REFORMA AGRÁRIA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA EM 30 DIAS
• Na concentração de agricultores promovida pela FAREM no Teatro Francisco Nunes, de Belo Horizonte, com a presença de quatro mil ruralistas, foi aprovado um voto de louvor aos autores de RA-QC.
• O Edital dos Exmos. Revmos. Srs. Arcebispo de Diamantina e Bispo de Campos intitulado "Reforma constitucional e "reformas de base": esclarecimentos doutrinários" (ver "Catolicismo", no 150, de junho de 1963) foi comentado na TV de Curitiba, na "Gazeta do Povo" e "Diário da Tarde" da mesma capital, "A Cruz" e "O Globo" do Rio de Janeiro. Reproduziram seu texto o "Diário de Notícias" e "A Tarde" de Salvador e "A Cidade" de Ribeirão Preto (SP). Nesta última localidade, o Revmo. Pe. Celso Ibson de Sylos publicou no "Diário de Notícias" um artigo agressivo a respeito do referido Edital, a que contesta afirmando que a mensagem dos membros da Comissão Central da CNBB, focalizada pelo documento, representava a palavra oficial do Episcopado Brasileiro. Na edição do dia seguinte do mesmo jornal, que é órgão da Arquidiocese de Ribeirão Preto, foi estampada a seguinte "Comunicação da Chancelaria do Arcebispado": "Por determinação do Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, comunico que a atitude assumida pelo "Diário de Notícias", ontem, sobre a posição de dois Bispos brasileiros que não concordaram com o manifesto do Episcopado, assinado pelos membros da Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, deve-se exclusivamente à iniciativa do Revmo. Pe. Celso Ibson de Sylos, sem ter sido ouvido o Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano. Aproveito o ensejo para reafirmar que os Exmos. Srs. Bispos da Província Eclesiástica de Ribeirão Preto endossaram o manifesto do Episcopado sobre as reformas de base, como declararam na nota oficial de sua reunião em Jabuticabal, a 3 do corrente. — Ribeirão Preto, 18 de maio de 1963. Con. Aguimar Luiz de Paula Marques, Chanceler do Arcebispado".
• Por ocasião da I Feira do Arroz, realizada em Olímpia (SP), foi montado um stand com RA-QC e demais lançamentos da Editora Vera Cruz, o qual teve grande repercussão. Foram vendidos numerosos exemplares desses livros e colhidas algumas centenas de assinaturas para o manifesto de apoio aos princípios de RA-QC em matéria de reforma agrária.
• A concentração de agricultores realizada em Amparo, na qual o Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer e o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira pronunciaram conferencias sobre reforma agrária (ver "Catolicismo", no 151, de julho p.p.) foi noticiada por "O Estado de São Paulo", "Gazeta Mercantil", "Diário da Noite", "Última Hora" e "A Gazeta", de São Paulo, "O Comercio" de Amparo, "Tribuna Bragantina" de Bragança Paulista, "O Globo", "O Jornal", "Jornal do Comercio", "Jornal do Brasil" e Rádios Nacional, Globo e Tupi, do Rio de Janeiro. Após a reunião o presidente da Associação Rural de Amparo, Sr. João Batista de Campos Cintra, telegrafou ao Sr. Presidente da República e aos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, nos seguintes termos: "Lavradores paulistas e mineiros representantes dos Municípios de Campinas, Jundiaí, Itatiba, Itapira, Monte Alegre do Sul, Itapetininga, Presidente Prudente, Bragança Paulista, Serra Negra, Valinhos, Piracaia, Atibaia, Tupã, Votuporanga, Socorro, Joanopolis, Cariaçu, Silvianopolis, São Gonçalo, São Paulo (Capital), Lindóia, Pedreira, Marina e Amparo, presentes na grande concentração de Amparo, incumbiram-me de comunicar a V. Excia. o seu total repudio à reforma constitucional. Pedem aos Poderes Públicos que qualquer lei agrária se faça de acordo com os princípios do livro "Reforma Agrária — Questão de Consciência", por entenderem que a verdadeira solução dos problemas do campo significa crédito fácil, assistência técnica, sanitária e educacional, facilidade para aquisição de sementes, preços de produtos agrícolas proporcionais às variações dos preços de maquinaria, inseticidas e fertilizantes. Esperando que o Governo respeite nossas tradições cristãs, subscrevo-me muito respeitosamente, certo de que V. Excia. dispensará toda a atenção às justas aspirações da classe agrícola. — João Batista Cintra, Presidente da Associação Rural e Vice-Prefeito de Amparo". Esse telegrama foi publicado por "A Gazeta" e "A Gazeta Esportiva", e lido na Rádio Tupi, de São Paulo.
• Para manter contato com as numerosas pessoas que se têm manifestado sobre RA-QC a Editora Vera Cruz Ltda. acaba de criar uma circular intitulada «Carta aos Fazendeiros», que conterá de forma sintética notícias e comentários concernentes à aceitação do livro em nosso meio, e ao problema agro-reformista em geral.
• O jornalista José Tavares de Miranda sugeriu na coluna social da "Folha de São Paulo" que seja outorgado aos autores de RA-QC, Srs. D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e economista Luiz Mendonça de Freitas, o título de "Homem da Lavoura", que a Valmet do Brasil SA instituiu para premiar neste ano a personalidade que mais serviços tenha prestado ao campo em nosso País.
• «KNA — Informationdienst» e «DBN — Deutsch-Brasilianische Nachrichten», publicações alemãs orientadas pelo Deputado Hermann Görgen, figura de relevo no Parlamento de Bonn, estamparam referências elogiosas a RA-QC.
• Conta já cerca de 27 mil assinaturas o manifesto em que agricultores e pecuaristas de todo o País se solidarizam com as teses de RA-QC a respeito da reforma agrária. A imprensa do Ceará, Guanabara, Minas Gerais, Paraná e São Paulo noticiou fartamente as centenas de novas adesões colhidas em Amparo, Campinas, São Carlos (SP), Boa Esperança, Caratinga (MG), Brasília e outras cidades, principalmente dos Estados de Minas Gerais e São Paulo, onde esse manifesto vem encontrando enorme receptividade. O seu texto foi lido na Câmara Federal pelo Deputado Geraldo Freire, da UDN mineira. Durante a concentração de caráter nitidamente anticomunista que se realizou no Ginásio do Estádio do Pacaembu, na capital paulista, com a presença dos Governadores de São Paulo e da Guanabara, duas mil pessoas subscreveram o manifesto. Noticiamos em outro local a entrega do documento ao Legislativo federal.
AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES
A constância do pagão brota do orgulho
Plinio Corrêa de Oliveira
Em Saigon, no dia 11 de junho p.p., ocorreu um fato que alcançou rapidamente repercussão mundial.
Os budistas do Vietnã do Sul, alegando que não gozam de paridade de condições com os católicos, estão movendo já há algum tempo grande campanha contra o governo Ngo Dihn Diem, que acusam de favorecer a Santa Igreja.
Ao que parece essa "acusação", que só reverte em glória para o Presidente sul-vietnamita, impressionou menos a população do que desejavam os budistas. Só assim se explica que eles tenham preparado, em uma praça central de Saigon, um espetáculo destinado a abalar seus correligionários e impressionar a opinião mundial.
No momento em que, com a presença do chefe do Estado, dos membros do governo e do corpo diplomático, se celebrava na Catedral uma Missa solene por alma do pranteado Pontífice João XXIII, os sacerdotes budistas, de cabeça raspada e envergando seus característicos trajes amarelo-açafrão, saíram indignados de um pagode onde haviam realizado uma cerimônia religiosa. Precedia-os um automóvel. Chegando ao local previsto, o veículo se deteve, e dele desceram três bonzos. Ao mesmo tempo os manifestantes formavam um círculo em torno do automóvel, impedindo que dele se aproximassem outras pessoas.
Um dos bonzos que descera do carro, o setuagenário Tchich Quang-duc, sentou-se com as pernas cruzadas e as mãos postas. Seus dois companheiros derramaram gasolina sobre ele. Quang-duc então ateou tranquilamente fogo a seus próprios trajes, e o bonzo suicida se converteu assim em tocha viva, permanecendo imóvel até que seu corpo ficasse inteiramente carbonizado, quando então [caiu] para trás.
Terminada a queima do cadáver, oito monges desfraldaram uma bandeira budista, que levaram em passeata pelas ruas.
Durante a lamentável cena, a polícia tentou intervir, sendo impedida pelos bonzos, que lhe resistiram aos brados. Os policiais detiveram porém 51 monjas e dez outras mulheres que, sentadas em círculo perto do local em que ocorrera o suicídio, entoavam cânticos religiosos em louvor de Quang-duc.
Abstemo-nos de comentar aqui o furor contra a Santa Igreja de Deus, que levou o bonzo a matar-se. Consideramos o simples fato do suicídio.
Quem quer que conserve algum senso moral não pode deixar de ter horror ao assassínio. E isto máxime quando o assassino, numa verdadeira aberração, volta contra si mesmo a arma mortífera.
Ora, esse crime, qualificado tal pela moral cristã e por todos os Códigos que dela receberam benéfica inspiração, foi praticado pelo bonzo Quang-duc em um ato plenamente aprovado pela sua seita. Com efeito, foi como que em um desdobramento da cerimônia realizada no pagode, que a lúgubre ação foi efetuada. O suicida era bonzo, bonzos eram os dois cúmplices - que segundo a adequada qualificação de nosso Código Penal são criminosos - incumbidos de embeber de gasolina as vestes do ancião. Bonzos eram os que, também cúmplices, resistiram à polícia para que o suicida não recebesse socorro. Budista foi a bandeira que em sinal de triunfo se desfraldou, consumada a incineração. E era a alma do budismo que se manifestava nas canções das monjas e demais mulheres que depois exaltaram o feito ignóbil.
Para que "Catolicismo" publica todos estes pormenores? Por que estampa essas horrendas fotografias?
Para atingir de modo eficiente e vivo um fim muito importante: armar seus leitores com um argumento claro, palpável, atual, para demonstrarem a terceiros quanto há de tolo e de falso na afirmação tão corrente em nossos dias, de que todas as religiões são boas.
É boa uma religião que faz do suicídio um uso destes?
Mas, dirá alguém, esse bonzo não revelou real heroísmo? Não tinha razão a agência telegráfica que o qualificou de mártir?
Para demonstrar quanto é errado este modo de entender, apelamos para a autoridade do grande Doutor da Igreja, São Bernardo.
No ano de 1143 alguns membros de uma seita maniquéia foram presos em Colônia e levados à barra de um tribunal. Como se negassem a abjurar da heresia, a populaça deles se apoderou e os queimou vivos em uma fogueira. Suportaram seus sofrimentos não somente com ânimo forte, mas até com manifestações de alegria. Um dos juízes, impressionado, escreveu a São Bernardo, pedindo-lhe uma explicação para o mistério.
Eis a resposta do Santo, que começa por dizer que aprovava o zelo da multidão, mas não a ação de arrebatar os réus das mãos do tribunal: "Alguns fiéis ficaram espantados de ver esses hereges irem para a morte com júbilo e alegria. Mas esse espanto torna manifesto que eles não se compenetraram suficientemente de quão grande é a força de Satanás tanto sobre os espíritos e corações quanto sobre os corpos daqueles que já se entregaram a ele. Não é mais estranho para um homem lançar mãos violentas em si mesmo, do que voluntariamente submeter-se à violência de outrem? E no entanto o demônio pode prevalecer sobre muitos para que façam isto. Pois muito frequentemente ouvimos de pessoas que miseravelmente se afogaram ou se enforcaram por sugestão sua. Foi sem dúvida o demônio que persuadiu o infeliz Judas a pôr fim à vida. Parece-me, todavia, maior e mais espantosa manifestação de força que ele pudesse colocar no coração do Apóstolo infiel o desígnio de trair seu Mestre, do que induzi-lo depois a se enforcar. Não há consequentemente comparação entre a constância dos santos mártires e a obstinação demonstrada por esses hereges. No caso dos primeiros, o desprezo pela morte foi um efeito da piedade; nos últimos, procedeu esse desprezo da dureza do coração. O sofrimento foi o mesmo para todos, mas as disposições variaram largamente" ( "Life and Teaching of St. Bernard", Aibe J. Luddy O.Cist. - Dublin, 1927 - p. 492 ).
A tal propósito, o autor da obra aqui citada acrescenta: "Santo Agostinho explica do mesmo modo a diferença entre a fortaleza revelada pelos mártires cristãos e a dos infiéis: "A constância do pagão brota do orgulho; a do cristão, da caridade" ( Contra Juliano, I, I ). "Não é o sofrimento, mas a causa que faz o mártir" ( In Ps. LXXXIV ). E daqueles que morreram pelo erro diz ele: "Correram bem, mas fora da pista - Bene cucurrerunt sed extra viam". A mesma explicação é dada pelo II Concílio de Orange, can. 17" ( ibid ).