RESUMO ANALÍTICO DO ARTIGO DE “APPROACHES”
A SUPERPOTÊNCIA PUBLICITÁRIA DOS ILUMINADOS DO PROGRESSISMO
O católico comum, que vê os mais díspares jornais, revistas, livros, emissoras de rádio e TV do mundo inteiro servirem estrepitosamente de veículo para a propaganda progressista, é naturalmente levado a crer que essa portentosa propaganda é fruto exclusivo e espontâneo das tendências ideológicas de grande parte dos homens de pensamento e de ação de nosso tempo.
Um observador mais atento, entretanto, saberia distinguir, por detrás do que parece um fogo desencontrado de franco-atiradores, uma hábil articulação que explicaria a resultante inegavelmente bem-sucedida desse bombardeio publicitário.
Uns e outros – leitores inadvertidos ou observadores sagazes – nunca haviam podido, até hoje, deitar a mão nessa organização misteriosa que manipula as tubas da propaganda progressista.
É, pois, de considerar-se sensacional a revelação que o conceituado boletim católico inglês “Approaches” fez, em seu número de janeiro do ano passado, denunciando com exuberância de dados, a existência de um núcleo central muito discreto, cujo objetivo é dirigir, em matéria essencialmente religiosa, a opinião católica do mundo inteiro. Contando com altos apoios comunistas, dispondo de agentes em trinta países, e assessorado por 120 especialistas – teólogos, membros de institutos de pesquisas e correspondentes religiosos – o IDO-C, ou seja, o Centro Internacional de Informação e Documentação relativa à Igreja Conciliar, é um organismo que vai muito além do que o seu nome, aparentemente inocente, faria crer.
Trata-se, na realidade, de uma organização-Moloch, que engloba ou tem a seu serviço grandes editoras e importantes jornais e revistas, nos principais países da Europa livre e da América do Norte, e mesmo em algumas nações de além cortina de ferro, e que deste modo controla a propaganda do chamado progressismo católico em várias partes do mundo.
A importância do artigo de “Approaches” é tanto maior quanto deixa entrever, com suficiente clareza, por detrás do IDO-C, uma verdadeira “maçonaria” progressista – no caso dos EUA sua existência é até confessada por um membro da seita – a dominar a vida católica de diversos países, e com tendência a estender aos outros a sua influência. É o que, no artigo, se chama de “Catholic Establishment”.
Verifica-se, desse modo, que a propaganda progressista, no que ela tem de mais potente e dinâmico, é perfeitamente artificial. “Approaches” mostra como, onipresente, ela é hábil em criar popularidades demagógicas, em sofismar, em seduzir e difamar, constituindo-se assim numa poderosa alavanca da revolução progressista que pretende hoje destruir, por dentro, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, edificando em seu lugar uma Igreja-Nova – a Igreja dos “pequenos grupos proféticos”, de que trata o artigo de “Ecclesia” cuja tradução estampamos nesta mesma edição (pág. Z).
A importância e seriedade do estudo de “Approaches” ressaltam pelo fato de ter sido ele reproduzido em outros órgãos católicos de valor como “Permanences” na França, “Nunca et Semper” na Alemanha, “Roma” em Buenos Aires, além de ter sido publicado em forma de livreto, pela Editora “CIO” de Madri.
Tratando-se de um trabalho bastante extenso, julgamos oportuno apresentar aqui, preliminarmente, um resumo analítico do mesmo, dando destaque a suas partes mais importantes.
O que vem a ser o IDO-C – segundo ele mesmo
O IDO-C apresenta-se a si mesmo como “um grupo internacional, com quartel-general em Roma e com uma crescente rede de ramificações que abarcam o mundo inteiro”. Sua função específica, segundo ele mesmo a define, “consiste em coligir e distribuir” aos especialistas interessados “documentação acerca dos efeitos estruturais e teológicos da continuada aplicação dos decretos e do espírito do Concílio Vaticano II”.
