Mais um ano de luta gloriosa e eficaz pelas verdades esquecidas
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo Diocesano
“CATOLICISMO” completa, neste mês de janeiro, quatorze anos de vida. 1964 é mais uma página de sua história que, graças a Deus, pode ele virar com a consciência tranquila do dever corajosa e brilhantemente cumprido.
Com efeito, o querido jornal camposinense combateu, também neste ano, o bom combate. Na sua missão tão característica, de lembrar, de demonstrar e de proclamar as verdades esquecidas, pôde ele fazer um grande bem.
A terrível evasão de princípios, que vai destruindo o que resta de Cristandade em toda a terra, constitui um fenômeno que não se passa somente nas massas humanas enquanto tais. Ele se realiza também, e principalmente, no interior de cada alma. O desaparecimento de um princípio é precedido o mais das vezes por uma amnésia. Ele começa por ser esquecido aos poucos, e, à medida que vai desaparecendo, vai sendo substituído por uma tendência simpática ao princípio oposto. Consumado este ocaso, a alma se dá ao erro, como que espontaneamente, pelo impulso de qualquer sofisma ou de qualquer má ocasião.
Lembrar as verdades esquecidas é, pois, prevenir a tempo um processo funesto.
O mérito especial deste apostolado está em que nele se pratica um requinte de caridade. Não raro, a pessoa beneficiada com um artigo, uma nota ou uma simples citação que lhe lembra uma verdade esquecida, se agasta contra o benfeitor. O agastamento é até mesmo o sintoma de que a lembrança foi oportuna e necessária.
Praticar a caridade, recolhendo tantas vezes como prêmio a reação ácida e agressiva dos espíritos influenciados pela Revolução, eis aí uma prova de amor sobrenatural ao próximo, que segue fielmente os ensinamentos e exemplos adoráveis de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em todos os campos em que a evasão a que aludimos se processa, Religião, moral, história, arte e tantos outros, "CATOLICISMO", com um admirável senso psicológico, vem alentando, formando e orientando Nossos caríssimos diocesanos. O que constitui um verdadeiro feito apostólico, e explica o entusiasmo ardoroso, a dedicação sem reservas que o jornal vai despertando em muitas almas de escol, e especialmente entre os jovens.
Neste ano, em que a atenção de toda a humanidade se voltou tão particularmente para os temas religiosos, graças ao Concílio e às viagens e atuação do Santo Padre Paulo VI, "CATOLICISMO" pôde desenvolver sua atividade com especial fecundidade.
No cenário interno os grandes debates travados a propósito de reforma agrária e da lei do inquilinato deram-lhe a ocasião de divulgar e de comentar com eficácia e brilho as tomadas de posição do Pastor diocesano juntamente com os preclaros e diletos coautores do livro "Reforma Agrária — Questão de Consciência".
Por todas estas razões é que, por ocasião do Ano Bom, e quando essa folha inicia o 15° ano de sua luta, saudamos com a maior dileção a pujante família de almas de "CATOLICISMO", e em particular seus beneméritos Diretor, colaboradores, agentes, propagandistas e funcionários.
Que a todos Nossa Senhora, a quem "CATOLICISMO" tão filialmente serve, recompense com as maiores graças e favores celestes.
VERDADES ESQUECIDAS
JESUS NÃO VEIO TRAZER A PAZ MAS A ESPADA
Do Evangelho segundo São Mateus:
Não julgueis que vim trazer paz à terra: não vim trazer-lhe paz, mas espada. Porque vim a separar ao homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e os inimigos do homem serão os seus mesmos domésticos. O que ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim, e o que ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim. E o que não toma a sua cruz e não Me segue não é digno de Mim
(Mat. 10, 34-38)
Dos comentários clássicos do Padre Fillion:
A espada, esse instrumento terrível que simboliza a guerra "à outrance", lançada pelo Messias no seio da família, no seio do mundo inteiro: pode haver algo que pareça mais anormal e mais inesperado do que isto? Não é com um ramo de oliveira, penhor de felicidade e de segurança, que Se deveria apresentar Aquele que os Profetas haviam antecipadamente designado como o Príncipe pacífico (Is. 9, 6), Aquele de quem os Anjos cantaram, na hora do seu nascimento: "Paz sobre a terra" (Luc. 2, 14)? Mas, se Jesus afirma que veio trazer a guerra e não a paz, não é porque a sua vinda tenha sido para o mundo uma causa direta de lutas e de discórdias; apenas, a luta e a discórdia deveriam ser a consequência natural do estabelecimento do seu reino. O próprio Cristo não pode oferecer o beijo da paz senão depois de ter cortado com a espada as paixões e os vícios. E ademais, como Ele já indicou mais acima, quando o seu Evangelho penetrar em uma família, aí operará necessariamente separações violentas, que, da parte dos membros que permanecerem incrédulos, chegarão até o ódio, como se os próprios laços do sangue tivessem sido subitamente cortados. Entretanto, ninguém mais do que Jesus saberá defender e manter esses laços sagrados; mas a salvação por Ele trazida, a fé nEle, o amor a Ele devem prevalecer sobre todo o resto. Quem pensasse e agisse de outro modo, não seria digno dEle. Non est me dignus, repete três vezes em seguida. Que linguagem! E que alto conceito tinha de sua própria natureza e de sua missão divina Aquele que a usava com tanto vigor e altivez! Aliás, é na maior parte desta alocução que Jesus Cristo Se apresenta como centro universal dos espíritos e dos corações. Tudo dEle, tudo para Ele: tiraremos mais adiante a conclusão que se depreende da posição verdadeiramente real, verdadeiramente única, que Ele assume aqui e em outras passagens dos Evangelhos. ("Vie de N. S. Jésus-Christ — Exposé historique, critique et apologétique" — por L. Cl. Fillion — Nova edição revista e aumentada — Librairie Letouzey et Ané, Paris, 1925 — tomo II, p. 413).