A QUEM APROVEITAM OS ATAQUES CONTRA A TFP?
RESPOSTA A UMA ENTREVISTA
Francisco Leoncio Cerqueira
BELO HORIZONTE, abril — A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, à medida que sua presença se faz sentir mais prestigiosa e influente, vem sendo objeto, em vários pontos do território nacional, de uma onda crescente de ataques e cochichos que visam a desacreditá-la perante a opinião pública, com o evidente intuito de anular sua atuação.
Em Belo Horizonte os ataques à TFP vêm-se sucedendo com impressionante insistência, ora sob a forma de cochichos, ora, de invectivas frontais. Nos últimos meses três fatos despertaram especial atenção, dada a ampla divulgação que lhes deu a imprensa.
O primeiro — a, atitude violenta e arbitrária dos RR. PP. Carmelitas Calçados contra os militantes da Tradição, Família e Propriedade que propagavam "Catolicismo" nas imediações da sua igreja — foi verberado por um Edital da Cúria Diocesana de Campos, que estampamos em nosso número de março p.p.
O matutino "Última Hora" fez ampla exploração em torno do incidente provocado pelos RR. PP. Carmelitas. Quando da publicação do Edital da Cúria de Campos, novamente o referido jornal deu mostras, de facciosismo, reproduzindo-o truncado, e, posteriormente, procurando comprometer a TFP através de declarações falsamente atribuídas ao Sr. Antonio Rodrigues Ferreira, Presidente da Secção de Minas Gerais da entidade.
A campanha de "Última Hora" cessou após a divulgação, como matéria paga, no "Estado de Minas" de 8 de março, de uma carta — que ficou sem resposta — na qual o Sr. Antonio Rodrigues Ferreira protestava contra a deturpação de suas palavras e pedia que o jornal se retratasse.
"Padre acusa turma da TFP de fanáticos"
A esses fatos somou-se á publicação de declarações atribuídas ao Revmo. Pe. Paulo Fernandes, redator da página religiosa do órgão católico "O Diário", sob o título de "Padre acusa turma da TFP de fanáticos". A entrevista foi estampada pelo matutino "Diário de Minas" em sua edição de 9 de março e retransmitida pela televisão. O seu texto é o seguinte:
"Aqueles rapazes de terno e escudo na lapela, que carregam um estandarte vermelho — estilo medieval — e vendem jornalzinho nas portas das Igrejas, estão sendo acusados por vários padres de "fanatismo" e, por isso, perderam seus "pontos", pois as Igrejas estão proibindo suas presenças.
O padre Paulo Fernandes, de O Diário, acha que a posição dos párocos é autêntica, em defesa da pregação cristã e solidária com a totalidade dos bispos brasileiros. Para ele entretanto, não é necessário que os padres chamem a polícia para tirar fanáticos das portas das Igrejas, mas basta que peçam aos católicos que não dêem ouvidos às bobagens que os rapazes andam falando.
A TRADIÇÃO
Em nome da Tradição, Família e Propriedade, alguns rapazes bem vestidos, com escudinho de congregado mariano na lapela, carregando um enorme estandarte vermelho — "com leão rompante ao centro", como eles falam — ficam nas portas das Igrejas vendendo jornalzinho "O Catolicismo", obrigando a que todos comprem e criando muita confusão.
Há dias, numa missa de domingo, os padres da Igreja do Carmo expulsaram os congregados do adro da Igreja, tal a confusão que estavam aprontando. Eles fazem muitos comícios, chamam padres de subversivos e são considerados "fanáticos" pela grande maioria dos vigários.
Filhos de famílias importantes, a maioria do interior, com bons empregos os rapazes da TFP têm até pensão própria. Há tempos, porque não quiseram pagar a empregada e tiveram que ir à Justiça.
O padre Paulo Fernandes diz que "o jornal que eles tentam vender é escrito dentro de um espírito conservador e reacionário. Apenas dois bispos subscrevem o fanatismo contido em suas, páginas: o de Campos e o de Diamantina. Os outros duzentos e tantos estão contra e já disseram isto, inclusive na última conferência, quando condenaram as pregações reacionárias, dizendo que aquilo não representa o pensamento da Igreja.
Os rapazes defendem a propriedade — como um bem celeste e intocável — acusando a qualquer tentativa de reforma no campo como “forma subversiva” de corromper o camponês.
