EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA
FACE À REVOLUÇÃO
Fernando Furquim de Almeida
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA não cedeu à tentação, tão frequente no mundo moderno, de se dedicar exclusivamente a estudos teóricos, transformando-se num mero homem de gabinete. Pelo contrário, extremamente ativo e realizador, é bem conhecida a sua atuação no laicato católico, no qual goza de um justo renome que ultrapassou as fronteiras do Brasil. Em seus livros e artigos, como em tudo o que faz, revela um pensamento vivo, lógico e bem arquitetado, com raízes na realidade e sempre voltado para os princípios, de onde resulta um raro equilíbrio que faz dele um dos maiores e mais profundos pensadores modernos. Sua cultura, sua inteligência e a riqueza de sua personalidade são inegáveis e estão sempre a serviço de um senso católico extraordinário, que imprime a todas as suas atividades uma unidade a que estamos desacostumados, dada a separação profunda que o mundo atual introduziu entre a vida religiosa, a vida intelectual e a atividade externa do homem.
Se quisermos, pois, analisar um dos trabalhos do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, como é o livro "Em Defesa da Ação Católica", de que "CATOLICISMO" hoje comemora o vigésimo aniversário, será mister examinar, ainda que rapidamente, o seu "curriculum vitae", para podermos dele retirar as características essenciais e a linha rectrix de toda essa obra polimorfa que é de tão grande interesse para quem estuda as atividades católicas no Brasil.
A unidade a que aludimos se nota desde o tempo em que, muito jovem ainda, Plinio Corrêa de Oliveira entrou na Congregação Mariana de Santa Cecília e lá iniciou o seu apostolado. Servindo o ideal que escolhera com propósito firme, os seus artigos no "Legionário", órgão que depois dirigiu por longos anos e tornou o mais acatado jornal católico brasileiro da época, mostram o mesmo zelo da causa da Igreja que hoje manifesta em "CATOLICISMO". E sua atuação como deputado à Constituinte de 1933, suas aulas na Universidade Católica de São Paulo, seus livros, toda a sua assombrosa atividade, enfim, revelam o filho da Igreja cuja vida está exclusivamente consagrada a servi-La.
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira continua sempre o mesmo, essencialmente católico, cavaleiro da Virgem Nossa Senhora, a quem serve devotadamente e pela qual tem sustentado as mais variadas batalhas, não vendo em tudo senão a maior gloria de Deus e de sua Mãe Santíssima, com ânimo intrépido e sempre de viseira erguida, suportando com paciência agravos e injustiças, e enfrentando a campanha de silêncio com que os adversários procuram encobrir-lhe os méritos e o apostolado fecundo e glorioso, que tão a fundo golpeia os inimigos da Igreja.
Numa série de artigos publicados em "CATOLICISMO" (nos 53, 55 e 56, de 1955), comentou ele a Oração Abrasada de São Luís Maria Grignion de Montfort, na qual este Santo pedia a Deus que enviasse apóstolos para libertar a Igreja da situação calamitosa em que então se encontrava. Mostravam esses artigos com clareza que, longe de ter melhorado, tal situação só se agravara. O progresso gigantesco da impiedade, que já alarmava o santo missionário do século XVII, não fora ainda detido e só o poderia ser eficazmente, mediante o auxílio de Nossa Senhora e o conhecimento exato das suas causas e de todas as suas peculiaridades.
É essa uma tarefa urgente que exige o esforço comum de todos os católicos. A ela o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira se dedicou inteiramente, e é o que dá à sua obra a unidade impressionante a que acima nos referimos, bem como um sentido realmente moderno ao seu apostolado.
A Revolução é essa crise nas tendências, nas ideias e nos fatos que há quatro séculos, em todo o Ocidente, vem aos poucos substituindo os princípios do Evangelho, que presidiam a vida da sociedade, por uma mentalidade laica que ao mesmo tempo destrói a civilização cristã e vai formando essa nova ordem social que, se chegasse a se constituir completamente, nela a Igreja seria inteiramente inútil e até contraditória. É a Revolução a grande responsável por esse progresso da impiedade que São Luís Maria Grignion de Montfort descreveu com tanta penetração.
