CATOLICISMO

completa quinze anos de vida

É sempre com imenso prazer que, ao iniciar "Catolicismo" um novo ano de lutas pela causa de Deus, enviamos a todos os seus colaboradores, leitores, propagandistas e funcionários uma benção muito cordial.

Não é menor a satisfação que experimentamos neste décimo quinto aniversário do jornal, ao renovar nossas palavras de aplauso e de conforto por que continue na luta árdua a que meteu ombros, no sentido de orientar os espíritos de nossos fiéis numa época de grande confusão doutrinaria.

E nossa satisfação se justifica plenamente, pois "Catolicismo" soube se manter à altura dos grandes problemas da humanidade, nestes anos em que a Igreja se concentrou para a realização do Sagrado Concílio do Vaticano, o segundo que se realiza na Basílica do Príncipe dos Apóstolos; e isso mais especialmente no ano que findou.

Com efeito, a finalidade do II Concílio Vaticano se resumiu num esforço de caridade apostólica, com o intuito de se aproximar dos homens da época em que vivemos e atraí-los à aceitação da mensagem salutar trazida ao mundo pelo Filho de Deus Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Empenho sobremaneira árduo e não isento de perigos. Somente a Igreja, que é assistida pelo Espírito Santo, poderia tentá-lo. Pois tratava-se — como dizem os Papas responsáveis por esse tão grande acontecimento — de conservar intactas, na sua pureza íntegra, as verdades da Fé e os preceitos da Moral ensinados pelo Magistério pontifício e pelos Concílios precedentes, especialmente os de Trento e do Vaticano I, e, não obstante, transpor essa mesma doutrina católica para uma linguagem acessível aos homens de hoje (cf. Aloc. de João XXIII na abertura do II Concilio Vaticano, em 11 de outubro de 1962, e Carta de Paulo VI ao Emmo. Cardeal Tisserant antes da abertura do 2° período conciliar, AAS, 1963, p. 742). Dissemos empresa árdua — o mesmo deixava entrever João XXIII na Alocução citada — porque o mundo de hoje se acha emaranhado em ideologias e sistemas filosóficos diametralmente opostos à visão do homem e da sociedade tradicionalmente apresentada pela Igreja aos seus filhos. De maneira que a aproximação deveria fazer-se numa linguagem acessível ao homem moderno, sem, no entanto, pactuar com as ideologias em voga.

Ora, podemos com ufania dar graças a Deus por ter "Catolicismo" se mantido fiel a essa norma. Nosso mensário falou uma linguagem que os homens de hoje entenderam, e não precisou, para tanto, ocultar um jota da doutrina católica. Mostrou a situação em que se encontra o mundo, seus problemas, e as mais perigosas insidias que o "homo inimicus" tem armado para perder as almas. E o fez com clareza, de modo a ser entendido por todos. Exemplo vivo que ilustra quanto aqui afirmamos é o artigo de nosso colaborador Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre "A liberdade da Igreja no Estado comunista", ensaio que mereceu da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades os mais altos elogios como fiel intérprete das Encíclicas pontifícias, nomeadamente da "Mater et Magistra" e da "Ecclesiam Suam": este ensaio foi muito bem entendido e compreendido pelos homens de nosso tempo, mesmo por aqueles que tentam iludir os incautos, semeando conceitos equívocos no seio do povo de Deus, como demonstra a polêmica suscitada a propósito do artigo, na Polônia e em outros países, pelos asseclas do movimento "católico-progressista" Pax.

Sempre com a mesma intenção de auxiliar os homens de boa vontade do mundo de hoje a aceitar a mensagem salvífica do Senhor, "Catolicismo" publicou novo estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. "Baldeação ideológica inadvertida e dialogo" ventila assunto da mais alta importância apostólica nos nossos dias, quando o comunismo procura aliciar a opinião ocidental por meio de um novo e eficacíssimo processo de persuasão ideológica subconsciente.

"Catolicismo" vai assim dando sua contribuição para aproximar os homens na verdade, dissipando os equívocos que, como outras tantas causas de confusão e de obscurecimento das inteligências, constituem os maiores empecilhos para a paz e a felicidade do convívio humano.

Felicitamos, portanto, todos os nossos dedicados colaboradores que, de modos os mais variados, contribuem para manter nosso mensário, e os exortamos a prosseguir no caminho traçado, agora ainda com mais ardor, quando chega o tempo de realizarmos na vida prática os decretos do II Concílio Vaticano, para a gloria de Deus, esplendor de sua misericordiosa revelação, grandeza de sua Igreja e salvação eterna de seus filhos.