Para o padre Paulo, é dever de todos os católicos alertarem os que não têm conhecimento dos absurdos pregados pelos rapazes do perigo que correm. A leitura do jornal chega a corromper, tal seu fanatismo. Os defensores da TFP não admitem o diálogo e precisam é de uma cadeira psiquiátrica, terminou o padre Paulo".
TFP mineira divulga carta ao Revmo. Pe. Fernandes
Tomando conhecimento dessa entrevista injuriosa, o Diretório Seccional de Minas Gerais da TFP enviou ao mencionado Sacerdote uma carta em que solicitava respeitosamente que S. Revma. desmentisse as declarações a ele atribuídas, ou aceitasse o diálogo sobre as suas acusações.
Não tendo recebido resposta ao longo de dez dias, a TFP mineira promoveu a divulgação do texto da carta, sob a forma de um folheto de primorosa apresentarão gráfica, que foi distribuído a domicílio nos principais bairros da cidade, além de enviado pelo Correio às pessoas a que podia especialmente interessar.
Reza esse documento:
"Belo Horizonte, 15 de março de 1968 Revmo. Sr. Pe. Paulo Fernandes
A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade vem sendo objeto, recentemente, de uma série convergente de ataques, cada qual mais violento e infundado.
Entidade votada à defesa da Tradição, da Família e da Propriedade, temos realizado campanhas que vêm contando com o apoio caloroso de centenas de milhares de brasileiros. Entre elas sobreleva notar o vitorioso abaixo-assinado contra a implantação do divórcio no Brasil, que alcançou mais de um milhão de assinaturas, e também a difusão em escala nacional do livro "REFORMA AGRÁRIA — QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA", "best-seller" de autoria de D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, e economista Luiz Mendonça de Freitas. Como é notório, o impacto deste livro, que tirou 30 mil exemplares em menos de dois anos, foi fator muito ponderável para a formação do grande movimento de opinião com o qual o Brasil venceu o perigo do esquerdismo janguista.
A quem aproveitam os ataques contra a TFP? Em primeira linha, evidentemente, às hostes esquerdistas, a cuja atuação a TFP se opõe de norte a sul do nosso imenso território: Como pode, por exemplo, não se regozijar o comunismo com todo ataque à TFP? Quando, por ocasião do 50.° aniversário da implantação do regime bolchevista na Rússia, a TFP promoveu, com geral aplauso, nas mais importantes cidades do País, Missas em sufrágio das vítimas do comunismo, e publicou largamente pela imprensa um corajoso manifesto de repúdio ao marxismo, quem se irritou com o fato? Os comunistas e seus asseclas. Quem simpatizou com a dupla iniciativa da TFP? — Todos os brasileiros realmente empenhados em preservar nosso País do neocolonialismo ateu fomentado por Moscou e Pequim. É claro que — importa repetir — com a ofensiva contra a maior entidade cívica antiesquerdista do Brasil contemporâneo, antes de tudo e acima de tudo são os esquerdistas que se beneficiam e regozijam.
* * *
Esta é a razão pela qual a TFP se sentiu consternada ao ver que, nesta campanha de detração, figura o nome de V. Revma., nome respeitável por ser o de um Sacerdote católico. E por isso mesmo nome particularmente eficiente na luta contra esta Sociedade, pois nada pode ser mais útil aos que nos hostilizam do que lançar contra uma entidade cívica, que atua no plano da defesa do Direito Natural, um Sacerdote da Igreja de Deus.
Tal é a soma de afirmações inverídicas apresentadas em nome de V. Revma. na entrevista que, sob o título "Padre acusa turma da TFP de fanáticos", publicou o jornal "Diário de Minas", em 9 de março último, p. 6, que nos perguntamos até se ela traduz realmente com fidelidade tudo quanto V. Revma. disse.
De qualquer forma, tão graves são as acusações contra a TFP contidas na referida entrevista, que não temos o direito de nos calar.
Com efeito, silenciando diante dessas acusações, pareceremos aceitá-las: quem cala consente implicitamente, assevera a sabedoria popular. E nosso dever de fidelidade para com a causa que servimos impede que guardemos no presente caso um silêncio que redundaria em desdouro e prejuízo para esta mesma causa.
Assim, fazendo uso do direito de legitima defesa, o mais sagrado dos direitos, reconhecido por todos os moralistas católicos, pelo Direito Canônico e pelas leis de todas as nações civilizadas, pedimos a V. Revma. que desautore de público as declarações que lhe são atribuídas, ou — se as mantém — aceite entabular diálogo conosco sobre os argumentos que a seguir exporemos.
