(continuação)

CINCO DOCUMENTOS ESTARRECEDORES

preocupações da vida operária e universitária: injustiças salariais, insegurança da família operária, movimento sindical; movimento estudantil, reforma universitária, linha ideológica. Isto para “procurar” discernir nelas os sinais verdadeiros da presença e dos desígnios de Deus com todos seus apelos" (I. M. n.° 11);

- a acreditar que as pessoas nos podem ajudar e nos ajudam de fato, isto é, que também somos educados no meio do povo, é ele nosso educador.

2. 2. Missão profética

Achamos nosso dever exercer hoje mais vezes nosso papel de profetas. Temos de crescer na consciência e na ação proféticas.

O profeta acima de tudo não expõe doutrinas, mas cria. Sensível ao seu tempo, à vida que o rodeia, aos acontecimentos, penetra na interioridade dos desígnios e juízos de Deus sobre o seu tempo e os revela aos homens. Vê nos fatos da vida, nas atitudes concretas das pessoas, nos acontecimentos, pequenos e grandes, os sinais da fidelidade ou da infidelidade ao Espírito do Deus criador e redentor, ao espírito evangélico, seja dentro da comunidade dos homens, seja no interior mesmo da Igreja.

[...] Essa realidade gritante do nosso povo não está a exigir de nós, padres e bispos, mais atitudes proféticas? Sentimos que sim. Achamos um direito nosso e um dever apontar os sinais do Mal e do pecado nos fatos de injustiça salarial, de privações do pão de cada dia, de espoliação do povo e da nação, de opressão à liberdade. Nisto muitas vezes falhamos, porque grande parte vê como atitude política. Mas o gesto profético de Cristo de fidelidade à verdade não teve um inevitável envolvimento político.

2. 3. Pobreza

Diante de homens que valorizam demais o ter, o poder, o prestígio social, a custo quase sempre da miséria, da escravidão e da humilhação de multidões, queremos nos comprometer com o seguinte:

- (padres e bispos) viver como o comum do povo: tornar mais simples nossas casas e o lugar de reuniões da comunidade (igrejas); participar da vida do povo, não como autoridade, mas como homens e cristãos, não aceitando privilégios e exceções;

- desvincular-nos realmente dos poderes econômicos e políticos, começando de nossas pequenas organizações paroquiais até em plano nacional;

- rever nossas fontes de sustento. A comunidade cristã deve sustentar, mas o essencial, não o supérfluo ou um padrão de vida superior ao médio da população;

-ver a possibilidade do trabalho como meio de sustento para padres e bispos. O trabalho manual se afigura como aspecto essencial da pobreza hoje, e uma necessidade para a evangelização do meio operário. Que se apoie e faça crescer a experiência de padres no trabalho, como missão assumida pela hierarquia.

[...]

2. 6. O celibato

Todos acreditamos no valor escatológico e na necessidade atual da virgindade escolhida e assumida. 'E alguns estão decididos, quaisquer que sejam as modificações canônicas, a ficar no celibato. Mas, pedimos com insistência:

- que possam ser chamados à ordenação sacerdotal, em função das necessidades eucarísticas das comunidades existentes ou em criação, homens casados daquela comunidade. Especialmente pais operários que vão ficar depois no trabalho e isso sem que necessitem adquirir uma cultura clássica. Os cristãos têm o direito de receber a Palavra de Deus, e os sacramentos. Há anos sentimos que em muitos continentes, principalmente na América Latina, não há vocações celibatárias suficientes. Não está na hora de caminharmos para a solução: ordenar homens casados?

- há padres que deixaram o ministério há muito tempo e não estão se importando com a possibilidade de um processo, ainda mais que é visto por alguns como um tanto humilhante. Não pediram e não vão pedir laicização. Não está na hora de se pensar numa anistia geral sem processo para todos eles, num grande espírito de reparação?

- que se faça uma consulta discreta a todos os padres do Brasil sobre o problema, a que não se pode- e não se deve fugir. [...]".

34 Padres de Santos

34 SACERDOTES seculares e regulares da Diocese de Santos subscreveram as seguintes "SUGESTÕES DO PRESBITÉRIO DA SANTA IGREJA DE SANTOS À CNBB", datadas de Barueri, em 11 de julho de 1968:

"Os padres abaixo-assinados, da Diocese de Santos, reunidos em Barueri, depois de haverem estudado o documento de Volta Redonda, resolveram prestar apoio ao teor do referido documento, acentuando os seguintes pontos, que levamos respeitosamente ao conhecimento dos Srs. Bispos brasileiros.

