Paulo VI em Fátima (foto UPI exclusiva para "Catolicismo")
Repercute amplamente no Chile a fundação da SCDTFP
Revestiu-se de grande brilho e solenidade o ato de fundação da Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad, realizado no dia 28 de abril p. p., em Santiago do Chile.
Os salões do Club Unión, o mais prestigioso e aristocrático club da capital andina, estavam inteiramente tomados por uma assistência calculada entre quinhentas e seiscentas pessoas, cuja presença ali significava — como acentuou um dos oradores da sessão — um ato de confiança "na sobrevivência dos princípios da civilização cristã e de seu futuro triunfo na pátria chilena". Ao lado de figuras de relevo da sociedade, de personalidades do Clero e da vida pública chilena, compareceram à cerimônia elementos representativos de todas as classes sociais. Chamava particularmente a atenção o grande número de jovens, num atestado da repercussão que os ideais da Tradição, Família e Propriedade encontram no seio da juventude.
Congratulações da TFP brasileira e argentina
Aberta a sessão com as orações de estilo, procedeu-se à leitura dos telegramas de congratulações recebidos.
Em primeiro lugar foi lida a mensagem da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, assinada pelos Srs. Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Prof. Fernando Furquim de Almeida e Fabio Vidigal Xavier da Silveira, respectivamente Presidente, Vice-Presidente e membro do Conselho Nacional.
Telegrafaram, igualmente, do Brasil, as Secções da TFP da Guanabara, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Os outros despachos lidos procediam de Berkeley, na Califórnia, Cidade do México, Montevidéu, Lima e de diversas cidades chilenas. Entre estas últimas mensagens se destacavam as de agricultores do Sul.
A Sociedad Argentina de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad levou pessoalmente a sua adesão através do Presidente de seu Conselho Nacional, Sr. Cosme Beccar Varela Hijo, que pronunciou o primeiro discurso da sessão inaugural. O orador ressaltou a união de alma existente entre as duas entidades congêneres — a chilena e a argentina — bem como entre as revistas "Cruzada" e "Fiducia", das quais elas respectivamente nasceram, união essa que decorria do comum amor aos princípios da doutrina católica e às instituições da civilização cristã, bem como da comum esperança de que em breve esses princípios e essas instituições readquiram todo o seu vigor na vida social dos povos.
O discurso do Sr. Manuel Ortiz, operário colaborador de "Fiducia" na cidade de Villarrica — também, agora, militante da TFP chilena — foi acolhido com viva simpatia. Falando em nome dos núcleos da novel entidade em San Felipe, Valparaíso, Temuco, Villarrica, Ancud e Castro, afirmou o Sr. Manuel Ortiz a necessidade de classes sociais distintas, que mutuamente se estimem e se apoiem, o que somente será possível quando houver humildade para reconhecer o papel, sempre digno e belo, que Deus consignou a cada homem, no universo.
Defesa dos valores perenes da civilização cristã
Tomando em seguida a palavra, o Sr. Patricio Larraín Bustamante, Presidente do Conselho Nacional da SCDTFP, historiou o surgimento da nova associação.
Desde sua fundação, em 1963 — lembrou S. Sa. — vem a revista "Fiducia" consagrando esforços à defesa dos valores que constituem os pilares da civilização cristã: a Tradição, a Família e a Propriedade.
Há dois anos, precisamente a 13 de maio de 1965, "Fiducia" interpelou publicamente o Presidente Eduardo Frei, pedindo-lhe que definisse sua ambígua, posição em face do direito de propriedade (ver "Catolicismo", n.° 175, de julho de 1965). Esta interpelação colhia o Chefe de Estado demo-cristão no auge de seu prestígio político e num momento em que as forças sadias da opinião nacional aparentavam estar em completa desagregação. A implantação sub-reptícia do socialismo pelas vias travessas da Democracia-Cristã parecia um fato consumado no Chile. O brado de alarma de "Fiducia" despertou a opinião pública, que começou a perceber a marcha gradual porém acelerada em direção ao comunismo, que o programa de ação do partido no poder representava. O Presidente Frei não respondeu à interpelação, confundindo-se num significativo silêncio. A sua estrela começou então a empalidecer.