O IDO-C informa ter nascido em dezembro de 1965, da fusão do DO-C, centro de informações que servia o Episcopado Holandês durante o Concílio, com o Centro de Coordenação de Comunicações Conciliares (CCCC), que na mesma oportunidade promovia o intercâmbio de notícias entre jornalistas progressistas.
Proclamando-se “independente de qualquer instituição religiosa ou estatal”, é pois o IDO-C um organismo não católico que se propõe, entretanto, muito suspeitamente, como dissemos, o objetivo de dirigir em matéria propriamente religiosa a opinião católica mundial.
A esse propósito é ainda ele próprio quem se encarrega de esclarecer: “Ainda que o seu conteúdo [da documentação distribuída] se refira principalmente à atualização da Igreja Católica, cada vez mais e mais se orienta em um sentido ecumênico, pois, como os problemas de nossos dias não mais ficam circunscritos a uma ou outra Igreja, nosso serviço não se destina exclusivamente aos católicos”.
“Entre seus assinantes encontram-se Bispos, [...] professores de Teologia, [...] estudantes adiantados de seminários católicos, protestantes e judeus, diretores de publicações católicas, protestantes e judaicas, e encarregados das secções religiosas de grandes jornais e revistas de informação geral”, - é uma circular do IDO-C que nô-lo informa.
Quem o dirige
O presidente do Comitê Executivo Internacional do IDO-C é o dominicano Pe. Rafael Van Kets, professor do Angelicum de Roma; secretário geral é o Sacerdote holandês, Pe. Leo Alting von Geusau, participam desse Comitê, entre outros, um Sacerdote norte-americano da Rádio Vaticana, um dirigente do Movimento Familiar Cristão do México, um elemento da conhecidíssima revista francesa “Informations Catholiques Internationales”, e outro do grupo “católico”-comunista “Znak”, da Polônia. Faz parte, ainda, do Comitê Executivo Internacional do IDO-C o diretor da revista “Slant”, da Inglaterra, a qual mantém boas relações com outro conhecido movimento “católico”-comunista polonês, “Pax”. Ao IDO-C inglês não repugna incluir no seu máximo órgão diretivo o líder comunista Jack Dunman, várias vezes candidato a deputado pelo PC britânico, diretor da revista agrária do partido e especialista no diálogo entre católicos e comunistas.
Dinossauro publicitário
Comentando na imprensa diária de São Paulo o trabalho de “Approaches”, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira classificou o IDO-C, muito sugestivamente, de “dinossauro publicitário”. Com efeito, esse estranho organismo tem à sua disposição editoras católicas das maiores do mundo, como a conhecidíssima “Herder” internacional, a “Paulist Press”, que é a mais importante editora católica dos EUA, a “Burns and Oates”, da Inglaterra, que se jacta do título de “Editores da Santa Sé”, etc.
Quanto aos jornais e revistas diretamente representados no IDO-C, contam-se, entre os principais, “The Guardian”, “Slant”, “The Tablet”, na Inglaterra; na França “Informations Catholiques Internationales” (cuja identidade ideológica com o IDO-C francês é tal, que se pode dizer que este último vem a ser a expressão internacional dos pontos de vista de I.C.I.); “St. Louis Review”, nos EUA; “Criterio”, de Buenos Aires, etc.
Entre os jornais não diretamente representados no IDO-C mas nos quais a influência deste se faz sentir, destacam-se o “National Catholic Reporter” e o “Long Island Catholic” (diários ditos católicos), o “Time”, o “New York Times” e o “Chicago Sunday Times” (periódicos leigos de repercussão internacional), nos EUA e Canadá; “La Croix” e “Témoignage Chrétien”, na França; etc.
Cumpre destacar que o IDO-C controla as secções religiosas de jornais de repercussão mundial como “Le Monde” e “Le Figaro”, em Paris, e o “New York Times”, nos EUA, sem falar de sua influência em centros católicos de informação importantes como a “Catholic Press Union”, a NCWC, o “National Catholic Comunications Centre”, a “Religious Newswriters Association”, etc. acrescenta, enfim, “Approaches” que as notícias do IDO-C e seus pontos de vista são difundidos, através de pessoas-chave, na própria Rádio Vaticana e na Rádio Canadá.