1. Que se crie uma Comissão de antropólogos e sociólogos para se estudar a religiosidade brasileira e apontar os ritos próprios e a terminologia adequada à índole do povo, levando em conta a diversificação das áreas culturais. Entrementes, se conscientize o clero a respeito do mencionado estudo e se elaborem nas regiões pastorais ritos mais adaptados ao meio;

2. Que a CNBB providencie: - a) uma Bíblia acessível econômica e culturalmente ao povo, com a colaboração de todas as Editoras católicas; b) um catecismo para adultos, salientando os problemas fundamentais da fé;

3. Que o Breviário seja comutado por leituras bíblicas ou preces pessoais, tirando a censura "sub grave";

4. Que haja mais liberdade na escolha de textos bíblicos para a liturgia da Palavra na celebração eucarística;

5. Que haja mais liberdade na concessão das celebrações eucarísticas em pequenas comunidades domiciliares;

6. Que a obrigação ao culto dominical, como na Igreja Oriental, não seja sob pecado grave;

7. Que em toda e qualquer nomeação de cargo, a comunidade interessada seja ouvida;

8. Que a concessão das dispensas do celibato clerical esteja a critério do Ordinário local, ou, em última instância, da CNBB;

9. Que se aceite a reintegração dos padres casados no ministério sacerdotal, caso estes a queiram;

10. Que os leigos casados possam receber a ordenação sacerdotal para exercerem o ministério dentro de sua comunidade;

11. Que o celibato eclesiástico seja optativo, e não obrigatório;

12. Que a CNBB dê pleno apoio junto à Câmara Federal, para a aprovação do projeto de Lei equiparando os estudos realizados pelos sacerdotes em seminários não oficializados (com efeito retroativo), apresentado pelo deputado Pe. Bezerra de Mello;

13. Que se prossigam os estudos para uma decisão sobre a situação do cônjuge inocente no caso de abandono ou infidelidade do outro cônjuge".

350 Padres de quatro Estados

350 PADRES dos Estados do Rio, Guanabara, São Paulo e Paraná dirigiram à CNBB um documento redigido em Volta Redonda, durante um encontro ali realizado nos dias 8 e 9 de julho p. p. Eis o texto das "propostas e tomadas de posição" nele contidas:

Alguns fatos

"Recordamos alguns fatos significativos.

1. Leigos conscientes, dispostos a agir eficientemente, vão se afastando da área eclesiástica. Já não se interessam pela Igreja como instituição sacralizada. É o caso dos universitários e líderes operários. Nem falemos dos técnicos. Estes não perderam a fé. Pelo contrário, baseados numa fé profunda e dinâmica assumem posições corajosas a fim de promover a justiça, o desenvolvimento, a fraternidade, a liberdade. Por isso mesmo procuram se aproximar de pastores abertos ao diálogo, nem sempre bem vistos pela área dirigente (episcopal ou religiosa).

2. Grupos de padres analisam humana e evangelicamente os fatos e assumem posições definidas diante de sua consciência e das exigências da realidade.

3. Os Padres de Botucatu não aceitaram a posse do bispo nomeado pela Santa Sé, feita sem consulta à Igreja local.

4. Aparecem publicações e traduções em visível oposição ao pensamento oficial de bispos e superiores religiosos. Em muitas oportunidades os superiores só tomaram conhecimento da posição de vanguarda de seus "súditos" através da imprensa leiga. Ex.: Manifesto de tomada de posição pelo clero em passeatas públicas, atitude de defesa dos oprimidos, protesto contra o jogo político feito por ocasião da vinda da imagem de Fátima, carta de 1.° de maio em S. Paulo, carta dos trezentos padres aos bispos, etc. Só alguns bispos tomaram posição clara diante desses fatos.

5. Do ponto de vista litúrgico torna-se evidente a tendência de não mais esperar reformas. Parte sempre mais numerosa do clero começa a adotar a seguinte posição: celebrar o Mistério do Senhor com gestos que emergem da própria situação das pessoas participantes.

