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(continuação)

DEFENDENDO-SE DOS ATAQUES MAIS INESPERADOS

com duzentos Prelados, antes de lançar a campanha.

2 — Sendo notória a divisão dos meios católicos a respeito da infiltração esquerdista no Clero, e considerando-se que nem todos os Srs. Bispos veem o assunto com os mesmos olhos, esta entidade recearia receber, da parte de alguns Prelados, uma recomendação categórica de não promover a campanha. Tal receio foi confirmado pelo fato de que diversos Srs. Bispos, a posteriori, mostraram-se contrários à campanha, ou solidarizaram-se com o Pe. Comblin, ou ainda, julgaram a iniciativa inoportuna.

Ora, a TFP, nessas Dioceses, estava firmemente resolvida a fazer chegar sua voz ao Santo Padre, apesar de tudo; e então, por respeito a estes prováveis opositores, ela ficava condenada a agir nos estritos termos do direito canônico, isto é, endereçar uma mensagem ao Papa sem consultar as Autoridades intermediárias

3 — Por fim, a TFP pede licença para lembrar que o assunto não é só religioso, mas também cívico, e desde que autoridades eclesiásticas coloquem em risco a estabilidade das instituições, a sociedade temporal, enquanto se identificando com a ordem cívica, tem o direito e o dever de pedir ao Vigário de Cristo que faça cessar o abuso. E isto para que a mesma sociedade temporal não seja obrigada a defender-se com suas próprias mãos.

4 — A TFP lamenta a unilateralidade do Sr. Arcebispo de Florianópolis, pois, referindo-se à entidade para fazer-lhe uma censura com que ela, data vênia, não está de acordo, não soube ter uma palavra de afeto pastoral para com jovens que, com evidente boa intenção, dispendem enorme esforço para o êxito da referida campanha. E este abaixo-assinado atesta que quase um milhão de brasileiros julga indispensável apelar ao Papa para a salvação do Brasil".

Ao Exmo. Bispo-Auxiliar de Porto Alegre

O prof. Plinio Corrêa de Oliveira enviou ao Exmo. D. Ivo LORSCHEIDER Bispo-Auxiliar de Porto Alegre, carta na qual rebate declarações daquele Prelado à imprensa carioca:

"Só hoje tomei conhecimento das declarações prestadas por V. Excia. ao "Jornal do Brasil" e publicadas por aquele matutino, em sua edição de 23 de agosto passado.

Violentamente atacada por V. Excia., a TFP não pode deixar de se defender:

1 — Afirma V. Excia. que a TFP chama D. Helder Camara de "Arcebispo vermelho". A TFP é uma sociedade civil, devidamente registrada, que se exprime autenticamente através dos órgãos autorizados para tanto, nos termos dos estatutos. Queira V. Excia. citar o documento no qual algum destes órgãos tenha feito a D. Helder a acusação referida.

2 — Afirma V. Excia., que a TFP só vê o lado mau das coisas, que vê "somente o valor do passada, negando a evolução". A TFP desfia um progresso realizado numa continuidade fecunda, harmônica e dinâmica com o passado. É a isto que ela chama tradição. Desde que, por evolução, se entenda a contínua destruição de tudo quanto o passado nos legou, para a construção de um dia de hoje inteiramente oposto ao de ontem, e que, por sua vez, será substituído por um dia de amanhã que destruirá, na sua passagem, tudo quanto o dia de hoje está construindo: então, a TFP é contrária, como é óbvio, à evolução. A rejeição deste conceito relativista de evolução absolutamente não importa em que achemos tudo ruim. Tanto não achamos, que queremos conservar muita coisa. Consideram tudo ruim os evolucionistas radicais, que desejam continuamente destruir tudo quanto está construído.

Aliás, não compreendemos como se possa dizer de nós que julgamos ruim tudo quanto existe, quando, pelo contrário, está em nosso lema a defesa da família e da propriedade. Elas, então, não existem? Permita-nos V. Excia. perguntar se, quando a TFP levantou-se com um impressionante e triunfal abaixo-assinado a favor da indissolubilidade do vínculo conjugal, defendíamos algo de inexistente. Ou se, quando estamos lutando para defender o Poder Judiciário, as Forças Armadas, a ordem legal, contra as investidas furibundas do comblinismo revolucionário e anticlerical, estamos lutando a favor de algo que não existe.