Veio depois a reforma agrária.
A reforma agrária é geralmente o primeiro passo dado por aqueles que, em todos os países do mundo, desempenham o triste papel de preparar as vias do comunismo. No Chile, o Presidente Frei apresentou um projeto de lei agro-reformista altamente socialista e confiscatório.
A opinião pública, já alarmada, mas tolhida pela ação draconiana do governo — que tomava todas as medidas para impedir qualquer oposição — não se manifestava. Em particular, notava-se a omissão dos órgãos de classe.
"Fiducia" foi, mais uma vez, a única voz que se fez ouvir em defesa do instituto da propriedade privada. Num manifesto publicado, em fevereiro de 1966, nos principais jornais do país, denunciou o plano de bolchevização gradual do Chile em que a implantação de uma tal reforma agrária importaria (ver "Catolicismo"' n.° 184, de abril de 1966).
Mas estas tomadas de atitude não teriam causado todo o impacto que deveriam causar, e de fato causaram, sobre a opinião pública, se se tivessem limitado a proclamações pela imprensa.
Os colaboradores de "Fiducia", com seus estandartes rubros com o leão dourado — simbolizando a fortaleza no combate ao mal e à antiordem, ao mesmo tempo que o fogo do amor ao bem e à verdadeira ordem — saíram às ruas para tomar contato direto com os diversos setores da população chilena, de modo especial com a juventude das universidades e dos colégios. Coletando assinaturas para os seus manifestos e difundindo obras de caráter doutrinário anticomunista, "Fiducia" realizou um trabalho de esclarecimento, de inegável alcance.
Ultimamente, de setembro do ano passado até janeiro deste ano, colaboradores da revista percorreram mais de setenta localidades do sul do país, desenvolvendo essa campanha de esclarecimento — de caráter estritamente ideológico — em torno do projeto de reforma agrária socialista em curso no Congresso nacional. Nem foram detidos, na luta, pela tentativa de intimidação feita por militantes demo-cristãos, os quais, logo no início, na cidade de Temuco, recorreram ao uso da força com esse intuito (ver "Catolicismo", n.° 192, de dezembro de 1966).
Não se pode negar que a ação ideológica de "Fiducia" pesou decisivamente sobre o resultado das eleições municipais de abril p. p., quando a Democracia-Cristã, de força em ascensão, de força dominadora mesmo, transformou-se em força em declínio, tendo perdido boa parte dos votos conseguidos em pleitos anteriores. Era evidente que o Chile tinha ouvido a voz de "Fiducia".
Assim — prosseguiu o orador — depois de tantos anos de luta em defesa dos valores perenes da civilização cristã, era oportuno dar um passo a mais, e os colaboradores da revista resolveram fundar a Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad. A entidade, de caráter cultural e cívico, nasce, portanto, do desejo de melhor projetar no campo temporal os ideais que inspiram a ação de "Fiducia", independente da qual existirá. Os ideais da SCDTFP são hoje pujantes no Chile — concluiu o Sr. Patricio Larraín — como o são em outras nações latino-americanas, dentre as quais cumpre destacar o Brasil e a Argentina, onde se fundaram entidades congêneres muito prestigiosas. Ao ver mencionado o nome do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP brasileira, cuja obra de pensador constitui a base doutrinária da associação nascente, o auditório prorrompeu em espontânea e vibrante salva de palmas.
Encerrando seu discurso, que foi muito aplaudido, o Sr. Patricio Larraín colocou a SCDTFP sob o patrocínio de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Chile.
Os sócios fundadores assinam a ata
Procedeu-se, ato contínuo, à leitura e assinatura da ata de fundação da Sociedade, tendo os sócios fundadores firmado na seguinte ordem: Patricio Larraín Bustamante, Presidente do Conselho Nacional; Patricio Amunátegui Monckeberg, Vice-Presidente; Cristián Vargas Lyón, Secretário; José Miguel Lecaros Mackenna, Tesoureiro; Jaime Antúnez Aldunate, Alejandro Bravo Lira, Maximiano Griffin Rios, Gonzalo Larraín Campbell, Fernando Larraín Bustamante, Afredo MacHale Espinoza, Luis Montes Bezanilla, Héctor Riesle Contreras e Mauricio Vargas Lyon, Conselheiros.
