DECLARAÇÃO DO MORRO ALTO
(continuação)
este, assim, dedicar-se, subsidiariamente, à criação de aves ou à pecuária a custos mais baixos, ou melhorar os elementos nutrientes de sua terra pelo emprego de adubos mais baratos.
Como se trata de empreendimentos que exigem não apenas aplicação de capital, mas também técnica envolvendo pesquisas científicas, além de organização comercial, será mais fácil e rápido introduzir essa prática mediante estímulos concedidos às cooperativas de produtores, em especial créditos para investimentos.
4. ARMAZÉNS, SILOS E SUA COMPLEMENTAÇÃO
A política aqui preconizada envolve, também, a necessária construção de ampla rede nacional de armazéns e silos, capacitada a permitir a formação de estoques reguladores que visem não apenas a garantir o abastecimento normal das populações urbanas, mas também a assegurar ao produtor rural remuneração condigna.
É sabido que a falta de padronização de muitos gêneros cultivados entre nós constitui óbice à silagem em grande escala. Cabe aqui uma recomendação aos Governos federal e estaduais no sentido de esforçarem-se por melhorar e ampliar, substancialmente, a oferta de sementes e mudas selecionadas à agricultura. A obtenção de boas estirpes de vegetais, aliada à assistência técnica, envolvendo pesquisas agronômicas, só pode, nas atuais circunstancias, ficar a cargo do Poder Público.
Além do esforço para a padronização de certos cereais, o sistema de silos e armazéns deverá ser complementado com a adoção de normas creditícias adequadas, que permitam a rápida movimentação, pelos produtores rurais e suas cooperativas, dos valores correspondentes às safras armazenadas ou depositadas.
5. CRÉDITO
Este problema, várias vezes mencionado no presente documento, exige corajosa solução por parte das autoridades monetárias do País. A agricultura se encontra numa situação de inferioridade na competição com outras atividades para obtenção de crédito (prazos e juros); o tempo de maturação do empreendimento e o caráter semi-capitalista da exploração, além dos fatores já mencionados, relativos aos preços dos produtos agrícolas e à remuneração dos produtores, explicam essa situação de inferioridade.
Alguns desses fatores desfavoráveis à exploração rural teriam sua ação em boa parte anulada pela difusão do sistema cooperativo e do seguro agrícola.
Havendo menos incerteza quanto aos preços a serem recebidos pelo agricultor e sendo maior sua renda, melhorará a posição dele perante os bancos públicos ou privados.
Se, além disso, o Governo adotar normas tendentes a facilitar a concessão de crédito aos lavradores, seja diretamente, seja mediante condições especiais de redesconto para os papéis representativos dos empréstimos assim feitos, grande desafogo será assegurado à produção rural, estimulando-se sensivelmente sua expansão. Tal política seria conjugada com a de crédito para produtos depositados em armazéns e silos, e com financiamentos a prazos médio e longo para investimentos.
Em tal programa deveriam ser contemplados com normas especiais os pequenos produtores, estudando-se principalmente os meios, de estender esses benefícios a pequenos e médios arrendatários e meeiros, mesmo quando não pudessem eles integrar-se em cooperativas. Os trabalhadores rurais que produzem em regime de parceria, exercendo com isto uma atividade de algum modo intermediaria entre a do assalariado e a do fazendeiro, têm frequentemente encontrado por esta forma acesso à classe dos proprietários.
6. FERTILIZANTES E INSETICIDAS
No momento em que se dá tanta ênfase ao aumento da produtividade na agricultura, deve o Governo enfrentar e resolver definitivamente o problema da produção nacional, em larga escala, de inseticidas e de fertilizantes. A indústria petroquímica exige investimentos de tal magnitude que, na atual fase de desenvolvimento econômico do País, dificilmente poderá essa questão ser enfrentada sem o concurso do Estado. Só a grande indústria de fertilizantes permitirá o barateamento do seu produto, o que redundará para o lavrador numa redução dos custos de produção que tenderá, por sua vez, a beneficiar indiretamente os consumidores das cidades e a exportação.