6. A decadência dos seminários diocesanos ou religiosos é um fato, mesmo assim, algumas autoridades ainda se esforçam para construir seminários maiores e até menores. Quase todos os nossos responsáveis eclesiásticos estão empreendendo gigantescos esforços para melhorar a vida interna dos seminários, com aberturas ou criação de pequenas comunidades. Pensa-se assim que a decadência é fruto de "certo naturalismo" e "tendência laicizante".

7. Constatamos a diminuição do número de padres dentro das estruturas atuais, o abandono de sua função ministerial e a busca, de outro lado, de uma profissão. Alegam que procuram obedecer à exigência de levar a sério a participação ativa no processo do desenvolvimento.

8 Leigos que se decepcionaram com uma Igreja acomodada, despertam novamente para uma Igreja, que assume o seu papel no processo de libertação.

9. É também fato irrecusável que, na opinião de muita gente, a Igreja não vive na realidade. É alienada do povo e comprometida com os poderosos.

10. Ao mesmo tempo que constatamos atitudes realmente corajosas e proféticas de leigos, padres e bispos, perante o fenômeno do 3.° mundo, por outro lado, assistimos também pronunciamentos e gestos de outros, envolvidos com ideologias de opressão e dominação.

11. Sabe-se que no tão falado "desenvolvimento" a maioria do povo está sempre mais marginalizada, ao passo que um pequeno grupo de privilegiados está aproveitando os frutos do desenvolvimento, às custas dos subdesenvolvidos.

12. Os padres estrangeiros interrogam-se sobre o sentido e eficácia de sua presença no país e sua missão pastoral. (Cf. Carta dos padres do Maranhão).

O sentido dos fatos

Que significa tudo isso? Será queixa de revoltados? Serão fatos proféticos? Serão apelos de Deus? Serão simples lacunas de fraquezas humanas?

1. Modestamente, a nosso ver, esses fatos anunciam que algo de profundamente novo vai emergindo. A Igreja que está continuamente em gestação volta às fontes. Melhor dizendo, vai se esboçando uma imagem nova da Igreja.

Esta imagem nova não surgirá de momento para outro, por decreto. Vai se desenhando através do embate dos antigos quadros (mentais ou estruturais) com um novo dinamismo do mundo e do sempre antigo e sempre novo élan evangélico.

2. Realmente o Concílio Vaticano II abriu caminhos para a fisionomia nova da Igreja: - A Igreja como comunidade (povo de Deus); - Liberdade religiosa e liberdade de consciência; - Valor das realidades terrestres; - Corresponsabilidade dos cristãos na construção da comunidade humana.

3. Muitas pessoas da Igreja (leigos, padres e bispos) procuram costurar retalhos de mentalidade nova nos velhos odres que vasam por todos os lados.

Será suficiente colocar princípios do Vaticano II dentro de estruturas cansadas? Seja na pastoral ou na liturgia; seja nos organismos oficiais (CNBB, CRB, CELAM) ou nos seminários?

Ninguém pensa que basta traçar no papel a reforma. Ela virá pela deteriorização (dolorosa para muitos) dos antigos quadros e pela gênese da Igreja nova, adequada a esta história.

4. O mundo subdesenvolvido e marginalizado interroga com angústia a Igreja no Brasil:

- Poderá a Igreja (Instituição) evangelizar sem primeiro testemunhar a justiça? E este testemunho a favor da justiça não exige antes o não comprometimento com a classe dominante e opressora?

- Aqueles que nos veem reunidos ao lado do altar, nos veem também lado a lado na luta pela justiça?

- Será que nós todos já tomamos consciência das injustiças que se cometem no Brasil?

- Não são estas injustiças uma violência contra os oprimidos? Não têm eles o direito de se organizarem para se libertar?

- Felizmente notamos que aquela Igreja comprometida com as estruturas de dominação está cedendo lugar à Igreja, comunhão de vida com as angústias e expectativa dos mais pobres. O que será mais evangélico? Manter as estruturas atuais de dominação ou contribuir, mesmo com sacrifício da própria vida ao serviço de libertação?

5. Constatamos que a luta pelo desenvolvimento só se fará pela mudança de mentalidades, de estruturas, e pela participação integrada de todo o povo no processo histórico.

A Igreja não preparou até agora cristãos para entrar neste processo. Por isso estamos fora dos centros criadores da nova história e dos centros onde se tomam as decisões pela humanidade.

