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11 TIROS CONTRA MILITANTES DA TFP ARGENTINA

A vitoriosa campanha de coleta de assinaturas promovida pela Sociedade Argentina de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — a exemplo das entidades congêneres do Brasil, Chile e Uruguai — para pedir ao Papa medidas contra a infiltração esquerdista em meios católicos, só por verdadeiro milagre não teve um epílogo fatal. Com efeito, no dia 4 de outubro p.p. dois indivíduos armados invadiram a sede central da TFP argentina, em Buenos Aires, e tentaram fazer uma chacina, a qual não foi obstada senão pelo heroísmo de um militante que expôs a vida para salvar a de seus companheiros.

Antecedentes

Por ocasião do encerramento da campanha de assinaturas para a mensagem ao Papa, os militantes da Tradição, Família e Propriedade saíram às ruas da Capital portenha para distribuir volantes anunciando o êxito, sem precedentes na história da nação irmã, alcançado pela iniciativa da TFP argentina: 280 mil assinaturas coletadas em 60 dias. Dirigiram-se também à Faculdade de Direito da Universidade Católica e ali faziam pacificamente a distribuição, quando foram agredidos por alguns estudantes esquerdistas; os militantes defenderam-se na medida do estritamente necessário para poderem deixar o local.

Este pequeno incidente, ocorrido entre 19h30 e 19h35 do dia 4 de outubro, não teve maiores conseqüências, e revestiu-se mesmo de uma certa nota jocosa, própria dos ambientes universitários. Foi bastante, contudo, para excitar a sanha progressista, levando-a a ultrapassar todos os limites e consumar, por meio de dois jovens, um brutal atentado contra a vida de vários colaboradores da TFP platina, dentro da própria sede desta.

O brutal atentado

Por volta das 20h35 do mesmo dia 4, os jovens militantes da Tradição, Família e Propriedade Carlos Horácio Flügel, Néstor Ignácio Borraccine, Álvaro Daniel Ramírez Arandigoyen, Francisco Beccar Varela e Carlos Alberto Pardo voltavam da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, onde tinham ido fazer a comunhão reparadora da primeira sexta-feira do mês. À entrada da sede da TFP encontraram-se com Francisco Javier Ibarguren, que estava de saída. Enquanto trocavam cumprimentos, surgiram dois indivíduos corretamente vestidos, de paletó e gravata, aparentando 25 anos um, e um pouco menos o outro, os quais sacaram uma pistola calibre 45 e um revólver 32 ou 38 e se dirigiram aos moços em tom ameaçador: "Então são vocês os tais daquele barulho na Universidade Católica? Entrem todos!"

Três dos militantes correram para a rua e os outros três entraram rapidamente na sede, enquanto ouviam um primeiro disparo, procedente da rua, cuja bala foi chocar-se contra o friso de mármore do hall de entrada. Os jovens subiram rapidamente a escada que conduz ao primeiro andar, fechando atrás de si uma porta de madeira, ao mesmo tempo que os desconhecidos, tendo penetrado no hall, davam na direção deles mais três tiros, que por pouco não acertaram o alvo, indo incrustar-se na parede. O último a correr foi Borraccine, o qual se deitou no chão para sustentar com os pés a porta — não dotada de chave ou trinco — tentando barrar o passo aos invasores. Estes, ao perceberem que a porta não se abria, dispararam mais cinco tiros contra ela, procurando atingir a quem a estivesse segurando. Ao forçarem novamente a maçaneta, se deram conta de que o obstáculo achava-se na parte inferior da porta. Decididos a matar, fizeram dois disparos nessa direção, atingindo a Néstor Borraccine com dois projéteis de pistola 45. Só por verdadeiro milagre o resultado não foi fatal: uma das balas transfixou a mão esquerda do heroico jovem e a outra atingiu-o nas costas, de raspão.

Ao perceberem que haviam acertado o alvo, os agressores fugiram, enquanto o ferido, que sangrava abundantemente, era conduzido a um hospital. Avisada prontamente, a polícia compareceu ao local, procedendo ao registro da ocorrência e recolhendo elementos para o laudo competente.

Uma estranha atitude

Através de diversos indícios e informações, surgiu como suspeito do crime um aluno da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Buenos Aires, chamado Miguel Alberto Drapajlo. Para surpresa de todos, o Diretor daquela escola, Prof. Santiago de Estrada, saiu a público declarando que conhecia perfeitamente todos os seus alunos, razão pela qual garantia não ser nenhum deles o culpado.

Depois de permanecer foragido durante 15 dias, Drapajlo apresentou-se finalmente à prisão. Mostrado às vítimas para efeito de reconhecimento, quatro dos jovens da TFP o apontaram sem hesitar como um dos agressores, precisamente aquele que levava a pistola 45, cujos tiros feriram a Borraccine; Drapajlo afirmou nem saber onde ficava a sede da TFP, entrando em contradição com sua própria irmã, que declarou ter ele estado diante daquele prédio na noite do crime.

Apesar de todos os indícios, o Prof. Santiago de Estrada não só não retrocedeu em suas declarações anteriores, como também não se empenhou a fundo em facilitar as investigações, na Faculdade que dirige, no sentido de se elucidar completamente o brutal atentado. Esse procedimento causou uma explicável estranheza nos largos círculos em que se professa simpatia pela TFP platina.

O móvel do crime

Está fora de dúvida a motivação ideológica dos jovens criminosos, já que nem sequer conheciam pessoalmente a nenhum dos militantes contra cuja vida atentaram. O ódio demonstrado pelos agressores — cujo traje e aparência denotavam razoável posição econômica e social — só se pode explicar por uma exacerbação ideológica e uma furiosa oposição à TFP argentina pela campanha que a entidade acabava de promover.

Não é também de se excluir a hipótese de pertencerem os referidos indivíduos a alguma organização armada clandestina, tendo-se em vista a decisão, rapidez e eficiência com que atuaram. Tal conjectura é, aliás, formulada por "La Prensa", o maior diário portenho, que relaciona a brutal agressão à TFP da Argentina com outros atentados terroristas ocorridos naqueles dias em diversos pontos do país.

LEGENDAS:
- Néstor Borraccini, militante atingido por duas balas 45 quando, para salvar a vida de seus companheiros, deitou-se diante da porta, impedindo que os agressores a abrissem.
- Gráfico do atentado contra a sede da TFP platina, mostrando as posições de onde os criminosos dispararam os onze tiros, os pontos que estes atingiram e o lugar em que Néstor Borraccini se deitou no solo.