* * *
Passemos à análise da entrevista:
■ 1 — Afirma ela que "Catolicismo", o mensário de cultura propagado por sócios e militantes da TFP, "é escrito dentro de um espírito conservador e reacionário" de tal maneira "fanático" que "chega a corromper". — Não é conforme às boas normas lançar tal acusação sem lhe dar por esteio várias citações que a justifiquem. Pois um escritor sério, que acusa ante um público sério, jamais formula uma crítica sem lhe dar as provas... É de espantar que epítetos dessa natureza possam ser lançados contra “Catolicismo”. Pode V. Revma. citar qual o número e a página do jornal em que encontrou as manifestações do delirante fanatismo a que se refere?
■ 2 — Permita V. Revma. acrescentarmos que a obrigação da prova se torna aí particularmente necessária. Com efeito, diz a entrevista que "dois bispos subscrevem o fanatismo contido em suas páginas: o de Campos e o de Diamantina". Assim, a acusação pesa sobre dois Prelados ilustres, D. Antonio de Castro Mayer e D. Geraldo de Proença Sigaud, que são conhecidos em todo o Brasil e fora dele por sua cultura teológica, e que se destacaram por sua brilhante atuação no decurso do Concílio Vaticano II. A entrevista arrasta igualmente em sua acusação os numerosos Sacerdotes cujas cartas de aplauso "Catolicismo" freqüentemente publica. Não é lícito fazer tais acusações pessoais sem citar os textos com que elas possam se justificar. Mais uma vez, portanto, pedimos a V. Revma: que cite os textos em que se estribaria.
■ 3 — Teria afirmado V. Revma. que defendemos a propriedade privada como "bem celeste intocável", e que afirmamos o caráter subversivo de toda e qualquer reforma agrária. Pedimos a V. Revma, que diga quem na TFP sustentou estes conceitos, quando e onde os sustentou, e na presença de quem. Leu V. Revma. "REFORMA AGRÁRIA — QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA"? Neste livro, os autores mostram em que condições uma reforma agrária é subversiva e em que condições não o é (pp. XIX, 9 a 12). A mesma obra mostra em várias passagens (pp. 92, 93, 100, 151, 153, 196, 197, 215 e ss.) que a propriedade privada pode sofrer restrições em atenção à sua função social e em que condições tais restrições não são legítimas. A DECLARAÇÃO DO MORRO ALTO, dos mesmos autores, é um programa positivo de reforma agrária que respeita a propriedade privada segundo os ditames do Direito Natural. Ali se afirma (pp. 27 e ss.) a função social da propriedade e a legitimidade de uma reforma agrária sadia. Ambas as obras, tão largamente difundidas pela TFP, exprimem adequadamente o pensamento desta. Tem V. Revma. alguma impugnação a fazer à atitude dessas obras em matéria de propriedade privada? Pedimos indicar quais os textos com que estaria em desacordo e os argumentos em que V. Revma. fundaria suas discordâncias.
■ 4 — A respeito de propriedade privada, "Catolicismo" publicou no número 161, de maio de 1964, um estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, intitulado "A LIBERDADE DA IGREJA NO ESTADO COMUNISTA". Este trabalho, de grande envergadura, teve um total de 26 edições e foi publicado em onze países estrangeiros.
Dele se editaram no Brasil mais de cem mil exemplares, Neste trabalho haveria algo de fanático, segundo V. Revma.? Haveria algum tópico em que se negam as limitações que o direito de propriedade pode sofrer por exigência do bem comum? Pedimos a V. Revma. que cite os tópicos em que se lhe afiguraria ter encontrado tais erros e manifestações de fanatismo.
■ 5 — Em todo caso, para conhecimento de V. Revma. prevenimo-lo de que a Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades da Santa Sé dirigiu a D. Antonio de Castro Mayer, a respeito do trabalho, á seguinte carta:
"Roma, 2 de dezembro de 1964 Excelência Reverendíssima,
"Somente agora pudemos ler o amplo e profundo estudo do ilustre Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sobre o importante tema "A liberdade da Igreja no Estado comunista" (3.a edição ampliada, São Paulo, 1964), que V. Excia. Revma. teve a bondade de encaminhar a esta Sagrada Congregação, com a amabilíssima carta chegada aos nossos escritórios em novembro passado.