7. MECANIZAÇÃO
Estamos longe de acreditar que a mecanização da agricultura constitua, por si só, panaceia para o aumento da produtividade rural e a expansão do volume da produção. Encaramo-la como uma alternativa para a mão de obra, ou seja, como substituto para esta onde ela escasseie ou onde os salários tendam a elevar-se em proporções acentuadas. Ainda encarando o problema sob seu aspecto econômico, deve-se afirmar que os elevados preços da maquinaria, em especial dos tratores de produção nacional, tornam sua utilização simplesmente proibitiva. Devem os Poderes Públicos estimular a racionalização dessa indústria de maneira a tornar seus produtos mais acessíveis aos lavradores nacionais. Para um mercado estreito como o brasileiro, não se pode admitir a manutenção de vários produtos da mesma linha. Deveríamos optar por menor número de tipos e tender à padronização de sua produção, de maneira que os ganhos daí resultantes viessem a beneficiar, diretamente, o produtor rural mediante preços mais baixos para essas máquinas, e, indiretamente, o consumidor pelo barateamento da produção agropecuária.
8. SEGURO AGRÍCOLA
Além das dificuldades apontadas, a lavoura ressente-se da falta de um bem estruturado, eficaz e generalizado sistema de seguro agrícola, que garanta o agricultor contra geadas e contra chuvas ou secas excessivas. O custo de tal sistema, uma vez implantado, seria dissolvido na produção e seu ônus sobre o preço unitário final para o consumidor não seria excessivo, admitindo-se que a adoção da política aqui preconizada levasse ao aumento da produtividade por área cultivada. O seguro estimularia os bancos particulares a dedicarem maior parcela de recursos ao crédito rural.
Instituição do porte necessário para atender a essa finalidade provavelmente só poderá ser organizada satisfatoriamente, nas atuais circunstancias, pelo Poder Público, o qual induziria o sistema bancário ou securitário privado do País, mediante estímulos, a associar seus capitais para a realização de tal empreendimento.
9. POLÍTICA DE PREÇOS
As atividades agropecuárias têm sido vítimas de tabelamentos unilaterais, fixando-se preços para seus produtos sem que os relativos aos artigos que lhes são necessários, e cujo custo entra na composição do preço final daqueles produtos, sejam também objeto de tabelamento. Para impedir desequilíbrios e distorções no sistema econômico nacional, seria mister que os tabelamentos de preços, sempre que fosse necessário recorrer a eles — em caráter temporário — não se restringissem apenas aos últimos estágios, deixando livres os preços dos produtos que entram na respectiva composição. Por exemplo, se o leite é tabelado, e o cumprimento do tabelamento fiscalizado com rigor, o mesmo deve ser feito com o preço das rações, remédios, etc., para os animais produtores.
A prática revela que, adotado o tabelamento dos preços em qualquer setor, a tendência será de expandir-lhe a incidência, para evitar distorções no mercado. Daí por que deve ser feito o maior esforço possível para evitar tal medida, adotando-a as autoridades apenas em situações de emergência e a título precário. O barateamento do custo de vida deve ser procurado mediante oferta abundante e regular de gêneros à população, como se acredita que o sistema aqui proposto poderá fazer, e não criando artificialismos que tendem a conferir excessiva rigidez à economia de mercado, impedindo que ela se adapte às mutáveis condições da realidade com a necessária rapidez.
10. PROGRAMA DE COLONIZAÇÃO E ZONEAMENTO AGRICOLA
A ocupação das terras novas do País, bem como das pertencentes ao Poder Público das várias esferas administrativas, deve ser levada a cabo através de bem elaborados programas de colonização, que tomem na devida conta o papel pioneiro que entre nós sempre teve nesse particular a iniciativa privada. Nessa atividade muito poderão auxiliar as empresas particulares de colonização, podendo as autoridades adotar normas de estímulo à expansão das existentes e à criação de outras novas, capazes de merecer a confiança do público e de captar suas poupanças para aplicação nesse importante campo de atividades. Os loteamentos, a assistência técnica e sanitária, o escoamento da produção, etc., deverão constituir importantes preocupações de um programa de colonização.