Desde a mocidade Plinio Corrêa de Oliveira a vem estudando e combatendo rijamente até nos menores efeitos. Os seus artigos e livros, quando a ela não se referem explicitamente, nem por isso deixam de tê-la em mira, pois ou são dirigidos contra alguma de suas consequências aparentemente inocentes, ou abordam problemas católicos à luz da mais pura ortodoxia e concorrem assim para a formação do verdadeiro contra-revolucionário, que é o católico bem formado. Em dois livros, no entanto, ele analisou mais profundamente a Revolução. São eles "Em Defesa da Ação Católica" e "Revolução e Contra-Revolução". Ambas essas obras se completam e constituem um estudo vivo, refletido, baseado na realidade e daí partindo para vastas concepções que se entrelaçam, se harmonizam e formam um todo lógico bem fundamentado, para virem depois, novamente, servir à realidade com toda a eficácia de uma doutrina bem elaborada.
Apareceram os dois livros com anos de intervalo, e diferem na exposição por isso que têm finalidades distintas. "Em Defesa da Ação Católica" trata de problemas concretos e, com base nos fatos, estabelece os princípios revolucionários que geraram os erros a propósito da Ação Católica, que iam então se espalhando pelo Brasil. "Revolução e Contra-Revolução" é um trabalho de profunda análise histórica, em que, a par do estudo da Contra-Revolução, se pesquisam os princípios que constituem a essência da Revolução, e os métodos por ela usados para se propagar.
Foi em 1943, quando era presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, que Plinio escreveu o seu primeiro livro. Tendo observado de perto os erros que se infiltravam na AC, ficou alarmado com a difusão deles, que ameaçava desvirtuar em suas finalidades o organismo que o Santo Padre Pio XI se propunha utilizar para deter a Revolução. Estudando-lhes as causas, percebeu que esses erros procuravam se encobrir sob uma falsa interpretação da própria definição de AC dada por Pio XI. Jogava-se com o significado da palavra "participação", que se explorava para justificar as mais arbitrarias posições.
"Em Defesa da Ação Católica" desfaz essas interpretações gratuitas. Depois pesquisa as causas profundas dos erros que haviam contaminado certos setores da AC, e com abundância de argumentação, solidamente baseada em fatos que comprovam exaustivamente as conclusões, mostra que a verdadeira raiz desses erros eram os princípios revolucionários. Se, pois, tais erros continuassem a corroer o movimento católico, prejudicá-lo-iam irremediavelmente e impediriam que se realizasse o desejo da Santa Sé de organizar o laicato para um combate mais eficiente na crise do mundo moderno.
Muitos anos depois foi escrito o ensaio profundamente original, "Revolução e Contra-Revolução", no qual a Revolução é completamente desmascarada, pondo-se a descoberto os seus princípios fundamentais, as suas técnicas de penetração, as suas ideias, e os estados de espírito que favorecem o aparecimento de "slogans" com os quais, sorrateiramente, ela vai se introduzindo nos mais variados ambientes, quase sem encontrar resistência.
Raras vezes mostra-se a Revolução com toda a sua hediondez. Sua ação é em geral sub-reptícia, introduzindo aqui uma ideia falsa, acolá corrompendo costumes, promovendo em outros lugares a queda de instituições, agindo sempre de modo a provocar a ilusão de que é um fenômeno meramente cultural, ou político, ou social, e impedir que se lhe mova um combate eficiente, isto é, um combate que a enfrente em todo o seu vasto campo de ação.
O ensaio do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira demonstra que a Revolução é total e una, tornando bem palpáveis os perigos decorrentes de ignorá-la ou mesmo de conhecê-la apenas parcial ou fragmentariamente. E analisando-lhe a ação e o principal objetivo, que é a destruição de toda ordem legítima, caracteriza nitidamente a sua essência, as ideias falsas que lhe servem de suporte, e as más tendências que excita porque a ajudam a se propagar.
Entre as ideias fundamentais da Revolução, as duas mais importantes, por melhor lhe exprimirem o espírito, são a igualdade absoluta e a liberdade completa, que o Autor estuda cuidadosamente, pondo em evidencia também o papel relevante que no progresso dela têm o orgulho e a sensualidade. Estas duas paixões servem de dissolventes das resistências, permitindo aos erros insinuar-se com facilidade.
Trata-se, numa palavra, de um estudo completo e detalhado dessa crise do mundo ocidental que abrange todos os domínios da atividade do homem.
Por esse rápido resumo dos dois livros, se vê de que modo cada um deles considera a Revolução. Num, ela é estudada em si mesma. No outro, pelos efeitos que produziu, a certa altura, no movimento católico. Lendo "Em Defesa da Ação Católica" temos sempre como fundo de quadro, e como instrumento utilizado para fazer se revelarem as causas profundas dos erros apontados, toda a doutrina exposta depois em "Revolução e Contra-Revolução". Por outro lado, acompanhando o Autor no raciocínio lógico e seguro com que vai, pouco a pouco, desmascarando a Revolução nesse segundo livro, não se pode deixar de lembrar os erros por ele apontados no primeiro, tão evidente se torna a filiação revolucionaria destes.
