Aspecto da audiência, vendo-se os Srs. Caio Vidigal Xavier da Silveira, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente Castello Branco, Prof. Fernando Furquim de Almeida e Luiz Nazareno Teixeira de Assumpção Filho
PRESIDENTE DA REPÚBLICA RECEBE O CONSELHO NACIONAL DÁ TFP
A propósito do projeto de nova Lei de Imprensa que então se achava em debate no Congresso, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho, Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, escreveu uma carta ao Marechal Castello Branco, na qual pedia que a propositura "passasse por substanciais modificações de sorte que, reprimindo embora a licença, proporcionasse aos órgãos de difusão escrita e falada a liberdade necessária para sua atuação".
Tendo tomado conhecimento da manifestação da TFP, o Chefe de Estado, de visita a São Paulo por ocasião do aniversário da cidade, no dia 25 de janeiro p.p., solicitou a presença do Conselho Nacional da Sociedade no Palácio dos Campos Elísios.
Compareceram à audiência, além do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, os conselheiros Prof. Fernando Furquim de Almeida, Caio Vidigal Xavier da Silveira, Plinio Vidigal Xavier da Silveira, Celso da Costa Carvalho Vidigal, José Carlos Castilho de Andrade e Luiz Nazareno Teixeira de Assumpção Filho.
O Marechal Castello Branco exprimiu então a satisfação com que recebera a carta, que qualificou de fidalga, e amável para com a pessoa do Presidente da República, e acrescentou que, com ela em mãos, procurara o Ministro da Justiça, recomendando que fossem introduzidas alterações no projeto de Lei de Imprensa, de modo a escoimá-lo de restrições à justa liberdade dos órgãos de comunicação escrita e falada.
O Presidente manifestou esperança de que, por essa forma, a nova Lei de Imprensa não melindrará as "susceptibilidades de tão prestigiosa entidade como a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, e dos bons brasileiros em geral".
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira agradeceu ao Chefe de Estado a gentileza da comunicação, e da audiência concedida aos diretores da TFP; dizendo aproveitar a ocasião para felicitá-lo pela eficiência com que vem reprimindo o comunismo. Acrescentou que a Sociedade, com suas Secções e Subsecções em quase todos os Estados do Brasil, estava disposta a cooperar com o Governo para os assuntos de interesse do País.
A carta da TFP ao Presidente
É o seguinte o texto da carta enviada ao Presidente da República pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em data de 13 de janeiro último:
"Senhor Presidente
"Apresentando a Vossa Excelência nossos respeitosos e cordiais cumprimentos, submetemos à sua alta consideração o que segue.
"Em meio à campanha que se vai generalizando por todo o País, em prol de uma substancial transformação do projeto de Lei de Imprensa, faz-se notar aqui e acolá, por seu caráter demagógico e gritante, o vozerio dos setores progressistas, socialistas e comunistas. Este fato poderia criar a ilusão de que o bolchevismo, a mazorca e a subversão têm a lucrar com a livre manifestação do pensamento do povo brasileiro através dos seus órgãos de divulgação escrita e falada.
"A realidade, entretanto, é bem outra. A esmagadora maioria dos brasileiros aspira a viver e trabalhar em paz no atual regime social e econômico, desejando apenas que nele sejam feitas gradualmente as adaptações e melhorias necessárias, escoimadas aliás de qualquer influência socialista ou comunista. Foi o que toda á nossa população demonstrou por ocasião da crise comuno-janguista e da revolução de 31 de março. Dias antes de sua queda, o ex-presidente Jango Goulart se queixou em memorável discurso da absoluta frieza das massas rurais em relação à sua malfadada reforma agrária socialista e confiscatória. A revolução de 1964 contou com o consenso entusiástico de todo o País, e de lá para cá a opinião pública se vem pronunciando inequivocamente contra a demagogia e a subversão, como bem o demonstram as últimas eleições.
"Para glória do povo brasileiro, podemos afirmar que a grande garantia da estabilidade dos três valores fundamentais que caracterizam, em face do comuno-progressismo, o nosso regime social e econômico — a Tradição, a Família e a Propriedade — se encontra na opinião pública, emanada harmonicamente de todas as classes do País, civis e militares, patrões e operários, intelectuais e trabalhadores manuais. Cumpre pois não coarctar a legítima expressão dela, mas antes tutelá-la zelosamente.
"Que os progressistas, socialistas ou comunistas peçam a mitigação do projeto de Lei de Imprensa nada tira à notória veracidade do que acabamos de asseverar, e deve ser explicado pelo afã dessa solerte e astuta minoria de capitalizar em benefício próprio o descontentamento que a propositura vem ocasionando.
"Assim, é no próprio interesse dos três valores básicos de nossa civilização — a Tradição, a Família e a Propriedade — que esta Sociedade, reconhecida pela opinião pública como paladina da luta contra o progressismo, o socialismo e o comunismo, pede a Vossa Excelência que o projeto de Lei de Imprensa passe por substanciais modificações de sorte que, reprimindo embora a licença, proporcione aos órgãos de difusão escrita e falada a liberdade necessária para sua atuação.
"Agradecendo antecipadamente a acolhida que Vossa Excelência haja por bem dar à presente, rogamos à Divina Providência que favoreça com suas graças a pessoa ilustre de Vossa Excelência, e seu governo, para o bem e a grandeza do Brasil".
RAINHA DO BRASIL
VISITA A DIOCESE
Completando sua sétima peregrinação pelo Brasil, esteve na Diocese, nos dias 9 a 13 de dezembro último, a verdadeira imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.
