LAMENTÁVEL REBELDIA DE RELIGIOSOS ESCANDALIZA O POVO FIEL
Já estávamos encerrando a presente edição quando ocorreram na Diocese, criando confusão entre os fiéis, graves atos de indisciplina dos Padres Missionários do Sagrado Coração, que se rebelaram publicamente contra o ínclito Bispo Diocesano, Exmo. Revmo. Sr. D. Antonio de Castro Mayer.
S. Excia. Revma, recebeu, a propósito, mensagem de apoio de todo o Clero secular, bem como do Prefeito e de doze vereadores de Campos, dos Prefeitos de vários outros municípios da Diocese, do Prior e todos os Monges do Mosteiro beneditino de Campos, das associações religiosas e grande massa de fiéis.
Os fatos ficaram bem esclarecidos por êste comunicado da Cúria Diocesana:
"Para elucidar os fiéis, perturbados com fatos ultimamente ocorrido na Diocese, a Cúria Diocesana sente-se na obrigação de fazer o seguinte comunicado:
1.° — Na última visita que o Revmo Pe. Superior da Congregação dos Missionários do Sagrado Coração fez ao Sr. Bispo Diocesano, esse solicitou de S. Revma. que devolvesse à Diocese a Freguesia do Terço. Nesse pedido, nada havia de extraordinário. Quando uma freguesia é confiada a uma Ordem ou Congregação Religiosa, esta não adquire direito de permanência definitiva na paróquia. Pode o Bispo, em vista de uma melhor ordenação do Clero diocesano, pedir à Ordem ou Congregação Religiosa a freguesia que lhe foi confiada. É fato corriqueiro verificado em todos os lugares. Mesmo aqui no Brasil podem citar-se exemplos, como a Penha de São Paulo, ou a Freguesia de Nossa Senhora das Dores de Porto Alegre, e muitos outros:
2.° — O Revmo. Pe. Superior dos Missionários do Sagrado Coração mostrou relutância em aceder ao desejo do Sr. Bispo Diocesano. Pediu-lhe, no entanto, que formulasse a solicitação por escrito.
3.° — O Sr. Bispo atendeu ao Revmo. Pe. Superior em carta com data de 11 de novembro deste ano. Essa correspondência daria oportunidade a que o assunto fosse melhor examinado. Na resposta ao Sr. Bispo Diocesano o Revmo. Superior dos Missionários do Sagrado Coração poderia precisar melhor suas razões e mesmo apresentar outras. De sua parte, o Prelado da Diocese poderia igualmente esclarecer o assunto.
4.° — Acontece que, antes mesmo de receber o Sr. Bispo qualquer resposta do Revmo. Pe. Superior, os Missionários do Sagrado Coração que trabalham na Diocese, sem procurar, eles também, ouvir antes o Prelado, saem a público com a declaração já de todos conhecida, e mantêm uma atitude de rebeldia contra a Autoridade Diocesana, usando, para tanto, mesmo do púlpito sagrado. Provocam assim perturbações de consciência e desunião no seio dos fiéis, com grande prejuízo espiritual para as almas.
5.° — Salvas as intenções, cujo julgamento pertence a Deus, objetivamente semelhante atitude está levando parte dos fiéis à revolta contra a Autoridade Eclesiástica, Com quebra da disciplina da Igreja, e humilhação do Bispo Diocesano, que é, segundo o Concílio Vaticano I, Pai e Pastor do rebanho a ele confiado pelo Divino Espírito Santo, através do Vigário de Cristo.
6.° — A Cúria Diocesana, até hoje, nada havia publicado, porque o Sr. Bispo Diocesano aguardava dos Missionários do Sagrado Coração uma retificação de seu primeiro procedimento, totalmente oposto à disciplina hierárquica que deve ser mantida na Igreja. Após uma semana, a Cúria julgou necessário esclarecer os fiéis.
7.° — Quanto à assistência religiosa das populações das três paróquias. servidas pelos Missionários do Sagrado Coração, fique o povo tranqüilo, que não lhes faltará o serviço religioso. O Sr. Bispo Diocesano já providenciou os substitutos dos Missionários do Sagrado Coração, para as paróquias por eles atualmente ocupadas.
Campos, 27 de novembro de 1968 — Mons. Jason Barbosa Coelho, Chanceler do Bispado".
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Reservando-se para publicar em sua próxima edição um completo noticiário a respeito do lamentável episódio em que Religiosos dão ao povo fiel um escandaloso espetáculo de insubordinação, "Catolicismo" hipoteca ao egrégio Pastor Diocesano, D. Antonio de Castro Mayer, sua mais ampla e irrestrita solidariedade, submissão e adesão.
KHE SANH lição para o futuro
Jorge de Castro Holanda
A queda de Khe Sanh teria aberto aos comunistas a rota de invasão do Vietnã do Sul
Nos três primeiros meses deste ano repetiram-se na imprensa do Ocidente notícias por vezes inquietadoras, por vezes alarmantes, e não raro redigidas em tom dramático e até trágico, a respeito do cerco da fortaleza de Khe Sanh pelas tropas do Vietnã do Norte, sob o comando do General Vo Nguyen Giap, Ministro da Defesa e comandante supremo do Exército.
É bem verdade que qualquer risco sério que ameaçasse aquela posição estratégica seria um motivo de justas apreensões. Com efeito, após terem os comunistas conquistado a base de Lang Vei, posto avançado junto à fronteira do Laos, Khe Sanh se transformara no baluarte destinado a impedir a penetração vermelha proveniente do oeste, através da importante rodovia E-W n.° 9, que, do Laos, conduz até Dong Ha (um pouco ao norte de Quang Tri) e ali se entronca com a rodovia n.° 1, a qual, por sua vez, percorre de norte a sul os dois Vietnãs.
A queda desse baluarte abriria praticamente, as portas do Vietnã do Sul para os comunistas.
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Em janeiro a imprensa ocidental noticiou, largamente, que Giap, à imitação do que havia feito quatorze anos antes em Dien-Bien-Phu, estava montando um grande ataque a Khe Sanh, destinado não só a introduzir mais facilmente suas tropas no Vietnã do Sul, mas também a obter contra os norte-americanos uma vitória que produzisse sobre a opinião pública mundial efeitos análogos aos que esta sofrera quando da derrota dos franceses comandados por de Castries. E estes efeitos já se iam produzindo por antecipação, tais eram as notícias desfavoráveis que se difundiam sobre as condições de defesa de Khe Sanh.
Esta base começou a ser objeto de especial interesse dos comunistas em setembro de 1967, quando eles tentaram uma penetração nas posições dos fuzileiros-navais norte-americanos, ao longo da Zona Desmilitarizada, culminando com um ataque à posição de Co Thien. Se esta operação tivesse sido coroada de êxito, os norte-vietnamitas teriam aberto uma rota de invasão que os levaria diretamente ao vale do Rio Quang Tri, o que lhes possibilitaria abordar pela retaguarda todas as posições aliadas que se encontravam mais abaixo na Zona Desmilitarizada. Se os norte-americanos e sul-vietnamitas quisessem, como seria indispensável, evitar êste envolvimento, seriam forçados a se retrair e ceder ao inimigo uma faixa de 50 milhas de território, habitada por cerca de 100 mil almas que, nestas condições, ficariam sob o jugo comunista. Felizmente o ataque a Co Thien foi detido e o atacante repelido.
Foi logo após êste malogro militar que os norte-vietnamitas começaram a deslocar seus efetivos para o oeste e concentrar tropas nas proximidades da região em que tanto o Vietnã do Sul como o do Norte fazem fronteira com o Laos. Aproximadamente a 15 milhas ao sul deste ponto de união dos três territórios, encontra-se a importante rodovia n.° 9, que — como dissemos — vai do Laos, através do vale do Rio Quang Tri, até encontrar a rodovia n.° 1 (N-S), nas proximidades da cidade de Quang Tri.
Era de se prever, então, uma ação ofensiva de grande envergadura de Giap, ao longo da rodovia n.° 9, com o objetivo de neutralizar sucessivamente as posições de Lang Vei e de Khe Sanh, para deixar em definitivo aberta a rota de invasão do Vietnã do Sul.
O então comandante norte-americano, General Westmoreland, em face desta perspectiva, enviou reforços a Khe Sanh, que, tendo-se efetivado a queda de Lang Vei, já se havia transformado em posição-chave para o bloqueio da ofensiva inimiga.
No início de janeiro foram mandados três Batalhões de Infantaria dos fuzileiros-navais e, logo após, duas Divisões de Infantaria do Exército norte-americano. No dia 19 daquele mesmo mês, a base já estava cercada por cerca de duas Divisões e meia de norte-vietnamitas, que contavam com um Regimento de Artilharia. Comparando-se os efetivos sitiados com os do cerco, estes últimos estavam em flagrante inferioridade, principalmente se levarmos em conta a superioridade aérea "yankee".
Foi então que a imprensa começou a difundir por todo o Ocidente notícias sobre a iminente capitulação da "insustentável" posição de Khe Sanh.
Agora, passados alguns meses deste episódio, encontramos numa edição da conceituada revista "U. S. News & World Report" (6 de maio de 1968) um artigo muito bem fundamentado, que nos dá uma visão bem diversa sobre esse cerco que durou 71 dias (19 de janeiro a 31 de março do corrente ano).
Lê-se nesse artigo, entre outras considerações: "Os fuzileiros-navais sentiam desejo de que o inimigo atacasse Khe Sanh, pois, para tal, teria ele de se expor em campo aberto, tornando-se um alvo compensador. Ao contrário de notícias largamente difundidas, os "marines" nunca se sentiram completamente encurralados em sua base. Durante os 71 dias mantiveram postos instalados nas colinas que cercavam a posição, e até mesmo destacaram o 2.°/26 RI de fuzileiros-navais para bloquear uma estrada que vinha do norte. Eram inteiramente abastecidos por viaturas e aviões, e a sua principal fonte de suprimento de água estava fora do perímetro e nunca foi ameaçada".
Registra o articulista que "durante o cerco a Força Aérea procedeu, calmamente, à evacuação de refugiados das tribos locais e ao abastecimento dos sitiados". E conclui dizendo que "em meados de março, justamente quando a imprensa divulgava a iminência do desastre, os sitiados descobriram que os sitiantes empreendiam a retirada, incapazes de sustentar suas posições marteladas pelo bombardeio da Artilharia e da Aeronáutica".
Ao abandonarem o cerco, os comunistas deixaram 193 armas coletivas, 11 mil granadas de morteiro e cinqüenta caixas de munição para metralhadora antiaérea. Alguns prisioneiros confessaram ter havido grande número de baixas em seus efetivos.
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Como vimos, a situação apresentada pela imprensa mundial foi inteiramente diversa da real. Não é o caso de cogitar aqui das razões disso. Mas convém tirar uma lição para o futuro. É da mais elementar prudência que a opinião pública não comunista se ponha de sobreaviso diante de notícias alarmantes, por mais repetidas e unânimes que sejam, quando elas forem de molde a justificar como inevitável um recuo, diante do comunismo.