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CAMPOS HOMENAGEIA SEU INSIGNE BISPO DIOCESANO

Pelo transcurso do décimo nono aniversário de sua sagração, o Exmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer, Bispo Diocesano, recebeu significativa homenagem, no dia 23 de maio p. p., da família católica campista.

Ao ato compareceram autoridades civis, membros do Clero secular e regular e das Congregações Religiosas Femininas, diretores, professores e alunos das Faculdades de Filosofia e Direito, e dos demais estabelecimentos de ensino de Campos, bem como grande número de fiéis, lotando completamente o salão nobre do Automóvel Club Fluminense.

Em nome do povo católico campista saudou ao eminente Prelado o Exmo. Mons. João de Barros Uchoa, Cura da Catedral, que entregou a S. Excia. Revma. um valioso donativo dos fiéis para as obras da Diocese. Seguiram-se com a palavra o Exmo. Mons. Antonio Ribeiro do Rosario, diretor desta folha, o Prof. Aldano Sellos de Barros e a Sra. Maria Carmelita Chagas.

Em seus discursos, os oradores assinalaram os traços marcantes da personalidade do Bispo Diocesano, a simplicidade e afabilidade que revela a todos os que dele se acercam, sua grande caridade e zelo pela salvação das almas, seu amor ao Romano Pontífice, sua entranhada devoção a Nossa Senhora, a impertérrita fidelidade à Santa Igreja Católica Apostólica Romana que o caracteriza em todas as circunstâncias.

De sua atuação à frente da Diocese foi destacada pelos oradores a especial atenção e esforços sem conta que dedicou à fundação do Seminário Diocesano, ao incremento do ensino religioso nas escolas, ao florescimento das associações religiosas, à intensificação da vida de piedade em geral.

A par disso, consciente de que um dos deveres mais relevantes do Bispo é ensinar, S. Excia. Revma. tem posto o melhor de sua brilhante inteligência na elaboração de luminosas Cartas Pastorais, cuja repercussão extravasou de muito os limites desta Diocese. Sua Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno, por exemplo, que já em 1953 denunciava graves erros infiltrados nas fileiras católicas, os quais, depois, vieram a manifestar-se às escâncaras, foi traduzida em quatro idiomas e alcançou repercussão internacional. Mais recentemente, a Carta Pastoral prevenindo os diocesanos contra os ardis da seita comunista, escrita em 1961, foi aplaudida e difundida por todo o País.

Suas vistas, sempre zelosas do que possa interessar ao campo espiritual, não têm descurado os problemas de ordem temporal, desde que neles esteja implicado o interesse da salvação das almas. Através de vários e incisivos pronunciamentos, D. Antonio de Castro Mayer tem tomado posição com referência a temas controvertidos, empenhando-se em defender, em todas as ocasiões, os princípios em que se baseia a civilização cristã. Neste particular, se destaca sua participação, juntamente com D. Geraldo dó Proença Sigaud, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e o economista Luiz Mendonça de Freitas, na elaboração de "Reforma Agrária — Questão de Consciência", que sustou a aplicação da reforma agrária socialista e anticristã no Brasil, e da Declaração do Morro Alto, que constitui um programa positivo de política agrária segundo os princípios do livro anterior. A polêmica em torno dessas obras e do problema agro-reformista deu ensejo a corajosos manifestos dos quatro autores, tendo S. Excia. Revma. contribuído para eles com a vastidão de seus conhecimentos e a firmeza de seus princípios.

No Concílio Ecumênico o Exmo. Prelado se distinguiu pelas suas importantes intervenções em defesa da doutrina e disciplina tradicionais da Igreja, tendo, além disso, brindado seus diocesanos com magníficos Documentos Pastorais alusivos ao evento. Nestes se revelam em toda a sua amplitude o talento, a cultura e a profunda atualização das observações sobre o espírito de nossa época, do ilustre Antístite.

Por ocasião da Magna Assembleia são ainda dignas de menção especial as duas memoráveis petições que S. Excia. Revma. promoveu juntamente com o ínclito Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud: a que solicitava uma formal condenação conciliar do comunismo e do socialismo, e a que pedia a consagração da Rússia e do mundo ao Imaculado Coração de Maria, a ser feita pelo Papa em união com todos os Bispos.

