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Para o Revmo. Pe. Tomás Allaz, O. P., são culpados de contubérnio político-religioso os estudantes católicos que, por amor à Fé, combatem a infiltração comunista nos meios universitários mexicanos. Seu irmão de habito, o Revmo. Pe. Ricardo Fuentes Castellanos, O. P., sai a público em defesa da atitude militante e intransigente dos jovens redatores de "Brecha Universitaria".

Contubérnio político-religioso!...

Cunha Alvarenga

Se Deus vos manda grandes cruzes, dizia Santo Inácio de Loyola, é sinal de que vos quer fazer um grande santo; e se quereis adquirir uma alta santidade, pedi-Lhe que vos dê muito que sofrer".

Esta máxima que o fundador da Companhia de Jesus aplica à nossa vida individual, também tem valor em se tratando da vida das nações. E seguindo este critério devemos reconhecer que ao México cabe um grande papel no futuro da Igreja e da Cristandade. Com efeito, a grande nação mexicana tem sofrido toda sorte de cruzes, posto que vem sendo uma vítima predileta da sanha da Revolução. Primeiro em sua fase liberal e agora em sua fase socialista, os manejos revolucionários ali se desenvolvem em toda a sua brutalidade, exteriorizando-se em atos de violência e em incansável perseguição contra a Santa Igreja e seus filhos.

"As prosperidades, continua Santo Inácio, devem causar-nos mais receio do que alegria, e nunca se deve recear tanto como quando tudo vai ao sabor de nossos desejos". São as adversidades enfrentadas pelos católicos mexicanos que muito nos fazem esperar de sua atuação no conturbado mundo contemporâneo, pois o sofrimento e a luta é que provam o verdadeiro seguidor do Filho de Deus.

Após um período de perseguição violenta, em que muito sangue generoso foi derramado no solo mexicano, as legítimas liberdades vão sendo ali reconquistadas, à custa da pertinácia dos católicos, no campo religioso, político e social. E o processo revolucionário, agora em seu matiz nitidamente socialista, vai deparando no México uma salutar reação anti-socialista e anticomunista em todos os setores da sociedade.

Na linha de frente dessa luta anti-totalitária se acha o "Movimiento Universitario de Renovadora Orientación" — MURO, que se destina a combater pela boa causa nos meios estudantis mexicanos. Entre seus dirigentes se contam os universitários Victor Manuel Sanchez Steinpreis, Fernando Baños e Silverio Gomez. Edita esse movimento um boletim informativo sob o sugestivo título de "Puño"; também veicula suas campanhas o mensário "Brecha Universitaria", publicado por estudantes de jornalismo da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), tendo como diretor o mesmo Victor Manuel Sanchez.

Desenvolvendo suas atividades em ambiente acentuadamente infeccionado pela Revolução, era de esperar que do lado católico esses jovens recebessem toda espécie de apoio e incentivo. Ora, vêm eles de sofrer injusta agressão, que resultou numa polêmica de repercussão internacional.

"INDIGNAÇÃO, ASCO, VERGONHA E ESTRANHEZA"

O pretexto tomado para essa agressão foi um artigo de Victor Manuel Sanchez na "Brecha Universitária" (n.° 25, de setembro de 1963), no qual se denunciava a infiltração comunista na UNAM.

Em carta aberta datada de 16 de outubro do ano passado, amplamente difundida sob a forma de folheto e por meio de publicação feita no diário comunista "El Dia", o Dominicano suíço Tomás Allaz, da Paróquia Universitária da Cidade do México, desenvolveu sob o título de "Cristianismo, sim! Contubérnio político-religioso, não!" violenta diatribe contra o MURO e "Brecha Universitária". "A indignação, o asco, a vergonha de numerosos estudantes, assim como a estranheza de não poucos professores da UNAM" fizeram que o autor da carta aberta tomasse conhecimento do artigo em que o colaborador de "Brecha Universitária" denunciava os "falsos profetas revestidos de pele de ovelha" que pervertem a juventude mexicana. "Brecha Universitária" com sua tática errada favorece o jogo comunista.