"Ao mesmo tempo que lhe exprimimos nossa sincera gratidão, congratulamo-nos com V. Excia, e com o egrégio Autor, merecidamente célebre por sua ciência filosófica, histórica e sociológica, e auguramos a mais larga difusão ao denso opúsculo, que é um eco fidelíssimo de todos os Documentos do Supremo Magistério da Igreja, inclusive .as luminosas Encíclicas "Mater et Magistra" de João XXIII e "Ecclesiam Suam" de Paulo VI, felizmente reinante.
"Queira o Senhor conceder a todos os católicos que compreendam a necessidade de estarem unidos "in uno sensu eademque sententia" a fim de evitar as ilusões, os enganos e os perigos que hoje ameaçam internamente a sua Igreja!
"Com sentimentos de particular estima e consideração, de todo o coração me professo novamente
de Vossa Excelência Reverendíssima
devotíssimo em Jesus Cristo
† G. Card. Pizzardo
† Dino Staffa, Secretário".
A missiva veio assinada pelo Emmo. Cardeal Pizzardo, então Prefeito daquela Congregação, e pelo Exmo. Mons. Dino Staffa, então Secretário da mesma Congregação, posteriormente elevado ao cardinalato por Sua Santidade o Papa Paulo VI.
■ 6 — Não nos espantaria que alguém tivesse objeções a fazer a trabalho que recebeu tão alta aprovação. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou, há não poucos anos, um livro intitulado "EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA", que foi, também ele, objeto de largas e apaixonadas críticas em certos meios católicos. Posteriormente recebeu o autor, sobre o referido livro, a seguinte Carta, escrita em nome de Sua Santidade o Papa Pio XII, então reinante, pelo Substituto da Secretaria de Estado, Exmo. Mons. João Batista Montini, hoje Papa Paulo VI:
“Palácio do Vaticano, 26 de fevereiro de 1949
Preclaro Senhor,
"Levado por tua dedicação e piedade filial ofereceste ao Santo Padre o livro "Em Defesa da Ação Católica", em cujo trabalho revelaste aprimorado cuidado e aturada diligência.
"Sua Santidade regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica, da qual possuis um conhecimento completo, e a qual tens em grande apreço, de tal modo que se tornou claro para todos quão importante é estudar e promover tal forma auxiliar do apostolado hierárquico.
"O Augusto Pontífice de todo o coração faz votos que deste leu trabalho resultem ricos e sazonados frutos, e colhas não pequenas nem poucas consolações.
"E como penhor de que assim seja, te concede a bênção apostólica.
"Entrementes, com a devida consideração me declaro teu muito devotado,
J. B. Montini, Subst."
■ 7 — V. Revma, teria afirmado que a TFP foi condenada pelo Venerando Episcopado Nacional, que V. Revma. imaginaria todo ele, contrário à TFP. E se basearia, para êste efeito, em um comunicado da Comissão Central da CNBB. Pedimos vênia para transcrever aqui o luminoso Edital publicado pela Cúria Diocesana de Campos sobre a atitude hostil tomada contra a TFP pelos Revmos. Padres da Igreja do Carmo de nossa cidade:
"Grave dever de justiça nos obriga a formular categórico protesto contra um fato ocorrido em Belo Horizonte, e largamente difundido por órgãos da imprensa em todo o País.
"Colaboradores da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade na Capital mineira vendiam, no dia 11 p. p., em via pública, o mensário "Catolicismo", que se edita nesta Diocese sob os auspícios do Exma. Sr. Bispo D. Antonio de Castro Mayer.
"O fato só aplausos poderia despertar, dada a ortodoxia e o valor da matéria contida em "Catolicismo", bem como à vista da abnegação dos jovens que empregavam desinteressadamente a manhã de domingo nessa obra de difusão da boa imprensa.
“Sendo feita a venda em frente à Matriz de Nossa Senhora do Carmo, os RR. PP. Carmelitas Calçados, a quem está confiada a Paróquia, tiveram entretanto reação bem diversa. Em nota lida em todas as Missas, desaconselharam que os fiéis comprassem o jornal, dando como razão que a Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em comunicado de 17 de junho de 1966, pusera de sobreaviso os católicos a respeito daquela Sociedade.
"Com êste procedimento, que visava desabonar de modo ostensivo e até escandaloso um mensário de cultura como "Catolicismo", contra cuja ilibada doutrina aqueles Religiosos não têm e não podem ter a menor objeção, irrogavam eles uma grave injúria a S. Excia. Revma. o Sr. D. Antonio de Castro Mayer, sob cujos auspícios aquele órgão é publicado.
"Ademais, atribuíam alcance inexato ao referido comunicado da CNBB. Com efeito, publicado esse comunicado, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade divulgou a seguir uma defesa notável pelo respeito filial e pela coerência. Tal documento, difundido e aplaudido em todo o Brasil, não teve resposta da parte da Veneranda Comissão Diretora da CNBB. E, até, na reunião plenária dos Bispos Brasileiros realizada em maio de 1967, em Aparecida do Norte, a cuja aprovação deveria ser submetido o comunicado da CNBB para que tivesse validade (cf. regimento interno da CNBB), não foi apresentada esta matéria. Assim, por implícita deliberação da própria Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, aquele comunicado deixou de ter vigência.
"Nenhuma alegação com base nele é, pois, lícito fazer.
“A atitude dos RR. PP. Carmelitanos da Matriz do Carmo de Belo Horizonte é, assim, de todos os pontos de vista, exorbitante e arbitrária. E, ao protestar contra ela; cumprimos o dever de defender a dignidade episcopal insultada e a justiça ferida.
"Tornando público o presente protesto, queremos lembrar o que a propósito de "Catolicismo" escreveu o Sr. Bispo Diocesano no número de janeiro último da mesma folha; "Podemos, pois, assegurar aos abnegados artífices de "Catolicismo", Diretor, colaboradores e auxiliares; que cumpriram seu dever em mais êste ano de existência do mensário. Tenham a consciência tranqüila, e continuem o apostolado com o mesmo ideal, com a mesma certeza de uma proteção especial da Virgem Santíssima, Mãe de Deus".
"E agradecemos aos valorosos jovens da TFP o serviço abnegado e edificante que prestam ao difundir aquele jornal.
Campos, 20 de fevereiro de 1968. — Côn. Artur Salvador, Pró-Secretário do Bispado".
Tem V. Revma. algo a objetar quanto ao que diz êste Edital sobre o atual alcance jurídico daquela manifestação da Comissão Central da CNBB?
■ 8 — V. Revma. teria afirmado que "os defensores da TFP não admitem o diálogo".
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CALICEM DOMINI BIBERUNT
PROGRESSOS DA AMICIZIA;
OS OBSTÁCULOS
Fernando Furquim de Almeida
A viagem do Padre Virginio a Milão, em 1785, foi feita em condições bem diversas da que realizara no ano anterior. Tinha agora na cidade um amigo entusiasta do Padre Diessbach, que pusera toda a sua pessoa a serviço da obra a ser ali criada. A fortuna e a posição social do Conde Francesco Pertusati, a influência de que gozava, facilitaram muito a fundação da Amicizia. A biblioteca foi instalada em seu palácio. As pessoas que o Padre Virginio conhecera na estada anterior, e que julgava poderem vir a ser amigos, passaram a frequentar essa nova biblioteca, tendo assim um sólido início o núcleo de Milão. Dele faziam parte os Padres Argenti, Bianchi e Prati, o Conde Pertusati e sua mulher Maria Olgiatti, o Cavaleiro Carlo Rosmini, um certo advogado Torti e, muito provavelmente, também a Condessa Trotti.
Nessa época, ou um pouco mais tarde, frequentou a Amicizia de Milão o ex-jesuíta Cônego Conde Luigi Mozzi de’ Capitani, que no fim do século, em sua cidade natal Bérgamo, deu nova vida a uma Congregação Mariana, usando métodos muito semelhantes aos do Padre Diessbach, e que, durante a perseguição religiosa desencadeada por Napoleão em todas as nações que conquistara, teve sérios embaraços com a polícia imperial.
Depois de instalar e consolidar o sodalício de Milão, o Padre Virginio recebeu do Padre Diessbach a incumbência de ir a Paris, a fim de ali criar o padrão e o modelo de todos os núcleos da sociedade. Em 1786, partiu ele para a França, onde realizou um notável apostolado, principalmente na propulsão da "Aa". Passou então vários anos em Paris, ajudando o Padre Pierre Joseph Picot de la Clorivière, de quem se tornara íntimo amigo. Este era muito conhecido, sobretudo pela influência que teve na restauração da Companhia de Jesus.
