O Brasil é o maior país católico do mundo. Marcado desde a descoberta pela presença da Cruz, são incontáveis os símbolos da Fé que pontilham o seu território. Numerosos santuários reúnem periodicamente enormes multidões, e os mais vastos logradouros das grandes cidades se enchem de fiéis por ocasião das manifestações religiosas: nos clichês, a romaria à Igreja de Nossa Senhora da Penha, no Rio, e a recepção de Cruz de Jerusalém, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. — Por que, então, não detêm as elites católicas a liderança intelectual, política e social do País?
"Elites" católicas promovem sensualidade, luta de classes e subversão social
Cunha Alvarenga
É o Brasil o país de maior população católica de todo o mundo. Tomado esse fato sem mais exame, seria ele suficiente para alimentar um grande otimismo com relação ao presente, extravasando em risonhas perspectivas para o futuro. Entretanto, basta que lancemos um olhar pela realidade que nos cerca, de norte a sul do País, para verificar que não estamos, decididamente, em um mar de rosas, tanto do ponto de vista religioso e moral, quanto do ponto de vista social e político.
Qual a razão de ser dessa anomalia? O problema não é novo, nem é próprio do Brasil. Embora sejamos uma nação de maioria católica, por um fenômeno próprio à sociedade humana não são mais do que uma pequena elite, entre nós, os defensores zelosos da causa do bem, os que lhe consagram o melhor de seus esforços e se mostram prontos a se sacrificar por ela. Do mesmo modo, os artífices do mal, que militam nas hostes da Revolução igualitária e gnóstica, não passam de uma atuante minoria. Dado que as elites guardam, via de regra, uma certa proporção com a população que lhes deu origem, resulta que, se somos católicos em maioria empolgante, as elites católicas brasileiras deveriam facilmente levar de vencida essa ínfima minoria que, consciente ou inconscientemente, se acha a serviço da causa do mal.
Dois fatores convergentes explicam que um tão pequeno efetivo possa causar grandes prejuízos ao bem comum espiritual e temporal do Brasil. Tal como dizia com relação à França um perspicaz comentarista do pontificado de São Pio X (Aventino em "Le Gouvernement de Pie X — Concentration et défense catholiques", Nouvelle Librairie Nationale, Paris, 1911), deve-se admitir que um outro fator entrou em jogo para assegurar o predomínio momentâneo de nossos inimigos. É o fator a que o grande Papa, na Encíclica "Communium Rerum", de 21 de abril de 1909, deu o nome de vil neutralidade. Com efeito, diante dos males que nos afligem, permanecem de braços cruzados, sem nada fazer, impressionantes contingentes de católicos, excelentemente dotados, que deixam praticamente nas mãos dos agentes da dissolução a liderança intelectual, política e social do País.
Mas, além dessa neutralidade criminosa, temos a lamentar outro fator mais pernicioso ainda, que é o concurso que certas elites católicas prestam à causa da corrupção e da subversão social.
Queremos hoje ilustrar esta dolorosa verdade com alguns episódios recentes registrados em vários pontos do território nacional.
UM DOS MALES MAIS FUNESTOS
O boletim n° 15 da Livraria AGIR Editora, de junho de 1964, dá a seguinte noticia aos seus leitores : "Está igualmente no prelo a reedição dos dois romances de João Mohana, publicados originalmente quando o autor ainda não era sacerdote. Foram esses dois livros, "O outro caminho" e "Maria tempestade", que tornaram seu nome conhecido pelo Brasil afora e até o lançaram para além de nossas fronteiras". Com efeito, ao tempo em que esses dois infelizes romances foram difundidos por todo o Brasil, seu autor, maranhense e formado em medicina, estudava no Seminário Provincial de Viamão, no Rio Grande do Sul. Seus livros tomaram de assalto certos ambientes católicos ávidos de novidades, e até colégios femininos dirigidos por Religiosas os fizeram comentar por suas alunas. Agora, como se vê, a Livraria AGIR procura fazer crescer o interesse por essas duas obras pelo fato de o autor já ser Sacerdote.
Uma publicação como "Catolicismo" não pode, por questão de decoro, analisar esses livros. Nem é necessário que o faça. Basta que afirmemos, sem temer contestação de quem quer que seja, que eles se incluem, sem sombra de dúvida, na categoria dos escritos de que trata a Instrução "Inter Mala", que a Suprema Sagrada Congregação do Santo Oficio, durante o pontificado de Pio XI, publicou sobre literatura sensual e místico-sensual. Esse importante documento, assinado pelo então Secretário do Santo Oficio, o Servo de Deus Cardeal Merry del Val, foi anexado, como apêndice XIX, às atas do Concilio Plenário Brasileiro, de 1939. Dir-se-ia que a Santa Sé tinha em vista essas duas obras perniciosas ao fazer, nessa Instrução, as considerações que abaixo transcrevemos:
"Entre os males mais funestos que em nossos dias corrompem profundamente a moral cristã e acarretam um imenso prejuízo às almas resgatadas pelo precioso Sangue de Jesus Cristo, é necessário estigmatizar sobretudo esse gênero de literatura que conduz à sensualidade e à luxuria, ou até
(continua)