6. A Igreja se define como "o sacramento, o sinal, e o instrumento" da íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano. (LG I). Levanta-se uma nova problemática não correspondida pelos documentos conciliares. É o problema da secularização que julgamos ser um processo de amadurecimento. O homem se liberta de concepções pré-estabelecidas, assume maior responsabilidade perante a própria vida.

A Igreja de Cristo se apresenta sob a roupagem de um Instituto, com funções e doutrinas sacralizantes. O homem secularizado não vê como um valor esta Igreja, mas sim, a pessoa de Cristo e sua mensagem.

Assim interpretamos o afastamento tranquilo de tantos cristãos, leigos e padres, não poucas vezes em nome da própria fé. Consequência disto é o número decrescente de candidatos ao ministério pastoral e crescente abandono de funções da Igreja, por parte de sacerdotes e religiosos. Ser homem de Deus está se tornando algo a-histórico. Não por causa da função, mas por causa do sistema eclesiástico que impede a inserção na vida real.

7. Fundamentalmente, trata-se do embate sempre mais áspero da Igreja dinâmica contra a Igreja estática; da Igreja institucional ao máximo contra a Igreja visceralmente missionária e institucionalizada ao mínimo; da Igreja como fermento no mundo (atenta aos sinais do tempo) contra uma Igreja fechada sobre si (preocupada com a ordem interna: dogmática, moral, jurídica, litúrgica, etc.). Numa palavra, trata-se de optar entre uma Igreja de cristandade e uma Igreja secularizada, presente no meio dos homens, vivendo suas alegrias e angústias.

O que fazer?

TOMADA DE POSIÇÃO

Observemos agora um novo e embrionário caminho da Igreja. Aliás tão antigo quanto o Cristo, o Evangelho e a Igreja. Um caminho radical. Os Atos dos Apóstolos falam de pequenas comunidades. Comunidades de base concretas, expressão da Igreja universal.

Muitos já não creem mais que seja possível melhorar a estrutura atual da Igreja. Suas estruturas nunca foram questionadas pela raiz. Elas servem ao Evangelho ou impedem seu anúncio? Nossas dioceses, paróquias, conventos, colégios, institutos superiores, que significam hoje para um país subdesenvolvido?

Comecemos pelo essencial: a fé.

É o gesto livre de adesão ao Cristo e a seu reino. O gesto de Deus que anuncia a vinda do reino e que suscita o gesto livre do homem que adere. Neste sentido, a fé é um processo de libertação. Ninguém mais livre do que um cristão. Nada mais criativo do que uma comunidade cristã. A comunidade que nós pensamos e trabalhamos para criar é só aquela comunidade de fé que se reúne na perspectiva do Cristo, a serviço do povo, do próximo desconhecido e oprimido (Lc. 10, 25-37).

Por isso a exigência de uma estrutura dinâmica, a partir das comunidades vivas.

AS COMUNIDADES DE BASE

1. Organização.

As comunidades vivas se organizam a partir da situação real, segundo os dons do Espírito, à Luz de Cristo. Serão tão múltiplas quantas as áreas de vida humana (profissão, fábricas, favelas, vilas, campos, círculos de amigos, tribos de índios, círculos intelectuais, cientistas, grupos de famílias).

2. A liturgia.

A Liturgia das comunidades nada mais é do que a celebração da vida fraterna cotidiana no mistério do supremo amor de Cristo morto e ressuscitado. Em fim celebra a nossa convivência diária profissional fraterna em Cristo.

Que dizer então das atuais paróquias?

3. O Ministro.

a) O Presbítero.

Cada comunidade escolhe o seu precedente que é o presbítero, com função temporária. Ele é antes de tudo um membro da comunidade. Vive no meio, possui a cultura do meio. Ele preside à animação da fé, da fraternidade e das celebrações. Que ele seja casado ou celibatário é questão segunda. Depende da opção pessoal e não prescrição jurídica.

b) Bispo.

As várias comunidades exigem um coordenador geral, o bispo. Sua função é a animação da fé e o serviço de todos os grupos. É o apóstolo do lugar. Como Pedro, Paulo e os demais. É eleito pelo consenso de todos. Tem funções temporárias para não prejudicar o dinamismo da comunidade.