Ao voltar o Padre Virginio para a Itália, já o Padre Diessbach havia morrido, deixando o como seu sucessor na direção geral da obra, em Viena. Nesta tarefa concentrou ele todo o seu zelo.
Como o nosso objetivo é o estudo da vida do Padre Lanteri, não vamos acompanhar o Padre Virginio nas atividades que desenvolveu na França. O seu trabalho em Paris foi relatado em um documento redigido por ele próprio, e reproduzido integralmente pelo Pe. Candido Bona em seu livro sobre as Amicizie.
Lendo esse relato, vê se que seu autor uniu os seus esforços aos dos bons padres franceses que se opunham à onda revolucionária. E mais um crime se pode acrescentar à longa e tenebrosa lista que conhecemos, dos horrores cometidos pela Revolução Francesa, pois todo o apostolado promissor por ele iniciado foi então destruído, tendo muitos dos seus auxiliares derramado o sangue durante o Terror.
As rápidas visitas do Padre Virginio a Turim não lhe permitiram dirigir as Amicizie italianas. Desde 1786, portanto, foi o Padre Lanteri o real propulsor destas. A de Milão, dependente da de Turim, passou também às suas mãos, e foi o Servo de Deus quem deu início às outras. Entre estas, como veremos, teve também muita importância a que se instalou em Florença, a qual estudaremos depois, mais particularmente.
*
Antes de passar adiante, é conveniente considerarmos o método de trabalho da Amicizia para a instalação de um núcleo. Esse método se pode entrever nos poucos documentos conhecidos, e é confirmado, por outro lado, pelo que sabemos das ideias do Padre Diessbach sobre as medidas adequadas para o combate aos princípios revolucionários, que se infiltravam por toda parte.
As três associações — Aa, Amicizia Cristiana e Amicizia Sacerdotale — deveriam ser instaladas aos poucos e sucessivamente, nas cidades indicadas na "carta geográfica" como sendo as que reuniam maiores possibilidades de êxito. Teoricamente, o "missionário" começaria pela instalação da Aa, destinada aos jovens clérigos, os quais não tinham ainda hábitos adquiridos que pudessem dificultar a adoção do gênero de vida que se desejava que levassem. A Amicizia Sacerdotale era uma consequência natural da Aa. Uma e outra formariam padres de escol, com sólidos conhecimentos da doutrina católica, acostumados ao recolhimento, mestres nos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loiola, e capazes não só de promover missões para o povo, como de dirigir os leigos da Amicizia Cristiana. Esta última era uma sociedade de elite, cujo recrutamento se processava sobretudo na nobreza. Podia também ter sacerdotes entre os seus membros, mas era destinada especialmente ao laicato e ao apostolado intelectual.
Na prática, essa ordem de fundações não era rigidamente seguida. Variava com as circunstâncias e com as pessoas encontradas pelo "missionário".
A existência simultânea das três associações, intercomunicantes e secretas, torna difícil distinguir a quais delas pertenceram as pessoas citadas nas cartas dos Amigos ou em outros documentos, a não ser quando se trata de um leigo. Mesmo neste caso, frequentemente não se consegue determinar com precisão a sua verdadeira função na complexidade do conjunto da obra. Em Milão, por exemplo, o Conde Pertusati foi o personagem de maior atividade e prestígio durante toda a existência da Amicizia. Não se sabe, no entanto, qual o cargo que realmente ocupou.
A Amicizia Cristiana recrutava os seus membros de preferência nas classes elevadas. Pode se ter uma ideia das dificuldades que ela encontrava, lendo a descrição da nobreza do Piemonte feita por Massimo d’Azeglio em seu célebre "I miei ricordi", escrito no século XIX (é de se notar que o autor era filho do Marquês Cesare d’Azeglio e irmão do famoso jesuíta Padre Taparelli d’Azeglio):
"A nobreza do Piemonte, no século passado e no princípio deste, mais do que tirânica era desagradável. Estou certo de que mais de uma vez lhe aconteceu, sr. leitor, ter relações com uma pessoa que nunca incidia numa falta de polidez, tratando o de conformidade com os mais estritos deveres da cortesia, não lhe dizendo coisa alguma que desse motivo para o Sr. se queixar sem parecer ridículo e levado por um capricho exagerado; mas, ao mesmo tempo, emanando de todos os lados um "fique aí", um "eu sou eu, e tu não és nada", tão patente que, não havendo razão para se encolerizar com um tal interlocutor, nem para tolerá lo, parecesse melhor, se possível, sair de perto dessa pessoa e não mais se deixar por ela envolver" ("I miei ricordi", edição Vallardi, p. 27). Assim era a aristocracia junto à qual a Amicizia devia desenvolver o seu apostolado.