Encerrada essa parte da solenidade, os presentes foram convidados a assinar o livro de visitas, sendo-lhes servido um "cock-tail" que se prolongou, em ambiente de grande cordialidade, por várias horas.
Nos salões laterais do Club Unión, haviam sido montados sugestivos mostruários, onde se expunham as diversas atividades desenvolvidas por "Fiducia", documentadas com dossiers de fotografias e recortes de jornais. As vitórias obtidas no Brasil pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, bem como as tomadas de atitude da revista "Cruzada" na Argentina, eram também recordadas por meio de um abundante documentário.
Força nova e vitoriosa a serviço do Chile hodierno
No dia 3 de maio p. p., o Conselho Nacional da TFP chilena concedeu uma entrevista coletiva à imprensa, nos salões do Hotel Crillón, em Santiago. Compareceram 23 jornalistas dos diversos periódicos da capital, do rádio e da televisão. O Sr. Patricio Larraín Bustamante expôs inicialmente os princípios que norteiam a entidade, cabendo ao Vice-Presidente, Sr. Patricio Amunátegui, historiar as campanhas já realizadas por "Fiducia". Por fim, os jornalistas submeteram os membros do CN a uma longa série de perguntas, incidindo sobre os diversos pontos por eles abordados.
Em seus comentários, divulgados pelas emissoras de rádio naquele mesmo dia ou publicados nos jornais do dia seguinte, os jornalistas de orientação progressista não esconderam o seu desapontamento ao constatarem que os ideais que julgavam sepultados no pó da História estavam mais vivos do que nunca, encontrando a maior ressonância junto à opinião pública.
O Conselho Nacional da SCDTFP quis marcar a fundação da Sociedade com um manifesto a toda a nação chilena. Sob o título de "Uma força nova e vitoriosa a serviço do Chile contemporâneo: a Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade", e ocupando uma página inteira da edição de 5 de maio p. p. de "El Mercurio", foi exposta a posição doutrinária e prática da associação sobre os problemas mais candentes da atualidade mundial e chilena, em particular os relativos à sobrevivência dá civilização cristã. Esse manifesto foi reproduzido em jornais de Temuco e Osorno.
Ainda para assinalar a constituição da Sociedade, duas enormes faixas com os dizeres "A SCDTFP, em sua fundação, saúda o povo chileno e faz votos de que o Chile não venha a ter uma reforma agrária socialista e confiscatória" foram colocadas em ruas de grande movimento, onde podiam ser vistas por numeroso público. As faixas despertaram muito a atenção.
Repercussões na imprensa, no rádio e na televisão
A fundação da Sociedad Chilena de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad, seguida pela publicação do manifesto, repercutiu intensamente em todo o país. Durante vários dias foi assunto obrigatório de conversa nos mais variados ambientes chilenos, do que são um eco as repetidas referências feitas pelos jornais à Sociedade a propósito de sua fundação.
Não é de estranhar, portanto, que uma emissora de televisão, a da Universidade Católica, tivesse pedido uma entrevista à entidade. No mesmo dia da divulgação do manifesto, o Sr. Patricio Amunátegui foi entrevistado durante vinte minutos, no horário noturno de maior audiência. O Vice-Presidente da TFP chilena teve assim oportunidade de reafirmar, perante mais de 500 mil espectadores, os ideais que norteiam a novel entidade, tendo recebido numerosos telefonemas de congratulações.
PREITO FILIAL DE HOMENAGEM E GRATIDÃO
Todos os anos, desde sua fundação, "Catolicismo" comemora com veneração e afeto particular a festa de São Pedro. Com efeito, a piedade cristã aproveita sempre essa data, não só para cultuar o glorioso Príncipe dos Apóstolos, como seu Sucessor reinante. Pois Pedro está presente, espiritualmente, em cada um dos que ao longo dos séculos o vão substituindo no Sumo Pontificado.
Acresce que neste mesmo mês — no dia 30 — por uma coincidência feliz, ocorre também o aniversário da coroação do Santo Padre Paulo VI.
Assim, neste ano como nos anteriores, nossas vistas se elevam em preito de homenagem respeitosa e filial para a figura de Sua Santidade o Papa Paulo VI, gloriosamente reinante, enquanto nossos corações formulam à Virgem Santíssima, Medianeira de todas as Graças, preces ardentes para que Ela o ilumine, o assista e o favoreça com a plena efusão de seus celestiais favores.
Esses votos tanto mais ardentes se tornam, quando o Brasil vem de ser objeto de uma particular manifestação da solicitude do Papa Paulo VI. Referimo-nos à Carta — datada de 30 de abril — que, por ocasião da assembleia plenária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Aparecida, o Santo Padre enviou ao Emmo. Cardeal D. Agnelo Rossi, Arcebispo de São Paulo e Presidente da CNBB.
Nesse Documento, que ficará em lugar de relevo nos anais da história religiosa do País, "Catolicismo" — que se consagrou à dura tarefa de ser o paladino das "Verdades Esquecidas" — se compraz em destacar o seguinte tópico, referente aos erros que infelizmente grassam hoje nos meios católicos brasileiros e a cujo respeito tanto fornecemos fatos e comentários, que muitos timbram em esquecer:
"Vossa assembleia realiza-se no despontar do Ano da Fé, que tivemos a alegria de proclamar ao mundo, para celebrar este centenário do martírio do Príncipe dos Apóstolos. Portanto," não vos seja desagradável se, também a vós, confiamos um constante pensamento que Nos está muito no coração e que, há poucas semanas atrás, manifestávamos aos Nossos veneráveis Irmãos e Filhos do Episcopado Italiano, vindos para fazer-Nos visita no curso de sua assembleia plenária. Aliás, porque Nos encontramos na impossibilidade de efetuar também convosco esse encontro "os ad os", resolvemos abrir-vos a alma "per chartam et atramentum".
Recordamos, pois, certas tendências da doutrina e nos costumes, peculiares não somente da "mentalidade profana, a-religiosa e anti-religiosa", que caracteriza vastas camadas da sociedade contemporânea, mas que igualmente se revelam "no campo cristão, não excluindo o campo católico e, muitas vezes, como um inexplicável espírito de orgulho (SI. 19, 14), também entre os que conhecem e estudam a palavra de Deus"; tendências que, estamos certo, constituem também para vós motivo de apreensão, tanto mais porque elas se acham em violento e perigoso contraste com a fé simples, a profunda religiosidade e a adesão singela e quase instintiva do vosso bom povo ao magistério da Igreja.
"Cumpre a nós, Bispos, em primeiro lugar — acrescentávamos — mestres e testemunhas da fé que somos, tomar posição através da afirmação positiva da palavra de Deus e da doutrina da Igreja que dela deriva; e, onde isto não bastar, com a calma e sincera denúncia de erros, espalhados por vezes como uma epidemia, cumpre-nos a nós, Pastores de almas, compreender, compartilhar, instruir, corrigir os espíritos ainda abertos ao diálogo e à busca da verdade, ávidos às vezes de um testemunho nosso sereno e razoável, e mais próximos do que talvez nos pareça, a reabrir os olhos para a luz de Cristo; cumpre-nos, nos momentos de crise mais grave, repetir a Ele, Cristo, em nome de todos, as palavras de Pedro : "Senhor, a quem iremos? Só Vós tendes palavras de vida eterna" (Jo. 6, 68)".
Confiamos que o Ano da Fé oferecerá a cada um de nós a ocasião de estudar os problemas inerentes à fé e de dar à nossa fé a adesão interna e a profissão exterior, que esta hora de trevas e de relâmpagos está a exigir de nós, Sucessores dos Apóstolos ("Osserv. Rom.", 8 de abril de 1967)".
Estas palavras do Augusto Pontífice constituem ponderoso motivo para granjear a Sua Santidade a gratidão de todos os brasileiros.