"PERMANECEIS FIÉIS ÀS TRADIÇÕES DE VOSSOS PAIS QUE VIVERAM E MORRERAM TRANQUILOS NA ESPERANÇA DA VIDA ETERNA"
(continuação)
ocorrido na Rússia, e transmitido pela UPI para o mundo inteiro.
O Tribunal Supremo da Federação Russa condenou à morte nove pessoas acusadas de haver utilizado enfermos mentais para fabricar tecidos, que eram em seguida vendidos ilegalmente.
A ação sem dúvida parece censurável. Mas, para quem tem o mais tênue senso de justiça, que pavorosa desproporção entre o crime e a pena!
Seria pois cabível que o Sr. Bertrand Russell protestasse. E protestou...
Contra o que? Contra o julgamento brutal? Contra a lei bárbara em cujo nome foi ele proferido? Contra o regime torpe e sanguinário que promulgou tal lei? Contra a ideologia diabólica que a inspirou?
Não, e não. Considerando que dos nove sentenciados sete eram judeus, Bertrand Russel (segundo o despacho da UPI) protestou pelo fato de que as penas capitais por delitos econômicos vêm sendo aplicadas com excessiva frequência contra judeus. Análoga atitude foi tomada por vários outros intelectuais do Ocidente.
É claro que se deve lamentar a injustiça assim praticada contra os judeus.
Mas por que a injustiça não é lamentada, quando praticada contra outros?
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Estamos longe, e até muito longe, de aprovar todas as ações e — mais ainda — todas as omissões do Sr. Lyndon Johnson na presidência dos Estados Unidos.
Isto não obstante, aplaudimos com alegria seu ato promulgando a lei que reduz de 20% o imposto de renda pago por 80 milhões de contribuintes norte-americanos.
E, melhor ainda do que o fato, é o motivo alegado pelo Presidente: a redução dos impostos estimula a iniciativa privada e, como tal, infunde vitalidade em toda a economia do País.
Esta tomada de posição se baseia no pressuposto, tão nitidamente afirmado pela “Mater et Magistra”, de que a atitude do Poder Público ante a iniciativa privada tem de ser, fundamentalmente, de estímulo e apoio.
Que belo exemplo para o nosso socialismo botocudo, agressivamente confiscatório e “reformista”.
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A atitude e as palavras do Presidente Johnson constituem uma pequena luz a brilhar — quão precária! — no horizonte borrascoso de nossos dias.
Aqui, em nosso Brasil, temos uma razão de esperança, muito mais palpável. É a magnífica reação desenvolvida pela população católica de Belo Horizonte contra o pronunciamento confusionista e desconcertante — é absolutamente o mínimo que se pode dizer - da AC daquela Arquidiocese, em favor do agro-reformismo nacional de matiz Brizola-Paulo de Tarso-Max Costa Santos.
Quando um povo tem tais reservas de integridade doutrinária e nobre altaneria, traz em si mesmo a marca de que Nossa Senhora não o abandonou, e pelo contrário muito quer fazer através dele para confundir os filhos das trevas, e exaltar a Santa Igreja de Deus.
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S. Excia. Revma. o Sr. D. Clemente José Carlos Isnard, O.S.B., Bispo de Nova Friburgo, cujo nome declinamos com a devida veneração, escreveu na “Revista Eclesiástica Brasileira” (vol. 23, fasc. 4, de dezembro de 1963) um artigo sob o título de “A Constituição De Sacra Liturgia”, no qual lemos o seguinte trecho: “evidentemente, é forçoso reconhecer, na acidentada história do movimento litúrgico, a atuação do Espírito Santo que dirige a Igreja. Doutra forma não se explicaria a sanção solene dada hoje a tantas reivindicações outrora recalcadas, quando não acoimadas de exagero e mesmo de heresia. Assistindo na Basílica Vaticana à Sessão Solene de promulgação, não podia esquecer todos aqueles que lutaram e sofreram por este ideal, e especialmente aqueles que, tendo consagrado o melhor de sua atividade ao serviço da Liturgia, morreram sem ver este grande dia. O Espírito sopra onde quer, e ouvimos Sua voz ressoar na grande Aula Conciliar no dia 4 de dezembro de 1963”.
