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IMERSA EM AFLIÇÃO ATROZ

A MAIORIA

DOS CATÓLICOS HOLANDESES

A LEGIÃO DE SÃO MIGUEL, da Holanda, dirigiu a 17 de fevereiro do ano passado um telegrama ao Santo Padre Paulo VI para exprimir a adesão inabalável dos católicos de seu país à Igreja de Roma e à sua autoridade suprema na Pessoa do Sumo Pontífice. Falando em nome da maioria dos católicos holandeses, a entidade pede ao Papa a adoção rápida das medidas especiais que são necessárias para salvaguardar a ortodoxia católica nos Países-Baixos, em matéria de fé e de moral, e a permanência da província neerlandesa no seio da Igreja Católica Romana.

Ao Em.mo. Cardeal-Arcebispo de Utrecht e aos Exmos. Bispos Holandeses a Legião de São Miguel dirigiu uma carta verdadeiramente impressionante, a respeito do mesmo trágico problema. É a seguinte a tradução desse documento:

"Eminência, Excelências,

Não podeis ignorar que dezenas de milhares, e até centenas de milhares de fiéis que vos foram confiados estão na maior aflição moral que se possa conceber. As doutrinas e práticas em matéria de "fé, de moral, de liturgia e de autoridade, impostas à província holandesa da Igreja Católica Romana por uma minoria de "progressistas", não encontram nenhum eco na grandíssima maioria dos fiéis católicos; esta grandíssima maioria sabe pertinentemente, ou sente inconscientemente, que com efeito essas doutrinas e essas práticas diferem essencialmente do que a Igreja de Cristo tem ensinado ao mundo desde há vinte séculos.

Se, pela agitação progressista, a hodierna geração dos fiéis já se vê conduzida a perturbações e a uma crise de consciência, o que não se deve temer para o futuro nesses domínios da fé, dos costumes, da liturgia e da autoridade! E pergunta-se com angústia: que acontecerá com nossa juventude se não se intervier rapidamente?

Não podeis tampouco ignorar que segundo uma declaração do Dr. Goddijn (ver "De Tijd", de 30 de novembro de 1967) os chamados progressistas não contam senão com 30% dos fiéis: a grande maioria recusa submeter-se à pressão da minoria, mas ela se sente, ah! abandonada pela Hierarquia.

Porta-voz dessa maioria de católicos romanos holandeses, a Legião de São Miguel faz um apelo tão enérgico quanto urgente a Vossa Eminência e a V. Excias., dizendo-lhes: Mantende plenamente, com toda a autoridade que em nome de Deus o Papa vos conferiu, o tesouro integral da doutrina da fé e da moral, em fidelidade à Tradição secular da Igreja.

Ponde fim, por uma linguagem clara e precisa, à confusão existente em todos os domínios. Não mais permitais que nos sejam impostas opiniões teológicas contrárias às declarações bem definidas da Tradição e do Magistério. Não mais permitais que nos sejam impostas práticas morais — ou mais exatamente, práticas imorais — que são uma burla de toda concepção de moral cristã (e que, ademais dos prejuízos espirituais incomensuráveis que causam às almas, ameaçam provocar danos corporais imensos às gerações futuras).

Não mais permitais que os adultos — e sobretudo nossa juventude — sejam envenenados e pervertidos por formas de "educação", de "iniciação sexual" e de "catequese" que são essencialmente caricaturas dessas noções e que terão as mais funestas consequências para a vida espiritual e corporal dos indivíduos e da sociedade.

Quando certos conselheiros vos quiserem persuadir de que a realização de suas ideias neomodernistas é necessária para adaptar a Igreja ao mundo e à humanidade contemporâneos, atentai então para os frutos que, único resultado de sua ação, já se deixam ver:

- perturbações cada vez maiores;

- igrejas sempre mais vazias;

- confusões, agitações crescentes, discórdias (que não podem ser frutos do Espírito, se é verdade o que escreve São Paulo);

- Padres que, ou apostatam, e por faltarem à palavra empenhada escandalizam inúmeros fiéis, ou praticamente não mais celebram a Santa Missa;

- o abalo da fidelidade à Igreja e das bases da doutrina da fé e da moral.