Ultimamente, ao ensejo do cinquentenário das Aparições de Fátima e do 250.° aniversário do encontro da milagrosa Imagem de Nossa Senhora Aparecida, tivemos nova Pastoral, cheia de unção, a qual alerta o rebanho campista para perniciosos desvios que ameaçam a pureza da fé católica.

Como se observou num dos discursos, o zelo incansável de D. Antonio de Castro Mayer pelo bem das almas e pela glória da Santa Igreja Católica projetou o nome da cidade de Campos em todo o mundo, sendo êste mais um motivo de júbilo para todos os campistas e brasileiros.

Frisaram, por tudo isso, os oradores que não era senão altamente justa e merecida a homenagem filialmente calorosa que a Diocese e a cidade tributavam ao seu eminente Bispo na passagem de mais um aniversário de sua ascensão à plenitude do sacerdócio.

S. Excia. Revma. agradeceu em oração que foi vivamente aplaudida.

Nos intervalos foram executadas peças de canto orfeônico.


1200 fazendeiros de Minas censuram severamente o Presidente da FAREM

A propósito de circular recentemente divulgada pela Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais, foi entregue no dia 21 de junho p. p., ao Sr. Josaphat Macedo, presidente da FAREM, uma carta de protesto assinada por 1198 fazendeiros de 33 cidades mineiras.

O documento, que vem tendo enorme repercussão no seio da FAREM, na classe rural montanhesa e na imprensa de Belo Horizonte, consigna de início: "Tendo tomado conhecimento da circular n.° 30/67, sob o título "Revolução democrática de 31 de março", enviada pela FAREM a seus associados, não podemos deixar de fazer um reparo à mesma. Tal reparo se refere a uma flagrante contradição contida no documento. Com efeito, na p. 2, a circular — que na folha anterior se jactava da luta empreendida contra a reforma agrária do Sr. João Goulart — assevera que a FAREM desejava e deseja uma "reforma agrária democrática e cristã". Isto leva a crer que a reforma propugnada pela FAREM era bem diversa da que se promovia sob a égide do governo Goulart".

Ora, mostram os signatários que na p. 3 da circular está afirmado, de maneira iniludível, embora não em expressos termos, que a reforma agrária consubstanciada no Estatuto da Terra coincide, pelo menos em seus pontos fundamentais, com a reforma "democrática e cristã", sonhada pelo Sr. Josaphat Macedo.

É "precisamente nisto que está a contradição". Pois a reforma agrária do Estatuto da Terra realiza "tudo quanto o agro-reformismo janguista desejava". A ela se deveria ter oposto o presidente da FAREM, pelas mesmas razões que o levaram a se opor à reforma agrária janguista. E S. Sa., por ocasião da promulgação do Estatuto da Terra, manteve de início um silêncio completo, ao qual sucedeu mais tarde uma formal aprovação. "Procedendo por esta forma — observam os 1198 fazendeiros — V. Sa. se omitiu de um dever gravíssimo, em uma hora trágica para a lavoura mineira".

A História registrará de futuro, "com pasmo e desconcerto", a "completa capitulação da FAREM e de tantas outras entidades congêneres do País" ante a reforma agrária hoje implantada por lei no Brasil. "Como registrará com louvor a atitude corajosa que tomou perante o fato uma entidade sem caráter rural, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, em seu monumental "Manifesto ao Povo Brasileiro sobre a Reforma Agrária", (ver "Catolicismo", n.° 169, de janeiro de 1.965). Não consta aos signatários da carta de protesto que a FAREM tenha tido "sequer a coragem de aplaudir nesse passo a atitude desinteressada e altaneira da TFP".

"Escrevemos a presente carta a V. Sa. — concluem os fazendeiros — para que, quando os historiadores imparciais forem vasculhar os arquivos desta entidade, neles encontrem as afirmações aqui contidas. Elas são de uma importância capital para um julgamento honesto da atuação de V. Sa. à testa da FAREM".

Seguem-se 1198 assinaturas.