NOVA ET VETERA
O MARTÍRIO DOS CATÓLICOS
SOB O NAZISMO
J. de Azeredo Santos
Uma das calúnias da máfia comuno-progressista contra aqueles que se opõem às manobras da Revolução igualitária e gnóstica é a de os qualificar de nazistas. E tal propaganda esquerdista dá a entender que o nazismo era um regime reacionário que tinha nos elementos conservadores da Igreja Católica um de seus mais sólidos pilares.
Ora, não só os fatos históricos recentes, mas a própria denominação de "nacional-socialismo" estão gritantemente a indicar que a seita hitlerista não passou de uma importante ala da Revolução, que apenas teve em seu desfavor a circunstância de sofrer um tremendo revés pelas armas. Fosse outro o resultado da segunda guerra mundial, e estaria o nazismo dominando o mundo sob os aplausos dos que hoje lhe usam o espectro como arma contra os conservadores.
O verdadeiro católico teve, desde o início, elementos suficientes para verificar o caráter anticristão do hitlerismo, em que pese o trabalho de despistamento desenvolvido por von Papen e outros traidores então existentes nas fileiras católicas.
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Temos em mãos um livro que rememora essa fase negra da história do Ocidente, cristão. Trata-se de "Christ in Dachau" (versão inglesa do original alemão — edição da Missionsdruckerel St. Gabriel, Viena, 1960), que narra as experiências do Padre John M. Lenz, de Viena, que passou cinco anos internado no campo de concentração de Dachau, juntamente com outros 2.400 Sacerdotes católicos, dos quais mil deram sua vida no meio dos mais horríveis tormentos, como opositores da pseudo-religião da cruz gamada.
Os lideres nazistas só visavam um alvo: a vitória de Hitler e, com ela, a da seita. "Uma das mais urgentes tarefas com que nos defrontamos é a de detectar e aniquilar todos os inimigos públicos e secretos do Fuehrer e do Movimento Nacional-Socialista", dizia Himmler em mensagem do Ano Novo de 1934 ("Crist in Dachau", p. 133). Mais ainda: "Não estou preocupado com o exercício da justiça, mas com o aniquilamento e a destruição", bradava Goering em 4 de março de 1933 (ibid.). Qual seria, por excelência, esse inimigo do nazismo? Rosenberg, o teórico do racismo, declarou abertamente em Nuremberg, no ano de 1938, que "o pior inimigo do nacional-socialismo é a Igreja Católica, e por esta razão a Igreja será eliminada" (ibid.). E o próprio Hitler proclamou: "Esmagarei a Igreja Católica como se esmaga um sapo" (Ibid.).
Embora um inexplicável e generalizado silêncio da imprensa internacional pese sobre essa perseguição nazista à Esposa de Cristo — ao passo que se realça constantemente a sem dúvida, odiosa campanha de Hitler contra os judeus — a verdade é que os verdadeiros filhos da Igreja passaram por um autêntico Calvário sob o domínio do 3.° Reich, não somente na Alemanha como em todos os países ocupados pelos soldados da suástica.
E o fenômeno nacional-socialista, em um país civilizado como a Alemanha, só se explica pela apostasia revolucionária, como aliás agora se dá com o fenômeno comunista em extensas áreas do Ocidente cristão. Afirmou-o em Roma, a 20 de fevereiro de 1946, o Cardeal von Galen, que juntamente com o Cardeal Faulhaber foi uma das mais corajosas vozes do Episcopado Alemão a verberar a falsa mística hitlerista: "Os alemães são culpados de muitos crimes contra seus compatriotas e contra outras nações. É isto o resultado da apostasia que vem envenenando o mundo inteiro há séculos" (op. cit., pp. 112-113).
Era de se esperar, portanto, que o furor dos asseclas do nazismo se abatesse de modo particular sobre os católicos — Sacerdotes e leigos — que se opunham a seus iníquos projetos por uma questão de consciência.