Nada disso é, certamente, o que o Papa João XXIII queria; o que o II Concílio Vaticano visava; o que nosso Santo Padre atual tem em vista. Com toda a sinceridade: não se pode negar que muitos "progressistas", invocando ilegitimamente a autoridade do Concílio e dos Papas, cometem uma real traição com relação às verdadeiras intenções destes, traição que os Pastores da Igreja de Deus não devem jamais permitir. Pois os Pastores têm o pesado múnus, que os obriga em consciência, de apascentar e de proteger o rebanho a eles confiado: não lhes é jamais permitido abandonar o rebanho a mercenários ou deixar que o devorem os lobos.

Nós que de todo o coração queremos as renovações que o Vaticano II desejava e prescrevia, nós vos pedimos com a maior energia e insistência que veleis por que tais renovações se realizem na província holandesa da Igreja, mas não essas pretensas "renovações" que não são na realidade senão a destruição da província holandesa de nossa Igreja Romana. Que nenhum teólogo tenha mais a licença de mudar ao contrário o conteúdo da doutrina da fé. Que nenhum educador ou iniciador tenha mais a licença (nos grupos de discussão, clubes bíblicos, serões de pais, reuniões de escola, ou de qualquer maneira que seja) de arrebatar aos fiéis as normas da fé e da moral cristãs, e menos ainda de infeccionar nossa juventude com "incertezas" pretensamente modernas ou com concepções morais que conduzirão infalivelmente a um caos inimaginável.

Que não se autorize nenhuma "introdução ao Novo Catecismo" enquanto o Novo Catecismo não se pautar inteiramente pela doutrina católica, tal como Roma a sustenta e protege.

Eminência, Excelências,

Estamos bem conscientes do alcance de nossas palavras; sabemos que um dia deveremos dar contas delas. Nessa plena consciência nós ousamos, com a liberdade que nos dá a Verdade, lembrar-vos que para vós também virá um dia no qual sereis chamados a prestar contas da direção dos milhões de almas que vos foram confiadas. Elas vos foram confiadas para que as conduzísseis pela Via e pela Verdade à Vida; para que não permitísseis que elas fossem seduzidas por falsos profetas ou entregues ao mundo que, segundo a palavra do próprio Cristo, continuará a odiá-Lo e tentará destruir sua Igreja.

Falai portanto a palavra que sois encarregados de exaltar. Segundo o múnus que vos incumbe, ponde fim a toda sedução e a todo erro. Velai pela pureza da doutrina e da vida, para hoje e para amanhã, a fim de que à hora em que vos serão exigidas contas de vossa gestão, possais ouvir este julgamento: pois que velastes sobre pouco, ser-vos-á dado muito.

Eminência, Excelências,

A província eclesiástica holandesa de nossa Igreja tem necessidade de uma Hierarquia que, em real unidade com o Vigário de Cristo e sinceramente fiel a Ele, mantenha a unidade da fé e dos costumes cristãos, — ah! é mais exato dizer: restabeleça essa unidade. Fazendo isso, verificareis que todo o povo fiel, como um só homem, vos seguirá de novo, porque terá reconhecido na vossa voz a do Bom Pastor. Intervinde, vós que deveis ser e quereis ser nossos guias, intervinde antes que seja demasiado tarde.

Utrecht, 17 de fevereiro de 1968".

Ao longo de séculos de perseguição protestante, os católicos holandeses permaneceram heroicamente apegados à sua fé e às suas tradições. Agora veem-se eles submetidos a uma provação mil vezes pior: é uma minoria progressista que abusa da própria autoridade da Igreja para impor-lhes uma doutrina e uma moral que não são as da Igreja.



Camponeses católicos — que se distinguem por suas coifas quadradas — no S'Gravenpolder, Zuid-Beveland

Traje domingueiro das moças católicas de Zuid-Beveland

Interior tradicional de uma casa de camponeses de Nunspeer