NÃO ENTERRAR NEM DILAPIDAR O TESOURO DA REVELAÇÃO
F.V.
Deus quer que todos os homens se salvem. Mas não há salvação para uma alma senão na posse da graça santificante, ela mesma indissoluvelmente unida, senão identificada, à virtude teologal da caridade.
Ora, a caridade, por sua vez, supõe a fé, virtude que inclina a inteligência a dar seu assentimento, sob o império da graça, a tudo quanto Deus nos revelou.
Deus, que quer a salvação de todos os homens, deseja pois que todos eles cheguem ao conhecimento e à aceitação — explícitos ou implícitos — das verdades de sua Revelação (não abordamos aqui o problema da ignorância não culposa).
Jesus Cristo, Deus Encarnado, fundou uma sociedade religiosa, a sua Igreja, para transmitir infalivelmente às almas o tesouro das verdades reveladas (e para ajudá-las a conformar a estas a sua conduta) a fim de que, pela fé, cheguem ao amor, à graça e à salvação.
A Igreja Católica, única verdadeira Igreja de Cristo, recebeu pois em depósito a Revelação de Deus. Para ser fiel à sua missão salvadora, deve Ela assegurar estas duas funções: 1 — guardar ciosamente esse depósito; 2 — aplicar-se a explicitá-lo e a torná-lo acessível a todos os homens.
De dois modos faltaria a Igreja à sua missão: dilapidando, ou enterrando o seu tesouro, isto é, deixando perder-se alguma coisa da doutrina divina, ou não se empenhando, com todas as suas forças, em fazê-la conhecida.
O segundo dever supõe o primeiro: é impossível salvar os homens fora da pregação fiel do Evangelho e das verdades conexas.
Da parte da Igreja, a conservação do depósito sagrado é, tanto, pelo menos, quanto a divulgação dele, uma missão de amor a Jesus Cristo e às almas.
Embora susceptível de graus, a conservação não admite matéria leve: o abandono de um único jota da lei já constituiria infidelidade grave.
A divulgação também é para a Igreja objeto de um dever grave, mas não "ex toto genere suo", senão apenas "ex genere suo", o que significa que uma certa deficiência de zelo poderia não passar de falta leve.
Se bem que a Igreja tenha que assegurar ao mesmo tempo as suas funções, de salvaguarda e de comunicação de sua riqueza doutrinaria, compreende-se que seus ministros possam se especializar em uma ou outra dessas duas atividades.
Tal especialização, a serviço mais ou menos direto da virtude da caridade, não pode significar isolamento recíproco das funções, particularmente no que diz respeito à comunicação, que tem que ser divulgação de doutrina ortodoxa.
Falta à sua missão de caridade o ministro da Igreja que conserva e defende o dogma com uma aspereza prejudicial ou, mesmo, apenas inútil à penetração do Evangelho.
Mas peca bem mais gravemente contra essa mesma caridade o apóstolo que adultera o Evangelho para se fazer melhor ouvir e aceitar.
Na comunicação da mensagem divina, é possível ademais incorrer em censura por faltar ao respeito devido à pessoa humana, à prudência, às conveniências... O apóstolo pode, além disso, deixar-se levar a "majorar" o dogma, apresentando como obrigatório o que é opinião livre, exigindo, então, mais do que exigem Deus e a Igreja. Essas faltas serão, conforme o caso, graves ou leves.
Salientemos o serviço que presta ao operário evangélico especializado na divulgação do dogma, o outro operário evangélico que se aplica a conservá-lo em toda a sua integridade.
Se a primeira caridade para com Deus consiste em Lhe guardar a palavra, se a primeira caridade para com os homens consiste em lhes comunicar a verdade, quem não percebe quanto um tal serviço é prenhe de amor?
Pretender opor na Igreja, em nome do progresso, a função de comunicação da doutrina à de salvaguarda desta, seria ter uma singular ideia do que seja o progresso. Mas pretender estabelecer essa oposição em nome da caridade, seria o cúmulo!
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Talvez não seja inútil recordar estes princípios em nossos tempos de ecumenismo, para evitar que se digladiem mutuamente, sem proveito para ninguém, um sábio conservantismo e um prudente irenismo.
REFORMA AGRÁRIA - QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA EM TRINTA DIAS
Na V Exposição Regional Agropecuária e Industrial de Sete Lagoas, Estado de Minas Gerais, o «stand» do livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência» recebeu menção honrosa na categoria livros.
O comentarista João Alberto Leite Barbosa relembrou em «O Globo» do Rio de Janeiro a advertência feita em «Reforma Agrária —Questão de Consciência» a respeito dos «preconceitos passionais» com que a questão agrária costuma ser tratada, alertando contra os perigos de uma política rural fundada num «complexo» contra o proprietário rural e o direito de propriedade.
O jornalista Rubens do Amaral e o nosso colaborador Eng.° Celso da Costa Carvalho Vidigal estão travando, através das páginas do «Diário de São Paulo», uma polêmica suscitada por críticas feitas pelo primeiro ao livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência». Já foram publicados cinco artigos.