Seja-nos lícito fazer a este propósito um comentário que não é uma retificação, mas se limita a acrescentar um matiz ao quadro debuxado por S. Excia. Revma.
O tópico citado contém algumas afirmações de índole histórica.
Fazer História é algo de muito complexo. E nem sempre ao escrevê-la, acode até aos melhores historiadores, dizer tudo quanto cumpre para a apresentar em todos os seus matizes.
Lidas estas palavras do Exmo. Revmo. Sr. Bispo de Nova Friburgo, fica-se data vênia a desejar alguma coisa. Pois, tomadas no seu sentido natural, pareceriam elas dizer que erros doutrinários, não os houve em matéria litúrgica ao longo da vida acidentada do movimento litúrgico. Essa afirmação, que, como é notório, não corresponde à realidade histórica, deixa mal os numerosos ataques havidos no Brasil e fora dele, a esses erros. Naturalmente, não terá sido esta a intenção do egrégio Prelado. Porém, em uma época de confusão como é a nossa, não é ocioso lembrar que a Encíclica “Mediator Dei”, de Pio XII, descreve e refuta vários desses erros, o mesmo podendo dizer-se de mais de um documento do Magistério Eclesiástico em nosso País. Como consigna o Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, em sua admirável Carta Pastoral intitulada “Os documentos conciliares sobre sagrada Liturgia e instrumentos de comunicação social — Notas Pastorais” (ver “Catolicismo”, nº 158, de fevereiro p.p.), “infelizmente, nos últimos anos a avidez de coisas novas deu azo a que, no movimento de renovação litúrgica, surgissem certos desvios do reto caminho da sã doutrina e da prudência. “Pois que — diz Pio XII — com intenção e desejo de renovação litúrgica, alguns introduzem, com freqüência, princípios que, ou em teoria ou na prática, comprometem esta causa santíssima, e, muitas vezes, também a contaminam de erros que atingem a fé e a doutrina ascética” (Encíclica “Mediator Dei” — “Discorsi e Radiomessaggi”, IX. p. 497)”. E, pois, muito ataque e muita reserva ao movimento litúrgico não se deveu a um reprovável amor à estagnação, mas a um nobre e louvável zelo no defender a ortodoxia ou a tradição.
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Com todo o respeito, pedimos ao ínclito Bispo de Nova Friburgo nos permita aduzir algum matiz a outro tópico de seu importante artigo. S. Excia. afirma: “A luz desta orientação se compreende melhor a abertura que a Constituição mostra em face do uso da língua vulgar. O conceito de língua litúrgica ligado ao latim, contra a categórica e solene afirmação do Patriarca Maximos IV (“toutes les langues sont liturgiques”), ainda é mantido (art. 36 § 1), mas dando lugar à língua vernácula em tantos pontos art. 36 § 2, art. 54, art. 63, art. 101), que se pode prever, para não muito tempo, um tal predomínio desta, que forçará a alteração definitiva do conceito. Chegará o dia em que o latim estará representado na nossa liturgia um pouco mais do que o grego se encontra agora. Evidentemente, muito se perde com isso: tesouros de beleza lingüística como as intraduzíveis orações do Missal, a própria base do canto gregoriano, etc. Mas tudo isso é conscientemente sacrificado ou exposto a perigo em vista de um bem maior, o da participação ativa, mediante a compreensão facilitada dos fiéis”.
Seja-nos lícito dizer que as convicções e aspirações enunciadas pelo Exmo. Revmo. Sr. Bispo de Nova Friburgo não são partilhadas por todos os que na Santa Igreja se interessam pela matéria. Nem tampouco pela Constituição Conciliar “de Sacra Liturgia”.
Se bem entendemos o texto de S. Excia. Revma., as orações do Missal, ou pelo menos as melhores dentre elas, desaparecerão da Liturgia. Pois se várias ou todas são declaradas “intraduzíveis”, e “chegará o dia em que o latim estará representado na nossa liturgia um pouco mais do que o grego se encontra agora”, tudo ou quase tudo quanto é “intraduzível” tem de perecer. Como parece que também será alterado ou sacrificado até na “própria base”, o canto gregoriano.