Assim, proclamando-se embora uma entidade acatólica, o IDO-C dispõe efetivamente de imensos meios para, como é seu objetivo declarado, dirigir a opinião católica em matéria genuinamente religiosa.
Ligações com o comunismo na Inglaterra e além cortina de ferro
É muito significativo que o funcionamento do IDO-C seja aceito sem a menor preocupação em países dominados por governos comunistas, tais como a Hungria, a Polônia, a Checoslováquia e a Iugoslávia.
Por outro lado, mesmo sem considerar o serviço que o IDO-C presta à causa comunista, ou o proveito que o comunismo tira do IDO-C – conforme salienta o artigo de apresentação deste número (pág. T) – não deixa de estarrecer, como observa “Approaches”, a simples constatação de que a Secção do IDO-C da Inglaterra, totalmente composta de progressistas, é internamente controlada por um núcleo marxista que atua sob a direção de um dos líderes mais experimentados do PC da Grã-Bretanha, o já citado Jack Dunman.
“International Catholic Establishment”
No inglês o termo “establishment” é frequentemente empregado em sentido pejorativo para designar uma camarilha influente que impõem a sua ideologia, suas formas e sobretudo sua vontade, a uma sociedade determinada. A Editora “CIO”, ao verter para o espanhol o artigo de “Approaches”, traduz “establishment” por “grupo de influência ou pressão”.
A designação de “establishment” era usual para camarilhas leigas existentes em todo o mundo. No campo católico, entretanto, foi só muito recentemente, e nos EUA, que a conspiração progressista se intitulou descaradamente a si mesma de “Catholic Establishment”. Esclarece “Approaches” que foi John Leo, em um artigo publicado em dezembro de 1966-janeiro de 1967 em “The Critic”, quem usou pela primeira vez a expressão “Catholic Establishment”. Tanto o articulista quanto o jornal pertencem confessadamente ao grupo de influência assim designado.
“Approaches” – tirando a palavra da própria boca dos conspiradores progressistas – mostra como se pode falar num verdadeiro “International Catholic Establishment”, que se compõe dos iniciados, os iluminados da área progressista, e é o núcleo que orienta a esta tanto dentro da Igreja quanto em suas relações com o mundo exterior. “Approaches” o qualifica de “Hierarquia paralela” instalada no seio da Igreja.
O cérebro desse poderoso grupo internacional católico parece estar na França. Entretanto, é focalizando seu ramo dos EUA – o qual atua mais a descoberto – que se tem uma ideia mais precisa de como ele funciona em todo o mundo.
Das relações do “Catholic Establishment” com o IDO-C falaremos adiante.
Episódio altamente sacral: Dominicanos do Convento de Ávila, na Espanha, ingressam segundos os antigos estilos pela porta do claustro.
O “American Catholic Establishment”
O citado artigo de John Leo em “The Critic” constitui um depoimento significativo a respeito de como atua o grupo católico de pressão norte-americano.
“É o “Establishment” que decide o que os católicos devem discutir, não somente por meio das publicações que lhe pertencem, mas, de certo tempo para cá, por meio de quase todos os jornais e círculos de estudo católicos, de uma a outra costa”, escreve John Leo. E exemplifica: “A discussão nos Estados Unidos sobre o controle da natalidade foi inteiramente uma produção” do “Catholic Establishment”. Ele se jacta de governar hoje em dia o pensamento dos católicos norte-americanos.