E, se existem estas instituições e valores, pelos quais lutamos, como se pode dizer que lutamos contra tudo?

Na sua entrevista, V. Excia. se mostra, aliás, contraditório. Porque, se de um lado assevera que somos contra tudo, de outro lado afirma que somos a favor de todo o passado contra todo o futuro.

O exercício do direito de legítima defesa da TFP me obriga a dizer que, ou V. Excia. atacou esta Sociedade sem conhecer seus pronunciamentos e as obras que ela endossa e difunde, ou não reproduziu: com fidelidade o que nesses pronunciamentos e obras se contém.

Com efeito, quem leu, por exemplo, "Reforma Agrária — Questão de Consciência" e "Declaração do Morro Alto", obras das quais tenho a honra de ser autor juntamente com o Exmo. Sr. Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, o Exmo. Sr. Bispo de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, e o economista Luiz Mendonça de Freitas, não pode ter a menor sombra de dúvida de que a TFP deseja importantes melhoras na atual ordem de coisas. Simplesmente, o que ela não aceita é que tais melhoras tenham caráter socialista e confiscatório. Assim também, quem leu "A Liberdade da Igreja no Estado Comunista", de que sou autor, não pode ter dúvida de que, sendo embora contrário ao socialismo e comunismo, desejo a introdução de melhorias no regime de propriedade privada. Se esta obra fosse incompatível com toda sadia mudança da atual ordem de coisas, ela não teria dado origem à carta que os Emmos. Srs. Cardeais Pizzardo e Staffa me escreveram, em nome da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades, da Santa Sé".

Depois de reproduzir o texto do documento da Sagrada Congregação, prossegue o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

"3 — Por tudo quanto acabo de dizer, caem por terra os fundamentos com os quais V. Excia. acusa a TFP de herética "no sentido etimológico da palavra". A atitude da TFP nada tem de maniqueístico, como bem V. Excia. vê. E, se dúvidas lhe restam a este respeito, nós lhe pedimos que, em lugar de se contentar com afirmações genéricas e vagas, queira citar em qual dos nossos pronunciamentos ou dos livros que difundimos, encontra V. Excia. base para sua gravíssima acusação.

"Quod gratis asseritur gratis negatur": às acusações gratuitas responde-se simplesmente com um "não".

Esperando de V. Excia. os competentes esclarecimentos, subscrevo-me, com a consideração devida à dignidade episcopal de que está revestido".

Ao Exmo. Arcebispo de Recife

A propósito de declarações do Exmo. Revmo. Sr. D. HELDER CAMARA, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade distribuiu aos jornais a seguinte nota:

"A imprensa carioca publicou declarações do Sr. Arcebispo de Olinda e Recife, D. Helder Camara, segundo as quais o Santo Padre Paulo VI teria recusado audiência aos "representantes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, pois foi avisado previamente de que o representante desta entidade, D. Sigaud, havia mantido contatos, no Brasil, com elementos radicais do meio militar, contrários a todo e qualquer tipo de reformas".

A este propósito, a TFP declara que não enviou qualquer representante a Bogotá ou Medellin, pois, conforme seu comunicado à imprensa de 24 de agosto passado, ela pretende fazer em Roma a entrega de sua mensagem dirigida ao Santo Padre.

O ilustre Arcebispo de Diamantina, D. Geraldo de Proença Sigaud, por certo não se apresentou como enviado da TFP nem pediu audiência ao Santo Padre, nesta qualidade.

Quando D. Geraldo de Proença Sigaud estiver de regresso ao Brasil, sem dúvida esclarecerá a parte que lhe diz respeito, nas declarações de D. Helder Camara. E o fará com a precisão e nobreza de atitudes que lhe são peculiares".