«Reforma Agrária — Questão de Consciência» esteve vivamente em foco por ocasião da XXVIII Exposição Nacional de Animais e Produtos Derivados de Porto Alegre. Uma eficaz propaganda, com faixas alusivas e distribuição de folhetos, provocou inúmeros comentários sobre o livro, evidenciando a grande simpatia que ele vem encontrando nos meios rurais gaúchos e de todo o Brasil.
Um artigo de nosso colaborador Eng.° Plinio Vidigal Xavier da Silveira, mostrando o completo silêncio a que ficaram reduzidos os economistas favoráveis ao agro-reformismo, depois da publicação de «Reforma Agrária — Questão de Consciência», foi publicado na «Folha de São Paulo».
O livro dos Srs. Arcebispo de Diamantina, Bispo de Campos, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e economista Luiz Mendonça de Freitas continua a ser objeto de elogios da crítica bibliográfica e dos estudiosos do assunto em todo o País e mesmo no exterior. Registramos aqui os órgãos da imprensa escrita e falada que publicaram, recentemente, tais elogios: «O Estado», Fortaleza, CE; «Correio do Sul», Bagé, RS; «Folha de Conchas», Conchas, SP; «Município de Pitangui», Pitangui, MG; «O Itararé», Itararé, SP; «O Debate», Portugal; «Diário do Comercio», Belo Horizonte, MG; «O Nordeste», Fortaleza, CE; «Diário Comercio e Indústria», São Paulo, SP; «Ponche Verde», Dom Pedrito, RS; «Diário do Natal», Natal, RN; «A Semana», Simão Dias, SE; «Rádio Jornal do Comercio», Recife, PE; «Diário de São Paulo», São Paulo, SP; «O Jornal do Rio de Janeiro», Rio de Janeiro, GB.
Também não têm faltado os opositores, que, o mais das vezes, infelizmente, não criticam nem discutem doutrinas ou fatos, preferindo ficar nos ataques pessoais e nas invectivas. Apresentamos também uma relação dos jornais que lhes deram divulgação: «O Sino da Floresta», Belo Horizonte, MG; «Informador Comercial», Belo Horizonte, MG; «Jornal do Dia», Porto Alegre, RS; «Voz do Paraná», Curitiba, PR; «Diário de São Paulo», São Paulo, SP; «Mosaico», Belo Horizonte, MG; «A Gazeta», São Paulo, SP; «O Estado de São Paulo», São Paulo, SP; e «Última Hora», São Paulo, SP.
VIRTUDES ESQUECIDAS
ABORRECER HEREGES COM ÓDIO PERFEITO
São Bernardo
De uma carta aos habitantes de Toulouse (in "Obras Completas del Doctor Melifluo, San Bernardo, Abad de Claraval" — trad. espanhola do Pe. Jaime Pons, S. J. — Rafael Casulleras Librero-Editor, Barcelona, 1929 —vol. V, "Epistolário" — carta CCXLII, p. 505):
Tive uma grande alegria com a chegada de meu caríssimo irmão e colega, o Abade Bernardo de Grandselve, pelas gratas notícias que me trouxe de vossa constância e lealdade no serviço que deveis à vossa Fé, e de como perseverais no carinho e devoção que vos inspirou minha pessoa, bem como no ódio e zelo que alimentais contra os hereges, de modo que cada um de vós pode repetir sem mentira aquilo do Profeta: "Porventura não aborrecia eu, Senhor, os que Vos odeiam? E não me consumia por causa de vossos inimigos? Com ódio perfeito os aborrecia, e tive-os por inimigos meus, só por saber que eram vossos inimigos" (S1. 138, 21-22). Dou graças a Deus porque se dignou abençoar minha ida até vós e fez que minha permanência em vossa companhia, embora breve, produzisse algum bem. Pela verdade que vos manifestamos, não só com palavras, mas também por meio de prodígios, foram descobertos os lobos que, introduzidos entre vós, sob disfarce de ovelhas, faziam verdadeira devastação em vosso povo e devoravam as almas, tal como um homem esfaimado deglute o pão fresco e engole a carne das ovelhas que matou. E juntamente com os lobos descobrimos as raposas que devastavam a vinha preciosíssima do Senhor, a saber, vossa nobre cidade.
Pena é que, embora descobertos, esses inimigos ainda não tenham sido apanhados! Ao trabalho, pois, caríssimos meus: consagrai-vos a persegui-los sem afrouxar, acossai-os, encurralai-os, até dar cabo de todos e fazê-los desaparecer de vossa terra, pois não vos podeis entregar ao repouso enquanto houver à espreita serpentes que vos rondam a casa. Permanecem eles de emboscada, escondidos com os poderosos e ricos deste mundo, para assaltar e matar os inocentes. São salteadores e ladrões, como observa o Senhor no Evangelho; gente perdida, que cifra todo o seu prazer em perder os demais. São corruptores ao mesmo tempo de vossos costumes e de vossa fé. Bem se diz que "as conversas más corrompem os bons costumes" (1 Cor. 15, 33), e que "a linguagem desses tais estende sua corrupção com a radipez da gangrena" (2 Tim. 2, 17).