Uma correia de transmissão de ideias. Isto se consegue através de uma técnica eficientíssima e bem definida de divulgação ideológica. De início, os grandes órgãos ligados ao “Catholic Establishment” lançam uma palavra de ordem que vai sendo difundida fielmente pela
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RESUMO ANALÍTICO DO ARTIGO DE “ECCLESIA”
INSUBORDINAÇÃO, “DESALIENAÇÃO”, FIO DE MOEDA DOS MISTÉRIOS “PROFÉTICOS”
No artigo de apresentação deste número (pág. X), está descrita a inter-relação do IDO-C com os “grupos proféticos”. É fácil ver que aquele e estes constituem, em seu conjunto, uma imensa máquina semi-secreta, enquistada na Igreja, para a realização do desígnio maléfico de A transformar no contrário do que tem sido nestes dois mil anos de existência.
Desejamos, agora, ajudar o leitor no estudo do artigo de “Ecclesia” sobre os “grupos proféticos” (“Os pequenos grupos e a corrente profética” – reproduzido na pág. Y desta edição) pondo em especial relevo os aspectos dessa espécie de sociedades iniciáticas, que nos parecem mais profundos e esclarecedores.
Neste comentário, não visamos aprofundar propriamente a doutrina dos “grupos proféticos”, a coerência interna das diversas teses que a integram, seus mestres, seus precursores, suas afinidades ou distonias com outros sistemas de pensamento.
Nem tampouco pretendemos analisar as condições culturais, políticas, sociais, econômicas ou outras, que favorecem ou contrariam a gênese e o desenvolvimento desses grupos.
Nosso objetivo é mais circunscrito, e também de uma utilidade mais imediata. Postos diante do crescimento tangível dos “grupos proféticos”, de sua nocividade evidente, da necessidade, pois, de lhes atalhar os passos, perguntamo-nos qual o programa deles, se repousam sobre uma estrutura definida de direção e propaganda, como é essa estrutura, como atua, como veem eles as transformações pelas quais a Igreja passou recentemente e continua a passar, quais as técnicas de recrutamento, formação e subversão usadas por tais grupos, e por fim, quais as suas relações com o comunismo.
É no artigo de “Ecclesia” que procuraremos resposta a essas perguntas.
I . Desalienação: revolta contra toda superioridade, toda desigualdade
O conceito-chave da doutrina dos “grupos proféticos” é, a nosso ver, a alienação. Assim, tomamo-la como ponto de partida e como fio condutor desta exposição. O leitor verá como, desta forma, a matéria se torna límpida e acessível.
Alienus é um vocábulo latino que equivale à palavra portuguesa “alheio”. Alienado é o que não se pertence a si mesmo, mas a outrem.
Na perspectiva comunista, toda autoridade, toda superioridade social, econômica, religiosa ou outra qualquer, de uma classe sobre outra, importa em uma alienação. Alienante é a classe social que exerce a autoridade, ou possui a superioridade, seja através de um Rei, um Chefe de Estado, um Papa, um Bispo, um Sacerdote, um General, um professor, ou um patrão. Alienada é a classe que presta obediência à alienante. A classe alienada, pelo próprio fato de estar sujeita a outra classe em medida maior ou menor, nessa exata medida não se pertence a si mesma, e está alienada a essa outra.
Transposto o conceito de alienação para as relações de pessoa a pessoa na esfera religiosa, pode-se dizer que um Papa, um Bispo ou um Sacerdote, enquanto participa da classe dirigente, que é o Clero, é alienante em relação a um simples fiel, o qual é membro da classe dirigida, isto é, do laicato.
Toda alienação é uma exploração do alienado pelo alienante. E como toda exploração é odiosa, cumpre que a evolução da humanidade conduza à supressão de todas as alienações, e portanto de todas as autoridades e desigualdades. Pois toda desigualdade cria de algum modo uma autoridade. A fórmula mais conhecida e popular da total não alienação está no lema da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. A aplicação absolutamente radical desse lema importa na implantação de uma “anarquia” sem caos. A ditadura do proletariado não é senão uma etapa para a realização do anarquismo.
O igualitarismo radical é a condição para que haja liberdade, e para que, cessadas as explorações e as consequentes lutas de classe, reine entre os homens a fraternidade.
Essa a criminosa quimera dos comunistas.