Ao elaborar tais planos, não devem as autoridades nacionais optar por zoneamentos compulsórios, mas incentivar a exploração daqueles produtos que apresentem condições para um rápido progresso, e que correspondam às necessidades do consumo e às possibilidades de exportação.
11. PLANOS DE SAFRAS
No elenco das dificuldades experimentadas pela lavoura que deverão indicar rumos para uma política agrária de estímulo à expansão dela, menção especial deve ser feita da necessidade de serem adotadas, pelas autoridades competentes, diretrizes firmes, capazes de infundir confiança ao lavrador, e cujas finalidades sejam facilmente apreendidas por ele, de modo a evitar o clima de incertezas e descontentamento em que vive e a lhe dar a necessária confiança para a expansão de suas atividades.
Neste particular, os maiores sacrificados têm sido os cafeicultores, sempre preocupados com a elaboração do regulamento de embarques da safra de seu produto, e frequentemente surpreendidos com medidas drásticas e de caráter imediatista que visam, precipuamente, a política cambial do Governo e suas necessidades de recursos financeiros. É imprescindível que o Governo federal, na elaboração dos regulamentos anuais de embarque, tenha sua atenção mais voltada para as necessidades crescentes do lavrador e para sua situação de extrema dependência das normas consubstanciadas em tais políticas parciais, lembrando-se das repercussões nefastas de suas indecisões e atrasos.
12. OS ABUSOS DA INICIATIVA PARTICULAR
Se o presente documento reconhece a grande importância da atuação dos particulares para a solução dos problemas apontados no setor rural da economia brasileira, não se propõe, evidentemente, ignorar abusos nem justificá-los. Os seus signatários sentem-se perfeitamente à vontade para deplorar abusos de poder praticados por certos grupos particulares que pressionam produtores ou consumidores, visando a locupletar-se com lucros extraordinários à custa deles. Fique, pois, bem esclarecido que a ênfase dada à importância da iniciativa privada numa política agrária sadia não ignora os abusos que no seu âmbito se têm praticado, exigindo mesmo do Governo que, para a própria sobrevivência dela, tais abusos sejam devidamente reprimidos.
13. POLÍTICA SALARIAL
O problema salarial dos trabalhadores rurais tem sido constantemente apontado como estando a exigir uma reforma agrária que convertesse os assalariados mal remunerados em prósperos pequenos proprietários. Trata-se de simplificação muito comum nos debates sobre a matéria, que não resiste ao mais ligeiro exame.
Se os salários dos trabalhadores rurais são baixos, isso se deve, principalmente, à baixa renda monetária do setor agropecuário da economia brasileira, cujas causas foram sumariamente expostas na análise precedente. Acresce notar que, no estágio de desenvolvimento econômico em que se encontra o País, as atividades rurais não podem competir com as urbanas em matéria salarial. O natural mesmo, dado o presente estagio, é que haja transferência de população do campo para as cidades, e que uma das atrações que estas exerçam sobre os habitantes das zonas rurais seja a de uma renda nominal mais elevada, a qual, em geral, não lhes assegura maior bem-estar material. A disparidade entre os salários urbanos e rurais não pode, pois, nas atuais circunstancias, ser encarada como anomalia necessitada de urgente correção. O fenômeno, aliás, não é próprio do Brasil, mas observável na maior parte dos países.
Cumpre acentuar, além do mais, que a melhoria das condições de vida do trabalhador rural deve decorrer, em grande parte, de seu próprio esforço no sentido de melhorar suas aptidões e conhecimentos práticos.
Nesse setor — a que já se referiu largamente a parte introdutória deste documento — muito há que fazer. Cumpre insistir em algumas das medidas ali lembradas, comentar ou sugerir outras.
A difusão de centros de treinamento e de escolas técnico-agrícolas, que o Poder Público está em condições de realizar, muito poderá contribuir para a melhor qualificação da mão de obra rural, e, por via do aumento de sua produtividade, para a melhoria do nível salarial no campo.
A própria ampliação do mercado de trabalho para agrônomos, zootecnistas e veterinários pode concorrer para esse resultado.