Em síntese, "Revolução e Contra-Revolução" desenvolveu magistralmente os princípios que guiaram a composição de "Em Defesa da Ação Católica", explicitando-os e demonstrando sua rigorosa adequação aos fatos, — não só àqueles que já pertencem à História, como também aos que podemos observar diariamente na crise religiosa que atravessamos.
É fácil constatar a oportunidade desse estudo lembrando-nos do papel relevante que têm o igualitarismo e a liberdade sem peias, assim como o orgulho e a sensualidade, na marcha da Revolução. Esses dois livros denunciaram-lhes clara e insofismavelmente a importância, mas não foram ouvidos por todos que deveriam ouvi-los.
Para ajuizar quão bom teria sido se os tivessem ouvido todos, basta abrir os olhos.
EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA
UM LIVRO QUE NÃO PERDEU POR ESPERAR
J. de Azeredo Santos
Povo de cerviz dura, grandes foram os desfalecimentos dos israelitas em sua caminhada de quarenta anos pelo deserto, apesar dos milagres portentosos com que Deus corroborava sua promessa de os conduzir à terra de Canaã. A cada falta de confiança, a cada murmuração, a cada revolta, correspondia sempre um castigo proporcionado à ofensa cometida contra Deus. Mas houve uma falta que sobrelevou sobre todas as outras e foi julgada de tamanha gravidade, que requereu um castigo extraordinário, diferente das pragas e outros males com que até então eram afligidos os culpados. Coré, Datan e Abiron se levantaram contra Moisés e Aarão, juntamente com duzentos e cinquenta homens, principais da Sinagoga. "Sublevados, pois, contra Moisés e Aarão, disseram: Baste-vos que todo o povo seja um povo de santos, e que o Senhor esteja no meio deles; por que vos elevais sobre o povo do Senhor?" (Num. 16, 3). Tal como na tentação de nossos primeiros pais, também aqui vemos se insinuar o veneno letal do igualitarismo. Por inspiração divina, manda Moisés a todo o povo que se separe das tendas de Coré, de Datan e de Abiron, e a seguir declara: "Nisto conhecereis que o Senhor me enviou a fazer tudo o que vedes, e que eu não o fiz por minha cabeça. Se estes morrerem com a morte ordinária dos homens, e forem feridos de uma praga de que também os outros homens costumam ser feridos, o Senhor não me enviou; mas, se o Senhor fizer por um novo prodígio que a terra abrindo a sua boca, os engula com tudo o que lhes pertence, e que desçam vivos ao inferno, então sabereis que eles blasfemaram contra o Senhor.
"Logo que Moisés acabou de falar, fendeu-se a terra debaixo dos pés deles e, abrindo a sua boca, os tragou com as suas tendas e com tudo o que lhes pertencia; e desceram vivos ao inferno, e cobriu-os a terra, e pereceram, do meio da multidão" (Num. 16, 28-33). Menos terrível, mas também fulminante, foi o castigo reservado aos seus cúmplices: "Ao mesmo tempo, saindo um fogo do Senhor, matou os duzentos e cinqüenta homens" (Num. 16, 35).
A MISERICÓRDIA DE DEUS É PARA OS QUE O TEMEM
Temos na história de Israel uma prefiguração do que vem acontecendo a toda a humanidade através dos séculos: revela-Se Deus aos homens, impõe-lhes sua santa vontade e os cobre de sua misericórdia. Mas a misericórdia do Senhor, afirma-o a Santíssima Virgem no Magnificat, é para aqueles que O temem. Cheio de amor e de perdão para os pecadores arrependidos, é também Deus o Supremo Juiz. Daí as alternâncias de recompensas e castigos com que é premiada a fidelidade à sua Lei e com que são flagelados os que se entregam à iniquidade.
Não nos preocupa aqui o problema de saber se as recompensas e os castigos sobrevêm já neste mundo. O que é certo é que a aparente felicidade dos iníquos e as provações dos justos não nos devem fazer esquecer essa lei que a própria Virgem Santíssima nos lembra. Mesmo porque, observando os fatos humanos com olhos sobrenaturais, como o faz o Salmista, deparamos com a tremenda realidade do juízo particular que aguarda cada criatura humana logo após a morte. "Na verdade, ninguém pode livrar-se a si próprio, nem dar a Deus o preço de seu resgate" (Sl. 48, 8).