TAMBÉM OS MILITANTES DA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE

Resposta ao Exmo. Arcebispo de Goiânia

O Núcleo de Militantes da Tradição, Família e Propriedade de Goiânia distribuiu comunicado à imprensa, a propósito de ataques do Exmo. Arcebispo Metropolitano, D. FERNANDO GOMES, contra a campanha da TFP:

"O Núcleo de Militantes da Tradição, Família e Propriedade de Goiânia tomou conhecimento das declarações do Sr. Arcebispo Metropolitano sobre a campanha de um abaixo-assinado promovido pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), campanha à qual prestamos a nossa colaboração.

No exercício do sagrado direito à legítima defesa, julgamo-nos na obrigação de dar alguns esclarecimentos ao público, sobre as violentas palavras do Pastor Diocesano:

1 — "O nosso verdadeiro pensamento, as nossas verdadeiras intenções, os nossos verdadeiros propósitos, são em favor de todos e em favor de cada um", afirma o Sr. Arcebispo, na mesma página do jornal que trouxe suas declarações referentes à TFP. Entretanto, parece que a TFP está excluída daqueles dizeres. De outra maneira, não se compreenderiam as invectivas de caráter exclusivamente pessoal que nos dirigiu S. Excia. Por exemplo, quando nos qualificou, sarcasticamente, de "rapazes bonitinhos".

2 — O Sr. Arcebispo afirma acreditar, com base no que "alguns" lhe disseram, que os coletores de assinaturas da TFP "muitas vezes colocam a pessoa em dilema como este: você é a favor ou contra o comunismo?" Será que a S. Excia. não impressiona ver que centenas de milhares de brasileiros exprimem, em nossas listas, a angústia que lhes vai na alma pela infiltração esquerdista em meios católicos? Seria desejável que o Sr. Arcebispo, em suas declarações, tivesse entrado no âmago da matéria. Que tivesse dito se acha que existe ou não existe essa infiltração. Se julga, que existe, que a tivesse elogiado ou condenado. E se acha que não existe, então explicasse como 700 mil brasileiros imaginam que ela é real".

Depois de observar que seria necessário que o Exmo. Revmo. Arcebispo tivesse explicado ao público como é que, "entre os 700 mil imaginosos caluniadores que já assinaram nossa mensagem", se encontravam seis Bispos, a Sra. Yolanda Costa e Silva, esposa do Presidente da República, dois Governadores, dois Ministros de Estado e numerosos parlamentares, continuam os militantes da Tradição, Família e Propriedade:

"Seria preciso que S. Excia. elucidasse — caso julgue que não há infiltração comunista na Igreja — como explica a mensagem que dezenove prelados brasileiros enviaram, semanas atrás, ao Presidente da República, denunciando "pronunciamentos esquerdistas emanados de meios católicos", bem como o Manifesto ao Povo Brasileiro dos Srs. Arcebispos de Niterói e de Diamantina, e do Sr. Bispo de Campos, alertando o público contra o documento subversivo do Pe. Comblin. E, finalmente, como explica a mensagem dos Arcebispos de Diamantina, de Pouso Alegre, de Mariana e de Uberaba, subscrita por mais quarenta Prelados, apontando desvios nos ambientes católicos, entre os quais a "orientação esquerdista" para a solução dos problemas sociais.

Isto sim é que constitui matéria séria e substanciosa para uma entrevista de S. Excia. sobre nossa campanha.

3 — Pelo contrário, S. Excia. preferiu evitar o cerne do assunto. Quis apenas acreditar — sem ouvir a outra parte, que somos nós — no que "alguns" anônimos lhe disseram. E com base em fatos que não conhecemos, que estes "alguns", de número e identidade ignorada, lhe contaram, o Sr. Arcebispo (sem dizer se estes "alguns" referiram-lhe fatos esporádicos ou numerosos), depois de ter asseverado que nada tem a ver com a campanha da TFP, desfere-lhe dura acusação: "a quem me quiser ouvir como Arcebispo [...] o método é deselegante e desleal". Seríamos "rapazes bonitinhos", cheios de "atrevimento", etc., etc. Isto tudo assacado com mera base no depoimento dos misteriosos "alguns".

Contestamos que tenha havido as deselegâncias a que se refere o Sr. Arcebispo, mas, não tendo tido ocasião de nos defender previamente, pedimos a todas as pessoas que julguem ter assinado nossas listas em virtude de tal pressão deselegante, para procurar-nos, a fim de cancelar seus nomes. Informaremos depois, pela imprensa, quais e quantas são estas pessoas.