E uma das armas principais para a destruição dos inimigos do regime eram os campos de concentração, que se dividiam em três tipos: os campos de trabalho, como o de Dachau; os campos de trabalho pesado, como Büchenwald; e os campos de extermínio, ou "moinhos de ossos", como os de Auschwitz, Natsweiler e outros. Os Sacerdotes católicos eram encaminhados em maior número para Dachau, cabendo esclarecer que a citada divisão era apenas teórica; pois neste também existiu o trabalho pesado nas pedreiras e no transporte de materiais de construção. Além disso, eram comuns aos diversos campos não somente tipos variados de maus tratos e torturas, como também o extermínio por veneno, por experiências "científicas", por pancadas, pelo frio, pela fome, por enforcamento e por fuzilamento, sem falar na falta de higiene e de assistência adequada no caso de epidemias, como a de tifo, que matou grande número de prisioneiros.
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"Era curioso, diz o Padre Lenz, como ficávamos sujeitos a pior tratamento nos domingos e dias santificados, particularmente os dedicados a Nossa Senhora, como se os nossos inimigos reconhecessem o poder de nossa Medianeira contra as forças do mal" (p. 121).
Entre os prisioneiros, de todas as nacionalidades, os mais perseguidos e atormentados eram os poloneses, tanto Sacerdotes quanto membros da elite intelectual daquele heróico país. Vemos isto, por exemplo, quando, mais para o fim da guerra, por razões políticas ditadas de Berlim, foi suavizado o regime dos eclesiásticos internados em Dachau. Foi-lhes então permitido construir e freqüentar uma humílima capela em um dos barracões do campo, onde, porém, era proibida a entrada dos prisioneiros leigos, sob pena das mais terríveis sanções e mesmo da morte. A entrada no recinto da capela era vedada aos Sacerdotes poloneses, aos quais eram atribuídas as mais pesadas e vexatórias tarefas.
Era proibida a recitação de orações e a assistência religiosa no campo de concentração, e um dos trechos mais comovedores do livro do Padre Lenz é aquele em que descreve uma extensa fila de prisioneiros poloneses indo para o trabalho, esquálidos e transidos de frio, rezando em segredo o terço, longe das vistas dos guardas SS e dos temíveis "capos", que eram os presos encarregados de vigiar seus companheiros. Ao se aproximarem esses cérberos, corria de boca em boca uma palavra de código, que era o sinal para cessarem todos as orações.
Não obstante, não eram nem os "capos" nem os SS os piores inimigos dos prisioneiros católicos, mas os comunistas, que concorriam grandemente para aumentar o sofrimento daqueles infelizes, por meio de delações e traições.
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O que ressalta, porém, nesse impressionante depoimento é, antes de tudo, o seu lado sobrenatural, em que se mostra como Sacerdotes e leigos católicos se santificaram através dessas atrozes provações.
Um exemplo entre vários: "Durante o verão de 1942 (pináculo do flagelo da fome), muitos de nossa comunidade já não eram capazes de se conservar de pé, ou mesmo sentados normalmente, durante a Missa. Eles jaziam ali, olhos postos no altar. Freqüentemente pensei nas narrativas dos Evangelhos: os doentes enfileirados pelas estradas à passagem de Nosso Senhor. "Ofereço minha vida por meus pecados e pelos pecados do mundo", foram as últimas palavras de um dos meus colegas Sacerdotes. "Rezarei por vós — assegurei a um outro, enquanto o acompanhava até a enfermaria — rezarei para que recupereis a saúde", — "Não! respondeu-me ele. Rezai antes para que a vontade de Deus seja feita em todas as coisas" (op. cit., p. 152).
Grande foi o número de conversões, na maioria das vezes à hora da morte, obtidas por esses Padres heróicos (inclusive entre os judeus) graças, sobretudo, ao exemplo de fortaleza e de caridade dado por eles.
Para os nazistas esses mártires eram detestáveis reacionários, irremediavelmente hostis ao credo da Revolução nacional-socialista, que lhes era imposto por aqueles que se julgavam senhores da terra. Como muito bem acentua o Padre Lenz, com os horrores de Dachau e de outros campos de concentração apenas se iniciava o expurgo que seria completado quando, afinal, as tropas do 3.o Reich espalhassem seu domínio pelo mundo inteiro!
E pensar que houve católicos nazistas, como os há hoje comunistas, da linha chinesa, russa, cubana ou vietcong!