Para muitos espíritos altamente qualificados, a renovação litúrgica inclui necessariamente um renascer da compreensão e amor aos textos da Liturgia, às línguas litúrgicas entre as quais o latim tem tanta saliência, e ao canto gregoriano. Assim sentem a respeito do movimento litúrgico as inúmeras almas que vivem sob o influxo do imortal Abade Dom Guéranger e do glorioso Mosteiro beneditino de Solesmes, que hoje lhe perpetua os ensinamentos, os exemplos e as esperanças...
Dizemo-lo com todo o respeito, porém sem constrangimento, por saber que nosso modo de pensar na matéria é confirmado não só pelo grande Bispo de Campos, como por mais de um membro ilustre do Venerando Episcopado Nacional.
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Dentre os múltiplos comentários suscitados pela recente sessão do Concílio Ecumênico, destacamos o seguinte, feito por “Informations Catholiques Internationales” (nº 203, de 1º de novembro de 1963, pág. 9, seção “Informations Concile”):
“Por fim, alguns Padres — não, de resto, sem uma certa coragem intelectual, pois nadam contra uma forte corrente — não estão absolutamente, convencidos de que a colegialidade seja de direito divino, e ademais eles a temem. Assim, Mons. de Proença Sigaud, arcebispo de Diamantina no Brasil, e Mons. Lefèbvre, superior geral dos Padres do Espírito Santo. “O poder de legislar para toda a Igreja, diz Mons. de Proença Sigaud, pertence unicamente a Pedro, como um poder pessoal, transmitido a seus sucessores. É óbvio que os apóstolos não governaram a Igreja inteira, mas tão somente suas Igrejas particulares. O poder legislativo dos bispos desaparecerá tão logo termine o Concílio. As conferências episcopais não devem transformar-se numa nova forma de poder sobre os bispos diocesanos, limitando-lhes o poder pessoal e mesmo o destruindo”.
É preciso notar que esses dois Padres deram ambos uma entrevista coletiva à imprensa para se fazerem melhor ouvir. Aqui está um problema em relação ao qual o Concílio não deveria fechar os olhos à maneira do que se censurou ao Vaticano I: como recuperar as ideias da minoria? Muitos teólogos, adeptos irrestritos da colegialidade, preocupam-se seriamente com isso. Há sem dúvida nas ideias da minoria algumas advertências que não se pode deixar de ouvir, se não se quiser mais uma vez lamentá-lo amargamente (“en avoir le cuisant regret”) no futuro”.
Antes de tudo é conveniente lembrar - tratando-se de uma revista francesa - o princípio muito francês de que “la vérité est dans les nuances”. Que o grande Arcebispo de Diamantina e o ínclito Arcebispo resignatário de Dakar e Superior Geral dos Padres do Espírito Santo tenham tido um papel que os imortalizou, na luta contra o princípio da colegialidade na recente sessão deste memorável Concílio, é bem certo. Mas a notícia, redigida como está, deixa no leitor a impressão de que os dois campeões do princípio da monarquia pontifícia lutaram quase sós. Ora, essa versão, além de não corresponder à inteira realidade dos fatos, é de molde a dar ideia de que a posição a favor da integridade da monarquia pontifícia está agonizando na Igreja. Para provar o contrário seria indispensável mencionar a este respeito a entrevista publicada pela imprensa mundial, tão rica de doutrina, tão corajosa e tão clara, do Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos (ver “Catolicismo”, nº 156, de dezembro de 1963 - “Momentosa entrevista”), bem como o fato notório de que grande número de Padres Conciliares pensam exatamente como SS. Excias. Revmas. Seria preciso, mais que tudo e acima de tudo, falar das palavras meridianamente claras de Sua Santidade o Papa Paulo VI, na Alocução com que encerrou a segunda sessão do Concílio.
“Informations Catholiques Internationales” seria pois inteiramente objetiva se apresentasse aqueles dois Arcebispos, não como campeões isolados, mas como figuras exponenciais de uma grande e luzida corrente de Padres Conciliares, cujo pensamento veio a obter nas palavras do Augusto Pontífice uma iniludível confirmação.
E como terminar estas notas sobre a matéria sem dizer que não entendemos bem que “cuisant regret” se possa nutrir a respeito da obra irrepreensível do I Concílio do Vaticano?
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De quando em quando, chegam-nos ao conhecimento comentários no sentido de que as tomadas de posição de “Catolicismo” deixam transparecer com frequência um amor à tradição já sem propósito nos dias que correm.
Transcrevemos com contentamento estes belos ensinamentos constantes da Pastoral de Saudação dirigida recentemente a seus diocesanos por S. Excia. Revma. o Sr. D. Hamleto de Angelis, M.S.C., primeiro Bispo de Viana, no Estado do Maranhão:
“Deus quer que todos os homens se salvem; portanto é necessário que alguém lhes anuncie a salvação, operada por Jesus na sua morte de Cruz. O Bispo, em sua qualidade de sucessor dos Apóstolos, é o mestre autorizado que Jesus envia à Diocese e pode com todo o direito aplicar a si mesmo as palavras do Profeta Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu, e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para por em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” (Luc 4, 18).
O Bispo será o vosso mestre, meus caríssimos filhos, ele que deve indicar o caminho certo da salvação, ele vos ensinará a conhecer e amar a Jesus Cristo, nosso divino e único Salvador, ele esclarecerá as dúvidas que surgirem na vossa vida.
Aos outros, que não vêm no nome de Cristo, vós não prestareis atenção. A eles aplicareis a sentença de Cristo: “São cegos querendo conduzir os cegos”.
E hoje, amados filhos, proliferam os falsos mestres de toda espécie, de todos os matizes, procurando, por todos os meios, iludir o povo de Deus. “Vigiai e orai – eu vos repito em nome de Jesus – para não cairdes em tentação”. Muitos católicos, ávidos de novidades, acabaram perdendo a fé, o dom mais valioso que Deus pode fazer a uma criatura humana.
Como vosso Bispo, e portanto como o mestre que Jesus vos manda, vos exorto a permanecer fiéis às tradições dos vossos pais que viveram e morreram tranquilos na esperança da vida eterna”.
"ESTUDO ABSOLUTAMENTE NOTÁVEL"
Continuam multiplicando-se as manifestações de aplauso de destacadas personalidades dos meios eclesiásticos e intelectuais do País e do Exterior, a respeito do artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre «A liberdade da Igreja no Estado comunista» (ver «Catolicismo», no 152, de agosto de 1963). Registramos aqui mais algumas das cartas escritas nesse sentido:
• Emmo. Cardeal Eugène Tisserant, Decano do Sacro Colégio: «J'ai bien reçu le fascicule que vous m'avez adressé. Je n'ai jamais varie dans mon appréciation sur le communisme et sur le danger qu'il represente pour toutes les religions surtout la nôtre. Dês 1949, j'ai dénoncé dans une Lettre Pastorale le péril qui vous frappe».
• Emmo. Cardeal Franziskus König, Arcebispo de Viena: «Acabo de receber o seu artigo «The freedom of the Church in the Communist State». Eu o percorri com grande interesse e lhe agradeço pelos dados que contém» (original em inglês).
• Revmo. Pe. José Ramón Garcia, O. P., Sevilha, Espanha: «También quiero ponderar este último trabajo sobre la libertad de la Iglesia en el Estado comunista. Ya veo que ha merecido el privilegio de su divulgación a varias lenguas. Yo también lo estimo muy ponderado y exacto y espero poder servirme de él en múltiples ocasiones».
• Barão Jean Amédée de Montagnac, Roma, Italia: «Je viens de recevoir votre article tiré à part dans le journal «Catolicismo» que j'ai lu avec le plus grand plaisir et la plus grande attention. (...) Je vous remercie d'avance pour les exemplaires de votre plaquette, que vous m'envoyez et que j'ai l'intention de distribuer parmi mes amis. (...) Je me permets de vous féliciter pour votre travail si clair, si dense et si pratique. Votre plaquette devra etre mis dans la main de beaucoup de cathotiques».
• Sr. A. de Lassus, «Permanences», Paris, França: «(...) cette étude («La liberté de l'Eglise dans l'Etat communiste») tout à fait remarquable et dont nos amis ont déjà eu connaissance a paru en français dans le numéro 421 de «Nouvelles de Chrétienté» (2 Janvier 1964). Dans le prochain numéro de «Permanences» qui paraitra au début de mars, Michel Creuzet consacre deux pages à cette étude».
• Sr. Paul H. Hallett, «The Register», Denver, Colorado, Estados Unidos: «Li com grande interesse e aprovação «The freedom of the Church in the Communist State», do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira. Tenciono comentá-lo em meu jornal, do qual sou um dos editores sócios, mas quero também incluir partes dele num livro que pretendo publicar este ano com a finalidade de apresentar elementos representativos do pensamento católico conservador» (original em inglês).
• Sr. Pierre Virion, Paris, França: «Je vous remercie également de votre brochure si intéressante sur l'Etat, l'Eglise et le communisme qui ne le cede en rien à votre ouvrage «Revolution et Contre-Révolution» et je vous en félicite».
• Sr. B. A. Santamaria, Melbourne, Austrália: «Li o ensaio do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira com muita atenção. Creio que é de grandíssima importância e fornece uma firme base doutrinaria para discussão sobre a idéia de coexistência que está hoje progressivamente confundindo os espíritos católicos» (original em inglês).
• Sr. Claude Laurent, «Itinéraires», Paris, França: «Nous vous remercions vivement de la communication de l'article si intéressant sur «La liberté de l'Eglise dans l'Etat communiste», dú au grand talent, bien connu, de Monsieur le Professeur Plinio Corrêa de Oliveira».
• Sra. Eleanor Schlafly, «Cardinal Mindszenty Foundation», St. Louis, Missouri, Estados Unidos: «(... ) gostaríamos de saber se o Sr. tem à disposição ou sabe onde poderíamos encomendar exemplares em língua espanhola do esplêndido artigo do Dr. Oliveira intitulado «The freedom of the Church in the Communist State». ( ...) Estaríamos interessados em encomendar 250 exemplares do folheto» (original em inglês).
• Sr. Francesco Leoni, Roma, Itália: «Ho ricevuto e letto con vivo interesse il saggio che mi avete mandato, su «La libertà della Chiesa nello Stato comunista» e Vi ringrazio».
CALICEM DOMINI BIBERUNT
SÃO GREGÓRIO VII PREPARA SE PARA A LUTA
Fernando Furquim de Almeida
A eleição de São Gregório VII se dava num momento decisivo. A luta iniciada pelo monge Hildebrando com o auxílio de tantos Papas e santos, para tirar a Igreja da situação calamitosa em que se encontrava, fora pouco a pouco produzindo uma divisão de campos cada vez mais nítida. Assim, ao morrer Alexandre II, viam se de um lado os partidários da reforma acompanhando com entusiasmo a orientação que dava a esta o Arquidiácono Hildebrando, e de outro lado os adversários dela, protegidos pelo Imperador. Entre eles se debatia a turbamulta dos fracos, indecisos a medíocres, sempre presentes nos momentos históricos mais graves, incapazes de escolher seriamente entre o bem e o mal e dispostos a acompanhar quem tiver maior probabilidade de vencer.
O Imperador Henrique IV, embora ainda jovem, já conseguira com suas desordens um renome de iniqüidade. Alexandre II tentara inutilmente reconduzi lo ao bom caminho por meios suasórios. Verificando porém que, a toda a bondade e paciência com que era tratado, Henrique IV retribuía protegendo ostensivamente os inimigos da Santa Sé, o Papa se vira obrigado a tomar medidas mais enérgicas. Insensível, o Imperador persistia em sua política detestável, apoiando o episcopado lombardo que se unira na oposição à reforma, e incentivando a luta contra a Pataria, da qual Alexandre II tinha sido um dos fundadores, e que, principalmente em Milão, dava um combate sem tréguas à simonia e ao nicolaísmo.
Eleito São Gregório VII, a corte germânica se reuniu para decidir se o reconheceria ou não. De acordo com a reforma que vinha promovendo o até então Arquidiácono Hildebrando, esse reconhecimento não tinha sido pedido, e se fosse tomada alguma medida contrária à liberdade da Igreja, não havia dúvida de que o novo Papa reagiria com a máxima energia. Não faltaram conselheiros para alegar falhas no processo da eleição e pôr em evidência o fato de o Imperador não ter sido consultado. Henrique IV, conhecendo São Gregório VII, achou mais prudente não se pronunciar explicitamente, e determinou o comparecimento de seu chanceler às cerimônias de ordenação, sagração e coroação, o que implicava num reconhecimento tácito.
São Gregório VII inaugurou o seu pontificado procurando resolver pacificamente todas as questões pendentes entre a Santa Sé e o Imperador. Estava, no entanto, absolutamente disposto a defender os direitos da Igreja, se preciso com energia, como se vê pela carta que escreveu a Godofredo o Corcunda, Duque da Lorena e da Toscana, comunicando a sua ascensão ao sólio pontifício:
"Quanto ao Rei (dos Romanos, título que o Imperador usava até ser coroado), ninguém se preocupa mais do que eu pela sua glória presente e futura. É minha intenção, no momento favorável, tratar com ele por intermédio dos meus legados, com a afeição e a vigilância de um pai, a respeito das coisas que se referem à liberdade da Igreja e à honra do trono. Mas — Deus não o permita — se ele nos retribuir o amor com o ódio, e se, desconhecendo a justiça de Deus, pagar com desprezo a grande honra que recebeu, a sentença ‘maldito seja quem não ensangüenta a própria espada’ não cairá sobre mim".
Ao mesmo tempo que procurava paternalmente convencer Henrique IV de seus erros, São Gregório VII inaugurava uma ativa política de alianças com os senhores feudais da Alemanha e da Itália, e fortalecia o poder da Santa Sé com a criação de uma forte milícia posta a serviço da reforma.
O êxito dessas medidas adotadas pelo Papa pode ser avaliado por um fato que ilustra bem o ambiente medieval, tão difícil, às vezes, de ser compreendido pelo homem moderno. Godofredo o Barbudo, Duque da Lorena e da Toscana e um dos maiores senhores feudais da época, na hora da morte pediu que chamassem Thierry, Abade de Santo Humberto. O Monge, ao chegar, levantou os olhos para o céu e exclamou: "Afinal, Senhor, humilhastes este soberbo e o feristes". O Duque aceitou humildemente a repreensão, e depois de confessar se entregou ao Abade a sua espada, dizendo: "Meu Pai, eu vos dou esta espada para serdes testemunha, no julgamento de Deus, de que renunciei à cavalaria do século". Antes de morrer, acompanhado de seu filho e de seus nobres, foi transportado à Igreja de São Pedro, para solenemente doar à Abadia de Santo Humberto não só esse templo, como várias terras e mil libras de prata. Entregou como penhor um relicário de marfim com numerosas relíquias, o qual só seria devolvido à sua família depois de completada a doação.
Seu filho, Godofredo o Corcunda, não cumpriu senão parcialmente as promessas do pai. Era um dos senhores feudais mais irrequietos do seu tempo, que nem o casamento com a intrépida Condessa Matilde conseguiu refrear. Imaginando agradar com isso à sua futura esposa, célebre pelo devotamento com que servia à Santa Sé, Godofredo o Corcunda tomou o relicário à força e o enviou à jovem como presente de núpcias.
O Abade de Santo Humberto não pôde reagir na ocasião, mas quando São Gregório VII subiu ao trono pontifício, foi a Roma acompanhado do Bispo Hermann de Metz, e pediu ao Papa que lhe fizesse justiça. São Gregório VII lhe deu ganho de causa, e Hermann de Metz foi encarregado de convencer Godofredo de que deveria cumprir as últimas vontades de seu pai. Bem recebido pelo Duque, que chegou a lhe ceder o próprio leito, Hermann de Metz não conseguiu de início levá lo a arrepender se e submeter se á decisão pontifícia. Numa noite de inverno o Bispo foi acordado pelo sino da Igreja de São Pedro, que tocava para lembrar aos monges a hora das matinas, e perguntou que religiosos viviam na vizinhança. Tendo o Duque respondido que eram os que seu pai colocara naquela igreja, disse Hermann: "Felizes os que nem o torpor da noite nem a intempérie de um inverno glacial impedem de louvar o Criador do mundo! Mas infeliz, mil vezes infeliz és tu, que nem o temor de Deus nem o amor de um pai podem comover! Infeliz de ti, que fraudulentamente suprimiste a esmola que ele tinha dado, e que a recusas ainda a irmãos tão piedosos".
Godofredo, tocado pela graça, reconheceu a sua falta e no mesmo dia a reparou, completando o legado que seu pai deixara aos monges de Santo Humberto.
Conseguidas várias alianças e fortalecida a posição da Santa Sé, São Gregório VII dispôs se a resolver as questões pendentes com o Império. Desejava fazê lo por meios pacíficos, mas a obstinação de Henrique IV fazia prever um conflito violento. Esse conflito se daria a propósito da Arquidiocese de Milão, que o episcopado lombardo tumultuava, com a aquiescência do Imperador.
NOVA ET VETERA
FÁTIMA E O COMUNISMO
José Azeredo Santos
À medida que por todos os quadrantes da terra avança a Revolução sob as roupagens do socialismo e do comunismo de variadas colorações, do mais pálido rosa ao mais berrante vermelho, acentua-se a confusão em torno da atitude que os católicos devem assumir em face dessa terrível ameaça.
Exemplifiquemos. O prefeito demo-cristão de Florença, Sr. Giorgio La Pira, conhecido pela sua preocupação em estabelecer «diálogo» com os comunistas, enviou ao ditador Kruchev uma mensagem na qual se refere às notícias recentemente publicadas pelo «Pravda» sobre a nova ofensiva anti-religiosa do comunismo russo, afirmando: «O ateísmo é a expressão mais deteriorada do stalinismo, que tentou brutalmente erradicar do grande e cristão povo russo os valores mais profundos e vitais de sua história religiosa, artística, e civil» («O Estado de São Paulo» de 4 de março de 1964).
Depreende-se dessa notícia que para o Sr. La Pira o mal do comunismo não é intrínseco, mas reside epidermicamente no stalinismo ou em outras correntes revolucionarias que, como deteriorações dele, militem nas fileiras do ateísmo.
Coexistência impossível
Ora, acontece que não é apenas por seus ataques frontais à Santa Igreja que o comunismo não pode coexistir com o Catolicismo. Mesmo que ele cessasse de se mostrar hostil à Religião e pedisse a colaboração dos católicos no chamado campo humanitário e caritativo, solenemente adverte Pio XI que os fiéis não se deveriam deixar enganar, pois «o comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir que colaborem com ele em nenhum terreno os que querem salvar a civilização cristã» (Encíclica «Divini Redemptoris»).
Apesar desse e de outros pronunciamentos tão claros da Santa Sé, os católicos «progressistas», nos dias que correm, falam sem rebuços na «possibilidade da colaboração com os próprios comunistas» (Sr. Alceu Amoroso Lima em artigo «O fim da torre de marfim», publicado na «Folha de São Paulo», de 5 de março de 1964), alardeando que teria sido derrogado pelo pranteado Papa João XXIII e pelo Santo Padre Paulo VI, gloriosamente reinante, tudo o que ensinou a Santa Sé até hoje sobre a malícia intrínseca do socialismo e do comunismo, e sobre a ilicitude da colaboração dos católicos com regimes que se mostram inimigos não somente da Revelação, mas da própria lei natural.
E, para citar outro fato desconcertante nessa mesma linha, temos o manifesto em que a Ação Católica de Belo Horizonte se mostra solidaria com a posição brizolista, vale dizer, com as reformas de base de cunho nitidamente socialista e confiscatório, através das quais conhecidos elementos da extrema esquerda tentam cubanizar o Brasil.
Bastam estes exemplos tirados a esmo do noticiário dos jornais para mostrar a oportunidade da petição de mais de duzentos Padres Conciliares — promovida por dois ilustres membros do Episcopado Brasileiro, SS. Excias. Revmas. o Sr. Arcebispo de Diamantina e o Sr. Bispo de Campos — que desejam um pronunciamento solene do II Concílio Ecumênico Vaticano para, com a chancela do Vigário de Cristo, reiterar as condenações do marxismo, do socialismo e do comunismo em seus variados aspectos.
Os caminhos de Deus
Mas, além dessa necessária e urgente insistência no combate ao totalitarismo coletivista, é importante ir mais a fundo ainda na procura de remédio para os males do mundo moderno. A questão social é, em sua origem, uma questão religiosa e, portanto, sua solução há de ser, por força, eminentemente de ordem sobrenatural.
Ora, isto que proclama a Santa Igreja pela voz de seus Supremos Pastores, se acha no cerne das revelações da Santíssima Virgem aos pastorezinhos de Fátima. É bem verdade que remamos contra a maré montante naturalista e que não é esta a linguagem do chamado progressismo católico, que põe a luta de classes em sua linha de frente. Como, porém, são diferentes os caminhos de Deus! Como é suave e leve o jugo do Divino Redentor, e como são ásperos e despóticos os poderes deste mundo! Que infinita distância há entre a atuação da Revolução gnóstica, toda feita de ódios e de ressentimentos, e os conselhos, cheios de divina sabedoria, da Santíssima Virgem, a pregar para todos os homens a lei do amor de Deus, de onde decorre forçosamente o amor do próximo!
Tudo foge aos cálculos da prudência carnal nessa mensagem da Mãe de Deus à humanidade desgarrada, a começar pela escolha do cenário em que se dariam aquelas comunicações portentosas, uma região agreste, pobre, em que vivia um punhado de rústicos que da terra tiravam a duras penas o necessário à sua subsistência. Que lugar para o lançamento de uma espetacular campanha agro-reformista! Entretanto, aparece a Medianeira de todas as Graças a três pequenos pastores ignorantes e não lhes fala em reformas de estrutura ou em luta contra as alienações do homem. Prega a oração e a penitência para expiar os pecados dos homens, de todos os homens, pois que «o princípio da sabedoria é o temor do Senhor» (Ecli. 1, 16), e sem a conversão para Deus dos corações de toda a humanidade, em vão se empreenderá qualquer reforma social.
Estamos a 13 de julho de 1917, poucos meses antes da bolchevização da Rússia. Adverte a Santíssima Virgem às três crianças, em sua terceira aparição, que os crimes cometidos pelos homens acarretarão os flagelos da guerra, da fome, da perseguição à Igreja e ao Santo Padre. Para impedir o desencadeamento de tão acabrunhadoras desgraças, deseja a Mãe de Deus a consagração da Rússia e de todo o mundo ao seu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. E em tom profético adverte: «Se atenderem ao meu pedido, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja: os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas» (p. 93 do livro «Era uma Senhora mais brilhante que o sol ... » do Padre J. M. De Marchi, I. M. C., ed. do Seminário das Missões, Cova da Iria, 1954).
A verdadeira solução para a questão social
A petição apresentada ao Santo Padre Paulo VI por 510 Arcebispos e Bispos residenciais, também por iniciativa de D. Geraldo de Proença Sigaud e de D. Antonio de Castro Mayer, pode ser considerada um importantíssimo e indispensável complemento da primeira. Nela se acha a verdadeira solução para os males que atribulam nossa infortunada época, pois contém a súplica de que o Papa, e com ele os Bispos de toda a Igreja, façam a consagração do mundo, com menção especial da Rússia e das demais nações dominadas pelos sectários do comunismo, ao Imaculado Coração de Maria, a fim de que se cumpra a promessa de Fátima: «Se atenderem ao meu pedido, a Rússia se converterá e terão paz» obra cit., p. 93).
Ofereçamos a Deus orações e sacrifícios para que se colham dessas duas petições os frutos que delas esperamos, e tenhamos diante dos olhos, a nos afervorar, aquela terrível visão de Jacinta, a pequena flor de Fátima: «Ó Lucia, não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente a chorar com fome e não têm nada para comer?» (obra cit., p. 99). E pior que esse espetáculo das desgraças materiais que aguardam a humanidade, é aquele em que a Santíssima Virgem mostra aos três videntes o inferno e as almas que ali são precipitadas. Peçamos à Mãe de Deus que obtenha de seu Divino Filho a graça da conversão da humanidade pecadora e que esta, por fim, de novo fiel ao Altíssimo, alcance a Terra Prometida, a paz e a ordem do reino de Maria.