TFP AO EMBAIXADOR DA URSS: SEJAM COERENTES

Em data de 3 de julho p. p. a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade enviou ao embaixador soviético Serguei Mikhailov o seguinte telegrama, subscrito pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional: "Noticiando a imprensa mundial que a Rússia sustenta o princípio da necessidade de Israel abandonar as suas conquistas territoriais como condição das negociações de paz no Oriente Médio, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade pede que encaminheis aos detentores do poder em Moscou a observação de que o mesmo princípio lhes impõe a imediata retirada das tropas comunistas que oprimem as nações ocupadas desde o término da guerra. A presente consideração, participada certamente por milhões de brasileiros, é feita sem tomada de posição no conflito árabe-israelense, com a exclusiva preocupação do restabelecimento da normalidade e da paz nas gloriosas nações cristãs da Europa".


INDULGÊNCIAS PARA O ANO JUBILAR DE APARECIDA

Por motivo do 250.° aniversário do encontro da sagrada Imagem de Nossa Senhora Aparecida, concedeu a Santa Sé importantes graças espirituais aos fiéis que visitarem neste ano o Santuário da Padroeira do Brasil. A propósito o Emmo. Cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, Arcebispo Metropolitano de Aparecida, dirigiu carta circular ao Venerando Episcopado Nacional, cujo texto foi distribuído à margem pela Cúria daquela Arquidiocese. Assim se exprime S. Eminência no documento:

"Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais e Excelentíssimos e Reverendíssimos Senhores Arcebispos e Bispos do Brasil.

SIT NOMEN DOMINI BENEDICTUM

Temos honra e júbilo em comunicar-vos que o nosso Santo Padre Paulo VI, por rescrito da Sagrada Penitenciaria Apostólica, em data de 23 de setembro último, Se dignou conceder as seguintes graças espirituais, durante o próximo ano de 1967, por motivo do ducentésimo quinquagésimo aniversário do início do culto a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, "Principal Padroeira de todo o Brasil junto de Deus":

1 — Indulgência Plenária, a ser lucrada no transcurso do ano 1967, pelos fiéis cristãos que se confessarem e receberem a sagrada Comunhão: a) em um único dia qualquer, conforme o cân. 921, § 3, do C. D. C., se devotamente visitarem a antiga Imagem da mesma Beata Virgem Maria, exposta no Santuário de Aparecida e rezarem segundo a mente de Sua Santidade; b) em cada dia do ano, se por motivo de piedosa visita à referida Imagem forem em peregrinação coletiva e, como acima, devotamente orarem.

2 — Faculdade, para o Arcebispo de Aparecida, ou para outro Bispo por ele delegado, de comunicar uma só vez, por ocasião da principal celebração jubilar, a Bênção Papal com anexa Indulgência Plenária a ser lucrada pelos fiéis que, purificados pela confissão sacramental e nutridos pelo celestial Banquete, devotamente receberem a referida Bênção e recitarem preces segundo a mente de Sua Santidade.

Deus guarde a Vossas Eminências e a Vossas Excelências Reverendíssimas.

Aparecida, 12 de outubro de 1966

† Carlos C. Card. de Vasconcellos Motta

Arcebispo Metropolitano".


CALICEM DOMINI BIBERUNT

LER OS JORNAIS,

PREGAR EXERCÍCIOS E MISSÕES

ERA DEVER DA NOVA AMICIZIA

Fernando Furquim de Almeida

O fundadores da Amicizia Cristiana tinham um conhecimento parcial, mas muito nítido, da infiltração dos erros revolucionários nos meios católicos. As frequentes viagens que faziam, os relatórios dos “missionários" que estudavam o ambiente das cidades onde se planejava fundar núcleos da sociedade, lhes permitiam compor pouco a pouco o panorama da situação religiosa no mundo.