4. A Teologia da comunidade.

O presbítero necessariamente não é o teólogo. É tarefa de toda a comunidade interpretar teologicamente os sinais de Deus na área profissional onde todos se encontram.

5. Pluralismo da formulação da fé.

A fé é experiência pessoal e comunitária do mistério de Deus vivo. Esta vida teologal é múltipla, por isso múltiplas devem ser as formulações da mesma, deixando liberdade ao espírito criativo e às consciências iluminadas pela luz do Cristo.

6. Centros de pesquisas teológicas.

Em vários pontos do país devem surgir centros regionais de animação e de análise crítica da realidade. Será uma pesquisa dos sinais do tempo. Os cristãos professores do centro, não substituem as reflexões da comunidade. Simplesmente as ajudam com mais abundância e profundidade.

7. Formação dos presbíteros.

O novo presbítero forma-se na convivência com os irmãos. É decisivo que ele seja capaz de ajudar sua comunidade de vida e interpretar os sinais de Deus no ambiente profissional em que vive. Se pode ser dispensado dos cursos de teologia abstrata, deve porém entrar em contato com os centros de pesquisa teológica.

8. Realismo das comunidades.

A comunidade dividida é uma realidade antes de tudo humana e integrada no mundo, na vida quotidiana. O cristão procura criar valores de fraternidade, justiça e paz. Ele sabe que a plenitude de todos e tudo é Cristo. Ele sabe que o batismo é uma opção radical a favor da justiça e da libertação e uma denúncia profética de todos os egoísmos. Não nos assustemos com as opções de fé de nossos irmãos. A própria opção revolucionária que escandaliza a muitos pode ser um apelo da mais pura consciência. A comunidade deve animar as opções tornando-as mais profundas e evangélicas. Cristo mesmo radicalizou sua opção até suscitar o ódio mortal de seus adversários.

Para uma nova vivência, da Igreja

As estruturas atuais estão satisfazendo a este novo tipo de comunidades vivas?

Como condições básicas parece-nos importante:

1.° - Viver a fé no mundo, respondendo ao apelo da realidade.

2.° - Ter a coragem e a lucidez de pôr em questão as atuais estruturas eclesiásticas.

3.° - Não duvidar do aparecimento irreversível de novas expressões de vida cristã.

4.° - Para que tudo isso não apareça utópico será útil olhar para o Cristo e sua comunidade apostólica.

Propostas

1. Que as novas nomeações de bispos sejam a partir de eleições e indicações feitas pela igreja local ou setor de trabalho (presbíteros, leigos, religiosos).

2. Que os presbíteros sejam escolhidos a partir da indicação da própria comunidade e entre seus membros.

3. Que sejam ordenados homens casados, indicados pelas comunidades de base.

4. Que todas as funções na Igreja sejam temporárias como os cargos da CNBB, CRB e CELAM.

5. Que à frente de alguns secretariados nacionais estejam religiosos, leigos e sacerdotes indicados pelas áreas correspondentes.

6. Que seja reconhecido aos padres e religiosos o direito à formação de órgão de classe nos níveis diocesano, regional e nacional para manifestação de suas decisões e direitos.

7. Que o sacerdote, se quiser, tenha possibilidade de se casar, sem por isso ter que abandonar o ministério. Que esta matéria seja da competência dos ordinários.

8. Que os sacerdotes tenham possibilidade de exercer uma profissão vivendo de seu trabalho.

9. Que a CNBB apoie o projeto de equiparação dos estudos do clero, em andamento na Câmara Federal.

Todos unidos, sacerdotes do Senhor, apresentamos nossa colaboração, empenhados na grande missão confiada à Igreja de hoje: ser o sal da terra e a luz do mundo para o homem do século XX".

110 Padres da Guanabara

110 PADRES, do Clero secular e regular da Guanabara, dirigiram-se "respeitosa e confidencialmente" ao Episcopado Brasileiro reunido no Rio, em "CARTA AOS BISPOS", datada daquela Capital, em 14 de julho p. p. Transcrevemos a parte essencial desse documento:

"1. Vivemos num país subdesenvolvido, onde imperam a fome, a doença, a morte, a promiscuidade, a ausência de posse, a exploração, a hemorragia de nossas riquezas.