A melhoria gradual das técnicas agrícolas e pecuárias constitui hoje mais do que nunca um grave dever de agricultores e pecuaristas. Para isso é recomendável que os Poderes Públicos orientem preferencialmente para a pesquisa os agrônomos, veterinários e zootecnistas existentes em seus quadros de funcionalismo, e que tanto agricultores quanto pecuaristas estimulem por meio de adequada remuneração os técnicos que exercem sua profissão por iniciativa própria.
É claro que a tarefa de "formar" o trabalhador rural não pode ser encarada apenas sob seu aspecto econômico: ela envolve também aspectos morais e sociais que abrangem a atuação da Igreja e dos patrões. De qualquer forma, não se deve esquecer o princípio salutar da doutrina católica, segundo o qual o estabelecimento dos níveis salariais é condicionado não só pelas necessidades do trabalhador rural e de sua família, mas também pelas possibilidades concretas de atendê-las, tanto no que diz respeito à situação geral da economia, quanto à situação particular da empresa considerada. O salário não pode ser justo se destrói o bem comum (cf. Pio XI na "Quadragesimo Anno" e João XXIII na "Mater et Magistra").
Finalmente, não pode ser deixado em silêncio o fato de que a responsabilidade do proprietário rural pelos seus empregados é maior do que a do empresário urbano. Sobre aquele recaem integralmente responsabilidades de natureza social que na cidade são em grande parte atendidas por organismos estatais ou privados. A ocorrência de problemas humanos e de assistência social e sanitária, atendidos pelo proprietário rural, implica em ônus para este, os quais deveriam ser levados à conta de prestação de serviço aos trabalhadores, ao se pretender comparar salários da cidade e do campo. Exemplo dessa atividade social se encontra no fato de manterem freqüentemente os agricultores a seu serviço trabalhadores velhos que, normalmente, não seriam admitidos como empregados nas empresas urbanas.
Nesse campo de atividade social do proprietário agrícola uma palavra deve ser dita relativamente ao problema da habitação. As residências oferecidas aos trabalhadores são, muitas vezes, precárias, não dispondo os fazendeiros dos capitais necessários para reconstruí-las segundo padrões mais modernos de conforto. Para remediar essa situação os agricultores necessitam da concretização de planos habitacionais para o campo, finalidade para a qual poderiam, eventualmente, ser obtidos auxílios internacionais. O êxito desses planos teria, entre outras vantagens, a de concorrer para evitar que o fascínio dos grandes centros para lá atraia mesmo os contingentes populacionais necessários no campo.
Fazenda Nossa Senhora do Morro Alto — Município de Amparo, 8 de setembro de 1964, festa da Natividade de Nossa Senhora.
D. GERALDO DE PROENÇA SIGAUD, S. V. D.
Arcebispo de Diamantina
D. ANTONIO DE CASTRO MAYER
Bispo de Campos
PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA
Presidente da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
LUIZ MENDONÇA DE FREITAS
Prestaram aos autores a valiosa contribuição de sua experiência e de seus conhecimentos técnicos para a elaboração do presente programa os Srs.:
Carlos do Amaral Cintra — médico veterinário, agricultor em Amparo, zootecnista da Secretaria da Agricultura de São Paulo, diretor da Associação Rural de Bragança Paulista,
Clovis de Moraes Carvalho — agricultor em Dois Córregos, engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura de São Paulo, ex-Delegado Regional agrícola de Bragança Paulista, vereador, ex-assistente da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, presidente da Associação Rural de Bragança Paulista,
Fabio Vidigal Xavier da Silveira — advogado, agricultor em Amparo, diretor da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade,
Francisco José Ribeiro — agricultor em Bragança Paulista, eletrotécnico, diretor gerente da Cooperativa de Cafeicultores da Zona Bragantina, diretor-gerente da Cooperativa de Consumo Popular de Bragança Paulista, diretor da Associação Rural de Bragança Paulista,
João Baptista de Campos Cintra — agricultor em São Manoel, engenheiro agrimensor, vice-prefeito de Amparo, diretor da FARESP, vice-presidente da Associação Rural de Amparo, ex-diretor da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores da Zona de Amparo, ex-vereador, diretor da Corporação Brasileira de Cafeicultores,
João Baptista Cunha — zootecnista diplomado pela Universidade da Califórnia (EUA), agricultor em Piracaia, presidente da Associação Rural de Piracaia, ex-vereador,
Osvaldo da Rocha Mello — agricultor no Sul de Minas, diretor da Associação Rural de Careaçú (MG), membro do Conselho Executivo da Cooperativa Agropecuária de Careaçú, membro do Conselho Consultivo da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda.,
Plinio Vidigal Xavier da Silveira — engenheiro, agricultor em Amparo, diretor da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade,
Raul do Amaral Cintra — agricultor em Amparo, engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura de São Paulo, ex-vereador, diretor e ex-presidente da Associação Rural de Amparo, ex-diretor da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores da Zona de Amparo,
Sergio D'Alessandro Ribeiro — advogado, agricultor em Bragança Paulista, diretor e ex-presidente da Associação Rural de Bragança Paulista, ex-presidente da Cooperativa de Cafeicultores da Zona Bragantina.
VERBA TUA MANENT IN AETERNUM
• Permanece sempre a vida interior como expressão insubstituível da atividade religiosa e social da Igreja
PAULO VI: A vida interior permanece sempre como a fonte principal das energias espirituais da Igreja, sua maneira própria de receber as irradiações do Espírito de Cristo, expressão natural e insubstituível de sua atividade religiosa e social, inviolável defesa e energia sempre nova em seu difícil contato com o mundo profano.
(Encíclica "Ecclesiam Suam", de 6 de agosto de 1964).
• O pernicioso absurdo de não se admitir a intervenção estrangeira senão para provocar e manter a rebelião
PIO IX: Não Nos podemos abster de deplorar, entre outras coisas, este funesto e pernicioso princípio, chamado de "não-intervenção", que desde há algum tempo certos governos proclamam e põem em prática, com a tolerância dos demais, mesmo quando se trata da injusta agressão de um governo contra outro, a ponto de parecer assegurar uma espécie de impunidade e de licença, contra todas as leis divinas e humanas, aos ataques e à espoliação dos direitos de outrem, das propriedades e dos próprios Estados, como vemos nestes tempos infelizes. E é por certo estranho que só ao governo piemontês seja impunemente permitido desprezar e violar tal princípio, quando Nós o vemos, com um exército inimigo, aos olhos da Europa inteira, irromper nos Estados de outrem e expulsar deles os Príncipes legítimos. Decorre daí este pernicioso absurdo de que não se admite a intervenção estrangeira senão para provocar e manter a rebelião.
(Alocução ao Consistório, de 28 de setembro de 1860).
• Sacerdotes que sacrificam por um mimetismo inútil a eficácia de seus esforços apostólicos
PAULO VI: Por vezes a preocupação apostólica de ter acesso mais fácil a ambientes profanos ou de captar o ânimo do homem moderno, e principalmente dos jovens, leva alguns a deixar de lado um estilo de vida decoroso, próprio à nossa fé, ou aquela forma de gravidade que deveria dar sentido e eficácia a essa procura solícita de contato e de influência formativa. Não acontece por isso que alguns representantes do Clero jovem ou das Famílias Religiosas, movidos, por certo, pelo intuito excelente de ter acesso à multidão ou a determinados ambientes, procuram confundir-se com estes e com aquela em lugar de deles se distinguir, resultando daí que sacrificam por um mimetismo inútil o vigor e a eficácia de seus esforços? A grande lição que nos deu Cristo quadra muito bem a nossos tempos, embora seja árduo pô-la em prática: devemos estar no mundo sem ser do mundo. Felizes seremos nós se Jesus Cristo, "que vive sempre para interceder por nós" (cf. Heb. 7, 25), também agora dirigir ao Pai Celeste a suplica prestantíssima e tão oportuna: "Não peço que os tireis do mundo, mas que os preserveis do mal" ( Jo. 17, 15).
(Encíclica "Ecclesiam Suam", de 6 de agosto de 1964).
• Os verdadeiros direitos do homem nascem de seus deveres para com Deus
LEÃO XIII: Não usaremos a mesma linguagem quanto ao outro ponto, relativo ao princípio da separação do Estado e da Igreja, que equivale a separar a legislação humana da legislação cristã e divina. Não Nos queremos deter a demonstrar aqui tudo o que tem de absurdo a teoria desta separação; cada um o compreenderá por si mesmo. Desde que o Estado recusa dar a Deus o que é de Deus, recusa também, por uma consequência necessária, dar aos cidadãos aquilo a que têm direito como homens; porque, queira-se ou não, os verdadeiros direitos do homem nascem precisamente de seus deveres para com Deus. De onde se segue que o Estado, faltando neste ponto ao fim principal de sua instituição, acaba na realidade por renegar-se a si mesmo e desmentir aquilo que é a razão mesma de sua existência. Estas verdades superiores são tão claramente proclamadas pela própria voz da razão natural, que elas se impõem a todo homem a quem a violência da paixão não tenha cegado.
(Encíclica "Au Milieu des Sollicitudes", de 16 de fevereiro de 1892, aos Bispos e fiéis da França).
• Louvor da Ordem militar de Malta por defender contra os muçulmanos as fronteiras da Cristandade
BENTO XIV: A Ordem Hierosolimitana tem um lugar de escol entre as Ordens militares que, com satisfação Nossa, sustentam a Religião Católica e a defendem corajosamente contra seus inimigos. Para gloria de Cristo, esta Ordem move o mais duro combate contra os muçulmanos, os piores entre os celerados. Com todas as suas forças, ela protege sem descanso as fronteiras da cristandade contra as incursões deles. Para nela ser admitido como soldado, é preciso fazer prova de nobreza; mas também, a fim de poder combater mais facilmente e ser mais livre e mais apto para os trabalhos que se preveem, é necessário renunciar às facilidades da vida doméstica e fazer voto de castidade. Eis porque Nós, elevado pela graça de Deus à Sé suprema de São Pedro, desejando dar um testemunho da benevolência pontifícia a esta Ordem ilustre, que tanto mereceu já da Igreja e da Santa Sé, decidimos conceder-lhe importantes privilégios e socorrê-la em suas necessidades atuais.
(Carta "Quoniam Inter", de 17 de dezembro de 1743, à Ordem Militar Hospitalar de São João de Jerusalém, dita de Malta).
• Deve a Igreja adotar modos de viver novos e nunca dantes concebidos?
PAULO VI: É sabido igualmente que em nossa época a humanidade está em vias de grandes transformações, perturbações e desenvolvimentos, que lhe alteram profundamente não só as formas exteriores de viver, mas também os modos de pensar. O pensamento, a cultura, o espírito dos homens são modificados intimamente quer pelo progresso científico, técnico e social, quer pelas correntes de pensamento filosófico e político que invadem e atravessam a sociedade. Tudo isto, como as vagas do mar, envolve e comove a própria Igreja: os espíritos que a Ela se confiam são muito influenciados pelas condições do mundo temporal, de tal modo que um perigo quase de vertigem, de aturdimento, de agitação pode pôr-Lhe em questão a própria solidez e induzir muitos a acolher as mais estranhas maneiras de pensar, como se a Igreja devesse negar-Se a si mesma e adotar modos de viver inteiramente novos e nunca dantes concebidos. Os erros modernistas, por exemplo, que vemos reviver ainda agora em diversas novas expressões de vida religiosa estranhas à autêntica realidade da Religião Católica, não representam um espécime da opressão com que as doutrinas e tendências profanas do século procuram viciar a verdadeira doutrina e disciplina da Igreja de Cristo? Ora, parece-Nos que para imunizar contra esse perigo ameaçador e multíplice, proveniente de focos diversos, é para a Igreja remédio salutar e bem indicado aprofundar a consciência de Si mesma e conhecer melhor o que Ela é verdadeiramente, segundo o espírito de Jesus Cristo, conservado íntegro na Sagrada Escritura e na Tradição apostólica, e interpretado e desenvolvido pela tradição eclesiástica. Esta última é, como sabemos, iluminada e guiada pelo Espírito Santo, que estará sempre pronto, se Lhe implorarmos o auxílio e O ouvirmos, a cumprir indefectivelmente a promessa de Cristo : "O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos tiver dito" (Jo. 14, 26).
