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ROBERT MCNAMARA E SUA ESTRANHA MANEIRA DE FAZER ECONOMIA

Alberto Luiz Du Plessis

Os Estados Unidos ocupam, por conseqüência natural de seu poderio econômico e militar, uma posição de liderança no mundo anticomunista, embora estejam longe de possuir todas as qualidades que exige o papel de líder. No governo dessa nação de cujas atitudes depende em larga medida o destino de imensas massas humanas, um dos postos mais importantes é o de Secretário da Defesa, que acumula funções equivalente às de Ministro da Guerra, da Marinha e da Aeronáutica. Esse cargo era, até bem pouco tempo, ocupado pelo Sr. Robert S. McNamara.

Procedente do grande empresariado, em cujo âmbito dirigira as indústrias Ford, Robert McNamara — Bob para os íntimos — chegou ao governo precedido por uma reputação de trabalhador implacável e de altíssima eficiência administrativa, a qual lhe valera o apelido de Computador Humano. Tão logo empossado, deixou clara a sua intenção de impor ordem à confusão e ao desperdício que julgava existir no Departamento da Defesa. Tendo sido colocado à testa de tão importante órgão pelo Presidente Kennedy, foi um dos poucos auxiliares deste confirmado em suas funções por Johnson. Agora que o eficiente Mr. McNamara vem de ser substituído, é tempo de fazer-se um balanço de suas realizações.

Num mundo como o atual, que vive sob a ameaça apocalíptica dos engenhos termonucleares, é necessário que a aliança ocidental conserve uma superioridade decisiva neste campo, suficiente para prevenir um ataque de seus inimigos e, não o conseguindo, contra-atacar sem demora. Tal superioridade é, inclusive, um dos melhores meios de conservar a paz que todos almejamos, pois desde o tempo dos romanos é sabido que, para dissuadir um adversário de começar uma guerra, nada como estar preparado para ela.

Em 1962 os Estados Unidos tinham capacidade de lançar de duas e meia a dez vezes mais explosivos nucleares do que a URSS. Atualmente, depois da gestão McNamara, os dois países estão emparelhados, e as perspectivas são de que em 1971 os russos estejam em condições de empregar até dez vezes mais bombas nucleares do que os norte-americanos. Além do mais, tudo leva a crer que, nestes seis anos, os soviéticos tenham aperfeiçoados eficientes sistemas de mísseis antibalísticos, capazes de destruir no espaço os foguetes adversários, portadores de bombas de hidrogênio, do mesmo modo que já anunciaram que possuem bombas orbitais, destinadas a serem transportadas por satélites artificiais e, assim, aptas a iludir quaisquer redes de radar. No campo dos mísseis antibalísticos Washington está cogitando de começar a construir seu primeiro sistema, e em matéria de bombas orbitais nada possui. Se foi nisso que Bob McNamara fez as anunciadas economias, é difícil justificá-las, considerando-se as vidas que elas põem em risco.

Quanto aos aviões que são o complemento dos mísseis para bombardeios de precisão, os Estados Unidos, que outrora possuíam grande superioridade numérica nesse particular, foram sobrepujados por seus opositores na proporção de um para dois. Ademais, o núcleo da força yankee de bombardeiros, o B-52, é um avião com quase vinte anos de idade e, logicamente, desatualizado.

Desde 1964, os norte-americanos têm em vôo protótipos do mais avançado dos bombardeiros, o XB70 — Walkyria, com um raio de ação de cerca de 13 mil quilômetros, à velocidade de 3.600 quilômetros por hora. No entanto, apesar dos insistentes pedidos da Força Aérea, McNamara nunca permitiu a fabricação em escala industrial desse aparelho, impondo, em troca, contra a opinião unânime dos peritos da aviação militar e naval, um avião de sua simpatia, o F-111, muito menor do que o Walkyria, com velocidade, raio de ação e cargas de bombas, incomparavelmente menores também. Tendo sido colocados recentemente em serviço ativo, os aparelhos desse tipo, cada um dos quais custa perto de 20 bilhões de cruzeiros antigos, revelaram-se completamente inadequados para os porta-aviões, ao mesmo tempo que os que têm base em terra começaram a cair por motivos ainda inexplicados. Um homem realista como o ex-Secretário da Defesa deveria convir em que é muito fracasso para um avião só.