II . O supremo objetivo “profético”: uma Igreja não alienante nem alienada
Do que expõe o artigo de “Ecclesia”, deduzimos que os “grupos proféticos” desejam transformar a Igreja Católica, de alienante e alienada que é, em uma Igreja-Nova, sem nenhuma forma de alienação.
1ª desalienação da Igreja:
em relação a Deus
a . A Igreja “constantiniana” (cuja era, segundo os “grupos proféticos”, começaria com Constantino, o Imperador romano do século IV que livrou a Igreja das perseguições e A tirou das catacumbas, e se estenderia até nossos dias) acredita em um Deus transcendente, pessoal, dotado de inteligência e vontade, perfeito, eterno, criador, regedor e juiz de todos os homens. Estes são infinitamente inferiores a Deus, e Lhe devem toda sujeição. E, crendo em um tal Deus, os homens aceitam um Deus alienante. A Religião é pura alienação.
A Igreja-Nova não crê em um Deus alienante. O Deus da Igreja “constantiniana” corresponde a um estágio já superado da evolução do homem, o homem infantil e alienado. Hoje, o homem, tornado adulto pela evolução, não aceita um Deus do qual ele é, em última análise, um servo, e que o mantém na dependência de seu poder paterno, ou antes, paternalista, como dizem pejorativamente os “grupos proféticos”. O homem adulto repele toda alienação, e quer para si outra imagem de Deus: a de um Deus não transcendente a ele, mas imanente nele. Um Deus que é impessoal, que é como um elemento difusamente esparso em toda a natureza, e portanto, também, em cada homem. Numa palavra, um Deus que não aliena.
b . É porque não aceita essa nova figura de Deus, e se obstina em manter a velha figura do Deus pessoal, transcendente e alienante, que a Igreja “constantiniana” gera o ateísmo. Pois o homem adulto de hoje, não podendo aceitar essa imagem infantil da divindade, se afirma ateu. Se a Igreja lhe apresentasse um Deus atualizado, imanente e não alienante, ele o aceitaria. E deixaria de ser ateu.
c . É bem verdade que a afirmação de um Deus transcendente e alienante tem seu fundamento em numerosas narrações dos Livros Sagrados. Essas narrações, entretanto, não são realidades históricas precisas. Elas são mitos elaborados pelo homem não adulto, alienado e sequioso de alienação. Hoje, elas devem ser reinterpretadas segundo uma concepção não alienante mas adulta. Ou até recusadas. Com isto, se purifica a Religião de seus mitos. É o que se chama desmitificação.
d . É, por exemplo, o que cumpre fazer quanto à explicação da infeliz condição do homem, sujeito ao erro, à dor e à morte. O remédio dessa situação não pode vir, para o homem adulto, de uma Redenção operada pelo sacrifício do Deus transcendente encarnado, e completada pelos padecimentos dos fiéis. Tal remédio vem da evolução, da técnica e do progresso. Na concepção do homem desalienado, não há mais razão de ser para as mortificações, algum tanto masoquistas, que a Igreja “constantiniana” promovia. A Igreja-Nova convida a uma vida voltada inteiramente para a felicidade terrena. A Redenção-progresso não tem como objetivo levar os homens para um céu extraterreno, mas transformar a terra em um céu.
2ª desalienação da Igreja:
em relação ao
sobrenatural e ao sagrado
A Religião Católica “constantiniana”, coerente com sua doutrina sobre a transcendência de Deus, admite o sobrenatural e com ele o sacral. Ora, o conceito de uma ordem sobrenatural, superior à natural, de uma esfera religiosa e sagrada superior à esfera temporal, importa em evidentes desigualdades. Daí provem, ipso facto, múltiplas alienações. Na Igreja-Nova, desalienante e desalienada, só se admite como realidade o natural, o temporal, o profano. É uma Igreja dessacralizada. Daí múltiplas consequências:
a . É óbvio, antes de tudo, que a Igreja-Nova está toda posta na ordem natural. Sua missão salvífica, ela a exerce induzindo os fiéis a se engajarem, a se comprometerem na propulsão do bem-estar terreno.
b . A noção da Igreja como Sociedade distinta do Estado e soberana na esfera espiritual perde, pois, toda a sua razão de ser. A Igreja dessacralizada é, dentro da sociedade temporal, um grupo privado como outro qualquer, cuja missão é de estar na vanguarda das forças que promovem a evolução da humanidade.
c . A vida sacramental também muda de conteúdo. Os Sacramentos têm um sentido simbólico meramente natural. A Eucaristia, por exemplo, é um ágape em que confraternizam irmãos em torno de uma mesma mesa. E por isto deve ser recebida como um alimento qualquer, no decurso de uma refeição comum.
d . A condição sacerdotal não mais se deve considerar sagrada, já que a sacralidade morre com a morte de todas as alienações.
No modo de se apresentarem, de se trajarem e viverem, os Sacerdotes devem ser como quaisquer leigos, já que a esfera do sagrado, a que pertenciam, desapareceu, e eles se devem integrar sem reservas na esfera temporal. Analogamente se devem portar os Religiosos, se ainda houver os três votos de obediência, pobreza e castidade na Igreja desalienante e desalienada.
e . Não há razão para que existam edifícios destinados só ao culto, já que morreu o sobrenatural, o sagrado. Neste mundo evoluído, adulto, infenso às alienações, o culto do Deus imanente e difuso na natureza pode ser feito em qualquer local profano. Se houver edifícios destinados ao culto, sejam eles utilizados também para fins profanos, de sorte a evitar a distinção alienante entre espiritual e temporal.
Dominicanos vestindo batina efetuam uma manifestação de protesto diante do DOPS, em São Paulo. O traje eclesiástico os protege contra a prisão. É a hora em que a sacralidade é lembrada...
3ª desalienação da Igreja:
em relação à Fé,
à Moral, ao Magistério e
à ação evangelizadora
a . A Igreja-Nova é uma Igreja pobre. E isto, antes de tudo, no sentido espiritual da palavra. Uma das riquezas da Igreja “constantiniana” está em dizer-Se Mestra infalível. A Igreja-Nova não se pretende Mestra. Nem trata os fiéis como discípulos. Pois isto seria alienante.
Cada qual recebe carismas do Espírito Santo, que lhe fala diretamente na alma. E é nessa voz interior, da qual pode tomar consciência, que cada um deve crer.
Isto que é verdadeiro para as matérias de fé, o é também para a moral. Cada qual tem a moral que lhe sugere sua consciência.
Em suma, o homem vive do testemunho interior dos carismas, dos quais toma consciência. A Igreja-Nova não possui, assim, um patrimônio de verdades, de que imagine ter o privilégio. E nisto está o principal aspecto de sua pobreza.
b . Daí decorre também outra forma de pobreza. A Igreja-Nova não tem fronteiras. Ela abriga os homens de qualquer crença, desde que trabalhem ativamente para a verdadeira Redenção, que é o progresso terreno. Ela não é, pois, como um reino espiritual com fronteiras doutrinárias definidas, mas algo de etéreo, de fluido, que se confunde mais ou menos com qualquer igreja. Em outros termos, a Igreja-Nova é super-ecumênica.
c . Outro título de pobreza da Igreja-Nova é que, não sendo Mestra, e sendo super-ecumênica, não precisa mais de obras de apostolado. Assim, as universidades católicas, as escolas católicas, as obras de assistência católicas só conservam sua razão de ser sob condição de não visarem qualquer fim apostólico, nem terem qualquer sujeição alienante e antiecumênica à Igreja: em outros termos, se renunciarem à nota católica, e assumirem um caráter totalmente profano, secular e laico.
d . A pobreza da Igreja-Nova também está em que, sendo a cultura e a civilização valores da ordem temporal e terrena, e não pretendendo mais a Igreja exercer qualquer magistério nem moldar a si a sociedade temporal, não se pode mais falar em cultura e civilização cristãs. A cultura e a civilização do homem evoluído e adulto receberam sua