablas Filho foi celebrada em Santos — onde ele residia — na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, por seu grande amigo, o Revmo. Fr. Emidio Ter Beeke, O. Carm., Prior do Convento Carmelitano do Itaim, em São Paulo. Numerosa assistência enchia o templo. Esteve presente S. A. o Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança, representando seu Pai, S. A. I. R. o Príncipe D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança. «Catolicismo» se fez representar pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e numeroso grupo de redatores desta folha.
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FALECIMENTO DE UM GRANDE AMIGO DE "CATOLICISMO"
“CATOLICISMO” tem o pesar de noticiar — e o faz só hoje, porque seu número anterior foi todo destinado a outra matéria — o falecimento de um Prelado de grandes serviços prestados à Igreja, que honrava esta folha com sua muito especial amizade. Trata-se do Exmo. Revmo. Sr. D. Germano Vega Campón, O.E.S.A., Bispo titular de Oreo, piedosamente falecido na cidade de Bragança Paulista no dia 13 de maio p.p., com a avançada idade de 82 anos.
O venerando Príncipe da Igreja, nascido em Amusco, na Espanha, foi ordenado em 20 de dezembro de 1902. Membro da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, ocupou nela vários cargos de importância, até que, em 19 de abril de 1941, foi promovido pelo Santo Padre Pio XII à dignidade de Bispo titular de Oreo, estando à testa da Prelazia Nullius de Jataí, no Estado de Goiás. Ali exerceu S. Excia. Revma. uma fecunda ação apostólica, cujo desenvolvimento foi tal, que Jataí pôde ser ereta em Diocese no ano de 1956. A idade do Exmo. Revmo. Sr. D. Germano Vega Campón, e as consequências produzidas em sua saúde pelas fatigantes atividades a que se votara, proibiram-lhe entretanto a permanência à frente da circunscrição eclesiástica que lhe fora confiada. Assim, atendendo a seu pedido, a Santa Sé dispensou-o do múnus pastoral. Conservando o titulo de Bispo de Oreo, o ilustre Prelado se consagrou desde então inteiramente à vida de oração. Seus últimos anos transcorreram em Bragança Paulista.
Dotado de uma inteligência viva e sólida cultura, D. Germano Vega Campón manteve sempre o espírito aberto para os grandes problemas da Igreja no País e no mundo. Leitor assíduo desta folha, sempre lhe manifestou valioso apoio. O falecimento de S. Excia. Revma. foi motivo de pesar, não só para a ínclita Ordem Agostiniana, como para «Catolicismo», que conservará com filial veneração a memória desse homem de Deus.
Por especial autorização dos destinatários, publicamos aqui a carta nobre e corajosa que o saudoso Prelado enviou aos autores de «Reforma Agrária — Questão de Consciência»: ela é o espelho da bela alma de seu signatário. É este o seu texto:
«Bragança Paulista, 12 de dezembro de 1960
Exmos. Srs. D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, D. Geraldo de Proença Sigaud, Bispo de Jacarezinho, Prof. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira e Economista Luiz Mendonça de Freitas
É-me grato apresentar a VV. Excias. minhas mais vivas felicitações pelo livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência», que tiveram a gentileza de me enviar.
A obra se me afigura da mais palpitante atualidade, e principalmente me agradou sua admirável consonância com os documentos pontifícios.
Nos dias em que vivemos, mais sedutor ainda do que o comunismo brutal e declarado, que a tantos empolga, é o socialismo diluído, sorridente e astuto. Este é o verdadeiro precursor do comunismo. Vai ele confundindo dolosamente as inteligências, deformando as instituições, deteriorando nos indivíduos o senso da responsabilidade, e espalhando a miragem pagã de um mundo sem dores, nem lutas, nem provações, estruturado sob a autoridade do Estado igualitário e divorciado da Igreja. VV. Excias. souberam caracterizar admiravelmente esse adversário e apontar sua ação deletéria.
«Reforma Agrária — Questão de Consciência» constitui um brado de alarma contra a socialização do campo, mas, mais ainda do que isto, é a meu ver a mais segura, profunda e clara refutação da mentalidade socialista no Brasil.
Desejo, pois, de todo o coração, a mais ampla difusão desse esplêndido livro.
Erguendo nesse sentido meus votos a Deus, pela intercessão de Maria Santíssima, subscrevo-me de VV. Excias. afmo. in Jesu Christo
† Dr. Dom Germano Vega Campón, Bispo tit. de Oreo — Filius Sancti Augustini».