O mesmo se pode dizer a respeito dos erros que serpeiam no interior da própria Igreja, e em que caem os que não têm senão um conhecimento parcial dEla e de sua missão, posto que não tomam na devida consideração os documentos da Revelação divina e os ensinamentos do Magistério instituído pelo próprio Cristo.
(Encíclica "Ecclesiam Suam", de 6 de agosto de 1964).
• Emprego inepto da palavra "renovação"
PAULO VI: Em primeiro lugar cabe-Nos estabelecer algumas normas segundo as quais essa renovação deve fazer-se. Não poderia ela referir-se nem à essência da Igreja Católica, nem às partes que pertencem necessariamente à sua forma precípua. Faríamos da palavra renovação um emprego inepto se lhe déssemos tal sentido. Pois não podemos acusar de infidelidade esta santa e bem-amada Igreja de Deus: consideramos como graça suprema pertencer a Ela; dEla recebe nosso espírito o testemunho de "que somos filhos de Deus" (Rom. 8, 16).
(Encíclica "Ecclesiam Suam", de 6 de agosto de 1964).
• A velha heresia dos albigenses renasce em nossos dias, sob outro nome
LEÃO XIII: Em nossos dias, renasce também a velha heresia dos albigenses, sob outro nome e sob o patrocínio de outras seitas, mas com surpreendente vigor, com a sedução de novos erros e doutrinas ímpias; ela se insinua novamente nessas regiões, infecciona e contamina mais amplamente, com seu vergonhoso contagio, os povos cristãos, e arrasta-os lamentavelmente à perdição e ruína. Vemos, com efeito, e lamentamos muito, a furiosa tempestade levantada no momento presente, na França sobretudo, contra as Famílias Religiosas que, por suas obras de piedade e caridade, tão bem mereceram da Igreja e dos povos.
(Carta Apostólica "Carta Humano Generis", de 8 de setembro de 1901).
• A Revolução ataca o poder do próprio Deus para aniquilar a autoridade legítima, que dele emana e nele se esteia
PIO VI: Julgamos dever participar a Vossa Majestade a dor que noite e dia Nos acabrunha ao ver que a Religião de Jesus Cristo, que era tão florescente na França desde a origem daquela monarquia, presentemente (durante a Revolução Francesa) é ali entregue aos últimos ultrajes e se acha quase inteiramente abolida. Não ignorais por certo que os verdadeiros fiéis e os ministros da Igreja sofrem ali a mais violenta perseguição, e que todas as pessoas de bem se veem na contingência de fugir. O espírito de impiedade que desola aquela infeliz nação ameaça estender a devastação a todos os outros Estados, e, pela riqueza de que dispõem, por suas conspirações, por suas novas doutrinas, por todos os meios, enfim, de corrupção que empregam abertamente ou em segredo, esses homens raivosos trabalham por aniquilar por toda parte os direitos da Religião, do trono e da sociedade. Eles atacam o poder do próprio Deus, para fazer desaparecer inteiramente a autoridade dos Reis, que é uma emanação dela e da qual a vontade suprema do mesmo Deus é o mais firme esteio. Enquanto esta audácia, até agora desconhecida, faz temer de toda parte os resultados mais desastrosos, enquanto este contagio se torna dia a dia mais terrível, e estende ao longo as influências de um veneno prestes a se exacerbar pela perturbação geral da ordem pública, — a quem mais do que aos Reis importa cortar o mal pelas raízes e destruir-lhe inteiramente o germe?
Vós ocupais, caríssimo Filho Nosso, o primeiro lugar entre os Soberanos. Podeis portanto ser o promotor e o chefe de uma coligação necessária para defender a causa de Deus, a própria causa de todos Vós, e para fazê-la triunfar pela união de Vossas forças.
(Carta "Post Peractam", de 3 de março de 1792, ao Rei da Hungria, Leopoldo, Imperador dos Romanos).
ESCREVEM OS LEITORES
Revmo. Padre Guido Barra, S. D. B., Conselheiro Geral para os Ex-Alunos, Cúria Generalícia da Congregação Salesiana, Turim (Itália): «Palmas e parabéns aos lutadores da causa católica e aos escritores de CATOLICISMO que contribuíram valiosamente para manter viva a consciência cristã do povo brasileiro».
Revmo. Pe. Carlos Steimel, professor de Antropologia, Carlópolis (Est. Paraná): «Por acaso caiu nas minhas mãos uma folha da revista que (...) contém um artigo, escrito por Atanasio Aubertin, «A Revolução, a filogênese humana e o Padre Teilhard de Chardin». Eu gostaria de fazer duas perguntas somente: 1. Quem é Atanasio Aubertin; 2. Como concorda este artigo — aparentemente uma completa condenação do Padre Teilhard de Chardin — a) com os recentes artigos da Revista «Vozes» sobre «A situação de Teilhard de Chardin» por Claude Cuénot, e «P. Teilhard de Chardin» por Frei Apolonio Weil, O. F. M.; b) com os critérios positivos de muitos professores catedráticos de várias universidades, como por exemplo Sorbonne, Oxford, Collège de France, Académie des Sciences, etc.»
* Atanasio Aubertin é um pseudônimo. Não conhecemos os trabalhos citados nem os catedráticos aludidos. De qualquer modo, "magis arnica veritas".
Revda. Soror Laure Gonçalves de Freitas, Castres, Tarn (França): «(...) CATOLICISMO, três intéressant, grand protecteur du droit, de la liberté, de la Religion. Depuis plusieurs annèes je vois la lutte qu'il mène pour ouvrir les yeux à ceux qui les ont fermés, aux ignorante ou indifférents. Je constate avec joie qu'il réussit tout de même. (...) mes plus sincères felicitations pour le bien que ce journal fait».
Revmo. Pe. Antonio J. Colom, S. J., Encarnación (Paraguai): «Me gusta muchísimo (CATOLICISMO) y quisiera que estuviese en castellano y se difundiese por todos estos países para llevar a los católicos, tan desorientados muchas veces, la verdad y el verdadero espíritu del Catolicismo».
Sr. Carlos A. Correa, Guaiaquil (Equador): «Soy un asiduo lector de CATOLICISMO, cuyos artículos son muy interesantes y formativos. De manera especial aquellos que se relacionan con los problemas sociales de nuestra época y que son bien presentados por los autores en los diferentes temas que nos ofrecen».
Sr. Vilter Aparecido Bonazzi, Jales (Est. São Paulo) : «Achei-o (a CATOLICISMO) burguês. (...) Pelos poucos números que recebi, notei que há grandes artigos que pouco interessam para a atualidade (...), num português muito erudito».
Srs. Marcilio Caron Neto e Geraldo Teles Valente, vice-presidente e primeiro secretário do Centro Estudantil do Colégio Estadual do Paraná, Curitiba (Est. Paraná): «(...) CATOLICISMO tem merecido os maiores elogios da massa estudiosa desta casa de ensino secundário, motivo pelo qual solicitamos a V. S. continue nos enviando 50 exemplares desse brilhante órgão de divulgação religiosa».
Revmo. Pe. José Jesus Gomes de Araújo, Vermelho Velho (Est. Minas Gerais): «(...) minha benção a quantos militam na santa cruzada de CATOLICISMO».
Revmo. Pe. Mario Carlos Daorizi, S. D. B., Diretor do Ginásio Salesiano São José, Natal (Est. Rio Grande do Norte): «(...) tenho o prazer de dizer que o recebemos (a CATOLICISMO) regularmente e admiramos a linha de conduta que o jornal mantém numa atitude admirável de defesa do bem e de combate ao mal».
Sr. João Marques de Melo, Cocal (Est. Piauí): «Com relação a esse conceituadíssimo periódico, só tenho a afirmar que o mesmo é escrito dentro dos mais básicos e sadios princípios cristãos, capaz de orientar a família cristã brasileira».