Para rezar pelos Monges - soldados mortos na luta contra os turcos que sitiavam a ilha, o Bispo de Malta revestiu os paramentos vermelhos da liturgia dos Mártires
COMO SE CELEBROU EM MALTA A VIGÍLIA DE SÃO JOÃO DE 1565
Alberto Luiz Du Plessis
Há pouco mais de quatro séculos teve lugar um dos mais altos feitos de fé e de coragem que registra a História cristã, bastante esquecido no entanto, o que nos parece grave injustiça para com os que dele participaram e pouco amor pelas glórias da Igreja. Referimo-nos à defesa da Ilha de Malta contra os turcos, levada a efeito em 1565 pela Ordem militar e religiosa dos Monges Hospitalários de São João de Jerusalém, mais conhecida como Ordem de Malta, chefiada então pelo Grão-Mestre Jean Parisot de La Valette.
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Defensora acérrima dos cristãos contra as arremetidas muçulmanas, há já quase quinhentos anos a sagrada Milícia erguia contra o Crescente o seu estandarte rubro com a cruz branca de oito pontas. Nos areais da Palestina como nas montanhas de Rodes e em todos os cantos do Mediterrâneo, ao avistarem o emblema da Ordem os infiéis sabiam que ali estavam adversários dispostos a vencer ou morrer.
Colocada numa posição estratégica incomparável, a Ilha de Malta, baluarte dos Hospitalários, dificultava terrivelmente a comunicação entre os extremos do império otomano, num tempo em que o poderio turco estava no seu apogeu — a batalha salvadora de Lepanto não se travara ainda — bastando lembrar que os exércitos do Grão-Senhor se achavam próximos de Viena e suas frotas atacavam a costa espanhola. Decidido a terminar de uma vez por todas com o que considerava uma afronta pessoal, o sultão Solimão o Grande convocou seus soldados de todos os recantos do império e reuniu uma formidável frota de 193 naus transportando mais de cem mil combatentes, oitenta mil balas de canhão e quarenta mil quintais de pólvora. Era preciso esmagar aquele "ninho de escorpiões". A esquadra foi posta sob o comando de Piali-Pachá, homem de confiança do sultão, e os soldados tinham à sua testa a serasquier Mustafá, assessorados êste e aquele pelo velho corsário de Trípoli, Dragut. Relataremos o memorável cerco que se seguiu, conforme é narrado no livro "L'Epopée des Chevaliers de Malte", de Pierre Varillon.
Por seu lado, os Monges-soldados não estavam inativos. Advertida por espiões, a Ordem convocara todos os seus membros dispersos pela Europa para que acorressem incontinente a Malta, e dirigira urgentes pedidos de auxílio ao Papa e a Filipe II da Espanha, — auxílio que infelizmente tardou demais. Oito mil mulheres e crianças da população civil da ilha foram evacuadas para o continente e acumularam-se as provisões necessárias, tudo sob a orientação incansável do Grão-Mestre La Valette.
Singular figura a deste ancião de setenta anos, forte de corpo e de espírito, combatendo os infiéis desde a adolescência, e tão temido destes, que Dragut, a velha raposa, declarava que a única coisa que receava no mar era o aparecimento da capitânia dos Hospitalários conduzida pelo comendador de La Valette.
A principal cidade de Malta, o Burgo como era chamada, situava-se entre duas pequenas enseadas, o Porto dos Ingleses e o Porto das Galeras. Estas enseadas davam numa baía por nome La Marsa ou Grande Porto. Dominando o acesso do Grande Porto pelo mar, na extremidade de uma península, erguia-se o Forte de Santo Elmo. O Burgo, cercado de muralhas, tinha a entrada do Porto das Galeras vedada por uma grossa corrente e era protegido mais proximamente pelo Forte de São Miguel, o Castelo do Santo Anjo e os bastiões de França, Itália, Aragão, Provença, Auvergne, Castela e Alemanha, guarnecidos por freires das respectivas nacionalidades.
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A 18 de maio os vigias da Ordem anunciaram a vanguarda da frota muçulmana, a qual imediatamente encerrou a ilha num estreito bloqueio e desembarcou destacamentos de janízaros e sipahis que passaram a assolar a campanha. Uma divergência todavia reinava no estado-maior dos infiéis: Piali preconizava o ataque do Burgo pelo mar, sendo para isto necessário neutralizar primeiro o Forte de Santo Elmo, enquanto Mustafá preferia atacar a cidade por terra. Prevaleceu inicialmente o plano de Mustafá e grandes reforços foram desembarcados para proceder ao assalto do Burgo.
Neste ponto situa-se um primeiro episódio de heroísmo. Um pequeno grupo de soldados da Religião (pois por êste nome — sinônimo de Ordem Religiosa — ou pelo de Hospital é que os cavaleiros de Malta se referiam à sua milícia; a designação de Hospital vem, como se sabe, de que, nos seus primeiros tempos, além de fazer guerra aos maometanos na Palestina, a Ordem ali mantinha hospitais para atender aos peregrinos), um pequeno grupo de soldados da Religião patrulhava as cercanias do Burgo, quando caiu numa emboscada. Seu chefe, o cavaleiro de la Rivière, após uma valente resistência, sucumbiu sob o número e foi conduzido a Piali. Cobrindo-o de injúrias, intimou-o o pachá a que indicasse o ponto mais fraco na defesa da cidade. Responde-lhe o cavaleiro que não há ponto fraco, que o sistema de fortificações é de uma solidez sem igual, que os Monges de São João defenderão Malta até a morte, e que os turcos serão repelidos onde quer que se apresentem. Furioso, tanto mais que o interrogatório era público, Piali mandou torturar seu prisioneiro. Cones de madeira são aplicados, a golpes de martelo, a suas pernas e pés metidos em estreitas armações, e sob a terrível pressão os ossos rebentam. Ao mesmo tempo chicotes de chumbo açoitam e ensangüentam as costas do mártir, que reza em voz baixa, não falando aos algozes senão para anunciar a chegada próxima de reforços que obrigarão os maometanos a levantar o cerco.
Desesperando de obter as informações que desejava, Piali abandona sua vítima. O suplício é, porém, retomado no dia seguinte sob a direção de Mustafá. La Rivière é transportado para o alto de uma colina e novamente interrogado. Como se estivesse vencido pela dor, ele não fala, limitando-se a apontar com o dedo o Forte de São Miguel como ponto mais fraco da defesa. Um reconhecimento feito pelos turcos mostra-lhes depressa que, pelo contrário, ali os espera a mais vigorosa resistência. Não podendo crer no que seus soldados lhe diziam, Mustafá fez questão de verificar pessoalmente os recursos da fortaleza e, constatando que havia sido enganado, furioso precipitou-se sôbre o seu prisioneiro: "Miserável cão, vais saber o quanto te custa tentar enganar o teu senhor". La Rivière, reunindo as poucas fôrças que lhe restavam, contentou-se em responder: "Não tenho outro senhor senão Deus no Céu e o Hospital na terra". O serasquier assenta-lhe uma saraivada de golpes de sua pesada bengala de ébano com cabo de prata. Quando o rosto do moribundo já não era mais que uma massa sangrenta, a horda turca se precipita e o cavaleiro só tem tempo de, num último esforço, traçar o sinal da Cruz sobre o peito e dizer "viva Jesus", antes que lhe rebentem o crânio. "Jogai esta carniça ao mar", ordena Mustafá, mas quando os asseclas se aproximam do corpo, um chefe de aspecto imponente se interpõe: é Salah-Reis; filho do antigo dey de Argel. "Serasquier, diz êle a Mustafá, êste cristão era homem de coragem e levava, em seu país, brasão de alta cavalaria. Prisioneiro, eu o vi remar em nossas galeras por dez meses, sem nada perder de sua altivez. Em nossos ferros, salvou a vida a dois crentes, um dos quais era meu tio, que êle podia ter deixado morrer. Reclamo seu corpo para que lhe seja dada sepultura decente". E assim lhe foi concedido. — Felizes tempos em que até entre inimigos do nome de Jesus Cristo se viam, por vêzes, assomos de generosidade cavalheiresca.
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Os desembarques prosseguiram nos dias imediatos e um ataque de exploração do terreno, levado a efeito por doze mil homens, foi lançado sobre o Burgo. No alto das muralhas de sua Capital, cobertas por fortes destacamentos de Monges-soldados, encontrava-se o Grão-Mestre. Seguiu-se um rude combate que obrigou os assaltantes a recuarem. Vendo os seus metralhados pela artilharia e acossados pela cavalaria que La Valette fizera sair, Mustafá compreendeu que devia abandonar seu plano e experimentar o de Piali-Pachá.
Assim é que, após uma conveniente preparação de artilharia, foi dado o assalto ao Forte de Santo Elmo, mas, lutando com determinação e apoiados por sólidas muralhas, os malteses repeliram o inimigo, matando mais de dois mil turcos, e perdendo apenas vinte cavaleiros e 120 soldados.
Decididos a conquistar a fortaleza a qualquer preço, novo ataque desencadearam os infiéis no dia seguinte. Desta vez a empresa foi confiada ao corpo de elite dos janízaros, que conseguiu ultrapassar os fossos, lançando pontes sobre eles, — e acabou repelido pela fibra heróica dos defensores. A situação destes, porém, era crítica, e um novo assalto provavelmente seria o último.
Sob o fogo constante da artilharia inimiga, os sobreviventes da guarnição de Santo Elmo decidiram enviar um deles, o cavaleiro de la Cerda ao Grão-Mestre, para inquirir se não seria mais útil que recuassem para o Burgo, abandonando uma posição que a morte de todos os que a defendiam não impediria de ser tomada. Dominando a emoção, La Valette ordenou que resistissem até o fim, observando que cada dia ganho poderia permitir a chegada dos reforços solicitados à Europa. Acrescentou depois que, se os defensores de Santo Elmo quisessem voltar ao Burgo, ele iria substituí-los pessoalmente no posto, com os cavaleiros que se oferecessem para acompanhá-lo. O comendador de Guaras, comandante do forte, imediatamente declarou que ali morreria com seus homens.
Durante vinte dias ainda a fortaleza resistiu, apesar dos assaltos quotidianos. Vendo seus soldados desencorajados, Mustafá solicitou o auxílio de Dragut, que lhe colocou à disposição três mil guerreiros trazidos da África, membros da seita dos yayalars, muçulmanos fanáticos e de uma ferocidade sem igual. Como conta Varillon, cobertos de peles de animais ferozes, versetes do Corão tatuados no rosto e no corpo, os longos cabelos reunidos sob um capacete de prata, eles subiram às muralhas urrando horríveis blasfêmias, misturadas a fórmulas de esconjuração. Chegados às ameias, chocaram-se com os sessenta e dois freires de São João e a centena de soldados que eram o que restava da guarnição, e que não recuaram um passo. Lanças e espadas quebradas, os malteses se defenderam com adagas e punhais, degolando os adversários e precipitando-os das muralhas. Finalmente a vitória ficou com os cavaleiros e os yayalars, para explicar a derrota, declararam que o demônio combatia ao lado dos Hospitalários,
O último assalto a Santo Elmo foi dado no dia 23 de junho, vigília de São João Batista: "Celebraremos no Céu a festa do Patrono do Hospital", havia escrito pouco antes ao Grão-Mestre o comendador de Guaras. Ao amanhecer do dia fatal, só restavam dentro das muralhas meio derruídas sessenta homens feridos, e mais nenhum chefe, tendo os últimos sido mortos ao lado de Guaras. Quando os turcos penetraram no que restava da fortaleza, degolaram imediatamente os sobreviventes e içaram o estandarte imperial.
Escutando-se no Burgo os gritos de triunfo dos muçulmanos, a guarnição, de pé nas ameias, içou num mastro de quarenta pés o grande vexilo da Religião. Ao lado dos cavaleiros e dos Capelães estava o Bispo, de mitra e báculo, revestindo não os paramentos pretos dos mortos, mas os vermelhos dos mártires, e conduzindo o véu miraculoso de Nossa Senhora de Philerme. Altivos e majestosos, soldados e Sacerdotes entoavam o hino com que a Igreja celebra os atletas da fé: "Deus, tuorum militum / sors et corona, praemium..."
Mustafá, surpreso ao ouvir o canto, perguntou a um de seus generais, de sangue cristão, herdeiro de um grande nome — Láscaris chamava-se êle — o que salmodiavam os inimigos. Láscaris, emocionado, respondeu-lhe: "Serasquier, os cristãos celebram, com êste hino, a morte de seus irmãos".
Assim informado, o cruel seguidor de Mafoma mandou imediatamente que lhe trouxessem os corpos dos heróis de Santo Elmo e todos os prisioneiros cristãos que se encontrassem em poder de seu exército. Mortos e vivos foram colocados no centro de um quadrado formado pelos yayalars sobreviventes. Por ordem de Mustafá, estes rasgam o peito dos cristãos e lhes arrancam o coração. Em seguida, os corpos são fendidos em cruz, amarrados a pranchas e jogados ao mar, para que as correntes os levem até o Burgo.
Quando estes pobres e gloriosos despojos chegaram ao ancoradouro da cidade, o Grão-Mestre saía do ofício com os dignitários da Ordem. Comovido até às lágrimas, La Valette proclamou que o bárbaro desafio dos turcos exigia uma resposta imediata. Com aprovação de seu Conselho, mandou executar todos os prisioneiros maometanos, e os pedaços de seus corpos previamente atados às bocas dos canhões, levaram ao serasquier a terrível resposta da Religião. (Tocado no mais íntimo da alma, Láscaris poucos dias depois atravessou a nado a baía e, jogando-se aos pés de La Valette, informou-lhe que recebera o batismo antes de ser raptado pelos turcos aos treze anos, e implorou o perdão de sua apostasia com o favor dê ser admitido entre os defensores de Malta. Obtido o perdão, lutou valentemente até o fim do sítio).
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Reagrupando as suas tropas bastante desfalcadas, pois a tomada de Santo Elmo lhes havia custado mais de dez mil baixas — entre elas o famoso Dragut, morto por um tiro de mosquete — os generais do sultão prepararam-se para o assalto final. A partir desse momento, o Burgo não conheceu mais repouso: entre ataques que se repetiam dia e noite, e o fogo contínuo de todas as baterias instaladas nas colinas e nos navios da frota, durante dois meses os sitiados viveram num inferno, e o Grão-Mestre perguntava-se se o número não terminaria por vencer o heroísmo.
Juntando, por sua vez, todos os recursos que lhe restavam, La Valette organizou corpos auxiliares femininos, os quais recarregavam as armas disparadas na batalha, e até um grupo de duzentos meninos, hábeis na funda, que, como novos Davis, causavam sensíveis baixas aos assaltantes.
Os feitos de armas magníficos se sucediam. Um dia os janízaros conseguiram forçar um dos ângulos do bastião de Castela e começaram a se espalhar pela cidade. Não contavam, porém, com a reação dos cavaleiros que, com La Valette à frente, revestido de seu manto agaloado de ouro, barba branca ao vento, os receberam espada alta, fazendo grande carnagem e obrigando-os a recuar em desordem.
Noutra ocasião o Forte de São Miguel foi invadido, mas o alarido muçulmano cessou bruscamente quando a explosão das minas previamente colocadas por Frei Evangelista, hábil engenheiro militar, os aniquilou a todos.
Pouco a pouco, os homens tombavam, os víveres diminuíam e a pólvora se esgotava na cidade. Nos raros intervalos entre os combates, todos rezavam, a exemplo do Grão-Mestre, não para terem a vida salva, mas para que não fosse permitido o triunfo dos inimigos da Cruz.
Levadas por pequenas naus que conseguiam furar o bloqueio, notícias da epopéia dos Monges-cavaleiros tinham-se espalhado pela Europa, inflamando as coragens, e voluntários para a luta apresentavam-se em todos os priorados da Ordem no continente. Infelizmente, só uma grande frota conseguiria forçar o bloqueio e Filipe II, de quem poderia partir o socorro mais imediato, mantinha-se inesperadamente cauteloso. Seu próprio irmão, D. João d'Áustria, o futuro vencedor de Lepanto, então com vinte anos, desobedecendo ordens reais, fugira para Barcelona com intuito de procurar transporte para Malta.
A situação na ilha já então era a mais grave possível. La Valette, que até essa altura mantivera segredo a respeito, julgou-se no dever de comunicar ao Conselho dos Grão-Cruzes que os víveres, as balas e a pólvora chegavam ao fim. Diante do abatimento de seus próceres, o Grão-Mestre assim lhes falou: "Deus não nos abandonará, meus irmãos, nem Nossa Senhora. Começaremos esta tarde uma novena à nossa Mãe do Céu, que, neste momento, está em débito com a Ordem. É por isso que nós Lhe suplicaremos que Se digne saldar sua dívida libertando-nos do assédio turco, e se Ela aceder dar-Lhe-ei, com alegria e reconhecimento, quitação em boa e devida forma".
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Neste momento, os socorros já se aproximavam. Filipe II, atendendo afinal aos reclamos de seu próprio zelo, determinara a partida de uma frota, comandada por D. Garcia de Toledo e conduzindo quatorze mil combatentes. Chegando de surpresa, os espanhóis descarregaram, "en passant", seus canhões sobre as naves turcas, antes de atracar no porto. La Valette não tinha mais balas de artilharia para saudá-los e foi obrigado a soltar alguns foguetes para não faltar de todo à cortesia.
Com seu exército dizimado, seu moral quebrado, e obrigados a enfrentar agora não só os terríveis Hospitalários como também as aguerridas tropas espanholas, viram-se os maometanos ameaçados de extermínio. Compreendendo a situação, abandonaram o campo o mais rápido que lhes foi possível e partiram para enfrentar a cólera do sultão, — não sem verem antes, novamente, o estandarte da Religião a flutuar sobre as ruínas do Forte de Santo Elmo.
O levantamento do sítio provocou um entusiasmo indizível em toda a Cristandade. Reis e Príncipes enviaram ao Grão-Mestre embaixadas para felicitá-lo e entregar-lhe doações destinadas a reparar as ruínas e fortificar a ilha. Filipe II mandou-lhe uma espada e um brasão de ouro, decorados de diamantes. O Papa, que era Pio IV, ofereceu-lhe a púrpura cardinalícia e convidou-o a participar do Senado da Igreja, distinção que La Valette respeitosamente declinou, preferindo continuar na luta, ao lado de seus irmãos de hábito.
Desejoso de preparar a ilha para a eventualidade de futuros ataques, decidiu ele construir uma nova cidade, menos acessível ao inimigo, no monte Sceberras. A primeira pedra, colocada pelo indomável ancião, trazia a seguinte inscrição: "O Ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor, Frei Jean de La Valette, Grão-Mestre da Ordem Hospitalar e Militar de São João de Jerusalém, considerando todos os perigos aos quais seus cavaleiros e seu povo de Malta estiveram expostos, da parte dos Infiéis, no último sítio, tendo decidido, de acordo com o Conselho da Ordem, e para se opor a novas empresas dos bárbaros, construir uma cidade sobre o monte Sceberras, hoje, 28 do mês de março do presente ano de 1566, após haver invocado o Santo Nome de Deus e implorado a intercessão da Santa Virgem, sua Mãe, e de São João Batista, Patrono titular da Ordem, para atrair as bênçãos do Céu sobre uma obra tão importante, o Senhor Grão-Mestre colocou a primeira pedra, sobre a qual gravaram-se as suas armas, que são de goles com um leão de ouro, e a nova cidade por sua ordem foi denominada cidade La Valette".
E até hoje, passados quatrocentos anos, ao longo dos quais tanto mudaram as condições do mundo e tanto mudaram os homens, a capital da Ilha de Malta continua a ostentar orgulhosa o nome do ancião que pela sua inquebrantável fortaleza soube preservá-la da dominação infiel.