Não era este um panorama alentador. Os católicos tinham imergido numa inércia desconcertante. Os eclesiásticos mais zelosos não entreviam senão confusamente os erros com que a Revolução ia corroendo as instituições católicas, e nenhum deles percebia a gravidade do perigo. Desanimados, não procuravam alargar os horizontes de seu ministério, limitando-se a distribuir os sacramentos, sem tentar nenhum esforço sério para deter o processo universal que, dentro em pouco, adquiriria tão grande velocidade com os horrores da Revolução Francesa. Se essa era a situação entre os sacerdotes, que dizer dos fiéis, menos preparados, mais expostos ao influxo do meio a que pertenciam e submetidos a uma propaganda maciça e muito ativa? Vivendo numa sociedade cujos fundamentos julgavam indestrutíveis, sem ninguém que os prevenisse contra os falsos princípios de que se embebiam inconscientemente, entregavam se a um otimismo vazio que lhes permitia permanecer tranquilos e despreocupados.

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Esse estado de espírito dificultava o apostolado da Amicizia Cristiana. Suscitava nos melhores uma apatia perigosa, e em todos uma resistência passiva a qualquer trabalho organizado para opor uma barreira aos progressos da Revolução. Propondo se combater esta última no âmbito das ideias, a Amicizie só poderia conseguir as condições indispensáveis para um trabalho fecundo se procurasse ao mesmo tempo despertar os católicos, inculcando-lhes de novo o fogo do amor de Deus, indispensável para reerguer as almas, tirando-as da apatia e do desânimo em que tinham imergido.

Esta ação sobre os fiéis seria mais penetrante se fosse feita pelos sacerdotes que tinham a confiança do povo. A Aa já representava um primeiro passo no sentido de obter padres capazes para essa tarefa, mas ainda era insuficiente. Com efeito, destinada aos seminaristas (pelo menos no Piemonte e na Sabóia), não conservava a influência necessária sobre os seus antigos membros, depois de ordenados, de sorte que os novos padres, sujeitos à ação do ambiente, perdiam o élan que tinham adquirido na sociedade. Conhecendo bem o problema, o Padre Diessbach e seus dois discípulos Virginio e Lanteri criaram uma nova associação, também de caráter secreto, a Amicizia Sacerdotale.

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Recrutava esta os seus membros no clero. Visava incentivar uma união mais estreita entre os jovens sacerdotes desejosos de alcançar maior perfeição espiritual e de desenvolver os seus estudos. Eram convidados para ingressar nela sobretudo os eclesiásticos cuja situação financeira lhes permitisse não aceitar outros encargos, a fim de poderem se entregar de corpo e alma ao apostolado que deles se esperava.

Não se sabe quando a nova sociedade foi fundada. Em 1783 já existia em Turim, e o Padre Lanteri a ela dedicava boa parte do seu tempo. A organização da Amicizia Sacerdotale era mais simples do que a da Amicizia Cristiana. Havia um diretor e um secretário, e o número de membros não era fixado rigidamente pelos estatutos. Reuniam se uma vez por semana. Ao chegarem ao local designado, os amigos sacerdotais encontravam à sua disposição os principais periódicos. Enquanto esperavam os retardatários, tomavam café e conversavam sobre os últimos acontecimentos.

A reunião era uma verdadeira escola para ensiná los a ler os jornais e interpretar as notícias sob o ângulo dos princípios e interesses católicos. O Venerável Lanteri dava grande importância a essa parte da reunião. Muitos anos mais tarde, em um documento sobre a Amicizia Sacerdotale (publicado pela Postulação de sua causa de beatificação), consignou as razões pelas quais um sacerdote deve ler os jornais:

“Com essa leitura, poderá ele ter uma ideia do estado moral de todas as nações, acostumar-se-á a não restringir seu campo de observação e de interesse à região em que vive, e passará a considerar o mundo todo como sua pátria, todos os homens como seus irmãos, como convém a um verdadeiro filho e ministro da Santa Igreja Católica, que não pode ser indiferente a nada do que tão de perto interessa ao Sagrado Coração de Jesus. Finalmente, ao padre bem informado é mais fácil introduzir se junto aos leigos, para depois lhes falar de Deus”.

A Amicizia Sacerdotale não era só uma escola de formação. Os seus membros deviam combater o estado de espírito em que, como vimos, se encontravam os católicos da época, e o Padre Diessbach não via melhor meio para revigorar nestes a fé do que os Exercícios Espirituais de Santo Inácio a as missões populares. Antes de passar à ação, deviam os amigos sacerdotais preparar um curso completo de pregações, quer para os Exercícios, quer para as missões. Esses curso eram lidos e discutidos nas reuniões da Amicizia, e só podiam ser usados depois de aprovados.

A organização de uma missão popular era cuidadosamente elaborada. Além do preparo teórico, os sacerdotes deviam adquirir a prática das missões, colocando se na escola de algum célebre missionário. Nas reuniões, o estudo sério e aprofundado da doutrina católica os adestrava também para o combate aos erros dominantes, que eram expostos e refutados para que todos lhes soubessem opor os argumentos mais convincentes.

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A Amicizia Sacerdotale dependia completamente da Amicizia Cristiana, inclusive em matéria financeira. Os amigos cristãos custeavam as despesas, iam aonde era necessária a pregação de missões ou retiros, tratavam com os bispos, resolviam as dificuldades, preparavam, enfim, todo o apostolado. Poupavam assim aos sacerdotes um tempo precioso para o estudo e a meditação.

A Amicizia Cristiana, auxiliada pela Aa e pela Amicizia Sacerdotale, já em 1783 começou a se expandir e levar a outras cidades os benefícios de sua ação. Era um novo período de história da Igreja no Piemonte que se iniciava.


NOVA ET VETERA

"ANTIECUMÊNICO FAZER PROSELITISMO JUNTO A MEMBROS ATIVOS DE UMA IGREJA CRISTÃ"

J. de Azeredo Santos

Para quem tem os olhos e os ouvidos abertos à realidade da vida religiosa de nossos dias, é patente o rompimento de barreiras que até há pouco separavam nitidamente a verdade e o erro. Ainda recentemente comentávamos nesta secção as palavras eufóricas de um Sacerdote egresso da Companhia de Jesus, segundo o qual com o século XX e sobretudo a partir do II Concílio Vaticano "mudou-se tudo", inclusive a "mentalidade da Igreja", que se teria convertido à terra. Não faltam atentados contra a própria verdade dogmática, mas o que é mais comum é silenciar princípios fundamentais de nossa Fé e adotar atitudes práticas que encerram a implícita aceitação do erro. E a isto os progressistas dão o nome de "aggiornamento".

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Em artigo publicado no número de 28 de janeiro p. p. da revista católica inglesa "The Tablet", sob o título de "Mudanças do Catolicismo norte-americano", dá-nos o professor universitário Arnold Lunn o relato das novidades que encontrou nos ambientes católicos dos Estados Unidos em comparação com o que observara quatro anos antes, por ocasião de anterior visita.

Acha o Sr. Lunn que os progressos do laicismo nos Estados Unidos têm sido maiores e mais espetaculares que os registrados na Inglaterra. E assinala também o sentido prático dos laicistas da era atômica: "Enquanto os racionalistas vitorianos em sua maior parte se limitavam a atacar o Credo cristão, muitos laicistas modernos atacam vários, aspectos do código cristão, notadamente o sexual. Os homens são por natureza conformistas, e muitos de nós preferimos não remar contra a maré. À medida que se alarga o fosso entre o Cristianismo e o laicismo, os cristãos passam a ser divididos em tradicionalistas, que se mostram leais ao Credo e ao código tradicionais, e modernistas, que se manifestam ansiosos por conseguir modificações do Credo cristão e do código sexual aptas a criar um "modus vivendi" entre os cristãos e os laicistas".

A impressão colhida pelo articulista é de que numerosos católicos "yankees" estão convictos de que só agora nos encontramos em face de um Catolicismo que um católico civilizado pode aceitar. "Tais católicos, não contentes em diminuir a Igreja anterior ao II Concilio Vaticano, fazem tudo o que podem para atenuar a diferença entre a Igreja Católica e todas as outras comunhões cristãs. "Não concorda o Sr., perguntou-me uma Freira, que é errado considerar como "convertidos" aqueles que antes haviam sido membros praticantes de uma igreja protestante?" Perguntei-lhe que palavra ela sugeria para descrever o que sempre me pareceu uma importante mudança em minha própria vida, como foi meu ingresso na Igreja Católica" (artigo citado).

Mais ainda. Nem sequer dever-se-ia tentar converter nossos irmãos separados: "Um Sacerdote da velha escola mostrou-me indignado um exemplar do boletim da Igreja de São Rafael, no qual o Revmo. Pe. John O'Brien, da Universidade de Notre Dame, escreveu: "Ademais, o espírito ecumênico desaprova o proselitismo junto a pessoas ativamente associadas a qualquer igreja cristã".

Adotando em caráter de exclusividade a tática do terreno comum, a tendência de tais católicos acomodatícios é no sentido de se associarem às causas que os laicistas aprovam, rejeitando aquelas que se tornaram impopulares por ação da propaganda esquerdista, "tais como a luta contra a discriminação religiosa nos países comunistas". Acima de tudo, evitam qualquer ataque aberto contra a heresia do laicismo. "A palavra "heresia", continua o artigo, deriva da palavra grega "hairesis", que significa "escolha", e o mal dos acomodatícios não é tanto a heresia no sentido de repúdio de dogmas definidos, mas "hairesis" no sentido de escolher um aspecto particular do Catolicismo e desprezar outros igualmente importantes. [...] Um clichê favorito dos laicistas foi aplicado por um estudante católico em uma de minhas palestras: "A caridade é mais importante que a castidade".

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Há muitos anos atrás o grande Dom Chautard já se referia a esses partidários da religião do "bluff": "Relegar para o segundo plano o essencial, eis no que inconscientemente trabalham os partidários dessa espiritualidade moderna, designada pela palavra "americanismo". Para eles, a Igreja não é ainda um templo protestante. O sacrário não está ainda vazio. Mas a vida eucarística, na sua opinião, quase não pode adaptar-se, nem sobretudo bastar, às exigências da civilização moderna; e a vida interior que necessariamente promana da vida eucarística já passou de moda" ("A Alma de todo Apostolado", p. 22). É a "heresia das obras".

Que diria o grande Abade de Sept-Fons se voltasse hoje ao mundo? Encontraria este triste quadro descrito pelo Prof. Arnold Lunn: "Talvez a mais perniciosa "hairesis" no Catolicismo moderno seja a ilusão de que a única atividade católica de importância é o trabalho de natureza social entre os pobres. Um Sacerdote norte-americano [...] disse-me com amargura: "É-me inútil falar aos seminaristas. Eles não consideram Sacerdote quem não esteja trabalhando entre os pobres". Esta preocupação com os problemas econômicos e sociais é evidência do declínio da crença na missão primária da Igreja: a salvação das almas e a conversão daqueles que agora rejeitam o sobrenatural. No fim de uma de minhas preleções, um Jesuíta me observou: "Sua palestra estava cheia de palavras chocantes, tais como "prova", "racional", "apologética", e acima de tudo "conversão".

*

Observou o articulista nos Estados Unidos o mesmo fenômeno que em maiores ou menores proporções se verifica pelo mundo inteiro: quem dá a nota nos meios católicos é uma pequena minoria de Sacerdotes e leigos progressistas, que pela tática de intimidação (na qual se destaca o uso de ápodos como "reacionário", "integrista", "fixista" e outros) mantêm em silêncio a maioria conservadora. Entrando em contato com vários grupos de católicos tradicionalistas norte-americanos, verificou o Sr. Arnold Lunn que "eles desfaziam a impressão geral de uma sonolenta e tímida maioria", e que era exato o que lhe dissera um Sacerdote: "Nossos jornais católicos dão uma impressão inteiramente falsa da força respectiva dos conservadores e do que chamam de vanguarda".

Não nos entreguemos, portanto, a conclusões pessimistas quanto a um quadro que se desenha tão sombrio. Nosso Senhor se cercou de uma pequena elite, de um pugilo de batalhadores ao bom combate, orientados pela sua doutrina e alentados pela sua graça. Eis porque em meio a esta geral confusão temos motivo para confiança. Como no episódio dos trezentos de Gedeão, o que conta não é o número, mas a boa disposição dos combatentes sob o supremo comando do Senhor Deus dos Exércitos. Na hora aprazada, a Santíssima Virgem suscitará a união de todos os homens da dextra de seu Divino Filho, e a luz da ortodoxia e da verdadeira caridade espancará as trevas dos erros que atualmente ameaçam envolver todo o orbe.