Mas os povos respondem solidariamente pelas suas ações, e respondem neste mundo. Tal como aconteceu com os israelitas, conhecem momentos de grandeza alternados com fases de miséria e de ignomínia, de acordo com a fidelidade ou o desprezo que votam à soberana vontade do Altíssimo.
Ora, para todos aqueles que procuram viver intensamente sua fé, o panorama religioso, político e social do mundo contemporâneo oferece motivo para gravíssimas apreensões. Não mudou Deus, por certo, seu modo de agir com relação à humanidade. Continua válido o ensinamento do Divino Salvador, de que procuremos em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e que tudo mais nos será dado por acréscimo. E o que vemos em escala sempre crescente, apesar da superabundância de graças derramada sobre os homens do cimo do Calvário, não é o triste espetáculo de multidões inteiras que desprezam o maná da boa doutrina, para correr atrás das codornizes da mera satisfação dos apetites carnais? Além desse gradual embrutecimento das massas, e a lhe explicar as origens, espalha-se por toda parte como a peçonha de um pavoroso monstro a subversão social pregada pelos êmulos modernos de Coré, de Datan e de Abiron. A conspiração igualitária e gnóstica lança suas redes por todo o mundo universo. "No curso dos séculos — escreve Pio XI —as perturbações se vêm sucedendo umas atrás de outras até chegar à revolução de nossos dias, a qual por todo o mundo já é ou uma realidade cruel ou uma séria ameaça, que supera em amplitude e violência a todas as perseguições que anteriormente padeceu a Igreja. Povos inteiros estão em perigo de cair de novo em uma barbárie pior que aquela em que jazia a maior parte do mundo ao aparecer o Redentor" (Encíclica "Divini Redemptoris"). "E por causa dos progressos crescentes da iniquidade, adverte o mesmo Papa em outro documento, a caridade de um grande número de homens se esfriará" (Encíclica "Miserentissimus Redemptor").
Que castigos não aguardam, pois, aos povos?
INFILTRAÇÃO DE ERROS NA AÇÃO CATOLICA
Em seu desejo de restaurar todas as coisas em Cristo, lança São Pio X as bases da Ação Católica, que Pio XI procuraria estruturar como o grande instrumento para reconduzir a humanidade a Deus e atalhar os progressos da hidra revolucionaria. E enquanto as chancelarias, entre as duas catástrofes mundiais de 1914 e 1939, tentavam amenizar os perigos que ameaçavam a humanidade, mediante concessões aos caudilhos totalitários, ou recorrendo à redução dos armamentos e a outras panacéias, a Santa Igreja procurava esmagar a cabeça da Serpente pelo afervoramento da vida religiosa e recristianização da sociedade através do incremento do apostolado leigo, arma poderosa a coadjuvar a ação da Hierarquia, a fim de que a mensagem evangélica, como seiva vital, penetrasse em todos os setores das atividades humanas.
Tamanhos, porém, tinham sido os progressos da Revolução, que seus germes haviam ganho as próprias fileiras católicas. Denunciaram-no no caso das infiltrações do erro liberal Papas como Gregório XVI, Pio IX e Leão XIII. Para alertar os fiéis contra os agentes revolucionários em seu novo disfarce modernista, levantou-se a voz de São Pio X em palavras veementes: "Aludimos, Veneráveis Irmãos, a muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a não poucos do Clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido conhecimento de filosofia ou teologia, mas embebidos antes das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, blasonam, postergando todo comedimento, de reformadores da mesma Igreja (...); não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos, e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dEla que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles conhecem a Igreja" (Encíclica "Pascendi").
Aquele que, na calada da noite, semeia a cizânia no campo do pai de família, não deixaria de tentar destruir os frutos que para todo o mundo prometia a Ação Católica. Esgueiraram-se desde muito cedo, em elementos filiados a esse organismo, princípios errôneos e revolucionários sobre a natureza do mandato que a Igreja confere aos leigos, bem como noções perniciosas quanto à vida espiritual, quanto à disciplina e quanto aos métodos de apostolado.
QUEM ALCANÇARÁ A TERRA PROMETIDA?
Foi por seu extremado amor à ortodoxia, e por estar firmemente convencido de que aquela Canaã onde deve imperar a paz social só poderá ser conquistada pela mais inflexível adesão aos ensinamentos da Santa Igreja, que Plinio Corrêa de Oliveira há vinte anos atrás publicou o livro "Em Defesa da Ação Católica". Só esse mesmo Deus, que perscruta os corações dos homens, sabe em toda a extensão e profundidade o bem que essa obra admirável fez às almas de reta intenção, impedindo-as de cair em erros que se iam infiltrando em alguns ambientes da Ação Católica.
Uma indicação segura de quão oportunamente o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira tratou dessa questão candente, foram não somente os aplausos e as adesões que recebeu de todo o Brasil e de outros países onde a AC apresentava problemas semelhantes, mas também a campanha hostil de que o livro e seu Autor foram alvo da parte daqueles a quem desagradavam as verdades que "Em Defesa da Ação Católica" afirmava. À boca pequena circulavam os mais disparatados boatos. A mim, pessoalmente, um Sacerdote, em cidade do interior do País, afiançou que eu não perdia por esperar, pois havia uma comissão de teólogos debruçada sobre o livro, para denunciar à Santa Sé seus inúmeros erros. .. Tempos mais tarde a Santa Sé de fato se pronunciou sobre o assunto, através de carta da Secretaria de Estado portadora dos louvores e das bênçãos do Santo Padre Pio XII para o Autor e para a obra!
Mas, além do inestimável bem proporcionado por todas essas páginas em que se respira o aroma da mais pura ortodoxia e do mais entranhado amor à Igreja, vale o livro pelo seu aspecto de testemunho. Escrito por um leigo, contém "Em Defesa da Ação Católica" a grave, a tremenda advertência de um homem cuja vida se acha inteiramente consagrada ao serviço da Santa Igreja, sentindo seus problemas, empenhando-se em suas lutas, só Deus sabe a custa de quantos sacrifícios, de quantas renuncias, de quantas incompreensões. Se, apesar de Plinio Corrêa de Oliveira haver levantado sua voz em defesa do apostolado leigo, vários dos erros por ele assinalados são hoje levados às últimas consequências pelos adeptos da "moral nova" e pelo assim chamado esquerdismo ou progressismo católico, este fato faz crescer mais ainda o valor de testemunho de "Em Defesa da Ação Católica". Suas páginas constituirão aos olhos da Historia um elemento de inigualável valor para o estudo da gênese e do progresso de certos problemas cuja gravidade a ninguém hoje passa despercebida.
Depois das agruras dos tempos presentes, tal como ao fim da caminhada dos israelitas pelo deserto, quem alcançará a terra prometida, ou seja, uma ordem social em que os homens se desapeguem das coisas de gentios de que nos fala o Evangelho (cf. Mat. 6, 32), para com todo o coração e com toda a alma seguir Aquele que tem palavras de vida eterna? Somente triunfarão da hidra revolucionaria e gozarão daquela paz que o Santo Padre João XXIII, com Pio XII, repete ser obra da justiça, os que estiverem sinceramente imbuídos do propósito que conduziu Santa Joana d'Arc às suas miraculosas vitorias: "Dieu premier servi", lema que pode ser colocado no frontispício desse livro combativo e extraordinário, cujo vigésimo aniversário os colaboradores e amigos de "Catolicismo", cheios de gratidão, hoje celebramos.
COMENTANDO...
Fabio Vidigal Xavier da Silveira
TEXTO "REACIONÁRIO"?
Vivemos, hoje, em um mundo fundamentalmente diverso daquele de nossos avós e mesmo, sem recuar muito no tempo, de nossos pais: vida trepidante, veloz, inquieta, em que a velocidade e, pois, o relógio, substituíram os vagares de outrora; em que a cordialidade e a civilidade cederam lugar à agressividade e à indelicadeza; em que a sensibilidade aos poucos vai sendo esmagada por um materialismo desconcertante; em que os cuidados e o carinho das babás já se tornaram estórias para crianças ... substituídas pelo zum-zum de máquinas e motores; vida que, em suma, levada que era em tempo de valsa, passou a palpitar em ritmo de "rock-and-roll". Não podemos deixar de lastimar esse estado de coisas, responsável pelo abandono quase completo das formas de cortesia como eram compreendidas até o início do século, e hoje relegadas a segundo plano por um generalizado e "comodo" desleixo no modo de falar, de apresentar-se, de comportar-se".
Quem é o "reacionário" que escreveu estas linhas? Será algum colaborador de "Catolicismo"?
Não. Estas são palavras com que a Companhia Editora Nacional apresenta o interessante livro "Guia de Boas Maneiras", no qual o Sr. Marcelino de Carvalho evoca com conhecimento de causa e "verve", normas de vida social que o passado consagrou, mas que a civilização moderna está em vias de abolir. Por quê? Unicamente pelo fato de que a educação, a polidez, a cortesia, são virtudes naturais que o espírito materialista e socializante do homem contemporâneo abomina.