4 — Ao ver do Sr. Arcebispo, somos até hereges, quereríamos "um "catolicismo" que não existe nem pode existir" e agiríamos por conta de uns tais "integristas", que nada querem além da confusão. Gostaríamos de saber quem afirmou isto ao Sr. Arcebispo. Sempre os tais "alguns"? Então, que eles se apresentem em público, dando nome a esses mal intencionados hereges, e apontando em quais dos seus livros existem os erros que o Sr. Arcebispo incrimina.

Dói-nos o coração ter que opor uma defesa tão firme às palavras irritadas de nosso Pastor. Mas que modo há de se defender contra duras espadagadas, senão com duros escudos?"

A um Sacerdote de Olímpia

A propósito de "apaixonadas e numerosas críticas" à campanha do abaixo-assinado, feitas em sermões e pelo rádio, pelo Revmo. Pe. ANTONIO SANTCLIMENTS, de Olímpia, os coletores de assinaturas daquela cidade paulista divulgaram comunicado do qual destacamos:

"O Pe. Antonio Santcliments afirma que a campanha de abaixo-assinados promovida pela TFP é dirigida contra o Clero, e que acusamos todo o clero de ser comunista.

Pedimos ao Pe. Antonio Santcliments que dê as provas de que acusamos todo o Clero de comunista. Não as poderá dar, porque jamais afirmamos tal coisa.

O que dizemos, e o que está escrito no material de propaganda que estamos distribuindo, é que em alguns ambientes católicos — e não mais do que isso — se verifica a infiltração de certas ideias ou certas tendências de inspiração comunista.

Que tais ideias ou tendências existem, prova-o o escrito do Pe. Joseph Comblin, do qual estamos distribuindo textos em praça pública. Prova-o, também, o fato de que o Pe. Comblin foi aplaudido por diversas personalidades católicas.

Essas afirmações sobre o escrito do Pe. Comblin não são só nossas. Figuras que têm na Igreja uma situação hierárquica que o Pe. Antonio Santcliments não tem, se solidarizaram com o nosso abaixo-assinado, subscrevendo nossas listas. [...]

Em carta dirigida ao Sr. Presidente da República, e publicada por toda a imprensa, dezenove Senhores Arcebispos e Bispos lamentaram a infiltração esquerdista em meios católicos.

Ademais, já são 700 mil os brasileiros que, assinando nossas listas, proclamam conhecer a existência de tal infiltração.

Cabe-nos agora perguntar ao Revmo. Pe. Antonio Santcliments se os ilustres Prelados que citamos são para ele vis caluniadores. E se os 700 mil brasileiros que assinaram nossas listas são beócios que imaginam ver uma infiltração esquerdista inexistente".

E mais adiante:

"Diz S. Revma. que estamos fazendo este abaixo-assinado em nome da Igreja, ou seja, que afirmamos estar agindo por ordem da Igreja. Desmentimos categoricamente essa afirmação.

Estamos, isto sim, pedindo assinaturas para uma mensagem ao Papa. É uma iniciativa que procede de meros leigos.

Segundo as leis da Igreja, assiste aos leigos o direito de escrever diretamente ao Santo Padre, sem pedir para isto autorização de ninguém. E se alguém sustenta que é preciso licença para escrever ao Papa, nega implicitamente a jurisdição direta do Romano Pontífice sobre todos os fiéis.

Acusa-nos o Revmo. Pe. Antonio Santcliments de sermos ignorantes em matéria de Religião. Graças a Deus, conhecemos bastante bem o catecismo para poder lembrar êste princípio ao Revmo. Pe. Antonio Santcliments".

A um Cônego de Ribeirão Preto

Qualificando de "tecido de acusações gratuitas" o artigo "Nosso comentário", estampado no "Diário de Notícias" de Ribeirão Preto pelo diretor daquele órgão católico, Revmo. Cônego ANGÉLICO SÂNDALO BERNARDINO, o Núcleo local de militantes da Tradição, Família e Propriedade fez publicar uma carta a S. Revma., da qual reproduzimos aqui os trechos principais:

"Nele [no artigo "Nosso comentário"] o autor, reconhecendo que os colaboradores da TFP são bem intencionados, não hesita em chamá-los de fora da realidade, criadores de confusão, levianos, histéricos, desonestos, defensores dos seus próprios interesses e caprichos, para terminar insinuando que são escravocratas! Não sabemos como pensa o articulista que se possam conciliar tantos e tais adjetivos com a boa intenção que reconhece de início aos colaboradores da TFP.