2. A causa desses males que nos afligem é o sistema denunciado por Paulo VI na P. P., "baseado no lucro como motor essencial do progresso econômico, na concorrência como lei suprema da economia, na propriedade privada dos bens de produção como direito absoluto e incondicional" (n.° 26). Este sistema, ao mesmo tempo que gera a miséria, a fome, a ignorância, esbanja somas enormes em gastos militares inúteis e na defesa de interesses de minorias privilegiadas.

3. Conscientes de que essa situação não é a consequência fatal e inevitável de um problema tecnicamente insolúvel, mas o fruto de uma situação injusta voluntariamente mantida a serviço de interesses internacionais, não podemos deixar de denunciá-la como um "estado de violência". Violência praticada por uma minoria contra a maioria imensa de um povo desesperançado, impedido de reivindicar seus direitos fundamentais, na busca de uma organização livre, e cerceado na sua expressão cultural-artística. A mesma violência se manifesta na contenção dos salários, na intervenção nos sindicatos, na repressão aos estudantes e na prevenção contra a pregação da doutrina social da Igreja e sua efetiva renovação. Estas são algumas faces do sistema político em que vivemos, manipulado por distintas formas de oligarquia e defendido em nome de uma pretensa segurança nacional.

4. A Igreja do Brasil constitui, ainda, um certo grupo do poder e, por isto mesmo, infelizmente, calou-se, muitas vezes, diante de arbitrariedades do poder civil e militar. E este condomínio do poder contribui para o "sectarismo dos setores oficiais que só consideram apóstolos os sacerdotes e bispos, quando concordam com a política dominante"; faz presumir "o direito de orientar a Igreja do Cristo" e considerar "padres e bispos que dizem ou falam em desacordo com a política dominante, como fora das normas canônicas, prejudiciais ao rebanho, mal comportados, quiçá subversivos" (Entrevista de D. Fernando Gomes dos Santos, Arceb. de Goiânia, ao Jornal do Brasil, 29-8-1967).

5. Ora, há forças ponderáveis interessadas em confinar a Igreja no que chamam de sua "missão espiritual": empregam o dualismo como método para neutralizar a dinâmica cristã de transformação da história, do político e do social [...].

Intimidar-se diante dessas forças seria, nesta hora, apresentar ao julgamento do Povo de Deus, um cristianismo decepcionante, porque dosado à manutenção do "status quo"; seria perder o apelo de Deus a uma purificação do pecado de triunfalismo, tentação constante de se assimilar a Igreja a formas de dominação tantas vezes fundadas no desrespeito à pessoa humana e a seus direitos fundamentais.

6. Se o anúncio da fé foi, na história do Povo de Deus, indissociável de um processo de libertação humana, desde os dias do Êxodo, até a identificação do Messias (cf. Lc. 4, 16 ss.), uma pastoral que hoje não incidir sobre esse processo, além de não servir à fundamental "lei da evangelização" (cf. GS, 44), será conivente com o subdesenvolvimento, coautora de mistificação, traindo a vivência teologal da esperança, que importa em ação e promoção, na medida mesma de sua segurança.

7. Assim, aos Srs. Bispos, conhecedores de todos os problemas que afligem o Brasil e a Igreja, "dispostos a aplicar os princípios do Concílio e da encíclica Populorum progressio, ainda que isso lhes custe amarguras e dificuldades pessoais" (Declaração da Comissão Central da CNBB, 29-11-67), tencionamos pedir:

a) Além de pronunciar, com clareza e sem ambiguidades, sobre a atual conjuntura do país, assumam seus pronunciamentos em atitudes concretas: o Povo de Deus percebe melhor os nossos gestos que nossas palavras.

b) Em tais pronunciamentos, situem-se dentro da realidade brasileira, em exame de consciência e autocrítica. Detentora, no passado e no presente, de tantas posições, não poderá a Instituição eclesial eximir-se de uma confissão sincera.

c) Que seja redefinido o que é, no presente e na situação em que vivemos, à luz dos sinais dos tempos, o ministério hierárquico. Em particular, apoiem e defendam aqueles sacerdotes que, atendendo a "convocação para a corajosa empresa do autêntico desenvolvimento cristão" (Declaração da Comissão Central da CNBB, 29-11-67), têm assumido atitudes concretas e definidas ao lado do povo como ocorreu nas recentes manifestações na Guanabara.