• Recebida em sua chegada a Campos pelo Exmo. Revmo. Sr. Bispo D. Antonio de Castro Mayer, pelo Prefeito Municipal, Sr. Carlos Ferreira Peçanha, pelo Clero, autoridades civis e Congregações religiosas femininas, bem como por grande massa popular, a Padroeira do Brasil foi saudada pelo Chefe do Executivo municipal, que a declarou Rainha da cidade. Exposta em seguida à veneração pública em magnífico altar armado no presbitério da Catedral-Basílica, a Virgem Aparecida viu a seus pés, durante três dias, um incessante afluxo de fiéis, entre os quais se destacavam as numerosas peregrinações procedentes dos mais variados recantos da Diocese.
Na tarde do dia 12, acompanhada por longo cortejo de automóveis, a sagrada imagem foi conduzida para a vizinha cidade de São Fidelis, também pertencente à Diocese, onde foi venerada pelo povo católico que durante toda a noite encheu a igreja matriz. Na manhã seguinte, após a Missa celebrada pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Macedo, C. SS. R., Arcebispo Coadjutor de Aparecida, Nossa Senhora partiu de volta para a sua Basílica Nacional. Pouco antes de sair da Diocese, ao passar por Pádua, foi ainda alvo de comovida manifestação de afeto da população local.
Acontecimento de máximo relevo na história religiosa de Campos, a visita da milagrosa imagem da Rainha do Brasil constitui um penhor das melhores graças para toda a Diocese.
VIRTUDES ESQUECIDAS
SIMPLICIDADE DE POMBA mas... com PRUDÊNCIA DE SERPENTE
São João Crisóstomo
Do Primeiro e Segundo Livros do Sacerdócio:
Se a sagacidade fosse sempre má, se não fora permitido usar dela para um bem qualquer, estaria eu pronto a sofrer o castigo [...] que os juízes costumam infligir aos criminosos [...]. Se o artifício porém nem sempre é condenável, se é bom ou mau conforme a intenção de quem o emprega, põe de reserva a culpa que me imputas e prova-me que tive má intenção, procedendo como procedi; enquanto essa prova não for apresentada, é um dever, pelo menos aos olhos de quem sabe distinguir o bem do mal, não culpar o que usa de finura, antes louvá-lo e aplaudi-lo. Um artifício hábil, que parte de uma boa intenção, é um bem tão precioso, que muitos homens têm sido punidos por não o usarem. Consulta a história dos capitães mais ilustres, remontando até às idades mais remotas, e verás que a máxima parte dos seus troféus foram devidos à habilidade, e que as vitórias alcançadas por esse meio lhes mereceram maior glória, que as adquiridas à viva força.
[...] Os recursos de tropas e dinheiro, que a guerra exige, gastam-se e desaparecem com o uso; a sagacidade que uma alma desenvolve, quanto mais se exerce, mais aumenta.
[...] Não é só na guerra e contra inimigos que por vezes se devem empregar certos estratagemas; é também na paz e a respeito dos melhores amigos. Para que te convenças de que esta prática é tão vantajosa aos estratégicos como aos enganados, atende ao modo como procede qualquer médico para com um enfermo insubmisso: [...] teria de prolongar demasiado o meu discurso, se houvera de contar todas as artimanhas dos médicos. Eles porém, que se dedicam à cura das moléstias corpóreas, não são os únicos que lançam mão de tais meios. Também com frequência os vemos empregados no tratamento das moléstias da alma. Foi assim que São Paulo atraiu à nova fé milhares de judeus. [...] É grande o poder da fraude contanto que não seja empregada com desígnio fraudulento. Neste caso nem deve chamar-se fraude; merece antes com justa razão o nome de habilidade, finura, piedosa indústria; porque salva de dificuldades e dirige a alma por caminhos retos. Porventura, ousaria eu alcunhar de homicida Finéias, por matar a um tempo dois culpados, ou o Profeta Elias por fazer cair o mesmo castigo sobre a cabeça de cem soldados e seus chefes, e por fazer também derramar uma torrente de sangue, passando a fio de espada os miseráveis que sacrificavam ao demônio? Se tal fizéramos, se julgáramos das ações sem atendermos às intenções dos seus agentes, teríamos de condenar Abraão, por querer imolar Isaac. Igual condenação deveria ser fulminada contra seu neto e bisneto, porque o primeiro tinha arrebatado o direito de primogenitura e o segundo fizera passar às mãos, dos israelitas as riquezas dos egípcios. Mas não é possível isso, não: longe de nós uma tal audácia. Não só não censuramos a conduta desses homens, mas até a louvamos e admiramos, porque o próprio Deus a louvou. Com razão se chamaria enganador o que assim obrasse com vistas iníquas, mas não o que se propusesse um fim bom. É muitas vezes necessário o artifício, podem resultar dele grandes bens, precisamente quando a franqueza causaria os maiores males aos próprios a quem não se quisesse enganar.
Podia demonstrar com raciocínios mais desenvolvidos que é permitido usar de astúcia para um fim justo e bom, e que então ela deve perder o seu nome e chamar-se antes uma sabedoria admirável; mas, [...] o que fica dito é mais que suficiente [...]". — ("São João Crisóstomo — Os seis Livros do Sacerdócio — com um resumo da vida do sto. Doutor e algumas cartas" — trad. do Pe. Marinho — Tip. Fonseca, Porto, 1917 — pp. 35-43).