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Por ocasião da festa de São Pedro, é - nos grato ter diante dos olhos a figura augusta de Paulo VI, isto é, de Pedro redivivo, no exercício de suas supremas e sacratíssimas funções de Vigário de Cristo, Mestre e Monarca da Santa Igreja Católica. Tanto mais que neste mesmo mês, por uma coincidência feliz, ocorre também o primeiro aniversário da eleição e da coroação do Pontífice gloriosamente reinante.

Nesta fotografia vemos o Santo Padre Paulo VI no esplendor da pompa romana, ingressando na Basílica Vaticana para o solene encerramento da segunda Sessão do Concílio Ecumênico. Pouco depois o Sumo Pontífice pronunciaria a famosa Alocução na qual, em tom moderado, mas em linguagem firme, desalentaria as esperanças dos adeptos da colegialidade como forma do governo supremo da Igreja, e afirmaria as prerrogativas que por mandato divino recaem sobre a pessoa do Papa, Sucessor de São Pedro e - como há pouco dizíamos - Monarca da Santa Igreja.

ATRÁS DA CORTINA DE FERRO - Repercutiu também atrás da cortina de ferro o estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre "A liberdade da Igreja no Estado comunista". O importante jornal "Kierunki", órgão da extrema esquerda "católica" da Polônia, publicou em sua edição de 1º de março p.p. uma "Carta aberta ao Dr. Plinio Corrêa de Oliveira", na qual o Sr. Z. Czajkowski procura refutar aquele estudo, em sua primeira redação.

CARTA ABERTA PARA ALÉM CORTINA DE FERRO

Plinio Corrêa de Oliveira

Sr. Zbigniew Czajkowski

Teve o Sr. a iniciativa de me enviar um exemplar do jornal "Kierunki" de 1 ° de março p.p., que publica na primeira página, com grande destaque, a carta aberta que o Sr. me dirigiu a respeito do meu estudo sobre "A liberdade da Igreja no Estado comunista"; acompanhava-a a respectiva tradução francesa. Já antes o Exmo. Revmo. Sr. Bispo de Campos recebera também o jornal e a tradução, e foi através de S. Excia. Revma. que primeiro tomei conhecimento de seu trabalho, pois ele teve a gentileza de o encaminhar a mim, de acordo aliás com seu pedido.

Sua carta ao preclaro Bispo de Campos esclarece que o hebdomadário "Kierunki" é editado em Varsóvia pela Associação "Pax", e "exprime as opiniões dos católicos de esquerda poloneses". Na carta a mim dirigida, o Sr. pede que eu tome posição em relação ao seu artigo.

Asseguro-lhe que li com verdadeiro interesse os seus comentários. Se lhe respondo com atraso - do que peço me escusar - a razão está nos gravíssimos acontecimentos que recentemente abalaram o meu País. Todos os católicos dignos deste nome estiveram, aqui, muito absorvidos por esses acontecimentos que, graças a Deus, conseguiram evitar para o Brasil a dolorosa situação em que jaz a sua nobre e tão simpática Nação. Não foi, portanto, senão depois da pacificação geral que se seguiu, que pude reler e meditar com vagar o texto de sua carta aberta.

Entro, pois, diretamente na matéria. Admito como evidente que o Sr. não espera que eu trate a fundo as numerosas questões nas quais tocou apenas de passagem ao longo de seu trabalho ( cuja tradução ocupa 23 folhas datilografadas ). Posto que é necessário muito mais tempo, tinta e papel para responder a uma pergunta do que para formulá-la, não é preciso dizer que serei obrigado a me restringir quase inteiramente às questões de que o Sr. se ocupou mais extensamente em sua carta, e às quais confere, portanto - ao que parece - maior importância.

* * *

O Sr. atribui grande alcance ao fato de lhe parecer eu mal informado sobre a verdadeira situação da Igreja na Polônia. Esta deficiência de informação afigura-se ao Sr. bastante para destruir toda a minha argumentação e tirar todo valor à minha tese, já que, segundo o Sr., não existe de facto a questão de que me ocupo. Nada mais teria eu feito, a seu modo de ver, do que edificar na lua. "Os conhecimentos - lê-se em sua carta aberta - que o Sr. tem da situação da Igreja Católica na Polônia não o autorizam de nenhum modo a tirar quaisquer conclusões. Suas informações, neste domínio, são não somente incompletas, como também - para não dizer mais -inexatas. Creio que o Sr. se dá conta de que, apoiando-se sobre falsos princípios, o lógico, por mais genial que seja, não pode deles deduzir a verdade".

É difícil compreender, depois disto, como é que meu trabalho lhe parece dotado de um poder explosivo de alcance universal. Se ele está de tal maneira desligado do real, como pode então - segundo transparece de sua carta aberta - agir naquilo que a realidade contemporânea tem de mais profundo?

Além disso, se a situação existente na Polônia não é, a seu ver, aquela que eu descrevo, isto não leva senão a afirmar que os fatos que apresento são hipotéticos. Mas, dada a hipótese diante da qual me coloco, a argumentação que desenvolvo e as conclusões a que chego são corretas? Porque, enfim, uma tese doutrinária pode ser absolutamente certa mesmo que se ocupe apenas de uma questão hipotética. A falta de informações que o Sr. me censura não pode, pois, suprimir o interesse da questão que abordo nem servir para demolir os meus argumentos doutrinários.

De qualquer modo, desejo vivamente obter sobre a Polônia, a Rússia, etc., informações mais extensas do que aquelas que possuo. Mas, neste particular, compete-lhe inculpar as próprias autoridades comunistas; porque ninguém pode rodear-se de uma cortina - que, ademais, é uma

(continua)

A Polêmica com KIERUNKI

Publicamos neste documento a "Carta aberta para além cortina de ferro", do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. As repercussões da polêmica, estão publicadas em números subsequentes de CATOLICISMO ( 165, 166 ).