d) Que se reconheça que a tarefa pastoral imposta aos sacerdotes, orientada por critérios não mais verificados, fundada numa visão "sacramentalista", esquecida de exigências básicas da evangelização, precisa urgentemente, ser revista.

e) Que a cooperação dos sacerdotes e leigos seja levada a uma participação mais ampla e representativa nas assembleias do episcopado.

f) Que a Conferência episcopal, expressão da colegialidade da igreja do Brasil, seja também reconhecimento de nossas legítimas diferenças face a outras Conferências e face à Cúria Romana. Pois não sentimos que seu trabalho tenha já introduzido a unidade comunhão ou conspiração, em substituição à unidade de uniformidade e de dependência. É o caso, por exemplo, das reformas litúrgicas introduzidas sem a contribuição das formas brasileiras de criação e expressão.

g) Que nestas eleições para os quadros da CNBB seja critério fundamental da escolha a sensibilidade comprovada ao espírito de renovação conciliar e as urgentes reformas das estruturas de Igreja no Brasil".

Por muito conhecida, deixamos de publicar a bela carta em que um elevado número de Sacerdotes se dirige à Assembleia geral da CNBB em termos que reconfortaram todos os corações verdadeiramente fiéis.


FANTASIAS NAS QUAIS HÁ MÉTODO

Por ocasião da chegada a Bogotá do Exmo. Revmo. Sr. D. GERALDO DE PROENÇA SIGAUD; que viajara para a capital colombiana, de avião, para participar do Congresso Eucarístico Internacional, um jornal de Medellin divulgou telegrama de uma agência noticiosa, o qual constitui um tecido de dislates, não apresentando uma única palavra que corresponda, remotamente sequer, à realidade dos fatos. Traduzimo-lo aqui para que se veja até onde pode chegar a fantasia de certos jornalistas. É uma fantasia na qual há método: sempre pronta a funcionar contra personalidades e instituições de orientação conservadora - a TFP serviu-lhe de alvo ao longo de toda a sua campanha - é hábil em favorecer os esquerdistas de toda gama.

Reza o telegrama:

"BOGOTÁ, 21 (Colombia Press) - Depois de viajar durante vinte dias pela selva até Leticia, chegará amanhã a esta cidade o velho Arcebispo de Diamantina, Monsenhor Geraldo de Proença Sigaud, acompanhado por um pequeno grupo de indígenas que habitam em regiões limítrofes com o Brasil.

O Prelado, que utilizou para seu transporte pelo rio Amazonas uma pequena e rudimentar embarcação, venceu uma grande quantidade de obstáculos para poder tomar parte nos atos do Congresso Eucarístico internacional.

O Arcebispo vive como missionário em regiões selváticas da Colômbia, há longos anos, para catequizar várias tribos que a partir de amanhã conhecerão a civilização, quando se encontrarem com o Sumo Pontífice na Praça de Bolívar, onde o Vigário de Cristo dará a bênção.

A embarcação que o velho Prelado utiliza é uma canoa confeccionada por uma das tribos para esta longa viagem. É impelida por quatro remos manejados por aborígenes,

Somente alguns víveres e vegetais foram transportados do coração da selva para alimentar o Arcebispo e sua pequena comitiva. Assim o indicam as informações enviadas de Leticia, onde aportou hoje.

A peregrinação do Arcebispo de Diamantina e dos indígenas é uma das mais penosas efetuadas até hoje, já que terão que fazer um percurso superior a dois mil quilômetros, dos quais quinhentos por terra.

Soube-se ainda que os aborígenes trazem um Cristo que foi feito com uma das madeiras mais finas dessa região, para oferecer ao Sumo Pontífice".


TFP APÓIA IMPÔSTO MENOR PARA JUÍZES

A TFP enviou ao Presidente da Câmara dos Deputados, Sr. José Bonifácio, o seguinte telegrama:

"A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade pede a V. Excia. dar conhecimento ao plenário dessa ilustre Casa de seu inteiro apoio à propositura do Deputado Mons. Arruda Câmara, no sentido de redução, pela metade, do imposto de renda pago pelos membros da Magistratura. As condições de existência precárias a que estão reduzidos os Magistrados, mesmo nos Estados mais prósperos do País, representam clamorosa injustiça contra a qual devem protestar todos quantos compreendem a excelsa importância do Poder Judiciário e a dignidade do trabalho intelectual. Atenciosos cumprimentos - Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional".