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COMO SE CELEBROU EM MALTA A VIGÍLIA DE SÃO JOÃO DE 1565

Sob êste monumento funerário repousam as cinzas dos cavaleiros, soldados e habitantes civis de Malta que pereceram no sítio posto à ilha, em 1565, pela poderosa frota enviada pelo Sultão Solimão, o Grande (7a página).


ANTIQUALHA MANIQUÉIA ESTÁ NA RAIZ DE MUITO "AGGIORNAMENTO"

Cunha Alvarenga

Ouvimos, recentemente, em cidade do interior de Minas, o sermão de um Padre progressista. Falava de peregrinações e romarias como coisas que não tem cabimento nos tempos modernos. Compreendia ele que muçulmanos e budistas visitassem os lugares históricos do nascimento ou da ação dos fundadores de sua religião. Na vigência do Novo Testamento, porém, quando o próprio Deus desce à terra e Se oculta sob as espécies do pão e do vinho, não teria sentido deslocar-se o povo cristão para lugares como Lourdes, Fátima ou Aparecida. E o pior, segundo o mesmo Sacerdote, seria o fato de existirem pessoas que só comungam quando vão a essas peregrinações.

Além de sua incompreensão do papel de Medianeira de todas as graças que cabe à Mãe de Deus e que explica plenamente essa atração que seus santuários sempre exerceram sobre o povo fiel, poder-se-ia ponderar ao pregador que, se há quem não comungue senão nos lugares de peregrinação, tal circunstância nunca constituiria justificativa para a condenação de tais atos de piedade mariana, pois nada impede que se faça uma coisa sem omitir a outra. Mas seria inútil contra-arrazoar assim com tal seguidor de um estranho "aggiornamento" da Igreja, pois estamos aqui diante de um tema isolado preso a raízes muito mais profundas.

Pela mesma razão pela qual são esses progressistas contrários às peregrinações, são também contra toda e qualquer espécie de mortificação, de introspecção, de exame de consciência, contra retiros fechados segundo o método de Santo Inácio, e contra devoções por eles chamadas de "individualistas" ou "antropocentristas", tais como as visitas ao SS. Sacramento, o rosário, a Via Sacra e outras várias práticas de piedade aprovadas e abençoadas pela Santa Igreja.

Personalismo maniqueu em pleno século XX

Arraigadamente igualitária e comunitária, a nova religião progressista (pois evidentemente estamos diante de nova religião, com seus contornos cada vez mais nitidamente delineados e opostos aos da Santa Religião Católica Apostólica Romana) imagina os indivíduos como meras categorias numéricas, sujeitas ao mundo objetivo. No personalismo maniqueu professado por essa ala modernista, o indivíduo não passa de grão da poeira cósmica, dominado pelas forças telúricas, componente de massa amorfa e mecânica, nada havendo, nesse caos igualitário, que possa fazer João superior a Pedro, ou Manuel mais rico e poderoso que Joaquim. Daí o ódio à ordem social hierárquica, e o fulminar como injusta toda organização econômica composta de elementos desiguais. Daí também serem os partidários da nova religião avessos à autoridade no âmbito religioso ou civil, e se mostrarem partidários do comunismo, seja moscovita, cubano ou chinês, e adversários da chamada ordem social burguesa ou capitalista.

No mundo dos espíritos, onde — segundo eles — a pessoa impera, esta se reportaria diretamente a Deus, não estando subordinada nem ao Estado nem à chamada Igreja jurídica. Partículas da divindade, as pessoas tenderiam a se fundir no Todo Absoluto de onde tiveram origem, o que seria facilitado por algumas tantas práticas mágicas, como a de fazer a oração litúrgica de mãos dadas, em uma espécie de cadeia condutora dos fluidos de outra forma dispersos.

Vista assim em largos traços a linha de ação dessa ala progressista, por detrás da qual é fácil reconhecer a velha gnose alimentadora de "todas as grandes heresias que através da História já afligiram a Santa Igreja de Deus, temos a chave para compreender essas estranhas formas de "aggiornamento" que se registram um pouco por toda parte.

Louvando... o ateísmo!

Tudo se torna claro, como veremos através de outro exemplo. A 13 de maio de 1967, em certa grande cidade paulista, uma igreja consagrada a Nossa Senhora de Fátima se achava repleta de fiéis que ali se reuniam para louvar a Mãe de Deus no 50.° aniversário da grande graça representada pela primeira aparição da Virgem aos três pequenos pastores na Cova da Iria.

Ao Evangelho da Missa que então se celebrou, sobe ao púlpito um jovem Sacerdote, notório progressista e professor do Seminário local. Suas primeiras palavras foram no sentido de que se congratulava com o ateísmo contemporâneo, louvava o ateísmo de nossos dias, adversário de uma religião sem dimensões ecumênicas, sem dimensões sociais: uma religião que se cingia ao âmbito de um indivíduo, no máximo de uma família ou de uma paróquia. Religião que pedia saúde para o corpo e chuva para a agricultura!

Para considerarmos apenas um aspecto dessas espantosas considerações, mais claro não podia ser o pregador ao condenar o pedido de favores do Céu feito por um determinado indivíduo tendo em conta suas necessidades bem específicas, e esquecido de que — segundo os progressistas — como grão da poeira social não lhe é lícito isolar-se da massa para pensar fora do ecúmeno, sobretudo quando se acham em jogo mesquinhos interesses, que não vão além da ordem material.

Evangelho neomodernista

Por onde se vê que esses neomodernistas pregam um Evangelho completamente oposto àquele que, como adverte São Paulo, nem os Anjos podem mudar (cf. Galat. 1, 8). Com efeito, qual o exemplo de fé que nos foi indicado como insigne pelo Divino Salvador? Declara o Filho de Deus que não achara fé tão grande em Israel quanto a demonstrada pelo centurião romano ao suplicar a graça da saúde para o seu servo, que jazia em casa doente, às portas da morte (cf. Luc. 7, 1-10). Não pedira que — como mais tarde desejaram o gnóstico Simão Mago e seus seguidores através dos séculos — o Senhor acabasse com as desigualdades existentes entre os homens, tornando a pobreza não um conselho, mas um preceito evangélico, porém que tivesse piedade de seu servo em suas aflições muito individuais.

Em que mostrara o centurião possuir uma fé tão grande? Ao confiar ardentemente no poder do Filho de Deus de realizar tal cura. Assim, tanto ao pedir saúde para o corpo, quanto chuva para beneficiar as colheitas, quem assim se dirige ao Céu prova que tem fé no poder infinito de Deus Nosso Senhor sobre todo o universo criado.

Pedir também o acréscimo

Ensina a Divina Sabedoria que procuremos em primeiro lugar o Reino de Deus e que tudo o mais nos será dado por acréscimo (cf. Mat. 6, 33). Mas pressuposta essa primordial procura do Absoluto, quem será bastante perverso para condenar que, como pobres filhos de Eva e sujeitos às agruras de nossa existência terrena, solicitemos a Deus como acréscimo aquilo de que necessitamos para a nossa vida material, e que recorramos ao Céu em momentos de aflição e angústia relativa às coisas temporais?

Eis o que compreende e faz o povo simples dotado de fé, e o que não é dado perceber aos enfatuados "teólogos" e "filósofos" da religião progressista, levados pela distinção maniquéia entre indivíduo e pessoa, que não encontra amparo nem nos Evangelhos nem na tradição da verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E não seria a oposição de certo Clero progressista aos ensinamentos da Encíclica "Humanae Vitae" outro indício do neomaniqueísmo que se acha na base da atuação nefasta por ele desenvolvida nos meios católicos?


Verdades esquecidas

OS ANJOS SÃO MINISTROS DAS VINGANÇAS DE DEUS

São Roberto Belarmino

Da "Elevação da Mente a Deus pelos Degraus das Coisas Criadas" (Nono Degrau — cap. VI):

O [quinto e] último ofício dos Anjos é de serem soldados, ou chefes armados para tomarem vingança das nações e repreenderem os povos (Sl. 149, 7).

São esses Anjos que queimaram com o fogo e o enxofre as cidades infames (Gen. 19, 24), que mataram todos os primogênitos do Egito (Ex. 12, 29), que prostraram muitos milhares de assírios com um só golpe (4 Reis 19, 35) ; serão esses Anjos que no derradeiro dia separarão os homens maus, dos justos, e os lançarão no fogo ardente do inferno (Mat. 13, 41-42).

Amem, pois, os homens piedosos seus concidadãos os santos Anjos; tremam os ímpios diante do poder dos Anjos, Ministros da cólera de Deus Onipotente, de cujas mãos ninguém poderá livrá-los. — [trad. de Roberto de Vasconcellos, Edições Paulinas, Rio, 1955, p. 157].