O autor não quis, porém, satisfazer-se com tão pouco e resolveu voltar-se também contra egrégios Bispos que apoiam a Sociedade. Reconhecemos que procura mostrar certa moderação, qualificando-os até de "santos enquanto pessoas". Não obstante, faz contra eles graves afirmações, acusando-os de viverem fora da realidade e da autêntica doutrina social cristã, e que um deles permite que no jornal editado sob sua égide se façam corrupções nefastas do pensamento alheio (como o articulista não pode ignorar, o jornal "Catolicismo" é um órgão que se publica sob a responsabilidade de D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos). O curioso é que tais afirmações venham desacompanhadas de provas, e estejam contidas no mesmo artigo que protesta contra os que pretensamente denegririam figuras de nossa Hierarquia!

Justamente o que nos deixa mais perplexos, ao examinar o artigo, é o contraste entre as injustas acusações que formula e a insistência com que ele fala de verdade, de justiça e de amor..."

E mais adiante:

"Gostaríamos de fazer ainda mais uma pergunta ao articulista: ao afirmar que a TFP melhor faria "se seu anticomunismo fosse acompanhado de anticapitalismo", ele implicitamente assume uma posição que não é nem comunista nem capitalista. Ora, até o momento, no Brasil os partidários dessa misteriosa terceira-posição não a definiram. Poderia o autor do artigo fazê-lo em termos que não deixassem dúvidas? Quanto a nós, no que diz respeito ao regime capitalista, como vigora em nossos dias, consideramo-lo legítima em seus aspectos essenciais, apresentando ao mesmo tempo defeitos que podem e devem ser sanados. Ora, o mesmo não se pode dizer do comunismo, que é intrinsecamente mau, ainda que não considerássemos o seu visceral ateísmo".

Depois de transcrever trechos do documento do Pe. Comblin, o qual o Revmo. Cônego Bernardino nega ser subversivo (a ponto de incriminar como desonesto quem o qualifica assim), concluem os militantes da Tradição, Família e Propriedade:

"Se um documento que de tal modo ataca as instituições eclesiásticas e civis, se insurge contra a autoridade dos Bispos, prega a desmoralização do Governo e das Forças Armadas e a legitimidade das guerrilhas, e apresenta como exemplo a seguir o de Fidel Castro em Cuba, se um tal documento não é subversivo, não sabemos então mais o que é ser subversivo".


Por ocasião da assembleia da CNBB, vieram a lume três documentos em que Bispos ilustres afirmam, com sua alta honorabilidade, o mesmo fato denunciado pela TFP: ala progressista quer a subversão da ordem temporal e espiritual.

TRÊS DOCUMENTOS GLORIOSOS

Mensagem ao Povo Brasileiro

No dia 22 de julho p. p. os Exmos. Revmos. Srs. D. Antonio de Almeida Moraes, Arcebispo de Niterói, D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, e D. Antonio de Castro Mayer, Bispo desta Diocese, deram a público o seguinte MANIFESTO AO Povo BRASILEIRO:

"Por ocasião da IX Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dirigimo-nos ao povo brasileiro a fim de o alertar contra manobras subversivas que nos últimos meses vêm sendo realizadas nos meios católicos por um grupo minoritário de eclesiásticos e leigos.

De há muito vem esse grupo divulgando pronunciamentos esquerdistas, com ampla cobertura de certo setor da imprensa. O sensacionalismo de que se cercam tais manifestações leva muitos a crer erroneamente que elas exprimem o pensamento geral dos Bispos, Sacerdotes e leigos.

Muito recentemente, a imprensa nacional divulgou um trabalho que, enunciando de modo claro os verdadeiros objetivos dessa ala de católicos de esquerda, lançou numerosos fiéis na maior confusão e perplexidade de alma. Em vista disso, julgando-nos na obrigação de dirigir ao povo brasileiro uma palavra de esclarecimento e de advertência, Pastores que somos na Santa Igreja de Deus.

Trata-se do parecer que um professor do Instituto Teológico de Recife (ITER), o Sacerdote belga JOSEPH COMBLIN, elaborou a pedido do Exmo. Revmo. Sr. D. Helder Camara, DD. Arcebispo de Olinda e Recife, sob o título de "Notas sobre o documento básico para a II Conferência Geral do CELAM". Nessas "Notas", o Sacerdote belga critica o "Documento básico do CELAM" e faz suas sugestões.

Este parecer reveste suma gravidade, por ser de autoria de um professor que forma o Clero e os líderes católicos leigos no Nordeste do Brasil.

Após lermos detidamente as "Notas" do Pe. Comblin, sentimo-nos na obrigação de manifestar ao povo brasileiro nosso mais formal protesto contra esse documento.

Nós protestamos contra a injúria feita à Nação brasileira, que seria, como as demais nações latino-americanas, dominada por uma sociedade egoisticamente aristocrática e quase escravocrata, em que os descendentes dos índios e dos negros não teriam direitos políticos, nem acesso ao progresso moderno: "A participação à evolução moderna faz-se, mas exclusivamente na pequena elite aristocrática"; "os camponeses e as massas suburbanas não têm participação no poder: — não votam".

Protestamos contra a injúria feita à Igreja, que é acusada de permanecer em grande parte "solidária com o subdesenvolvimento".

Protestamos contra a infame declaração de que o trabalho heroico de nossos Bispos, Párocos e Missionários, que buscam o povo nos mais longínquos rincões para instruí-lo dar-lhe ocasião de receber os Sacramentos e atendê-lo em seus problemas e dificuldades na "Desobriga", "é um dos maiores blefes da história da Igreja".

Protestamos contra a caluniosa afirmação de que "o clero é formado exclusivamente de pessoas assimiladas às classes altas", quando toda a Nação sabe que boa parte dos Sacerdotes provém de famílias humildes, que fizeram seus estudos com o auxílio das Obras das Vocações Sacerdotais, — e que o Clero se dedica com amor, generosidade e heroísmo a criar instituições de assistência para os doentes, velhos, órfãos e pobres e a promover a educação e o progresso de nossas populações rurais e urbanas pobres. Até há pouco, quando a União e os Estados ainda não se ocupavam, tão intensamente como hoje da assistência e da promoção de nossas populações pobres, poucas eram as iniciativas e as instituições que não partissem de Sacerdotes ou neles tivessem seus promotores mais dedicados.

Protestamos contra as caluniosas afirmações contra a Igreja, que é acusada de "incapacidade de organização", "colonialismo", "má administração dos bens", "assistencialismo", "ensino classista", injusto "tratamento dos empregados", "funcionalismo cartorial", "fuga para a Europa", "religião subdesenvolvida", "estrutura fechada aos leigos", bem como de peitar o Poder Judiciário.

Protestamos contra as sugestões que o Sacerdote belga dá para a "arrancada do desenvolvimento" e sua afirmação de que "ninguém pode acreditar que as reformas fundamentais que exige o desenvolvimento poderão ser promovidas por evolução política normal, dentro dos princípios que regem a sociedade ocidental".

Rejeitamos a fórmula preconizada pelo Sacerdote belga, que assim escreve: "A força do Estado será necessária para derrubar os privilégios, e instalar estruturas novas. Como é que se instala essa força? Também por um processo de força. Daí os dois problemas políticos: — a conquista do poder por um grupo decidido a fazer as reformas [...], — o exercício do poder, autoritário ou ditatorial":

Rejeitamos o "método" preconizado: a conquista do poder por um grupo "carismático", que exerceria "pressão para derrubar o Governo e instalar-se no poder". Isto suporia uma campanha de desmoralização do Governo e das Forças Armadas. A Igreja terá de "fazer alianças, entrar em compromissos, sujar as mãos pelas alianças sujas", quer dizer, sujas de lama ou de sangue.

Rejeitamos a "sociologia" estranha do Sacerdote belga, que preconiza o seguinte: "Para a arrancada, o poder será autoritário e ditatorial", as Forças Armadas devem ser dissolvidas, devem ser distribuídas armas ao povo, formados "tribunais novos de exceção contra quem se opõe às reformas".

Rejeitamos a ridícula afirmação de que o Brasil ainda está na "Idade Neolítica" e que para podermos progredir é necessário "dessacralizar" a nossa vida.

Protestamos contra a infame maneira de tratar as grandes organizações católicas que nos auxiliam, como a "Caritas", a "Adveniat", a "Misereor".

Protestamos contra a infame calúnia de que todos os povos desenvolvidos "não querem fazer sacrifícios para o desenvolvimento dos países do terceiro-mundo".

Lastimamos que o Sacerdote belga chegue a preconizar uma eventual "guerra total dos pobres contra os ricos".

Protestamos contra a proposta da constituição de um "politburo" eclesiástico, uma CNBB totalitária e tirânica, que neutralize a ação das Dioceses, Paróquias e Ordens Religiosas, para impor à Igreja uma reforma que Ela repele.

Protestamos contra a injustiça cometida contra os Sacerdotes estrangeiros que, obedecendo à ordem de Cristo e ao imperativo da caridade, têm deixado as suas terras para nos trazerem seu auxílio, com sacrifício de suas forças e, muitas vezes, de suas vidas.

Lamentamos a demagógica sugestão de a Igreja distribuir aos pobres o seu modesto patrimônio, que se destina exatamente a possibilitar-Lhe um serviço melhor ao povo e aos pobres.

Em face de tantas deformações grosseiras da doutrina católica e da situação socioeconômica do Brasil, contidas no documento do Pe. Comblin, queremos tornar pública a nossa resolução de fiéis à missão de servidores da Ordem Sobrenatural que a Providência nos confiou, rejeitarmos todas as manobras comunizantes e darmos a nossa mais generosa contribuição para o desenvolvimento do País.

Ao mesmo tempo, conclamamos nossos diocesanos e o povo brasileiro em geral a não se deixarem ludibriar pelas falsas interpretações da doutrina de Jesus Cristo que nos últimos tempos circulam mesmo em certos ambientes católicos. Pois é só na fiel aceitação e observância dos princípios tradicionalmente ensinados pela Igreja que está a verdadeira via da salvação que Deus nos revelou".

Carta ao Mal. Costa e Silva

DEZENOVE Arcebispos e Bispos presentes à IX Assembleia Geral do Episcopado Brasileiro enviaram carta ao Marechal Costa e Silva, Presidente da República, para desfazer a falsa impressão de que "as tendências esquerdistas e subversivas que visam precipitar o nosso País no caos, na revolução social [...] constituem uma opinião generalizada entre Bispos, Sacerdotes e leigos".

O documento está assinado pelos Exmos. Revmos. Srs. D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., Arcebispo de Diamantina, D. José D'Angelo Neto, Arcebispo de Pouso Alegre, D. Orlando Chaves, S. D. B., Arcebispo de Cuiabá, D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, D. Geraldo Fernandes, C. M. F., Bispo de Londrina, D. Delfim Ribeiro Guedes, Bispo de São João del Rei, D. João Batista Costa, S. D. B., Bispo de Porto, Velho, D. Manuel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis, D. Antonio Zattera, Bispo de Pelotas, D. José Vàsquez Díaz, O. de M., Bispo de Bom Jesus do Gurguéia, D. Guido M. Casullo, Bispo-Prelado "nullius" de Cândido Mendes, D. Bernardo Nolker, C. SS. R., Bispo de Paranaguá, D. Maximo Biennés, Bispo de Cáceres, D. Ladislau Paz, S. D. B., Bispo de Corumbá, D. Almir Marques Ferreira, Bispo de Uberlândia, D. Camilo Faresin, Bispo de Guiratinga, D. Jackson Berenguer Prado, Bispo de Feira de Santana, D. Pedro Filipak, Bispo de Jacarezinho, e D. José Fernandes Veloso, Bispo Auxiliar de Petrópolis.

É o seguinte o texto de mais esse importante documento:

"Nós, Arcebispos e Bispos presentes no Rio de Janeiro a fim de tomarmos parte na IX Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, desejamos levar ao conhecimento de V. Excia. nossa posição em face de pronunciamentos procedentes de eclesiásticos e leigos, feitos ao longo dos últimos meses, a respeito da situação do País e dos remédios correspondentes.

Tomados tais pronunciamentos no seu conjunto, causam a impressão de que as tendências esquerdistas e subversivas que visam precipitar o nosso País no caos, na revolução social, e por fim sujeitá-lo a uma situação idêntica ou semelhante à que o tirano Fidel Castro impôs em Cuba, constituem uma opinião generalizada entre Bispos, Sacerdotes e leigos.

Essa impressão é causada em parte pela multiplicidade dos pronunciamentos esquerdistas emanados de meios católicos; de outro lado, pelo caráter estrepitoso e demagógico de que esses pronunciamentos se revestem, e por fim pela cobertura sensacionalista que ponderável parte da imprensa lhes dá.

À vista disso, trazemos ao conhecimento de V. Excia. a nossa persuasão de que a grande maioria dos eclesiásticos e leigos do País está em desacordo categórico com o pensamento e as aspirações da referida corrente.

Pessoalmente, embora reconheçamos a gravidade de muitos de nossos problemas, contestamos que eles tenham o caráter catastrófico com que são apresentados por críticos apaixonados e interessados na subversão. Afirmamos nossa persuasão de que esses problemas só podem ser resolvidos numa atmosfera de concórdia entre as classes sociais, e jamais num ambiente de luta de classes.

Principalmente estamos convictos de que as soluções devem ser inspiradas pelos princípios católicos entendidos segundo seu legítimo significado, e não interpretados torcidamente de maneira a dar a impressão de que a doutrina católica não é senão uma modesta expressão, em termos religiosos, do que ensinaram Marx e outros doutores do comunismo e do socialismo.

Com estas afirmações, vão os nossos votos de íntima cooperação do poder espiritual com o civil e o militar, para a grandeza do Brasil cristão.

Aproveitamos o ensejo para apresentar a V. Excia. o testemunho do nosso respeito e alto apreço".

Mensagem à CNBB

POR OCASIÃO DA IX Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, quarenta Prelados fizeram enérgica denúncia de erros existentes em meios católicos do País. Redigido por quatro Metropolitas mineiros, os Exmos. Revmos. Srs. D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina, D. José D' Angelo Neto, Arcebispo de Pouso Alegre, D. Oscar de Oliveira, Arcebispo de Mariana, e D. Alexandre Gonçalves do Amaral, Arcebispo de Uberaba, o documento tomou a forma de uma mensagem a Sua Eminência o Cardeal Agnelo Rossi, Arcebispo de São Paulo e Presidente da CNBB.

Reproduzimos aqui seu texto, que foi amplamente divulgado pela imprensa diária:

"Contém este documento algumas sugestões que seus signatários mui fraternalmente vêm apresentar a Vossa Eminência, acreditando que as mesmas poderão contribuir para que a CNBB, tão dignamente presidida por Vossa Eminência, possa melhor atingir sua alta finalidade, qual seja a se constituir numa verdadeira assembleia "na qual os Prelados de uma nação ou território exercem conjuntamente o seu munus pastoral com o fim de promover o maior bem que a Igreja proporciona aos homens, principalmente mediante formas e métodos de apostolado aptamente acomodados às circunstâncias decorrentes do tempo" ("Christus Dominus" — n.° 38).

Reconhecemos que a nossa Conferência se preocupa em promover a unidade do Episcopado, tão necessária para que este testemunho nosso sirva de exemplar daquela unidade da Igreja, mediante a qual o mundo seja levado a crer em Cristo. Reconhecemos igualmente que suas atividades visam a atualização de nossa pastoral, nela integrando um Clero atualizado e um laicato consciente de sua responsabilidade e de sua missão nesta Igreja. Não negamos este esforço e estas preocupações, mas sentimos que os resultados não correspondem a eles. Achamos que, depois de três anos de iniciada a execução do Plano de Pastoral de Conjunto, com resultados relativamente bons em diversas regiões e um esperançoso despertar de espírito apostólico, permanecem ainda

(continua)