Prosseguindo, diz a carta aberta que o Sr. Victor Manuel Sanchez "maneja" de forma "desconcertante" os textos pontifícios, citando apenas Alocuções e uma só Encíclica, a qual ademais data do século passado, e não mencionando "as últimas (Encíclicas), as quais, como é obvio, gozam de maior autoridade e interesse quando se trata de aplicá-las à situação atual". Passa o articulista a calcar a tecla do amor e da não violência no trato das divergências doutrinarias, citando João XXIII quando diz na "Pacem in Terris" que "a violência nunca fez mais do que destruir, não edificar; acender as paixões, não aplacá-las". Invoca o exemplo de Paulo VI que afirma, em Alocução ao Concílio, que "não queremos fazer de nossa Fé um motivo de polêmica".

Asseverando que os moços de "Brecha Universitária", como todos os de igual mentalidade, preferem os Papas do passado aos atuais, vale-se o Pe. Tomás Allaz, para censurá-los, de um Papa do século XIX, Leão XIII, através do seguinte texto: "Querer comprometer a Igreja em querelas de política partidária ou pretender tê-La como auxiliar para vencer os adversários políticos é uma conduta que constitui um muito grave abuso da Religião" (Encíclica "Sapientiae Christianae", de 10 de janeiro de 1890). O abuso da religiosidade do povo mexicano para fins políticos é que representa "o aspecto mais indigno e perigoso do assunto".

Critica o Revmo. Pe. Tomás Allaz o haver Victor Manuel Sanchez citado em segunda mão os documentos pontifícios, usando para isso o livro "Pour qu'Il règne" de Jean Ousset, de "La Cité Catholique". Ora, diz S. Revma., "o Episcopado da França denunciou o perigo desse grupo francês, a cujas palavras de ordem e a cujo procedimento (Victor Manuel Sanchez) adere sem reservas, levando-os, até, ainda mais longe. Perigo (...) de fazer um contubérnio ("blocage" no original) político-religioso".

Finalmente cita o Dominicano palavras do "Diretório Doutrinário da Igreja da França" sobre "Sacerdotes e fiéis que se erigem em doutores para impingir a todos — inclusive à Hierarquia — lições de ortodoxia, e descarregam sobre seus irmãos duras e amiúde injustas condenações..." E conclui: "Como vê o Sr., nessa França onde foi buscar mentores, há também falsos profetas, que não são todos comunistas, que com frequência são até mesmo anticomunistas furibundos, quase tanto quanto os Srs. Seja-me licito concluir esta carta com uma frase aduzida pelo Cardeal Saliège (de quem o Sr. cita palavras tão diferentes): "O comunismo dá aos cristãos testemunho do dever mal cumprido".

DUAS TENDÊNCIAS OPOSTAS ENTRE OS CATÓLICOS

No número 26, de dezembro-janeiro de 1963-64, "Brecha Universitária" publicou, sob o título de "Catolicismo militante", uma resposta ao Revmo. Frei Tomás Allaz, de autoria do Sacerdote dominicano Frei Ricardo Fuentes Castellanos. Esse artigo foi transcrito pelo diário "Excelsior", da Cidade do México.

Começa o articulista por acentuar que hoje em dia alguns setores católicos se escandalizam "ante a atitude varonil e corajosa dos que não nos dobramos ante os fetiches de nosso tempo, e nos mantemos em uma atitude heroicamente militante e intransigente face à infiltração comunista no Ocidente".

Mostram-se os comunistas aguerridos e por "coexistência pacifica" entendem, quando a ocasião lhes é propicia, "assassinar, metralhar e destruir a propriedade a todos aqueles que não comungam com as palavras de ordem marxistas; do lado católico há atualmente duas

(continua)

A Catedral de Cidade do México, construída sobre as ruínas do grande templo dos astecas arrasado por Cortez, é uma admirável expressão artística das tradições católicas do povo mexicano