Campos, janeiro de 1966

† Antonio, Bispo Diocesano


Elisa Aloi, da cidade de Messina: cura instantânea de tuberculose ósteo-articular fistulosa múltipla

Juliette Tamburini, de Marselha: cura instantânea de osteoperiostite crônica do fêmur esquerdo

RECONHECIDOS PELA IGREJA MAIS DOIS MILAGRES DE LOURDES

Edwaldo Marques

De tal modo nos habituamos a não encontrar referências ao sobrenatural neste mundo laico em que vivemos, que não foi sem surpresa que deparamos recentemente nos jornais diários alguns telegramas que, embora discretos, informavam os leitores de mais duas curas extraordinárias ocorridas em Lourdes e reconhecidas como miraculosas pela Autoridade Eclesiástica, ou seja, pelos Exmos. Revmos. Srs. Arcebispos de Messina e de Marselha.

No desejo de ressaltar o fato de Lourdes, com tudo o que ele representa como valor apologético, e como fator de maior honra e gloria para a Santa Mãe de Deus, procuramos maiores esclarecimentos sobre esses milagres, para apresentá-los aos leitores de "Catolicismo".

Eis como se passaram os fatos.

EM 1958: ELISA ALOI, DE MESSINA

Em junho de 1958 chegava a Lourdes, proveniente de Messina, a jovem Elisa Aloi. Seu estado de saúde era extremamente precário. Consumia-a há dez anos já um mal cujo diagnóstico estava estabelecido de modo insofismável: tratava-se de tuberculose osteo-articular fistulosa múltipla. A moléstia, já de si de difícil tratamento, de longa evolução e prognóstico reservado, resistira a toda a terapêutica específica empregada, e pouco a pouco fora minando o organismo da paciente, lesando-lhe principalmente os ossos e as articulações dos membros inferiores (estes terminaram por ficar paralisados e conduzindo-a por fim a um estado que o seu médico assistente não relutara em classificar como desesperador. O avanço do mal evidenciava-se pelo grande aparelho gessado que imobilizava a enferma desde a cintura até os pés, e pelas seis fístulas de localização variada que drenavam pus abundante e fétido.

Em Lourdes Elisa Aloi foi levada por três vezes à piscina miraculosa sem que obtivesse o favor esperado. Por seu expresso pedido, levaram-na ainda uma quarta vez: foi então que se deu o milagre. Relata a paciente ter sentido nesse momento uma estranha sensação de morte próxima, substituída logo a seguir por uma alegria indefinível e a certeza de estar curada. Ouviu até uma voz interior que a convidava a levantar-se e caminhar.

Os exames feitos subsequentemente revelaram o fechamento das fístulas e a total recuperação da mobilidade das várias articulações atingidas.

EM 1959: JULIETTE TAMBURINI, DE MARSELHA

O outro caso ocorreu em 1959, e a miraculada era da própria França, de Marselha.

A doença de Juliette Tamburini já tinha também uma longa duração, e a obrigara a peregrinar por vários hospitais. Iniciara-se em 1948 e até a data do milagre lhe impusera onze intervenções cirúrgicas, além de inúmeros tratamentos que unicamente haviam agido como paliativos. Como no caso de Elisa Aloi, o mal localizava-se no sistema ósseo, e o diagnóstico estabelecido era de osteoperiostite crônica do fêmur esquerdo, tendo por causa uma infecção produzida por estafilococos dourados.

Além do problema ósseo, a enferma padecia há oito anos de graves hemorragias nasais recidivantes, resistentes a qualquer terapêutica conhecida.

Ao chegar a Lourdes em julho de 1959 com a peregrinação de Marselha, Juliette Tamburini apresentava a seguinte sintomatologia: estado geral comprometido, fístula na coxa esquerda com drenagem abundante de pus, e perfuração do tabique nasal, sem nenhuma manifestação que autorizasse qualquer médico a prognosticar melhoras próximas ou remotas.

A enfermeira encarregada de assistir a doente propôs-lhe injetar água de Lourdes no trajeto fistular. Com a anuência de Juliette foram então injetados dez centímetros cúbicos da água da Gruta. Nada ocorreu no momento. No dia seguinte, ao abrir o curativo da lesão, o médico que cuidava da doente encontrou o dreno rejeitado. Sua tentativa para introduzir novo dreno fracassou, pois, apesar de haver ainda um orifício superficial, o canal fistuloso estava fechado. Nos dois dias subsequentes a paciente foi levada às piscinas. Após o último banho a chaga estava completamente curada.

EXAMES MÉDICOS DURANTE 5 ANOS

Nos cinco anos que se seguiram a estes acontecimentos, as duas miraculadas foram submetidas a exames regulares, tanto no "Bureau Médical" de Lourdes, como nas suas respectivas cidades. Ao cabo desse tempo seus casos foram considerados pelos médicos como inexplicáveis do ponto de vista da ciência, devido à instantaneidade da cura, à ausência de convalescença, e a manutenção sem o emprego de qualquer tratamento ou medicamento. Passado este período recomendado pela habitual prudência da Santa Igreja, os Arcebispos de Marselha e de Messina expediram os decretos noticiados pelos jornais, declarando fato miraculoso o que ocorrera. O Decreto do Exmo. Revmo. Mons. Marc Lallier é de 11 de maio de 1965; o do Exmo. Revmo. Mons. Francesco Fasola leva a data de 26 do mesmo mês.

CEM ANOS DE MILAGRES

Estes foram os mais recentes milagres devidamente aprovados, da longa série que a solicitude misericordiosa da SS. Virgem iniciou há cem anos numa pequena cidade dos Pirineus, quando apareceu a Bernadette Soubirous para fazê-la portadora da sua mensagem ao mundo.

Para que ninguém pudesse duvidar do dogma proclamado quatro anos antes por Pio IX, Maria apresentou-se aos homens como a Imaculada Conceição, e veio pedir-lhes oração e penitência. Como demonstração da realidade da sua presença, Ela usou a mesma prova que Nosso Senhor apontou a São João Batista, que por meio dos seus discípulos perguntava se Ele era "Aquele que havia de vir" (Mat. 11, 3): o milagre.

Ao estudar a história dos fatos extraordinários que ocorrem continuamente, há mais de um século, na gruta de Massabielle, tem-se a impressão de que a Mãe de Deus, ao mesmo tempo que veio procurar desviar os homens da voragem em que se haviam precipitado, seduzidos pelas mentiras da Revolução, quis deixar a incredulidade completamente confundida.

De fato, se imaginássemos alguém impondo condições para crer na presença do sobrenatural em Lourdes, e nas consequências daí decorrentes, esse alguém certamente não pediria mais do que lhe é oferecido ali. Assim, quis a SS. Virgem que junto à gruta se estabelecesse um Bureau Médico, que há dezenas de anos vem realizando um trabalho magnífico, de natureza estritamente científica. Sua função não é declarar a existência do milagre, pois este papel pertence tão somente à Igreja, mas sim examinar escrupulosamente todos os casos que lhe são apresentados, de modo a poder afirmar com segurança que as doenças realmente existiam antes dos fatos extraordinários, que as curas se deram de modo instantâneo e inexplicável, e que ao longo de vários anos não ocorreu recaída.

Os processos assim conduzidos podem ser examinados e acompanhados por quaisquer pessoas idôneas estranhas aos controladores oficiais e mesmo à Fé católica.

Quis ainda Nossa Senhora de Lourdes que ficasse demonstrado, por várias análises químicas, que a água da fonte não é senão água, por mais que alguns quisessem descobrir nela propriedades terapêuticas especiais.

Quis Maria Santíssima que a vidente sofresse mil interrogatórios e exames da parte das autoridades eclesiásticas, civis e médicas, que procuraram a todo custo confudi-la, encontrar contradição em seus depoimentos e, por meio de pressões de toda ordem, descobrir nela uma mentira, uma falha de caráter, um sintoma de desequilíbrio mental. A tudo Santa Bernadette resistiu, com a segurança e a serenidade de quem sabe que está com a verdade.

Como se isto não bastasse, Nossa Senhora quis ainda ir mais longe. Dispôs que houvesse um médico presente às aparições, e que Bernadette fosse por ele examinada durante os seus êxtases.

DR. DOZOUS, MÉDICO E INCRÉDULO

O homem escolhido pela SS. Virgem para testemunha foi o Dr. Dozous, que tinha todas as condições para ser um bom observador, segundo os critérios da ciência racionalista: era médico, podendo por isso afirmar com segurança a presença do extraordinário e do inexplicável; além disso, tinha outra característica que o recomendava ainda mais diante da pseudociência do tempo: era incrédulo.

Movido pelo desejo de ver e estudar um fenômeno interessante, Dozous dirigiu-se também à gruta que atraia tanta gente. Lá poderia, segundo pensava, analisar os fatos e descobrir, pelas manifestações da vidente, o desequilíbrio psíquico que devia estar na base de toda aquela encenação que tanto empolgava o povo simples.

Ao ver a transfiguração que Bernadette apresentava durante a visão, o Dr. Dozous sentiu-se profundamente perturbado. Escrevendo mais tarde o que presenciara, deixou-nos o seguinte depoimento:

"Logo que chegou diante da gruta, Bernadette ajoelhou-se, tirou o rosário do bolso e começou a passar as contas.

"O seu rosto, entretanto, sofria uma transformação, notada por todos as pessoas que estavam junto dela, transformação, esta, que indicava estar ela em contato com a sua aparição.

"Enquanto com a mão direita desfiava o rosário, na mão esquerda segurava uma vela acesa, que se apagava frequentemente devido a uma corrente de ar muito forte que vinha do lado do Gave; mas Bernadette dava-a à pessoa mais próxima, para que a acendesse de novo.

"Eu, que seguia com grande interesse todos os movimentos de Bernadette para a estudar completamente sob todos os aspectos, queria saber nesse momento qual seria o estado da sua circulação sanguínea e da sua respiração. Tomei-lhe um dos braços e coloquei os meus dedos sobre a artéria radial. O pulso estava tranquilo, regular, a respiração normal: nada indicava naquela jovem uma sobre-excitação

(continua)