Em relação à guerra do Vietnã, o Sr. McNamara nunca escondeu sua afinidade com as teses que pregam o abandono daquele país pelos Estados Unidos. Temos assim interessante paradoxo de um Secretário da Defesa, cuja função é ganhar essa guerra, e que se mostra simpatizante de idéias que conduzem a perdê-la. Pouco antes de retirar-se de seu posto, esse mesmo Sr., sempre contra a opinião dos militares, excogitou uma formidável linha de defesa fixa, que deveria ter o seu nome e separaria os dois Vietnãs. Dotada dos mais complexos recursos defensivos, sua construção e manutenção custaria uma despesa fabulosa, o que da parte de um homem econômico não deixa de ser curioso. Envolvido nos múltiplos afazeres de sua jornada de dezoito horas de trabalho, provavelmente Mr. McNamara não teve tempo de ser informado de que um ministro francês, chamado Maginot, organizou coisa semelhante na fronteira de seu país com a Alemanha, com muito pouco êxito, aliás, como se sabe.

Tendo-se retirado do Departamento da Defesa, dedica-se agora Robert McNamara à direção do Banco Mundial, onde lhe auguramos maior êxito do que o obtido em suas atividades militares. Pois, caso contrário, é de se temer uma terrível corrida aos guichets do referido estabelecimento.


Um penhor das mais preciosas graças para o Papado

Por ocasião da festa de São Pedro, toda a Cristandade celebrou o Dia do Papa. No presente ano, os sentimentos de veneração e afeto filiais para com o Chefe da Igreja, que essa data costuma tradicionalmente suscitar, foram ainda avivados por uma ocorrência impressionante. Esta foi a comunicação feita pelo Santo Padre Paulo VI, "urbi et orbi", de haverem sido realmente encontrados no subsolo da Basílica Vaticana os ossos de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, Bispo de Roma, e portanto primeiro elo de uma gloriosa série de Pontífices da qual o Papa atual é o elo mais recente.

Nos dias torvos em que vivemos, o feliz encontro é penhor das mais preciosas graças para a Igreja e o Papado.

Nossas mentes se elevam, pois, para o glorioso São Pedro, a quem rogam instantemente pela Santa Igreja e pelo Romano Pontífice.

Paulo VI põe o bálsamo perfumado na rosa de ouro destinada à Basílica de Aparecida


VERDADES ESQUECIDAS

O BRAÇO DA VIRGEM ESTÁ SEMPRE ARMADO CONTRA A HERESIA

DOM GUÉRANGER

As heresias ergueram-se uma após outra, cheias de ódio, apoiadas ao braço dos poderosos da terra; parecia que elas iam devorar a raça dos fiéis. Uma após outra elas caíram por terra, atingidas por um golpe mortal; e a Santa Igreja nos revela que foi o braço de Maria que desferiu, de cada vez, esse golpe: "Gaude Maria Virgo; cunctas haereses sola interemisti in universo mundo" (Ofício da Santíssima Virgem, Matinas, sétima Antífona). Se escândalos inauditos, tiranias sem nome, pareceram entravar por um momento a marcha da Igreja, o braço sempre armado da invencível Rainha desimpediu o caminho, e a Esposa do Redentor avançou livre e altaneira, deixando atrás de Si os entraves quebrados e seus inimigos abatidos. Repassando em seu espírito tais maravilhas é que o grande Papa São Pio V, logo depois da vitória de Lepanto, onde nossa augusta triunfadora aniquilou para sempre o poderio naval dos otomanos, julgou chegada, a hora de inscrever na Ladainha da Santíssima Virgem, na seqüência dos títulos gloriosos com os quais a Igreja A saúda, o de Auxílio dos Cristãos, Auxilium Christianorum. ["Notre-Dame dans l'Année Liturgique", Librairie Plon, Paris, 1944, pp. 174-175].